Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

zé roberto padilha

A CASA DO MADUREIRA

por Zé Roberto Padilha

Depois de mais um fracasso mundial do nosso futebol, o já combalido Campeonato Carioca começa da pior maneira possível.

Logo na segunda rodada, com ingressos a R$ 400 mais taxa de 60 reais, Flamengo enfrenta o Madureira em Cariacica, no Espírito Santo. E com time Sub-20.

No lugar de cobrar ingressos ao vivo mais barato do que o sentado na poltrona pagando o Canal Premiére, a Federação de Futebol do Rio continua a afastar seu público dos estádios. E logo de Madureira, que o Arlindo disse ser o nosso lugar?

Não basta torcer por uma seleção que, por seus convocados jogarem na Europa, você só os assiste pela televisão. Agora, até os jogos do Madureira vão estar distantes.

Madureira é o nosso lugar. De sambar na Portela e Império Serrano que são de lá. Mais sair de lá, do berço do samba e do futebol para vê-la atuar no Espírito Santo é retirar, de vez, a magia carioca do seu ex-cultuado estadual.

Obs: bebês entram de graça, segundo o site oficial da FERJ. Ainda bem!

CLASSE DESUNIDA

por Zé Roberto Padilha

Posso falar porque foi minha profissão. E não joguei dois dias, foram 17 anos, desde os juvenis do Fluminense FC (1968), até o Bonsucesso FC (1985): não existe uma classe tão desunida quanto jogador de futebol.

Faltava um grande exemplo, agora não falta mais. Para o Jogo das Estrelas, que tinha visibilidade e o tapete do templo do futebol carregado de gente, todos compareceram ao Maracanã. Era uma festa.

Alguns dias depois, no velório do cidadão que abriu as portas do mundo para eles e todos nós, atletas profissionais, estrelas ou nao, apenas o Zé Roberto, Clodoaldo e o Mauro Silva estiveram presentes ao lado dos seus antigos companheiros de clube. Não era uma festa. Era o velório do nosso Rei do Futebol. Era uma questão de gratidão e respeito.

O presidente da Fifa foi. O Tite, o Felipão, o Parreira, Ronaldos, o Senador Romário, Rivaldo e nenhum outro consagrado jogador brasileiro teve a dignidade de se dirigir até Santos.

E dizer: “Benção, meu Rei! Obrigado por ter existido”.

Só sabem cuidar de si, de buscar brilho individual em um esporte coletivo. Quando Tite lançou o Fred, contra a Croácia, com poucos minutos para nos classificar, era para ele esvaziar a bola.

Aí ele lembrou que heróis são aqueles que marcam gols. Coadjuvantes são todos. Richarlison virou mania, Casemiro quase uma estátua. E se lançou ao ataque. Quem sabe? E no contra-ataque…

Obrigado Mauro Silva, Zé Roberto, Clodoaldo, por nos representarem, levar um grande abraço de despedida a quem nos proporcionou tantas alegrias. Porque não, a nossa razão de existir e ser respeitados pelo mundo.

Agora fala que tem direito de imagem, bebida liberada, Sala Vip, Picanha com ouro, show com a Anitta e desfile da Marquezine..

A FALTA QUE O DRIBLE NOS FAZ

por Zé Roberto Padilha

Não inventamos o futebol. O drible, a finta, a bicicleta, o elástico, o da vaca e usando a perna do adversário, me desculpem os ingleses, fomos nós.

Essa geração de treinadores gaúchos, Dunga, Felipão e Tite, de uma escola de resultados, nada ousados, pois limitados todos foram atuando, praticamente aboliu o drible na seleção brasileira.

De Marcelo a Daniel Alves, que driblavam e apoiavam, levamos Danilo e Militão que não sabem driblar ou ultrapassar. E deixamos no Brasil Guilherme Arana (machucado), de um lado, Rodinei e Marcos Rocha do outro.

Garrincha, o maior dos nossos dribladores, deve estar se contorcendo em seu descanso eterno. Saiu o ranking das equipes que mais driblaram na primeira fase da Copa do Mundo: o Brasil foi apenas o décimo, média de 6,4 dribles por partida.

Média que nosso gênio das pernas tortas realizava a cada dez minutos. Desde que chegou ao Botafogo.

No primeiro treino, na primeira bola que pegou colocou-a entre as pernas do mais famoso jogador da casa e da seleção: Nilton Santos.

Além de zoado, ouviu um conselho:

Vai deixar, capitão?

Nilton Santos respondeu:

– Não vou deixar. Vou pedir a diretoria para contratar. Melhor ter esse cara do nosso lado do que jogar contra!

E fomos felizes para sempre, ganhamos cinco mundiais, até que os retranqueiros gaúchos chegaram.

Toca, pega, bah!, guri, marca, aperta, tchê!, barbaridade!

AMIGOS AMIGOS, ELIMINADOS À PARTE

por Zé Roberto Padilha

Na Copa de 90, fomos eliminados pela Argentina. Alemão, companheiro no Napoli de Maradona, poderia ter parado com falta sua arrancada no meio-campo. E não fez. Apenas o cercou. Maradona deixou Caniggia na cara do gol e fomos eliminados.

Contra a Croácia, Casemiro poderia ter feito o mesmo, parado Modric com uma falta no meio-campo. Mas apenas cercou o seu ex-companheiro de Real Madrid. E ele pode puxar o contra-ataque que resultou no gol de empate.

A história é implacável. E se repete. Contra imagens, não há argumentos. Só lamentos.

Amigos amigos, eliminados à parte.

NÃO SUBESTIMEM UMA LENDA

por Zé Roberto Padilha

Se não fosse a idolatria que o cerca, conquistada dentro de campo pelo talento e obstinação, ninguém prestaria a atenção em Portugal.

Sua seleção, modesta, representa o pouco interesse que seu campeonato nacional desperta na imprensa internacional. De tão pouca repercussão, não foi capaz de seduzir nenhum grande craque a atuar no Porto, Sporting ou Benfica.

Portugal não ganhou nenhuma Copa do Mundo. Um jogador seu, porém, ganhou a Bola de Ouro da Fifa por cinco vezes. Nao há precedentes. Com exceção de Eusébio, nenhum outro foi sequer lembrado pelo bronze. Não é pouca coisa.

Tudo isso incomoda, causa ciúmes, beicinhos nos anonimatos.

Agora, para aparecer debaixo dos holofotes que só ele, Messi, Mbappe e Neymar são capazes de atrair, seu treinador o coloca no banco de reservas diante de uma seleção limitada tecnicamente, como a Suíça. E goleia.

Mais do que isso, com 4×0 no placar, aos 20 do segundo tempo não atende aos apelos do estádio, do mundo, das crianças que só assistiam essa pelada de luxo por sua causa. E só o coloca nos minutos finais com a intenção de puni-lo.

Esse cidadão, treinador de Portugal, não está punindo Cristiano Ronaldo. Está vendendo um show dos Beatles sem o Jonh Lennon porque este insurrecionou. E pune não a ele, mas os amantes da boa música, do bom futebol, que estão cansados da mesmice e das limitações das novas gerações.

Depois dos que torceram contra a Argentina e para que a contusão do Neymar fosse mais séria, a mais idiota das atitudes tem sido torcer para que a Copa sofra a ausência de um das suas maiores atrações.

Um ídolo não se faz da noite para o dia. Muito menos, conseguem apagar seu brilho da noite para o dia.

Essa Copa do Mundo ainda vai falar muito pouco sobre Portugal. Mas sobre Cristiano Ronaldo, motivado e mordido, vão ter que reservar muito espaço para lhe exaltar.

E pedir desculpas.