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OS GRANDES PERDEDORES

por Serginho 5Bocas

ZIZINHO 


Quando menino, meu pai (tricolor) dizia que Pelé havia sido o maior jogador de futebol que tinha visto jogar, mas que não tinha toda a certeza disso porque houve um jogador chamado Zizinho, que por sinal era o ídolo do rei Pelé e de muita gente boa. Meu pai dizia que Zizinho, ou Mestre Ziza, era um eterno condenado e sem prescrição da pena, ele, ao lado do goleiro Barbosa, eram os líderes de toda uma geração de condenados, os “perdedores” da Copa de 50. 

Mestre Ziza foi um gênio de futebol, entretanto carregou o gosto amargo da derrota em casa na final da Copa de 1950. O pior é que depois disso, ainda teve que pagar um alto preço por liderar um protesto, que culminou com seu afastamento de novas convocações do escrete canarinho, mas talvez a seleção do Brasil tenha se saído pior nesta história, pois abrir mão de um talento como aquele tem muito a ver com a insensatez que reinava e ainda reina nos meandros do poder do futebol brasileiro.

Assim, fez falta demais na Copa de 1954, pois com ele certamente teríamos mais munição para enfrentar os temíveis húngaros, fazer o quê?

Já no final de carreira quando jogava no Bangu, foi contratado pelo São Paulo e aos 37 anos, liderou o time rumo ao título do Campeonato Paulista, um feito e tanto se considerarmos a idade e a qualidade dos jogadores da época.

Em entrevista anos depois, ele disse que após a convocação de todos os jogadores para a Copa de 1958, ligaram para ele e fizeram um convite para que ele fosse a Copa da Suécia comandar a seleção em campo, mas educadamente ele recusou, disse não achar justo tirar a vaga de alguém que já estava sonhando com a participação na Copa, o jovem Moacir.

Justo, ético e humano, só mesmo um gênio para praticar um gesto de nobreza e altruísmo como esse, algo raríssimo nos dias de hoje, coisas de uma época mais romântica do futebol.

Zizinho foi considerado o melhor jogador da Copa de 1950 e um dos maiores de todos os tempos.

PUSKAS 


O major galopante foi o grande líder do grande time do Honved e da seleção húngara, a inesquecível e quase invencível “magiar”.

Um time quase perfeito que tocava a bola com rapidez e objetividade impressionante. Muitos dizem que foram eles que inventaram o aquecimento antes das partidas, e que por isso entravam em campo a 1000 por hora e decidiam as partidas nos minutos iniciais, pois enquanto os adversários precisavam de um tempo para aquecer, eles já entravam em ponto de ebulição e isso fazia uma enorme diferença.

Ficaram por longos anos invictos e foram perder justamente na final da Copa do Mundo de 1954, ficando com o vice após derrota por 3×2 para os alemães ocidentais, num jogo que ficou conhecido como a “batalha de berna”, pela sua dramaticidade.

Puskas sofreu uma entrada violenta no segundo jogo da Copa, justamente contra os mesmos alemães ocidentais, ainda na primeira fase, quando venceram por 8×3. Essa contusão tirou-o de quase toda a Copa, só retornando na final, em que marcou o primeiro gol e “quase” fez o que seria o gol de empate (3×3) e que foi infelizmente anulado pelo árbitro.

Puskas ainda fez muito sucesso no futebol, desfilando sua enorme categoria e precisão, jogando pelo Real Madrid na Espanha, também deu ares de sua graça atuando pela fúria espanhola após ter se naturalizado, em razão de problemas políticos internos e gravíssimos no levante que ocorreu na Hungria que o obrigou a se asilar em outro país.

O canhotinha foi um dos maiores jogadores de todos os tempos e possui um recorde que nem Pelé tem, o de maior artilheiro de seleções nacionais em jogos oficiais com 84 gols em 85 jogos.

Puskas é o melhor jogador húngaro de todos os tempos e é considerado um dos maiores jogadores de futebol do mundo de todos os tempos.

CRUYFF  


Foi o revolucionário do futebol, o maestro da laranja mecânica, nome dado ao time holandês durante a Copa de 1974. Uma equipe que mudou conceitos futebolísticos e que nunca mais o mundo viu nada parecido.

Cruyff era jogador de todo o campo, buscava a bola lá atrás e a levava até a outra área com enorme facilidade. Era difícil definir em que posição Cruyff jogava, tal sua impressionante movimentação por todos os espaços e sua capacidade de executar funções distintas.

Corpo esguio e elegante, se destacava num grupo de virtuosos, no meio de várias feras ele era a “FERA” das feras.

Cruyff colocou, juntamente com seus companheiros, a Holanda no mapa do futebol, nunca antes nem depois se formou uma equipe nas terras baixas com tamanha qualidade e capacidade de enfeitiçar os torcedores.

Cruyff não venceu a única Copa em que participou, pois perdeu a final para a Alemanha ocidental, mas ninguém que presenciou aqueles sete jogos dos laranjas irá esquecê-lo. Uma pena que ele não quis participar da Copa de 1978, dizem que por motivos políticos, pois era totalmente avesso ao regime ditatorial do general Videla que presidia a Argentina na época.

Aquele início arrasador na final da Copa de 1974, em que a Holanda deu a saída de bola e ficou com ela por mais de um minuto, só parando no pênalti cometido por Volks em Cruyff, ficou na antologia do futebol, coisa de almanaque.

Ele ainda jogou e reinou no Barcelona e nos Estados Unidos, de volta para a Holanda encerrou a carreira passando pelo Ajax e Feyernood.

Cruyff foi o maior jogador holandês de todos os tempos e um dos melhores do mundo. 

ZICO  


Foi o craque da melhor seleção pós 70 (era Pelé), aquela que encantou o mundo na Copa da Espanha em 1982. Seleção que ficou conhecida pelo jogo bonito e envolvente, de movimentação constante, posse de bola e belíssimos gols, uma pequena amostra do que se convencionou chamar de futebol arte.

Zico era craque, arco e flecha, aquele que arma no meio de campo e corre até a área para concluir com perfeição.

Zico tinha a facilidade do drible, uma visão privilegiada do campo e do jogo, a capacidade de conclusão apurada e o passe como suas maiores qualidades. Apesar de ser um artilheiro mortal, ele não esquecia dos companheiros e não se cansava de dar passes milimétricos para que marcassem seus gols.

Zico foi cidadão do futebol no mundo, sendo rei na Itália e Deus no Japão, ídolo do esporte e pessoa admirada pelo futebol e pelo caráter fora das quatro linhas.

O futebol foi sua forma de se expressar, de mostrar ao mundo todo o seu talento e seu profissionalismo.

Zico foi o maior artilheiro do Flamengo e do Maracanã e para muitos o melhor jogador de futebol brasileiro pós Pelé e um dos maiores do mundo.

PLATINI 


Foi o comandante da maior geração de futebol francês de todos os tempos. Capitaneava um grupo que tinha ninguém menos do que Giresse e Tigana como companheiros e coadjuvantes.

Esse grupo apresentava um futebol refinado e de toques precisos e de alta categoria. Pareciam não fazer esforço para jogar bola. Apesar de não terem vencido uma Copa do Mundo, não há como esquecer as lindas apresentações que fizeram principalmente em 1982. Pena não termos presenciado uma final entre a França e o Brasil naquela Copa, a de 1982, seria uma ode ao futebol arte.

Platini tinha extrema classe e categoria que era demonstrada quando se relacionava com a bola. Simplificava o que aparentemente era dificílimo no jogo e o fazia com tal qualidade que fazia parecer a coisa mais simples e possível a qualquer mortal.

Jogou 3 Copas do Mundo e encantou nas de 82 e 86, apesar de ter sido eliminado pela mesma Alemanha nas duas ocasiões, mas nada disso foi capaz de apagar seu brilho.

Comandou a maior vitória de seu país até então, a Copa Europeia de Seleções de 1984, sendo também o artilheiro da competição.

Iluminou os gramados italianos quando comandou a Juventus e foi eleito o melhor jogador europeu por três vezes consecutivas.

Foi sem sombra de dúvidas o maior jogador da França de todos os tempos com sobras e um dos mais clássicos do mundo.  

O que todos estes supercraques tiveram em comum? 

Todos foram mestres da coletividade sem abandonar e exprimir suas potencialidades individuais.

Todos eles foram legítimos representantes do futebol arte; 

Todos eram os líderes incontestáveis de suas equipes.

O futebol bem jogado por eles está acima de qualquer suspeita e que nem mesmo o título de campeão do mundo que eles tanto desejaram e não conquistaram apagou todo o legado que eles deixaram para o futebol ao redor do mundo. 

O mais intrigante disto tudo é que todos eles são mais lembrados do que muitos vencedores de Copa e são respeitados em todo o mundo como grandes do futebol mesmo sem ter alcançado a sua maior glória.

Pena da Copa do Mundo! 

TODA UNANIMIDADE É BURRA

por Marcos Vinicius Cabral


Se o teatrólogo, jornalista, romancista, folhetinista, frasista e cronista esportivo Nélson Rodrigues soubesse a dimensão que a carreira de Zico tomaria, não teria dito a célebre frase: “TODA UNANIMIDADE É BURRA”.

Ou quem sabe, poderia ter tornado menos incisiva: “NEM TODA UNANIMIDADE É BURRA”.

Falecido numa manhã de domingo em 21 de dezembro de 1980 por complicações cardíacas – afinal de contas, viveu tantas emoções ao longo de seus 68 anos – e respiratórias – abusou do tabagismo e do sedentarismo por inconsequentes décadas – , um do mais influentes dramaturgos do século XX viu pouco do que o maior camisa 10 do Clube de Regatas do Flamengo produziu dentro de campo.

Viu, por exemplo, a imprensa esportiva mundial chamá-lo de “el fenómeno”, quando em sua estreia na seleção brasileira, marcou o gol da vitória nos triunfos sobre o Uruguai em Montevidéu e a Argentina em Buenos Aires, em partidas pela Copa do Atlântico, em fevereiro de 1976.

Um mês depois, viu outra grande atuação da jovem promessa rubro-negra em um amistoso no Maracanã para quase 88 mil pagantes, contra a poderosa “Máquina Tricolor”, que mesmo sem Rivellino, com febre, contava com Carlos Alberto Torres, Edinho, Carlos Alberto Pintinho, Doval e Paulo Cézar Caju.

No dia seguinte, sentou-se numa cadeira, acendeu um cigarro, colocou papel no rolo da sua inseparável máquina de escrever e sem interrupções e correções, datilografou com os indicadores o texto final do ÓBVIO “o melhor jogador do mundo”, artigo semanalmente para O Globo.


Em seguida, com olhos ULULANTES releu – o segredo para escrever bem não era ler, mas reler, segundo diziam seus amigos mais próximos – a brilhante manchete no Jornal dos Sports: “Zicovardia”, numa alusão à atuação do camisa 10 da Gávea, que marcou os quatro gols na goleada de 4 a 1 e tornou-se o primeiro – e até hoje único – jogador a marcar quatro vezes num Fla-Flu na “Era Maracanã”.

Se relia Dostoiévski e Machado de Assis – seus escritores prediletos – algumas vezes, teve a oportunidade de assistir aos dezesseis títulos conquistados de 1971 a 1979; a premiação com a Bola de Ouro da Revista Placar como melhor jogador do Campeonato Brasileiro de 1974; a artilharia do Campeonato Carioca de 1975, com expressivos 30 gols (marca que não era alcançada no Rio desde 1949), além é claro, das conquistas da Taça Guanabara, do Campeonato Brasileiro e do Torneio Ramón de Carranza, estes três últimos, no mesmo ano em que ascendeu da Terra.

Mas se o torcedor mais ilustre do tricolor das Laranjeiras viu pouco do jogador brilhante que foi dentro das quatro linhas, não viu o ser humano em que se transformou fora delas.

Nascido em 1912, o pernambucano de Recife não viu, por exemplo, Zico e a geração de ouro do Flamengo conquistarem a América e o Mundo, em 1981.

Há torcedores rivais que não consideram feitos tão importantes, já que dizem que a conquista da Libertadores foi roubada (referem-se aos cinco jogadores atleticanos expulsos pelo árbitro José Roberto Wright naquele Flamengo e Atlético Mineiro no Serra Dourada em Goiás) e o Mundial sem a participação de algum time argentino não ter o mesmo peso.

Que bom que TODA UNANIMIDADE É BURRA, como se tais considerações tirassem o brilho dessas conquistas, que por vezes, se misturaram ao suor no rosto de cada jogador.


O repórter policial do A Manhã não viu Zico na seleção brasileira de 1982 encantar o mundo em gramados espanhóis e ser sucumbido para a Itália de um Paolo Rossi devastador naquele 05 de julho, conhecido como “Tragédia do Sarriá”.

No entanto, o estádio que todo brasileiro não gosta de lembrar foi palco da última partida onde o argentino Di Stéfano jogou como profissional em 1965, vestindo a camisa do Espanyol, anos antes de ser demolido em 1997 – onde hoje é um belo conjunto residencial e um parque bem arborizado.

Graças a Deus que TODA UNANIMIDADE É BURRA, pois dizem que União Soviética, Nova Zelândia, Escócia e Argentina de Fillol, Passarela, Kempes e Maradona eram fracas e que quando enfrentou uma seleção de verdade como a Itália comandada pelo estrategista Enzo Bearzot, perdeu.

O autor de “A mulher sem pecado” – sua primeira peça teatral – não viu Zico conquistar seu segundo título Brasileiro em 1982, contra o poderoso Grêmio de Ênio Andrade, que contava ainda com Leão, Paulo Roberto, De León, Batista, Paulo Isidoro, Renato Gaúcho e Baltazar, em pleno estádio Olímpico.

Ainda bem que TODA UNANIMIDADE É BURRA, pois alguns ‘entendedores’ alegam que a equipe gaúcha foi prejudicada pelo árbitro Oscar Scolfaro aos 10 minutos do segundo tempo, no lance em que o cabeça de área Andrade tirou a bola em cima da linha do gol, defendido por Raul na decisão do título.

Passados 36 anos, volta e meia surge a discussão que aquele pênalti não assinalado mudaria a história do jogo e que a equipe carioca não se tornaria campeã.

O irmão de Mário Filho não viu Zico conquistar o terceiro título Brasileiro de sua história contra o Santos, em um Maracanã repleto de flamenguistas.

Pois TODA UNANIMIDADE É BURRA, como diziam que o Galinho de Quintino era jogador de Maracanã (é sim como méritos, artilheiro do estádio com 333 gols), sem saber que aquela partida seria sua última com a camisa do Flamengo, pois já estava vendido ao Udinese da Itália.


O editor do suplemento O Globo Juvenil não viu Zico marcar 19 gols logo na sua primeira temporada italiana, ficando apenas um atrás de Michel Platini, artilheiro do campeonato e da campeã Juventus, que jogou seis partidas a mais.

Certamente TODA UNANIMIDADE É BURRA, diriam os sensacionalistas de plantão (como manchete de um famoso jornal carioca), fazendo questão de dizer que nos dois anos que jogou na Itália, o máximo que o jogador conseguiu foi uma condenação a oito meses de prisão e a pagar uma multa de 830 mil dólares por ter fraudado o fisco.

O autor de “Meu destino é pecar”, que assinou o pseudônimo “Suzana Flag” para não ser reconhecido em seu primeiro folhetim para O Jornal, veículo de propriedade de Assis Chateaubriand, não viu Zico ser alvo de botinadas e pontapés desleais, como as do lateral esquerdo Márcio Nunes, quando Flamengo e Bangu se enfrentaram pelo Campeonato Carioca em 1985.

Sem dúvidas, TODA UNANIMIDADE É BURRA, já que alguns preferiram que no lance ocorrido em 29 de agosto, entre o camisa 10 rubro-negro e o camisa 6 alvirrubro, o Galinho foi intencionalmente com o pé por cima da bola na dividida.


O contista que começou a escrever no Última Hora “A vida como ela é”, seu maior sucesso jornalístico, não viu Zico fazer um sacrifício enorme para jogar no México, sua terceira Copa do Mundo.

Porém, TODA UNANIMIDADE É BURRA, pois até hoje em discussões sobre o insucesso da equipe comandada pelo mestre Telê Santana, impropérios são ditos como se o pênalti que Zico perdeu aos 29 minutos do segundo tempo, fosse o causador daquela derrota para a França.

O maior frasista do país não viu a abertura do Campeonato Carioca de 1986, quando Zico pisou o gramado ao lado de Sócrates – inclusive único Fla-Flu que a dupla jogou juntos – no Maracanã e ouviu os grito de “Bichado! Bichado! Bichado!”, vindo da torcida adversária, que se aboletara do lado direito às cabines de rádio.

Mesmo assim, TODA UNANIMIDADE É BURRA, pois se tem um clube que sofreu horrores com esse “bichado”, ele atende pelo nome de Fluminense Football Club.

O participante do programa Grande Resenha Esportiva, primeira “mesa redonda” da TV brasileira, não viu Zico, aos 34 anos, comandar o Flamengo na conquista do Campeonato Brasileiro de 1987, após dois jogos épicos contra o Atlético Mineiro na semifinal e dois contra o Internacional na final.


Lamentavelmente, TODA UNANIMIDADE É BURRA, pois até hoje quem é considerado campeão é o Sport, pois o Flamengo, – assim como a equipe gaúcha – se negou a jogar contra o vencedor do outro módulo da competição.

O criador de Vestido de Noiva, peça teatral de estrondoso sucesso no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, não viu dois anos depois, o ex-camisa 10 da Udinese ter seu recurso julgado às instâncias superiores, e ser absolvido, como o jornal italiano “La Repubblica” publicou em 29 de setembro de 1989: “ZICO NON EVASE IL FISCO” (ZICO NÃO FRAUDOU O FISCO).

Enquanto isso, TODA UNANIMIDADE É BURRA, pois Nélson Rodrigues, se envergonharia da notinha no rodapé de um famoso jornal carioca ao falar da absolvição do craque.

O escritor que publicou suas memórias no Correio da Manhã, onde Mário Rodrigues, seu pai, trabalhou cinquenta anos antes, não viu Zico jogar profissionalmente sua última partida em 02 de dezembro de 1989, no estádio municipal Radialista Mário Helênio em Juiz de Fora (MG) e golear por 5 a 0 o Fluminense.

Todavia, TODA UNANIMIDADE É BURRA, diriam os que sempre acharam o Galinho acabado para o futebol e criticaram o goleiro tricolor Ricardo Pinto, fazendo-o cair em desgraça, por ter declarado feliz em tomar o último gol do “Deus” rubro-negro, em mais uma magistral cobrança de falta.

O autor de “Toda nudez será castigada” não viu O Galinho de Quintino desembarcar nos idos dos anos 1990 na Terra do sol nascente e ser endeusado, desde então, pelos japoneses quando jogou no Kashima Antlers e é, até hoje, carinhosamente chamado de “Jico”.

E não é que TODA UNANIMIDADE É BURRA, enquanto uns dizem que foi um grande jogador e outros o considerem apenas bom, numa discussão que perdura há 24 anos desde sua aposentadoria em 1994.

No entanto, em 21 de dezembro do ano passado, completou-se o 38° ano de morte de Nélson Falcão Rodrigues e no dia 27, o 15° ano do Jogo das Estrelas, evento beneficente promovido por Zico.


Enquanto Nélson foi – e continua sendo – referência para todo (a) estudante que sonha escrever bem, Zico foi – e continua sendo – referência para todo (a) garoto (a) que sonha ser jogador (a) de futebol.

Ah!, Nélson, que prazer é ler o que escreves…ah!, Zico, como é bom ver seus lances e gols quando jogavas!

Se um escreveu o que o outro jogou, a recíproca é verdadeira: o que jogou inspirou para o outro escrever.

Ambos, foram whorkaholics em suas profissões.

Foram gigantes.

E porque não dizer: fazem falta no jornalismo das fake news e nos campos de futebol com excesso de vontade mas carente de arte.

Ainda bem que li Nélson Rodrigues e vi Zico jogar.

DOMINGO ERA DIA DE ZICO

por Zé Roberto Padilha


Ate nós, jogadores, ficamos assustados com o tamanho daquele burburinho. Não era a final do Carioca ou do Campeonato Brasileiro de futebol. Muito menos, havia uma Copa Libertadores em disputa. Era apenas o primeiro Flamengo x Vasco pelo primeiro turno do estadual de 1976. Se ficamos assustados em campo, os torcedores não. Estes foram avisados pelos Deuses do Futebol: “Vão para o Maracanã, meus filhos, assistir um ser quase humano em extinção”. E eles, 174.770 torcedores, que se transformou no quinto maior público da história do maior estádio do mundo, se espremeram entre a geral, cadeiras e arquibancadas. Era um domingo, dia 4 de abril de 1976. E domingo era dia de Zico.

A ficha só caiu diante daquela profusão de gente quando ele, Zico, fez um corta luz para o Luizinho e correu para receber à frente. Aos 25 minutos do primeiro tempo. Nosso camisa 9 tocou mal e a devolução subiu mais do que devia. Pouco importava, ele acertou o corpo na corrida e, de primeira, desferiu um sem pulo improvável e jogou a bola no ângulo esquerdo do Mazarópi. Era um lance raro até para o futebol arte praticado no país naquela ocasião. Mas era um domingo de futebol no Rio. E domingo era dia de Zico.


Quem jogou aquela partida, como eu, precisou, desde então, adotar como os sobreviventes de Hiroshima, as testemunhas da queda das torres gêmeas, do terremoto de San Francisco, um psicólogo e um otorrino. As cenas e os zumbidos permaneceram acesos e nos fazem abrir os olhos assustados de madrugada diante de um silêncio que, nos parece, preceder a chegada de uma enorme explosão. Nenhum público do atual Campeonato Brasileiro atingiu 77.770 espectadores. Se alcançassem, imaginem mais 100 mil pessoas com seus isopores, fogos, apitos e bandeiras.

O Maracanã, que era nosso, era um estádio ocupado por um povo feliz e miscigenado antes da chegada do padrão sectário da FIFA. E nossos templos sagrados viraram arenas, os espetáculos se tornaram dramas e os dribles, os gols, toda a magia foi desaparecendo junto à multidão. Só ficou mesmo no Rio o domingo. Com praia, sol, gente bronzeada e bonita, mas nunca mais se viu uma tarde sua igual aquela. Um domingo que era dia de Zico.

FUTEBOL ARTÍSTICO E FUTEBOL DE TERROR

por Rubens Lemos


Enquanto traço o queijo de coalho bem nordestino, o amigo 12 anos mais novo, faz observações sobre minha ortodoxia pelo futebol antigo. Ele, Pacheco de Copa do Mundo. E vocifera, no entusiasmo dos juvenis em HD:

– Você gosta de um futebol do passado, gosta de um futebol bonito, mas os tempos mudaram, hoje é marcação e velocidade.

O tempo e a impaciência são primos próximos, irmãos da razão. Deixo o queijo (uma delícia), descer devagar, tomo um gole de Coca-Cola e aciono o gatilho de minha metralhadora indignada:

– Gosto de tudo o que é bonito. De mulher bonita, de livro bom, de filme bonito, de música bonita, de um queijo delicioso e de uma carne de sol suculenta. Prefiro tudo isso à uma canelada de Fred ou uma arrancada inútil de Taison, seus ídolos.


Ele ponderou que tudo tem sua época e eu respondi que meu tempo é o tesouro precioso guardado no baú de minha alma. No futebol, prefiro rever o futebol brasileiro esquecido às palhaçadas de uma geração rica, mimada e mais preocupada com o contracheque do que o
gol.

Passei da metralhadora ao fuzil M-16 verbal. O amigo é vascaíno igual a mim, porém necessita de medicamentos, pois considera razoável o horroroso time atual.

Solto o questionário, admito, mais interrogatório do que entrevista:

– Você é fã de Juninho Pernambucano é? Pois saiba que ele não jogava um milímetro de Geovani…

– Juninho batia falta bem e lançava muito… – retrucou

– Geovani driblava, lançava, batia pênalti, falta, escanteio, dava lençol e caneta em adversário craque, era um maestro. Se quisesse, faria chover numa chapada na bola.

Meu amigo estranhou. Afinal, conhece a Chapada Diamantina e a dos Guimarães.

– É, mas eram outros tempos..

Prossegui enquanto uma picanha descia ao prato:


– Se você acha que Willian sabe jogar, veja um vídeo de Paulo Cézar Caju, um gênio malabarista, se você acha que Renato Augusto merece a camisa 8 do Brasil, vá ao YouTube e digite Didi 1958 ou Gerson 1970. Se Roberto Firmino te encanta, crave Romário e procure uns golzinhos dos tantos que ele fez. Entre Paulinho e Zico, respeito sua opinião, mas Zico jogou mais o equivalente à distância entre a Terra e o infinito, o interminável.

Mudamos de assunto. Passou uma loira de ganhar Hexas e Heptas, bronzeadíssima e plenamente consciente e mascarada dos seus predicados volumosos. Uma gostosa institucional.

Saí do restaurante mais puto da vida com quem idolatra uma seleção sem exceções que não Neymar e Phillipe Coutinho. Saí certo de que minha geração não engole esse tipo de futebol agradável feito dor de dente em fim de semana: feio, fechado, esquemático e cheio de jogador com nome de praça e desempenho de lixo.

No estacionamento, ainda provoquei:


– Você que gosta de marcação e correria, escreve para a Fifa e pede logo para retirar as traves do gramado. Joga tudo pro 0x0, que é o escore da mediocridade, dos notebooks e dos scouts, que Garrincha desmoralizaria num drible de gafieira.

Respeito aos mais velhos, meninada.

Somos pelo futebol artístico, vocês pelo de terror.

O INJUSTIÇADO

texto: Renato Belém Bastos | fotos e vídeo: Daniel Perpetuo

Que vida de goleiro não é nada fácil todo mundo sabe. Por mais que feche o gol durante 89 minutos, uma bobeira no último lance da partida pode jogar tudo por água abaixo. Foi o caso do goleiro Loris Karius, que ajudou o Liverpool a chegar na grande final da Liga dos Campeões, mas falhou feio no momento decisivo.


O caso de Jadir é um pouco diferente. Formado nas categorias de base do Flamengo, o goleiro ficou famoso na Portuguesa da Ilha, quando sua equipe venceu o Rubro-Negro. A fama, no entanto, se deu não só por conta das grandes defesas, mas também devido a um gol olímpico sofrido.

No livro “Zico – 50 Anos de Futebol”, está lá, na página 123, que em 25 de outubro de 1982, o Galinho marcou o primeiro gol olímpico de sua carreira. Embora tenha sido um belo gol, ele mesmo afirma que o vento ajudou, fato que foi confirmado por Jadir. 

O goleiro, aliás, é uma daquelas pessoas que não tem como você não gostar. Um cara amigo, honesto e extremamente emotivo, que teve uma passagem pelo futebol profissional e depois seguiu a sua vida como professor de Educação Física. Ainda hoje bate a sua bola, já sem a flexibilidade de antes, mas com a mesma paixão.