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zé roberto padilha

TIRA A CAMISINHA, TIRA TREINADOR!

por Zé Roberto Padilha


São tantos os profissionais à disposição de uma Comissão Técnica, e tantos computadores em busca de novos dados sobre uma partida de futebol, que precisam preencher os quinze minutos do Show do Intervalo, que começaram a tomar conta dos passes certos e errados das equipes.

E este número se tornou, na análise dos Casagrandes, tão importante quanto a posse de bola. E se mostrou completamente inútil para definir o vencedor de uma partida.

Mas se alguém tinha dúvidas sobre sua inutilidade sobre o resultado final, somada a irritação de assistir aquela troca de passes sem sentido entre os zagueiros, que viram para as laterais, e estes devolvem e ficam ali praticando sexo seguro sem ousar um drible ou uma penetração em direção ao gol, o anúncio de qual o time foi o mais eficiente neste quesito coloca um ponto final nesta questão.

Foi o Fluminense que alcançou o melhor índice de passe certos nas três das quatro competições que disputou este ano.

No Campeonato Carioca, chegou em quarto, atrás de Flamengo, Vasco e do Bangu. Na Copa do Brasil foi eliminado cedo e no Campeonato Brasileiro chegou em 14º lugar.

Muito flerte de longe, muito namoro pela intermediária, mas pegar a bola e convidá-la para afogar o Ganso e seduzir o Nenê a alcançar o fundos das redes que é bom…

Que Odair Hellmann chegue e retire logo a camisinha deste time. E ouse alcançar um prazer melhor na vida de cada torcedor tricolor. Como eu.

SAUDADES DO VESGO

por Zé Roberto Padilha


Era um misto de respeito pelo que você jogava com o medo do que aprontava. Assim foi minha relação com você, Mário Sérgio Pontes de Paiva, em 1975, quando fomos peças de uma máquina de jogar futebol. Era para ser o meu ano no Fluminense. Depois de percorrer toda a divisão de base nas Laranjeiras, Lula, ponta esquerda titular do clube e da seleção brasileira, tascou com sua categoria uma cola Araldite no meu calção e cadê que despregava daquele banco de reservas? Assinei meu primeiro contrato profissional em 1972, e passei dois anos mais sentado e assistindo partidas do que jogando. Até que ele, Lula, foi vendido em 1974 para o Internacional. Com Parreira no comando, joguei toda a Taça Guanabara, parte do estadual e me preparei em uma excursão em janeiro para assumir a camisa 11. Nunca estive tão pronto.

Mas quando voltávamos em fevereiro da pré temporada em amistosos pelo sul, paramos em uma banca de jornal em Itatiaia e o Jornal dos Sports trazia na capa a chamada que decretava o fim dos meus sonhos: Horta contratara você, então o maior ponta esquerda ofensivo do país, Rivelino, ponta esquerda da seleção de 70, e de quebra quem dividiu com ele aquela faixa de campo no México, Paulo César Caju.

Me deu vontade de descer a mala e ficar por lá. Mas meu supervisor, Domingos Bosco, disse forte: “Entra neste ônibus, menino. Você tem contrato a cumprir!” Entrei e saltei para a dura realidade: Fluminense x Bayern de Munique em uma terca-feira à noite no Maracanã. Jamais assisti uma exibição igual a sua e de todo o meu time. Base da seleção campeã do mundo, bi-campeão europeu com Beckenbauer como capitão e Sepp Mayer no gol, os alemães foram convidados a tomar o maior dos bailes da bola de inspirados bailarinos. Ganhamos de 1×0, gol do Cléber, e todos vocês deram uma exibição de gala. Tomei uma ducha e fui para casa pensando: sabe quando que vou entrar naquela ponta?

Acabei entrando no seu lugar na segunda partida da Taça Guanabara. De tantos craques reunidos em campo, nosso time se tornou uma tribo de índios tricolores. Pela extrema capacidade ofensiva, só queriam atacar. Toninho e Marco Antonio apoiavam pelas beiradas, Edinho se apresentava como fator surpresa, Paulo César e Rivelino encostavam nos atacantes e você, Gil e Manfrine iam toda hora para cima da zaga adversária. Só voltavam para cercar quando a aldeia era atacada. E penas Silveira e Zé Mário protegiam o pobre do Félix.

Esforçado, recordista do Teste de Cooper, sé perdia em distância percorrida para o Dirceuzinho, fui convocado a entrar no time para defender a oca. E você foi para o banco e se transformou num zumbi que percorria a concentração, os hotéis, os vestiários a aprontar o diabo para cima da gente. Não era jogador para ser reserva de um bom jogador, mas eu, o bom jogador, tão assustado com suas aparições, tornei-me seu comparsa. Melhor ficar ao seu lado do que ser sua vítima, pensava.

E aprontamos juntos. Lembra do dia em que Paulo César Caju encostou seu Puma branco conversível ao lado da portaria da Álvaro Chaves encostado ao Mate? Tinha acabado de chegar de Marselha e queria impressionar as meninas do vôlei. E você, comigo na vigília, decorou o painel com doces-de-leite, cocadas e encharcou um banco de mate gelado e outro de limonada. Quando PC sentou e a calça encharcou, o sangue subiu e os jornais estampavam dia seguinte: PC pede a diretoria para ser vendido. Motivo: não fora bem recebido pelo elenco.

Quando lancei meu primeiro livro, “Futebol: a dor de uma paixão”, e contei 5 das nossas histórias, claro, precisava vender meus livros de não ficção, mas a ficção me tornou narrador e você o personagem principal. Quando nos encontramos em uma partida do Máster nas Laranjeiras você foi tirar satisfações. Com que direitos, falava sério, publicava nossas histórias sem consentimento? Respondi, em defesa, que estava desempregado, vivia das vendas do meu livro e que ele jogava na seleção de máster do Luciano do Vale. Precisava de histórias incríveis como a nossa para pagar o aluguel, de preferência com um grande jogador no papel principal a atrair bilheteria. E você jamais me perdoou.

Queria lhe dizer, amigo, já que não tive como me aproximar mais de você após 41 anos, do orgulho que ainda sinto quando um torcedor tricolor amigo, querido da gente, me apresenta a alguém não como quem teve a honra de jogar no Flamengo ao lado Zico, mas de ter sido aquele pontinha tricolor que um dia barrou o Mário Sérgio. No segundo turno você resolveu voltar a ser titular. Se cuidou, passou a chegar cedo às Laranjeiras e aí era covardia. Retornei ao banco. E quando o Presidente Horta foi lhe abraçar após a partida em que rebentou o lateral direito do Botafogo, você o puxou para dentro da ducha. Nova punição. E eu voltei a ser titular na partida seguinte.

Tudo passa tão rápido na vida da gente, entre vestiários, competições, vôos e tantos companheiros de camisas diferentes, que quando você encerra a carreira e retorna a sua cidade de origem, como eu e muitos jogadores revelados no interior, trazemos junto na bagagem nossas lembranças. Se soubermos lidar com elas, reunidas em recortes nas canelas e manchetes nas gavetas, construir uma nova profissão e não ficarmos desamparados a ponto de viver a contá-las pelos bares e sinucas, tudo bem. Mas ao vê-lo partir tão cedo, de uma maneira tão dura, tais lembranças vieram à tona junto a tanta saudade do que jogou e aprontou ao nosso lado.

Porque você, Mário Sérgio, foi mais que um personagem da minha vida e dos meus livros. Foi e será sempre um artista da bola, um gênio do futebol arte que jamais será esquecido.

AO AFOGAR O GANSO, SUFOCAMOS O FUTEBOL ARTE

por Zé Roberto Padilha


Vivemos a clamar pela volta do futebol arte. Mas quando ele se apresenta imponente, levanta a cabeça, como Gérson, o Canhotinha de Ouro, o fazia, e raciocina e cadencia a correria, como Ademir da Guia, em uma faixa de campo em que os maestros deram lugar aos gladiadores, clamamos por sua pronta substituição. “Está chupando o sangue!”, grita o torcedor. Na verdade, raros jogadores, como Paulo Henrique Ganso, estão resguardando a alma e os resquícios do talento que restou pelos gramados do país.

A arte refinada do toque de bola deu lugar aos novos meias, como o Gérson, do Flamengo, fortes e destemidos, que dividem, marcam e entregam bolas em domicílio. É flagrante o grande momento vivido por este menino. Mas no Fla x Flu do último domingo, voltem a fita (ou esqueceram que o futebol arte tinha VHS e depois passamos pro DVD?), aos 18 minutos do segundo tempo, Ganso deu um passe magistral, de trivela, que colocaria Wellington Nem na cara do gol se não fosse por um puxão na sua camisa dado sutilmente por Pablo Marí.

Uma falta tão flagrante que até o mais cego dos VAR reconheceria. Se fosse acionado, lógico. Seria o gol do empate e o domínio e a pressão trocaria de lado porque o Flamengo ficaria com dez jogadores. O zagueiro rubro-negro já havia recebido o cartão amarelo.

“Segue o jogo!” Disse o narrador. Dois minutos depois, Gérson acerta um chute forte que desviaria na zaga e enganaria Muriel. O 2×0, então, definiu o resultado e o dono do último toque de arte deixou o campo debaixo de vaias. Marcão, símbolo maior dos brucutus marcadores, é que não alcançaria mesmo o valor de tamanha habilidade e destreza circulando em campo a seu favor.

Joguei três edições da Taça Guanabara seguidas sob a batuta de três grandes maestros: Gérson, em 74, Rivelino, em 75, e Zico, em 76. Nenhum deles corria muito ou voltava para dar duro na marcação. Como João Carlos Martins, Isaac Karabtchevsky e Paulo Henrique Ganso eram os comandantes afinados que se posicionam em meio a todas as ondas sonoras. Um time de futebol é como uma orquestra e só quem conhece todos os acordes ousa pegar a batuta e colocar bolas e notas em seu devido lugar.

À sua volta, giram os acordes dos laterais que apoiam com seus graves, como Rodinei, Gilberto, Renê e Julião. Já Allan, Piris da Mota e Sérgio Araújo são os que marcam no surdo os compassos adversários. E os agudos do Digão, Rodrigo Caio, Frazan e Cia que seguram a batida lá atrás.

Nenhum maestro que se preze deu um carrinho até hoje. Precisam esticar o pescoço e enxergar toda a extensão do lindo lago esverdeado e recheado dos bagres e cascudos que circulam ao seu redor. E comandar, do alto da sua sensibilidade, o grande espetáculo, seja ele no Teatro Municipal ou no Maracanã.

Porém, alguns pescadores, inseguros na sua interinidade, precisam do resultado para continuar berrando à beira do lago. E, pressionados, jogam uma tarrafa sobre o que resta de beleza em nossa música e no nosso futebol. E retirem do Lago do Cisne toda a harmonia que resta do meu tricolor das Laranjeiras.

OS SONHOS, AGORA, SÃO DO MARCÃO

por Zé Roberto Padilha


Quem jogou bola sabe que, quando vira treinador, os sonhos passam a ser compartilhados. Não é mais ir lá trocar de roupa, ir a campo e defender o seu. Ou o grupo se abriga debaixo do mesmo cobertor, ou cairão juntos da cama, embora apenas o treinador acorde na rua.

Em 1994, foi a minha vez. Sonhei que iria dirigir uma clube de futebol da segunda divisão, no caso o da minha cidade, o Entrerriense FC, e o levaria para disputar o mais cobiçado estadual carioca de todos os tempos. O de 1995. Ano do centenário do Flamengo, que formaria seu ataque dos sonhos com Edmundo, Romário e Sávio, e o Botafogo seria tão forte com o Túlio que levantaria o título brasileiro. Recordes de renda seriam batidos e todos nós, jogadores e comissão técnica desconhecidos do interior, acordaríamos no paraíso.

O sonho parecia mesmo sonhado. Subimos junto ao Friburguense e nos classificamos para o octogonal decisivo. Cheios de moral e responsabilidade após tanto tempo sonhando juntos, abolimos a concentração e nos demos ao luxo de visitar nosso adversário do dia seguinte, o Vasco, em Paraíba do Sul, no Hotel Salutaris. Meu amigo Abel Braga, que dirigia o clube, nos apresentou Carlos Germano, goleiro da seleção brasileira, quando este se recolhia aos seus aposentos. E nem eram dez da noite.

Na apresentação do nosso elenco, às 10h da manhã para a preleção antes do almoço, seu Carlos, porteiro do clube, nos despertou da complicada experiência de sonhar compartilhado: nosso goleiro chegara à concentração, onde morava, às 5h da manhã. Foi expor sua breve fama na Exposição Agro Pecuária e Industrial de Três Rios. E comprometer, com sua vigília alcoolizada, os sonhos de todo um grupo.

Nesta partida decisiva às nossas pretensões, transmitida para todo o país pela Rádio Globo, nem o Gérson, que virara comentarista, sabia que o melhor goleiro do Brasil fora dormir cedo. E seu adversário desconhecido de luvas pouco dormiu. Sem saber se estava dormindo ou acordado, assisti do banco Gian desferir um petardo de fora da área, aos 21 minutos do primeiro tempo, e nosso goleiro cair com bola e tudo dentro da meta. Placar Final: Vasco 3 x 0 Entrerriense.

Quando despertei, perfurado pela agulha de um soro, estava deitado em uma maca no Pronto Socorro do Hospital da minha cidade. Não havia repórteres ou torcedores, apenas a minha família. O campeonato havia terminado com um gol de barriga do Renato, e a depressão anestesiado nosso sonho de ser um treinador tão respeitado como fui como jogador de futebol.

Moral da história: ou todos no Fluminense esquecem os seus e vão sonhar abraçados aos sonhos justos do Marcão, ou uma outra exposição, seja ela do ego do Ganso, dos clubes europeus e suas ofertas em volta do travesseiro do Allan, vão nos fazer acordar, outra vez, na segunda divisão.

O CANHOTINHA DE OURO – PARTE II

por Zé Roberto Padilha


De repente, o cineasta que dirige os rumos do futebol brasileiro resolveu regravar “Nasce uma estrela”. Se na telona Barbra Streisand foi substituída por Lady Gaga, e a estrela nasceu e brilhou em Hollywood do mesmo jeito, nos gramados por aqui surge no canal première um novo Gérson, o Canhotinha de Ouro, Parte II. E a bola, como nos anos 70, continuou a ser tratada com a mesma distinção e carinho. Se seu pai o batizou em homenagem ao nosso tricampeão mundial,ele foi além. Se tornou um profeta.

Quando surgiu no Fluminense, o mesmo clube que Gérson se despediu do futebol, em 1974, ele era uma grande promessa. Convocado para a seleção brasileira de base, ganhou um título mundial e foi realizar seu estágio na Europa. E conseguiu incorporar força física a uma habilidade e visão de jogo pouco comum a quem, hoje, habita aquela faixa nobre do campo. Ao contrário do Nenê, Ganso, Thiago Neves, Cícero, Douglas e Cia, hábeis canhotinhos que tratam bem a criança, Gerson tem força muscular para aparecer na área e completar as jogadas que inicia.

Gerson tem sido a bateria desta máquina jogar futebol que se tornou o Flamengo. Antes dele, Diego a mantinha ligada, porém, ora a iluminava com um voleio, ora deixava cair a voltagem por não conseguir manter seu ritmo por 90 minutos. Se sobrava categoria, faltava força da juventude que ele acrescentou ao talento de Everton Ribeiro e Arrascaeta. E estes tem abastecido, com suas genialidades, a impressionante objetividade de Bruno Henrique e Gabigol.

Neste momento, do nascimento de uma nova estrela, é importante que os cineastas que dirigem a seleção brasileira lhe estendam o tapete vermelho para que entre, triunfalmente, na Granja Comary. Tão importante seria sua premiação que seu moderno conceito de jogar futebol se espalharia pelas telinhas dos campinhos de pelada de todo o país.

E os canhotinhos hábeis que vierem a surgir, vão ficar sabendo que também precisarão marcar e finalizar cada obra de criação. Caso contrário, perderão seu brilho pelo caminho. E sairão xingando os diretores de burro quando estes interromperem suas apagadas exibições carreira afora.