por Rodrigo Cabral
Era uma manhã de sábado, acordei todo empolgado para mais um dia ensolarado em Porciúncula, cidade do interior do Rio e fronteira com Minas, onde morei na infância. Era dia de treino do meu time e ali naquele campo de terra eu sonhava junto aos outros meninos e como a maioria deles, em ser um jogador de futebol. Confesso que fui um moleque um tanto privilegiado, as referências da minha geração formam o elenco dos sonhos de muitos até hoje. Sou da época de Romário, Bebeto, Raí, Djalminha, Zinho, Rivaldo, Ronaldo, Edmundo, dentre tantos outros monstros sagrados.
Diferente da maioria dos outros tantos e tantos meninos, eu não calçava apenas chuteiras, meu coração sempre bateu mais forte pelas luvas também. E já que estamos falando de uniforme, para mim nada de shorts, eu gostava mesmo de agarrar de calças, meião, devidamente colocado por cima dessas calças. Modo de vestir que denunciava que meu grande sonho era ser o Zetti.
Me recordo de nos treinos sempre tentar imitar as pontes que ele dava, evitando espalmar a bola, numa busca implacável pelo encaixe perfeito, mas se fosse para espalmar a gorducha, me esticava todo para que fosse plasticamente perfeita, ao menos no meu juízo de criança. Além da obsessão pelas defesas perfeitas inspiradas no meu ídolo, fui um jovem sem cabeça o suficiente para entender que goleiros falham. Cada bola que eu sentia que poderia ter defendido e não defendia me derrubava, não fisicamente como no meu ofício dos sonhos, mas emocionalmente. Contudo, embora às vezes com lágrimas nos olhos, ao lembrar da garra do Zetti, desistir deixava ser uma opção. Seguia eu com meu talento e energia de menino, entre falhas e sucessos, fazendo ótimas partidas.
Afinal, meu craque e inspiração ficava embaixo da três traves. Não me lembro de nada mais empolgante do que ouvir o Galvão Bueno gritando com todo seu fôlego: “Zetti! Que nem um gaaaaaato na bola”. Fechava os olhos instantes antes de sair para defender uma bola, e não me via, via o Zetti fazendo aquelas lindas defesas de mãos trocadas.
As saídas rápidas, que com uma mão, faziam a bola atravessar o campo e ir de encontro ao destino dos pés exatamente de quem ele queria. Mesmo ao falhar não havia tempo para crítica, porque ele era maior do que qualquer erro. A cada defesa dele eu ficava tão feliz, que parecia sempre final de Copa do Mundo. Zetti! Craque, ídolo! Obrigado por ter me inspirado a a seguir meus sonhos, embora tenha seguindo um outro caminho, tudo em mim começou quando você, sem saber quem e nem de onde eu era, me guiou nessa coisa mágica e poderosíssima chamada sonho.
Meus ídolos calçam luvas e no meu esquema de jogo você sempre vai ser o número 1.