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O ROBOSANTOS

por Zé Roberto Padilha

No meu tempo adolescente, e tome tempo nisso, o pior da pelada ia para o gol. Simples assim. Em outros países, claro, mas não tão simples no país do futebol, onde poucos não jogam bem.

Muitas peladas eram canceladas porque ninguém queria jogar no gol. O garoto pensava: se todos atiram bombas para debaixo dos três paus, porque eu vou ficar lá para elas explodirem em minhas mãos?

Até que surgiu um goleiro que despertou seguidores. Era Pompéia, do América, do Rio, cuja elasticidade e saltos encantava as novas geracões. Logo ganhou o apelido de Ponte Aérea.

Do jeito que Éder Jofre levava meus amigos brigões para o boxe, e o Emerson Fittipaldi quem tinha um fusca para as pistas, de repente os ruinzinhos começaram a comprar luvas. E tentar voar também para impressionar as meninas.

E, de repente, na contramão desse atrativo que vencia a escassez, equilibrava a procura por posições, surge o Santos. Goleiro do Flamengo. E estraga tudo.

Tão bem colocado, não salta. Caminha para a defesa. Tão seguro, não solta a bola, e tira a emoção de um possível rebote. Parece um robô. O Robosantos, frio e calculista, não fala, nem falha. Seu contato com a bola é macio, suave, e cadê que ela se desgarra?

Não cria ambiente ruim, como Diego Alves, nem oscila como Hugo, apenas entra em campo para defender sua nação. Entra mudo, sai calado e, em mais de vinte jogos, sofreu apenas três gols.

Que coisa mais sem graça. Nem uma ponte. Um salto sequer, um franguinho por entre às pernas. Tá certo, não faz cera, mas defender um time que quer e sabe jogar, seria até incoerente.

Mas esse rapaz tem se mostrado tão diferente que o sindicato dos goleiros solicitou novos exames à CBF. E sugeriram a colocação de próteses.

Um par de Asas. Quem sabe retornem as emoções?

OS ESTRAGOS QUE UMA MERCEDES FEZ NA MINHA VIDA

por Zé Roberto Padilha

Tem seres humanos, como eu, que nasceram para dirigir, com muito orgulho, um carro Polo, da Volkswagen. Tirando o Puma azul-marinho, uma paixão boleira comprada na Lemos & Brentar, no Jardim Botânico, foi o melhor carro que já tive.

Mas naquela tarde, no ano de 1976, em nossa garagem só tinha uma Mercedes Benz. Uma preciosidade, daquelas que você é obrigado a virar o pescoço e seguir seus sonhos. Era conversível e azul da cor do mar. Morava com minha irmã, no Leblon, era seu carro, e nosso apartamento ficava a duas quadras do Flamengo, onde jogava.

Para variar, contundido no tornozelo, estava entregue ao DM e só ia ao clube fazer tratamento. A imprensa, especialmente o jornalista Oldemario Touguinhó, em sua coluna no JB, não me poupava.

Trocado pelo Doval, um ídolo rubro-negro, enquanto ele jogava e marcava gols pelo Fluminense, eu nem entrava em campo.

Daí tive a infeliz ideia de pedir a minha irmã seu carro emprestado. Estava ruim de andar. E, com muito cuidado, realizei as duas curvas que separavam minha casa do meu local de trabalho porque o carro valia bem mais que o meu passe. E quando encostei no estacionamento, quem para ao lado?

Dia seguinte, a coluna de Oldemário Touguinhó, no JB, poderia ser confundida com aquele caderno que anuncia um obituário como jogador profissional do CR Flamengo: “Zé Roberto? Esquece, nação, o cara anda de Mercedes Benz. Está preocupado em jogar?”

Zico, se não me engano, tinha um Chevete.

RECORTES DE UMA VIDA – PARTE 3

por Zé Roberto Padilha

Trabalhava na Prefeitura de Três Rios, em 1987, um ano após encerrar minha carreira, quando o Rubens Galaxe me indicou para ser técnico dos Infantis do Flu. Ele dirigia o Juvenis.

Primeira pergunta que fiz em Xerém, porque não poderia arriscar ficar sem emprego :

– O treinador infantil cai também?

Me falaram que sim. “Tanto que você está aqui assumindo o lugar do que caiu!”, responderam.

– Mas foi por resultado?

Não, erro de avaliação. O treinador também tem que observar jogadores indicados ao clube. E ele foi convidado a ir até Vitória-ES, observar dois garotos da Desportiva. Eram irmãos.

– E aí, o que aconteceu?

Bem, tinha o meia, o Rodrigo, que está com a gente, e ele não observou qualidades no ponta esquerda. Não indicou a sua contratação. Acontece que o Flamengo ficou com ele. E, que azar do treinador, no último Fla x Flu ele fez o gol da vitória. E aí…

– Que azar! Qual o nome do ponta?

– Sávio.

Ainda bem que ganhamos o título infantil e não perdi o emprego. Acontece.

De repente o Sávio não estava inspirado naquele fatídico dia em que o futebol tricolor perdeu um dos mais completos ponta esquerda que vi jogar.

Ou meu antecessor era maluco. 

UMA LIÇÃO AOS (IR)RESPONSÁVEIS

por Zé Roberto Padilha

Quando compramos um ingresso para um espetáculo, como uma partida de futebol, uma peça de teatro, está incluído no pacote um palco e um gramado à altura dos seus artistas.

O que o Maracanã possibilitou aos milhares de espectadores, anteontem, momentos de pura magia, foi negado a quem se dirigiu domingo ao Alfredo Jaconi.

Deveriam devolver o ingresso aos que foram assistir e os pontos ao Fluminense. E punir quem autorizou a bola ser afogada por lá.

Um crime palcos irregulares cercearem a Fernanda Montenegro e ao André, o Divino, e Cia, toda a plenitude de sua arte.

Todos perdem.

LIÇÕES TARDIAS DE UMA COPA DO MUNDO

por Zé Roberto Padilha

Fomos eliminados na última Copa do Mundo, na Rússia, em 2018, pela Bélgica. Como sempre, muitos jornalistas, torcedores, nem lembro, mas estava no bolo dos inconformados, o país não poupou o técnico Tite. Muito menos o Neymar.

Mas logo para a Bélgica?

Bem, revendo, hoje, os melhores lances da partida, entendemos melhor porque perdemos. E não foi para qualquer seleção.

Sabe quem era o goleiro deles? Courtois, do Real Madrid. Fez contra o Brasil o que fez contra o Liverpool.

Quem fez o segundo gol deles, já que o primeiro foi contra, de Fernandinho? Kevin DeBruyne, campeão inglês pelo Manchester City e um dos mais completos jogadores do time de Guardiola.

E quem era o centroavante? Lukaku. Campeão Mundial de Clubes pelo Chelsea.

Não é pouca coisa. Se estão voando hoje, medalhas no peito, titulos mundiais, imaginem há quatro anos?

Apenas outra lição dos que vivem, como todos nós, a procurar erros nas derrotas sem enxergar os méritos dos vencedores.

A outra Copa do Mundo está próxima.

Quem sabe não aprendemos mais esta lição que o futebol nos concedeu?