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zé roberto padilha

ENFIM, UMA BOA IDEIA

por Zé Roberto Padilha

Uma das mais sensatas intervenções dos nossos zagueiros é quando chegam antes dos atacantes e aliviam o perigo pelas laterais. E não pela linha de fundo.

Um corner é 78% mais perigoso que o mais venonoso dos laterais, o cobrado por Marcos Rocha, segundo o Ipec. Com nossos goleiros receosos de sair, com as chuteiras fixas na linha da pequena área, os atacantes e os defensores possuem, segundo o Datafolha, os mesmos 50% de possibilidade de marcarem o gol ou afastarem o perigo.

Agora, o Vasco anuncia a contratação de um inglês, da terra das bolas alçadas sobre a grande área, para ser o treinador de bolas paradas. Que grande inovação!

Ao estudar a postura adversária e de posse da qualidade de impulsão, cabeceio e antecipação dos seus jogadores, Alex Clapham, o nome da fera, poderá surpreender os adversários.

Essa inovação cairia muito bem no Grêmio, por exemplo, treinado por Renato Gaúcho. Conhecido por priorizar a liberdade de criação, de não cercear a capacidade inovadora e ilimitada dos nossos jogadores, ele detesta suprimir o talento de cada um com jogadas ensaiadas.

Como jogador, gostava do Didi e do Evaristo de Macedo, que também pensavam assim. Nada é mais chato do que repetir jogadas à exaustão sem combinar com os adversários.

Porém, Geromel agradeceria se, na volta do Diego Souza para ajudar a marcação num escanteio contra, ele soubesse onde Manoel, zagueiro artilheiro do Fluminense, se posicionaria.

Parabéns ao Vasco. Depois da introdução do treinador de goleiros, no final dos anos 70, por Raul Carlesso, essa foi outra grande inovação que só trará benefícios às nossas equipes.

Não será mais um cargo criado para aumentar a folha salarial da Comissão Técnica. Esse será para aumentar a renda com os resultados obtidos.

A ÚLTIMA VEZ FOI COM A CAMISA 7

por Zé Roberto Padilha

A ultima vez que pisei no gramado do Maracanã foi em 1985. Jogava pelo Bonsucesso FC, tinha 33 anos e não contava mais com o auxílio dos meus meniscos da caneta boa, a esquerda, para continuar exercendo minha profissão.

Meus preparadores físicos pediam que nadasse, não treinasse no campo duro para sobrecarregar o joelho. E com aquele calor do subúrbio carioca, em Teixeira de Castro, imaginem o que o elenco reclamava enquanto aquele “folgado” realizava seu trabalho no parque aquático ao lado. A sorte minha, azar deles, é que abria a caixa e voava no domingo mesmo com duas hélices enguiçadas.

Paulinho Carioca (foto) jogava comigo e era muito parecido. No tamanho, no início da calvície e era ponta também. Só que do lado direito.

Quando enfrentamos, no Maracanã, o poderoso Fluminense de 85, cujo lado esquerdo tinha Branco, Tato e Assis, nosso treinador Denílson, o Rei Zulú, deixou o Paulinho, mais ofensivo, no banco, e me escalou com a camisa 7 para tentar marcar aquelas feras. Foi minha primeira, e ultima, experiência jogando do lado direito.

Fiz o melhor que pude, mas aos 43 minutos Branco se livrou desse “pentelho” e cruzou para Assis abrir a contagem. No intervalo, Denílson agradeceu minha colaboração e me substituiu pelo Paulinho. Louco ou corajoso, resolveu sair para o jogo.

Mudei de roupa e fui encontrar meus pais, que foram de Três Rios até lá ver seu filho jogar. E depois visitar o Bruninho que acabara de chegar. Ao me aproximar, vi meus pais batendo boca. Diminui o suficiente para não intervir. E seu Zé Roberto, bravo, esbravejava;

– Você, Janet, não sabe nada de regras. Aonde já se viu um jogador começar com a camisa 7 e voltar com a 16? Tem súmula que eles assinam!

E minha mãe, confiante, afirmava:

– Posso não conhecer de regras, mas que mãe não conhece seu filho? Aquele lá é o Robertinho…

Quando me viram, meu pai abriu um sorriso e minha mãe ficou branca. Na dúvida, reforcei a tranca da porta. Morava em Jacarepaguá. Vocês sabem, quem enganou até a mãe…

Obs. Na foto, contra o Corinthians. Paulinho em uma ponta, eu na outra.

UMA VOADORA QUE PODE ROUBAR UM SONHO

por Zé Roberto Padilha

O que leva um atleta rodado, como Carlos Eduardo, do Bragantino, dar uma voadora sobre Guilherme Arana, aos 44 minutos do segundo tempo, em uma jogada na intermediária que não levava perigo a gol algum?

Ao atingir no joelho o lateral esquerdo, único titular da seleção brasileira que joga no país, ameaça levar para o Departamento Médico o sonho maior de todo jogador: disputar uma Copa do Mundo.

Tão imbecil a jogada, que ela conseguiu imbecializar a comentarista de arbitragem do Canal Premiére, que por nunca ter disputado uma jogada, declarou que o cartão amarelo “estava de bom tamanho”.

Guilherme Arana se arrastou nos minutos finais de Atlético-MG 1×1 Bragantino. Vai realizar exames e tomara que seu joelho, que é quem dita a expectativa de vida de um atleta profissional, não tenha sofrido uma grave lesão nos meniscos ou nos ligamentos cruzados.

Se Zico realizou obras-primas durante sua ascensão, imagine o que faria se o Márcio, do Bangu, não lhe desferisse uma voadora parecida que lhe roubou parte dos movimentos?

Na hora, doeu aqui em casa. Operei o meu diante de uma imbecialidade parecida, talvez pior, pois fui atingido num treino recreativo. E o meu futebol perdeu a graça. Deixou de ser um prazer para se tornar um sofrer em outras três cirurgias corretivas.

Boa sorte, Arana.

uma previsão em meio a uma decisão

por Zé Roberto Padilha

Esse time tricolor (foto), de 1973, estava em campo jogando contra o Flamengo a decisão do estadual. Talvez tenha sido a final mais encharcada da história do Maracanã. As águas desciam com vontade.

Manfrine fez sua melhor partida e vencemos por 4×2. E o treinador Duque, que só gostava de “cobra-criada”, teve a ousadia de infiltrar Carlos Alberto Pintinho e Cléber entre nossos “cascudos”. Tinham 19 anos.

Perto do jogo acabar, com a pressão final do Flamengo, uma bola correu para perto do nosso banco de reservas. E um outro garoto rubro-negro, frágil e habilidoso, que era a aposta do outro lado, tentou alcançá-la. E escorregou na poça d’água. E levou uma vaia sem tamanho da já impaciente torcida rubro-negra.

E todos nós, reservas do time, empolgados com a proximidade do título, bicho gordo na conta, não o perdoamos. E decretamos seu futuro: “É, esse menino não vai mesmo longe!”.

Realmente ele, Arthur Antunes Coimbra, não foi longe. Nem precisou. Realizou um trabalho de reforço muscular com o Francalacci, e fez, do próprio estádio do Maracanã, o palco do seu reinado.

Quanto aos corneteiros e palpiteiros, quem foi mais longe foi o Pintinho. Substituído e torcendo no banco ao nosso lado, participou da banca examinadora que decretou o futuro do Zico no futebol. E foi parar em Sevilha.

Quanto aos demais, não sei. Sei de mim, de volta à Três Rios, e que nunca mais arriscou um palpite. Nem no jogo de bicho. Com o Galo ali à nossa frente encharcado, o embrião de uma das maiores cobras do nosso futebol, resolvemos apostar no burro.

Que acabavam de ser campeões carioca de futebol de 1973.

AQUI JAZ UM SONHO DE MENINO

por Zé Roberto Padilha

Não tinha essa foto. A do pesadelo. Porque tenho várias que revelam o meu sonho de defender, por sete anos, o time do meu coração. O Fluminense FC.

Cheguei em 1968 nas Laranjeiras e permaneci até essa partida, contra o Internacional, em dezembro de 1975, pelas semifinais do Campeonato Brasileiro.

Meu primeiro contrato profissional foi em 1972, o técnico era o Zagalo. Era reserva do Lula e não tinha essa palhaçada de time misto.

Ele jogava, eu assistia. E o substituía quando servia à seleção brasileira.

Em 1974, Parreira assume, Lula é vendido ao Inter e assumo, depois de tanta luta e espera, a titularidade da camisa 11.

Quando entrei em campo, liderava a Bola de Prata da revista Placar, como melhor ponta esquerda, estava na lista dos pré-selecionados, de Osvaldo Brandão e nosso treinador, Didi, pedira a renovação do meu contrato. E, na partida anterior, atropelamos o Palmeiras, no Maracanã, por 4×2.

Conhecem nossos quinze minutos de fama?

Pois é, aos 23 minutos Lula abriu a contagem, e Paulo César Carpegiani fez 2×0, aos 30 minutos do segundo tempo. Aos 32 fui substituído em campo pelo Carlos Alberto Pintinho e fora dele trocado pelo Doval, do Flamengo. E nunca mais vesti a camisa do meu time de coração.

Foram duas Taças GB, 71 e 75, três títulos estaduais, 71, 73 e 75, conquistados, além do título de Campeão Juvenil, em 1970.

Permaneci em cena por mais dez anos, e encerrei minha carreira defendendo o Bonsucesso FC, pela primeira divisão carioca, de 1985.

Tenho um pequeno memorial, que montei para meus filhos e netos curtirem. Os pôsteres estão nas paredes, livros, medalhas, faixas e troféus na estante.

Faltava a foto da lápide dos meus sonhos.

Agora, não falta mais.