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SÓ O RELAXANTE MUSCULAR SALVA!!!!

Por Wesley Machado

Mesmo no feriadão teve pelada. Os Antigos Craques não abrem mão de bater uma bolinha. Grupo no WathsApp bombando!!! Provocações durante a semana. Um dizendo que ia dar caneta. Outro dizendo que ia dar lençol. E a pelada, considerada top pelo estreante Elias, teve tudo isso, caneta, lençol. E ainda drible da vaca, gol a la Romário e golaço de cabeça! Time encaixado e invencível, vencido apenas pelo cansaço. Água foi artigo de luxo. Com jogadores acima dos 30 anos e alguns que já passaram dos 40, o que salva depois da resenha é o santo relaxante muscular.


Colete Verde - Wandinho, Elias, Thiagão e Wesley; Rodrigo e Juninho. Colete Amarelo - Ralph, Wagner e Jean; Marquinhos, Gegê e Robinho.

Colete Verde – Wandinho, Elias, Thiagão e Wesley; Rodrigo e Juninho. Colete Amarelo – Ralph, Wagner e Jean; Marquinhos, Gegê e Robinho.

A dor que para o profissional é departamento médico na certa, para o recreativo não significa muita coisa. O que vem com a idade, além do despreparo físico, é a constatação da assertiva do título do livro de Roberto Da Matta: “A bola corre mais do que os homens”. Daí a importância de pensar o jogo, controlar a querida bola e mantê-la mais nos pés. Enfim, gostar dela, como afirmou certa vez um goleiro, que disse que os jogadores desta posição são os que mais amam a pelota, afinal são os únicos que a abraçam, enquanto os outros só querem chutá-la.

Quando se está ganhando até jogar para trás vale. Vale catimba. Só não vale apelação. Quer coisa pior que apelação? Como pelada não tem juiz, vale o bom senso. Pediu a falta, tem que parar. Nem sempre dá para ser super sincero. Quem ganha passa a semana zoando. Ainda mais quando o time para o qual torce elimina o outro no campeonato. Imaginem se os flamenguistas estão sendo zoados…..

DE VOLTA

Por Cláudio Lovato Filho, de Santa Catarina

Ele estava fora havia sete anos, por força de uma transferência para o exterior determinada pela empresa de bebidas na qual ingressara como trainee. E exterior longínquo: primeiro o Vietnã, depois a Tailândia. Nas vindas ao Brasil, de férias, as viagens com a família e as visitas aos parentes sempre lhe tomavam todo o tempo. Era a primeira vez, em sete anos, que ele voltava ao campo das peladas de outrora para rever os camaradas de bola, seus companheiros de momentos pra lá de prazerosos e, com impressionante frequência, antologicamente hilários. 

Ele chegou acompanhado de Gilson Anarquista, seu antigo vizinho de prédio e responsável por sua inserção no grupo. Chegou devagarinho, mãos no bolso da bermuda. Gilson, que caminhava, rindo, às costas dele, não havia avisado o pessoal. Era uma visita surpresa.

Dalvo Marreta foi o primeiro a avistá-lo. Soltou um “não acredito!” e, no mesmo instante, Beto Cegonha já estava trotando em direção ao recém-chegado para saudá-lo com sua proverbial efusividade.


Autor do texto, Cláudio Lovato mexe na máquina Olivetti Studio 46, presente do pai

Autor do texto, Cláudio Lovato mexe na máquina Olivetti Studio 46, presente do pai

Estavam todos lá: Toni Paraquedista, Jorge Marechal, Márcio Mandrake, Juarez Viking, Fernandão Ruim de Curva, Albertinho Cara de Bebê, Cleber Verminoso e todos os outros. Eles o receberam como se ele tivesse regressado de uma guerra longa e quase perdida. Relembraram, riram, riram mais, e até jogaram bola. Ele usou as chuteiras emprestadas por Tonho Ostra, que calçava seu número e que disse que não iria jogar porque a hérnia de disco estava “perigando começar a querer incomodar, uns ‘ameaço’”. Quando alguém disse, “Pô, e logo hoje não vai ter nenhuma carninha pra gente botar no fogo!”, Gilson saiu-se com esta: “E vocês acham que o Anarquista aqui ia deixar faltar carne numa noite assim?” Depois foi até o carro e voltou com o isopor a tiracolo.

Lá pelas tantas, depois de ter batido a bolinha (não conseguiu dar sequência às jogadas, errou gol feito, cansou, riu, foi motivo de riso) e antes do churrasquinho, ele pensou: “Como eu gosto disso aqui!”, e sentiu a saudade daquele velho e pequeno prazer – a pelada com os amigos – bater sem dó nem piedade no peito.

Foram embora quando já era quase meia-noite, depois de o velho Lopes, zelador do pequeno conjunto formado pelo campo e por duas quadras, dar o ultimato, bem ao seu estilo polido e diplomático: “Chega, seus malucos! Vamos meter o pé!”

Ele foi embora sentindo-se leve como havia muito tempo não conseguia se sentir. Achou que, naquela noite, tinha rejuvenescido uns 15 anos. Abraçou um por um dos companheiros, prometeu nunca mais ficar tanto tempo sem aparecer e despareceu rua abaixo e noite adentro, ao lado de Gilson.

Foi o próprio Anarquista quem trouxe a notícia, um mês e meio depois daquela visita. Sim, o amigo estava voltando ao Brasil. Sim, sim, para a cidade deles. “Ele disse para o chefe que queria voltar”, relatou Gilson. E prosseguiu, com detalhes: “O chefe disse: ‘Rapaz, você sabe que, se voltar, vai ganhar menos. E também não posso lhe dizer que a carreira na empresa vai ser tão bonita quanto poderia ser’. E ele disse para o chefe: ‘Tudo bem’”.  Anjo Gabriel, perplexo,  quis a confirmação: “Ele disse ‘tudo bem’? Assim mesmo?” Tadeu Badulaque observou, com toda a autoridade que seus conhecimentos de geografia lhe conferiam: “Morar na Oceania não é fácil, não, rapaziada!” Moraizinho Sem Pescoço comentou: “A família não devia estar aguentando mais essa história de morar no Sudeste Asiático”, e aproveitou para dirigir a Tadeu um sorrisinho irônico.

Exatos 37 dias depois desse comunicado ao grupo, ele reapareceu para jogar. Estava de volta ao país, à cidade que amava, à pelada sagrada de todas as segundas-feiras.  Quando um dos amigos lhe perguntou se realmente achava que tinha tomado decisão certa, ele respondeu: “Uma vez ouvi um cara dizer que felicidade é se sentir completamente vivo. Eu estou feliz, amigo”. 

VENCEU QUEM CHUPOU GELO

Por Zé Roberto

A preleção do técnico e capitão Claudio Coutinho, durante sua passagem pelo Flamengo, era uma aula de logística, ouvida em absoluto silêncio. Tinha infiltrações peloponto futuro, overlaping, citações de Pablo Neruda e, claro, futebol. As de Jair da Rosa Pinto, no Fluminense, pedindo ao “Créber” que jogasse pelas “beiradas” contra o “Framengo” era um outra versão da Escolinha do Professor Raimundo, uma aula movida a gargalhadas. Mas às vésperas do jogo tinha também a pelada de dois toques em que até os massagistas jogavam. E quando a bola era dominada no peito pelo Jajá, com uma classe nunca vista, e era cruel com as caneladas do Coutinho, o silêncio respeitoso e o riso incontido trocavam de lado. Quem afinal seria o melhor treinador? O que se formou para o ofício ou quem fez do ofício profissão?


Ricardo Gomes durante uma partida da Seleção

Ricardo Gomes durante uma partida da Seleção

Jorginho, Ricardo Gomes e Muricy foram grandes jogadores, e Levir Culpi um bom zagueiro. E estudaram futebol. Ao chegarem com seus times às semifinais do campeonato carioca, deixam claro que aquela expressão “chupou gelo com quem?”, direcionadas aos que se formaram fora das quatro linhas e não viveram a cumplicidade daquelas santas pedrinhas que entravam em campo no kit hidratação dos massagistas, se impôs por aqui. Se tornou mais producente ensinar quem jogou ser treinador do que ensinar uma vida de bola a quem se formou em Educação Física.

Mas se no futebol profissional o ex-jogador se sobrepôs, nas divisões de base andam perdendo espaço pelo país. Cada vez mais Xerém tem menos Rubens Galaxe, Gilson Gênio e Mário e mais emprego para os portadores da carteirinha do CREF. Existem CTs que vetam nas peneiras menores de 1,75m, mesmo com o melhor do mundo, o Messi, medindo 1,69m. Na base do nosso futebol, que tinha Pinheiro, Célio de Souza, Neca e Liminha à frente, é que o garoto mais precisa de uma referência. Da bola e do clube. Hoje, treinam muito, fazem musculação e chegam ao profissional com erros básicos de fundamentos. Mal sabem passar, dominar uma bola, mas correr…


Jorginho, atual treinador do Vasco da Gama

Jorginho, atual treinador do Vasco da Gama

O futebol brasileiro deve muito aos seus profissionais da Educação Física. Carlos Alberto Parreira, Admildo Chirol, Claudio Coutinho, Sebastião Lazarone, Raul Carlesso, Ismael Kurtz, entre outros, realizaram com competência a transição do futebol arte de 70 para o futebol moderno praticado pela Holanda quatro anos depois, na Alemanha. Mas está provado, e a parceria Zagallo e Parreira foi seu maior exemplo, quando um cuida do cérebro e outro das pernas e dos pulmões dos jogadores, quem vence é o torcedor que vê surgir um novo craque. Não um implacável gladiador.

BEM-VINDO ROBERTO ASSAF!!!!

O Museu da Pelada tem o orgulho de comunicar a chegada de seu mais novo colaborador, que semanalmente nos brindará com alguma história exclusiva!!!! Roberto Assaf é um jornalista e pesquisador preocupado em preservar a memória do futebol, autor de 15 livros e do site www.robertoassaf.com.br


A pelada é anterior ao futebol

por Roberto Assaf

Não seria exagero afirmar, parafraseando Nélson Rodrigues no “Fla-Flu”, que a pelada começou 40 minutos antes da invenção do próprio futebol. O jogo criado pelos britânicos na segunda metade do século 19 já chegou carregado de regras, dentro e fora do gramado, e de posturas táticas que amarravam a imaginação, pessoal e coletiva. A pelada, nem tanto. Afinal, a popularidade de que goza hoje o velho esporte bretão em todo o planeta é fruto da improvisação que o bate-bola dos campinhos improvisados ofereceu. Pois é.

Num dia iluminado, o ser humano descobriu que uma esfera, dois pedaços de pau de qualquer tamanho, e um pequeno terreno livre, não importa o piso, bastavam para a festa rolar. Detalhe: sem equipamentos luxuosos e inacessíveis, e o mais importante, sem que fosse necessário gastar um mísero tostão para a sua prática.

Foi só então que os habitantes do Reino Unido resolveram sofisticá-lo, organizando a bagunça a partir do surgimento dos clubes que representavam bairros e cidades, colônias estrangeiras, escolas, fábricas e sindicatos, e até grupos políticos e religiosos, emprestando-lhe ainda o seu eterno caráter de pátria de chuteiras, principalmente nos países subdesenvolvidos, que costumam transformá-lo, quando vitorioso, em orgulho nacional.

Outro presente que a pelada deu ao futebol foi a sua conservadora imprevisibilidade, raríssima mesmo, quase invisível em outros esportes. Reza a lenda que um time formado por meninos descalços, sem muita técnica, derrotou em algum lugar perdido no tempo e no espaço, uma rapaziada de maior experiência e habilidade, naquele que foi o primeiro racha da história. Ninguém sabe o placar. Tanto faz. Do peladeiro de agora surge o craque de amanhã.

Hoje e todos os dias, ao redor do mundo, e quiçá em outros planetas, milhões de pessoas são mordidas pela chamada mosquinha do futebol. Ninguém consegue enxergá-la, pois ela chega sorrateira, faz o serviço e desaparece sem ser notada. O efeito é imediato. Ato contínuo, a vítima invariavelmente se entrega a essa loucura saudável e carregada de emoções, cujo fascínio ninguém conseguiu esclarecer com perfeição nos últimos 150 anos.

Há quem diga até que o futebol é capaz de estimular paixões ainda mais arrebatadoras que o amor, na sua essência, entre seres humanos. Absurdo? Vá a um estádio sem compromisso e observe com cuidado e neutralidade o comportamento insano das criaturas a seu lado. No entanto, saiba também que o futebol – na várzea ou longe dela – não alimenta apenas fanáticos desprovidos de reflexão ou bom senso, mas igualmente milhões de seres racionais, dotados de juízo e razão, que preferem apreciá-lo como se faz diante de qualquer manifestação de arte.

Alguns ignorantes dizem que é o ópio do povo. Exagero. Pois, na prática, o jogo ainda se presta como agente social, afastando milhões dos caminhos tortuosos que a vida às vezes quer impor, e mais, é capaz de aproximar a convivência entre gente de todas as raças, credos, ideologias e atividades.

Concluindo, e seguindo o raciocínio abordado no começo destas bem traçadas linhas, chamar uma partida de pelada é sobretudo um saudável elogio. Afinal, como se vê, essa sagrada atividade do cotidiano é que deu efetivamente vida ao futebol. E assim continuará sendo, até que a morte, nesse caso absolutamente improvável, os separe. Amém.

Mendonça

O ídolo sem títulos

texto: Maurício Fonseca | ensaio fotográfico: Nana Moraes | Making off e vídeo: Daniel Perpétuo

 

Entre 1968 e 1989 a torcida do Botafogo teve poucas alegrias. Sem títulos para comemorar, vivia momentos esporádicos de euforia. Um deles, para muitos o maior daqueles 21 anos, foi a vitória de 3 a 1 sobre o Flamengo, pelas quartas de finais do Campeonato Brasileiro de 1981. Não pela vitória e muito menos por ter eliminado o então campeão do mundo, mas sim pela forma como o Botafogo venceu e se classificou para as semifinais da competição. Para ser mais claro, o jogo se tornou especial para o torcedor do Botafogo, por causa do terceiro gol, feito por Mendonça, já no fim do jogo. Único craque do time, o meia deu um drible espetacular em Júnior, antes de tocar com  categoria na saída de Raul. O drible foi tão espetacular, que acabou batizado de “Baila Comigo”.

Quem nunca viu pode conferir no vídeo abaixo, com narração do saudoso Luciano do Valle. Tão sensacional quanto o gol de Mendonça!!! O craque recebeu cruzamento do ponta Edson dentro da área, pelo lado direito da defesa do Flamengo, matou “com nojo” a bola no peito, aplicou o “Baila Comigo” em Júnior e, na saída de Raul, tocou com a categoria dos grandes. No fim daquele ano, escalado para escolher o gol mais bonito do ano, Zico, que participara da partida, pediu perdão ao compadre Júnior e escolheu o de Mendonça. Foi realmente uma pintura. Aos 59 anos, com corpinho de 40, Mendonça ainda tem na memória aquele 18 de abril. Não é para menos. O Flamengo era talvez o melhor time do mundo, com Zico, Júnior, Leandro, Luis Pereira, Adílio, Andrade e Tita. Tentava o bicampeonato brasileiro e era favorito absoluto do confronto. Mendonça estava cansado de perder para eles.

 

 

– Foi um dos dias mais felizes da minha vida. O Maracanã estava lotado, mais de 100 mil pessoas. Não tem como esquecer. Depois do jogo, ainda no estádio, encontrei com a Sandra, minha mulher na época. Todo mundo estava falando do gol e ela, que é rubro-negra, me questionou, indignada : “Precisava disso tudo?” – recordou o ídolo, que fez ainda o primeiro gol da vitória.

Fã de carteirinha daquele time rubro-negro, Mendonça brinca com Júnior, a quem considera um dos maiores craques da sua geração.

– Acho que ele (Júnior) também nunca vai esquecer aquele dia. Tenho certeza que toda vez que deita para dormir ele pensa em mim.


Acho que ele (Júnior) também nunca vai esquecer aquele dia. Tenho certeza que toda vez que deita para dormir ele pensa em mim.

Mendonça atuou pelo Botafogo entre 1975 e 1982. Como o clube nada ganhou neste período, muito torcedor não tem a dimensão do quanto jogou Mendonça. Era um meia clássico, daqueles que fazem tanta falta ao futebol brasileiro hoje em dia. Armava o time e chegava à área para concluir. Era exímio cobrador de faltas. O típico camisa 10, apesar de jogar com a 8.

Filho do ex-jogador Mendonça, zagueiro do Bangu que teve a perna quebrada por Didi, em 1951, e abandonou a carreira, Mendonça chegou ao time principal do Botafogo pelas mãos de Telê Santana. O mestre viu o garoto atuando nos juvenis e não teve dúvidas: o levou para atuar com os profissionais. Foram oito anos direito atuando no meio-campo alvinegro. Não foi campeão, mas tornou-se ídolo. Não por caso, seu retrato está ao lado de monstros sagrados como Garrincha, Nilton Santos, Didi, Jairzinho, Heleno de Freitas e muitos outros. no lindo painel pintado bem em frente à sede de General Severiano.


Não sei porque a torcida do Botafogo gosta tanto de mim. Nunca dei um título a eles.

– Não sei porque a torcida do Botafogo gosta tanto de mim. Nunca dei um título a eles – indaga o craque.

Mendonça, a resposta é simples: além de craque, você jogava sempre com o coração,  como se fosse um torcedor dentro de campo. Quem viu, não esquece. Dona Luzia, mãe da fotógrafa Nana Moraes, viu e quase teve um treco com a pegadinha da filha, que no intervalo do ensaio para o Museu da Pelada, pediu ao craque para ligar de surpresa para ela, alvinegra roxa. Há alguns meses, nas fotos com PC Caju, Nana havia feito a mesma brincadeira com a mãe. Ao saber que os batimentos cardíacos da fã disparara, o eterno galã da estrela solitária alertou: “Olha o coração!!!”.  

Mas Mendonça não fez fãs apenas no Botafogo. Na verdade, ele rodou o  mundo após deixar General Severiano. Jogou na Portuguesa, Palmeiras e Santos antes de ir para o Qatar. Depois perambulou por times do Brasil – Grêmio, Inter de Limeira, Ponte Preta, Inter de Santa Maria e Fortaleza até encerrar a carreira no Bangu, onde começara no dente de leite. Foram 12 anos de futebol paulista. Nenhum título. Mesmo assim deixou boas lembranças. Está no hall da fama do Santos. Marcou sua presença com o futebol elegante e seus gols de placa. Uma vez fez dois golaços de voleio pelo Palmeiras, um com cada perna. O Fantástico que elegia o gol mais bonito do fim de semana abriu uma exceção e premiou os dois, o que jamais tinha acontecido.


Eu tinha uma jogada com o Éder, que botava a bola onde queria com a canhota. Nos escanteios, ia todo mundo para a área e eu ficava na meia lua. O passe parecia com a mão. Neste dia acertei os dois na veia.

– Eu tinha uma jogada com o Éder, que botava a bola onde queria com a canhota. Nos escanteios, ia todo mundo para a área e eu ficava na meia lua. O passe parecia com a mão. Neste dia acertei  os dois na veia – lembrou.

Além do corpo em forma, Mendonça mantém outra característica da época de jogador. Os óculos escuros. Dificilmente sai de casa sem um, que, não raras vezes, usa na testa. Também mantém o prazer de conviver com o torcedor. Adora ser reconhecido e jamais se furta a tirar uma foto ou dar um autógrafo. 


Quando vejo hoje um jogador desembarcando no aeroporto ou saindo do hotel com aqueles fones no ouvido me dá raiva. (…) eles não sabem o que estão perdendo.

– Quando vejo hoje um jogador desembarcando no aeroporto ou saindo do hotel com aqueles fones no ouvido me dá raiva. Isso afasta o torcedor, que só quer ficar perto do seu ídolo. Faz um bem danado, eles não sabem o que estão perdendo.

Não ficou rico, foi convocado para a seleção poucas vezes e não jogou na Europa. Mesmo assim, Mendonça garante que não se arrepende de nada do que fez, das decisões que tomou ao longo da carreira. Mas não perdoa o destino. Apesar de craque reconhecido e de ter atuado em diversos clubes, jamais foi campeão. Bateu na trave algumas vezes, como em 1986, quando o Palmeiras decidiu o título paulista com o Internacional de Limeira. Os dois jogos da final foram no Morumbi e ainda assim o título não veio.

– O pior foi que quando fui jogar no Inter de Limeira, na hora de assinar o contrato o presidente me mostrou uma taça enorme que tinha na sala. Ele me perguntou se eu sabia que taça era aquela. Disse que não, e ele, com um sorrisinho no canto da boca disse que era a do Paulistão de 1986. O diacho da taça era linda, enorme. Deu dó – recordou.

Mendonça leva uma vida calma  em Bangu. Faz parte do time de masters do Botafogo e adora representar o clube em cidades do interior. Só não entende porque jamais o Botafogo organizou um jogo de despedida para ele.

– Queria muito ter sido campeão pelo Botafogo, mas infelizmente não foi possível. O clube bem que podia organizar um jogo de despedida para mim. Acho que mereço dar uma volta olímpica com a camisa do Botafogo ao lado dos meus amigos e dos torcedores.  


Queria muito ter sido campeão pelo Botafogo, mas infelizmente não foi possível. O clube bem que podia organizar um jogo de despedida para mim. Acho que mereço dar uma volta olímpica com a camisa do Botafogo ao lado dos meus amigos e dos torcedores.