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O GENIAL ZICO*

por Elso Venâncio, o repórter Elso

Zico, o ídolo da Nação Rubro-Negra, formada por mais de 40 milhões de apaixonados, chegou na última sexta-feira aos 70 anos de idade. É um dos maiores jogadores identificados com um clube popular na história do futebol mundial. Está no mesmo patamar do que representam Puskas, para o Honved; Di Stéfano, para o Real Madrid; Beckenbauer, para o Bayern de Munique; Tostão, para o Cruzeiro; Garrincha, para o Botafogo; Ademir da Guia, para o Palmeiras; e principalmente, Pelé, para o Santos.

A relação de Zico com o torcedor tem que ser lembrada e realçada. Zico sabe o que representa e retribui com gentileza todo o carinho que recebe. Vi muita gente, e não foi só no Rio, economizando dinheiro durante a semana, contando grana, para poder ver Zico jogar. Vi muito torcedor pegar trem, ônibus de madrugada após horas de espera, indo direto para o trabalho após ver Zico jogar. Vi diversas vezes o ídolo cercado de fãs, pacientemente concedendo autógrafos, assinando camisas ou batendo fotos.

Nos cartórios do Brasil foram registrados mais de 3.500 nomes ‘Zico’. No Japão, mais de mil. Em 18 anos de Flamengo, o ‘Galinho de Quintino’ conquistou 42 títulos. Os mais destacados, a nível internacional, foram o Mundial de Clubes e a Libertadores, ambos em 1981, além da Copa Kirim (1988), o Torneio de Hamburgo (1989), o de Nápoles (1981), o Cidade de Santander (1980) e o bi do Ramón de Carranza (1979/1980). A nível nacional, as mais importantes taças que levantou são os quatro Campeonatos Brasileiros, os sete Cariocas e as nove Taças Guanabara. Fosse pouco, ainda tornou-se artilheiro de dois Brasileiros. E seis vezes do Estadual.

A Copa do Mundo de 1986 poderia ter outra história. Imaginem o duelo dos geniais Zico e Maradona, numa hipotética final… Na Toca da Raposa, a poucos dias do embarque para o México, eu mesmo o aguardei por quase duas horas. Ele estava fazendo musculação… Que determinação! Já passava das oito da noite quando ele saiu dos aparelhos, meio irritado:

– Estou sentindo…

– E agora? – perguntei.

– Não sei…

Lembro do treino na véspera do seu último jogo oficial, o Fla-Flu em Juiz de Fora, em dezembro de 1989, que terminaria 5 a 0 para o rubro-negro, com direito a um golaço dele, de falta. O ônibus partiu sem Zico, que continuou no vestiário da Gávea. Estava relaxando na sauna. Não havia um diretor, um segurança, nem assessor ou torcedores. Gravei com ele, revestindo toda a programação da Rádio Globo até a hora do jogo, além das edições do ‘Globo no Ar’. Era a principal notícia do final daquele ano. Na manhã seguinte, o craque foi para a partida dirigindo seu carro ao lado da esposa Sandra.

No último ‘Jogo das Estrelas’ observei pais emocionados. Com filhos pequenos, apontavam para o campo:

– É o nosso Rei!

Percebi que as crianças olhavam para os pais sem nada entender…

Zico assinalou mais de 500 gols pelo Flamengo. É, disparado, o maior artilheiro do clube. Além disso, é o número 1 dentre os goleadores do Maracanã, tendo marcado 334 gols no mais famoso estádio do mundo. Também é o recordista mundial de gols em cobranças de falta. No total, 101 em jogos oficiais. E 146, na soma geral.

Em 1981 ele foi considerado o ‘Craque do Ano’ do futebol mundial. A pesquisa foi realizada pela revista italiana ‘Guerin Sportivo’, uma das mais renomadas do gênero na Europa.

*Colaborou: Peris Ribeiro

A PELADA DE GALA DO GALO

por Mauro Ferreira

Da mesma forma que a bola pune, a bola elege. Há 70 anos, em março de 1953, resolveu entregar seus dengos e segredos a um pirralho nascido filho de português. Se 13 anos antes havia apontado seus gomos para um bairro pobre da cidade mineira de Três Corações, dessa vez encontrou no carioquíssimo subúrbio de Quintino, no Rio de Janeiro, mais um de seus raros, raríssimos escolhidos.

Não à toa, o menino ganhou nome de rei. Um rei nascido história, senhor da távola. Franzino como o outro, não arrancou da pedra uma espada; fez da bola a sua espada e com ela arrancou “ohs”, “ahs”, suspiros e a alegria de tanta gente sofrida.

Arthur era pequeno e o apelido – inevitável – foi se modificando ao longo do tempo, do crescimento, e dos campos onde ia mostrando aos outros os tais segredos e dengos que a bola havia lhe dado. Primeiro, Arthurzinho, seguido por Arthurzico e, por fim – coisa de brasileiro – o minimalista Zico. Mais fácil de ser lido, escrito, gritado e… louvado. Elevado à categoria de semideus. Assim como Deus, quatro letras; assim como Pelé, quatro letras.

Arthur fez 70 anos dia 3 de março. Setenta. Dois dias antes, na sua pelada de toda quarta-feira, no CFZ, entrou em campo. No primeiro toque na bola…gol! Mesmo com o joelho ainda acusando a entrada maldosa de décadas atrás. Só que o tal Arthur, ainda é – e pra sempre será – o escolhido da bola.

Não à toa, foi para muito alem do rei da távola. Foi ser divino. Atende, em oração, pelo nome de:

ZICO.

ZICO 70

por Serginho 5Bocas

Hoje é o aniversário do Galinho de Quintino e eu fiquei pensando se seria capaz de escrever alguma coisa para homenageá-lo sem ser repetitivo, até porque muita coisa já foi escrita e falada sobre ele. Então como montar essa equação? Não sei, mas vou tentar!

Sou um dos milhões de fãs “número 1” que o Zico tem. Pessoas que não se conhecem, mas que nutrem o mesmo sentimento, o de idolatria. Gente de vários cantos do planeta que o amam e que tremem quando ficam de frente com a fera, já tive essa oportunidade e deu ruim pra mim.

Zico é uma raridade nos dias de hoje, foi também em sua época, que era recheada de craques, mas que mesmo naqueles idos, poucos jogavam em um só clube e eram verdadeiros torcedores dentro de campo. Uma joia de valor incalculável para o torcedor, pois já pensou saber que o seu o seu ídolo é um torcedor tão fanático feito você? Ele era e ainda é!

Zico foi um daqueles raros craques, que aumentaram o tamanho do clube. Ele não jogou em um clube rico, que potencializou o seu talento, muito pelo contrário. No início da carreira, esteve ao lado de muita “baba” e se esforçou ao extremo para puxar o sarrafo para o andar de cima e conseguiu com louvor. O Flamengo de Zico tocou o topo do mundo e deixou uma marca de qualidade indelével na história do futebol.

Zico no Flamengo foi um personagem diferente de Messi, por exemplo, que fez carreira no milionário Barcelona, que era recheado de craques para lhe ajudar durante toda a sua carreira ou de CR7, que teve números estratosféricos quando jogou no time galáctico do Real Madrid, que lhe dava todo o suporte para bater recordes. Eles não foram colocados à prova em um time mais modesto, para mostrar o quanto poderiam oferecer.

Nesse quesito, ele foi do naipe de Pelé no Santos, de Falcão no Roma e de Maradona na seleção argentina e no Napoli, que jogaram em times que eram menores até as suas chegadas, mas que transformaram tudo ao seu redor com as suas presenças e talentos. Não é fácil explicar isso para quem vê futebol hoje em dia, de times milionários, verdadeiras seleções mundiais, mas acreditem: ele fez isso.

O Wikipedia mostra em uma pesquisa sobre recordes das Copas do Mundo, que Zico foi o jogador com mais gols e passes para gols da Copa de 1982 (4+4). Eles montaram uma tabela de pontos que dá o mesmo valor para um gol e um passe e pouca gente ao longo de todas as Copas conseguiu ter números desta monta nos dois quesitos. Pelé em 1970 fez 10 pontos (4+6), Maradona em 1986 também fez seus 10 (5+5) e Ronaldo Fenômeno em 1998 fez 7 pontos (4+3). Apesar disso, eu tenho que ouvir de muita gente, que nem viu Zico em campo, dizer que não jogava nada com a amarelinha, quanta maldade e inveja.

Outro lado que pouca gente comenta é o seu engajamento no sindicato dos jogadores profissionais do Rio na década de 70, quando seu colega de profissão Zé Mário era o presidente. Lembro dos encontros no Maracanãzinho para jogos de futebol de salão com a renda ou mantimentos destinados a SADEF ou das várias “peladas” do Flamengo ou da Seleção Brasileira, para reverter a renda para sobreviventes de enchentes, entre outras iniciativas com o viés altruísta, numa época em que o social nem era moda.

Não é pra qualquer um ser o ídolo de Ronaldo Fenômeno, David Beckham, Seedorf, Roberto Baggio, Alex, Leandro, Aquinagua, Michael Laudrup, Tigana, Amaral, Vampeta, Edilson, Tite, Leonardo e muitos outros de uma lista incontável. Zico era “o cara” na seleção dos “caras” da Copa de 1982. Ele deu seu nome para muitas crianças que nasceram naquela época, atraiu diversos novos torcedores para o Flamengo e, na Udinese, seus fanáticos torcedores diziam que a presença dele no time era como ter um motor de Ferrari num fusquinha, tal a musculatura que ele deu aquele time franzino.

No ano de 2000, estive uma única vez no CFZ, clube do Zico, num torneio de veteranos com craques aposentados dos quatro grandes clubes do Rio de Janeiro. Lembro como se fosse hoje que, ao final da partida entre Vasco e Flamengo, pais e filhos se apertaram na arquibancada e gritavam por um autógrafo de todos os jogadores que saíam do campo, num sol de meio-dia no Rio de Janeiro.

Os ex-jogadores iam se afastando, acenando com a mão, mas ninguém parou para falar com as crianças e os adultos ali presentes. Exceto Zico, que fez um sinal de longe, quando distribuía autógrafos (ainda não havia selfies) e veio falar com o povo. Zico pediu para organizarmos uma fila e falou com todos que ali estavam. Fotos e autógrafos para uma imensa legião de fãs num sol escaldante. Eu tive a sorte de tirar uma foto com meu ídolo, que guardo até hoje com todo o carinho. É por essas e outras que Zico foi e ainda é ídolo de tanta gente.

Não sei se consegui resolver a equação que citei no início desta crônica, de falar diferente do meu ídolo, mas joguei o jogo sem “amarelar” e como sempre digo a plenos pulmões:

“Nunca fui tão feliz antes e nem depois de Zico”

Parabéns pra você, Galinho!

Forte abraço
Serginho 5Bocas

EM 1986, FLAMENGO 4 X 1 FLUMINENSE E SHOW DE ZICO

por Luis Filipe Chateaubriand

No início do ano de 1986, primeira rodada da Taça Guanabara, Flamengo e Fluminense se confrontaram no Maracanã.

De um lado, Zico, Sócrates e Bebeto, dentre outros.

Do outro, Romerito, Assis e Washington, dentre outros.

Veio o primeiro tempo.

Aos dez minutos do primeiro tempo, Adalberto cruzou pela esquerda e Zico, de “peixinho”, fez o gol de cabeça.

Flamengo 1 x 0 Fluminense.

Aos 44 minutos do primeiro tempo, Leomir cobrou pênalti com perfeição.

Flamengo 1 x 1 Fluminense.

Veio o segundo tempo.

Aos 27 minutos do segundo tempo, Zico bateu falta com perfeição absoluta!

Flamengo 2 x 1 Fluminense.

Aos 30 minutos do segundo tempo, Bebeto penetrou na área pela direita e chutou em gol com extrema felicidade.

Flamengo 3 x 1 Fluminense.

Aos 35 minutos do segundo tempo, Zico bateu pênalti de forma irreparável.

Flamengo 4 x 1 Fluminense.

O brilho de Zico no jogo não se resumiu aos três gols que marcou.

Bateu falta no travessão.

Deu passe a Adalberto de calcanhar.

Fez lançamento de bicicleta.

E até “matar” a bola com as nádegas, para dar agilidade à jogada (como ele mesmo confirmou), fez.

Em resumo, aquele dia do início de 1986 foi o dia de Zico!

ZICO E UM CERTO FLA-FLU

por Marcos Vinicius Cabral

Por conta dos altos custos com o Maracanã, Flamengo e Fluminense preferiram sair do Rio de Janeiro e jogar o clássico em Juiz de Fora.

Ainda no vestiário, Zico, faltando poucos minutos para as equipes entrarem em campo, sabendo que as cortinas estavam prestes a serem fechadas e que o público não assistiria sua arte, pediu:

Não quero homenagens. O melhor presente é jogar com garra. Este vai ser o agradecimento que eu quero receber de vocês.

Atentos, Zé Carlos, Josimar, Júnior, Rogério, Leonardo, Ailton, Luis Carlos, Renato Gaúcho, Bujica e Zinho ouviram o pedido e selaram ali um acordo de que não comprometeriam a despedida do camisa 10 em partidas oficiais pelo clube.

Era Campeonato Brasileiro de 1989. Tanto Flamengo e tanto Fluminense iam mal das pernas.

Os tricolores na rabeira do grupo em que estava e os rubro-negros sem forças para alcançar o São Paulo por uma vaga na decisão.

O momento de ambos, prometia um jogo insosso. Uma partida em que as duas equipes, sem pretensões nenhuma, não poderiam oferecer nada aos 13 mil pagantes que estiveram presentes no Estádio Municipal Mário Helênio, naquele 2 de dezembro de 1989.

Mas um pedido de Zico é uma ordem. E assim foi na vitória por 5 a 0.

O primeiro gol nasceu da genialidade do Chaplin dos campos, que sem dizer uma só palavra – como fazia o gênio do cinema mudo – aplicou uma caneta desconcertante em Donizeti, antes de ser parado com falta.

Se preparando para a cobrança, os olhos aflitos do goleiro Ricardo Pinto buscavam solução para algo insolucionável: como deter aquele chute de Zico?

Ricardo Pinto voou e tentou em vão, mas a bola foi na gaveta, sem que o camisa 1 tricolor conseguisse evitar mais uma pintura de gol.

Já nos 45 minutos finais, outro lance magistral do camisa 10. Zico descolou de bicicleta um lançamento fabuloso para Renato Gaúcho, que arrancou e resolveu.

Era o suficiente ao veterano de 36 anos, que coincidentemente, aos 36 minutos, foi substituído por Valdir Espinosa e deixou o campo logo depois disso. Luis Carlos, Uidemar e Bujica fecharam a goleada.

Há 33 anos, não há mais Fla-Flus como os que Zico jogava.

Contra o Fluminense, o Galo era impiedoso e muito, muito malvado.

Ao final do clássico, Zico não disfarçava a emoção, já que receberia, merecidíssima nota 10 dos jornais que cobriram o jogo.

Pouco mais de dois meses depois, 100 mil pessoas estiveram na despedida grandiosa que o genial 10 rubro-negro realizou no Maracanã, em fevereiro de 1990.

Até hoje, depois de 33 anos sem ver o maior camisa 10 do Flamengo em campo, me pergunto: haverá um outro Zico?

Pelo menos alguém merecedor de, como dizem os boleiros, “carregar as chuteiras” do Zico?

Zico foi arco e flecha. Zico foi semente plantada na Gávea, regada por muitos treinos, que cresceu, frutificou, fez sombra e as raízes permanecem firmes até hoje, no coração de nós, rubro-negros.

Zico já saiu de cena do futebol e mantém-se simples e humilde com todos, bem diferente do jogador altivo que foi enquanto esteve em campo fazendo peraltices como uma criança levada.

Ah, Zico… quantas saudade!