SAMBA EM PARIS
entrevista: Emiliah | direção de vídeo: Luciano Vidigal e Jeremy Ouisse participação especial (tantan): Paulo Lajão | texto: André Mendonça | edição de vídeo: Daniel Planel
Quase em tom de provocação o parceiro e cineasta Luciano Vidigal enviou uma foto de Valdo posando com os pais de sua mulher, a cantora Emiliah, na França.
– Olha o Valdo, aí!!!!
Qual a graça de o Valdo, craque em duas Copas do Mundo, do lado de lá e nossa equipe do lado de cá?
– Peraí, vamos negociar!!!! A Emiliah não faria uma repórter por um dia para o Museu? Enviamos as perguntas – sugeri.
– Taí, gostei! Posso dirigir!
Caraca, ter um vídeo do Museu da Pelada dirigido pelo estrelado Luciano Vidigal seria um sonho!!!! E o sonho só foi evoluindo com a participação do diretor francês Jeremy Ouisse, o sinal verde para a entrevista ser no belíssimo Parc des Princes, estádio do Paris Saint-Germain, e a participação do consagrado baterista Paulo Lajão, no tantan. É, a turma transformou o papo numa resenha musical!!! Amigos, o que seria da vida sem eles!!! Luciano Vidigal dirigiu 5xPacificação, 5xFavela, Copa Vidigal e Cidade de Deus – 10 anos depois, atuou em Tropa de Elite, é roteirista e joga nas onze! Nunca o vimos jogando peladas, mas tem pinta de craque! E Emiliah está há 10 anos na estrada se apresentando no Brasil e em Paris.
Foi lindo!!!
Ao sair do túnel que dá acesso ao gramado, o ex-jogador caminhou sozinho até a linha lateral e, admirando as arquibancadas, parecia estar em outra dimensão. E não poderia ser diferente. Aposentado desde 2004, quando encerrou a carreira no Botafogo, Valdo vestiu a camisa do PSG por cinco anos e viveu grandes momentos naquele estádio, tendo, inclusive, conquistado a Copa da França em 95.
Após o momento nostálgico, sentou nas cadeiras da arquibancada e, logo de cara, foi obrigado a lembrar de um dos momentos mais marcantes da carreira. Em alusão ao fatídico episódio da água batizada no duelo contra os argentinos na Copa de 90, a cantora Emiliah arrancou uma gargalhada de Valdo ao perguntar se ele aceitaria um copo d’água do Maradona.
– Hoje em dia eu aceitaria! Ele queria que eu bebesse, mas eu não tinha o hábito de beber muita água durante as partidas. Quem bebeu, como o lateral Branco, passou mal, teve tontura… – lembrou.
Vale destacar que essa já era a segunda Copa do Mundo de Valdo. Com apenas 22 anos, foi convocado por Telê Santana em 86, para disputar o torneio no México. O elenco, no entanto, era repleto de craques remanescentes da Copa de 82, como Falcão, Zico e Sócrates, e o garoto, na época, apenas assistiu à competição do banco de reservas.
A experiência fez o talentoso meia amadurecer. No ano seguinte, Valdo assumiu a faixa de capitão da seleção no torneio pré olímpico na Bolívia e levantou o caneco diante da torcida adversária, após um belo gol de fora da área, na final contra os donos da casa.
– Acho até que o goleiro quis me dar uma moral e deixou a bola entrar. Ganhamos de 1 a 0 e eu levantei a taça. É um momento único. Foi o jogo que marcou a minha vida.
Durante a resenha com Emiliah, Valdo relembrou toda sua trajetória no futebol e se esquivou para escalar o melhor time em que atuou. Descoberto pelo Grêmio com 16 anos, nas divisões de base do Figueirense, o craque precisou de pouco tempo para se firmar na equipe titular do tricolor e fazer história ao lado de Renato Gaúcho.
– Ter o nome gritado pela torcida era o que eu sempre sonhava. Ser considerado ídolo pela torcida do Grêmio era maravilhoso.
Após cinco anos no Sul, atuou por Benfica, o já citado PSG, e pelo futebol japonês, antes de retornar ao Brasil. Apesar de ter sido repatriado com uma idade considerada avançada, impressionava pelo vigor físico, aliado à inteligência na parte tática. Foi peça fundamental no acesso do Botafogo à Série A, em 2003, aos 39 anos, antes de pendurar as chuteiras.
Mais brasileira do que nunca, a resenha no Parc des Princes só poderia acabar em samba. Ao ser perguntado sobre qual era a sua relação com o estilo musical, o craque não titubeou:
– Gosto muito de um batuque! Quando rolava festa lá em casa, todo mundo cantava o samba! Cada um no seu ritmo, meio desafinado, mas ia embora!
Foi aí, então, que, mesmo diante de um frio arrasador, Emiliah buscou os instrumentos e, ao lado do pai, Paulo Lajão e do ex-jogador, fez uma roda de samba bacana em pleno estádio francês.
– (…) SÓ RESTOU MINHA VIOLA, MEU CAVACO, MEU PANDEIRO E O TAMBORIM… QUE TEMPO BOM, QUE TEMPO BOM, QUE NÃO VOLTA NUNCA MAIS.. – cantava Valdo.