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O DIA EM QUE CAJU ZANGOU COM A GENTE

por Zé Roberto Padilha


O PSG, tendo Johan Cruijff como atração como seu camisa 10 para potencializar o quadrangular, Fluminense, Atlético de Madrid e Porto foram os convidados para disputar o Torneio de Paris. Em 1975.

No intervalo, eu e Carlos Alberto Pintinho, que estávamos no banco, atravessamos correndo o Parc des Princes em busca do autógrafo daquele que era considerado o maior jogador em atividade no planeta.

Um ano antes, sua Laranja Mecânica revolucionara o futebol e ele, Cruyff, era o capitão da Holanda. E fez um dos gols que eliminara a nossa seleção por 2×0.

Paulo Cézar Caju viu o nosso pique, o autográfo concedido e, na volta, não nos poupou diante do elenco. O termo mais simples que usou foi “seus juvenis” e o mais pesado “cabaçudos”. 

Segundo Caju, ele que deveria atravessar o campo e buscar o nosso autógrafo, especialmente dele e de Rivelino que foram tricampeões mundiais. 

45 anos depois, com a flâmula intacta e o autógrafo quase desaparecido, acho que todos estavam certos: PC por valorizar o futebol brasileiro, os juvenis cabaçudos por buscar uma lembrança do maior do mundo, e o Cruijff por jogar uma barbaridade naquela tarde e nos derrotar.

Fomos disputar o terceiro lugar e a flâmula autografada ganhou um brilho especial na estante porque o PSG ganhou o torneio. 

Quanto vale? No meu tempo tinha um leiloeiro, Ernâni, que resolvia. Será que ainda tem? Hoje, o juvenil cabaçudo tem 4 filhos, 4 netos e uma beirada pro Leite Ninho sempre ajuda. 

Quanto ao Pintinho…pode responder de Sevilha.

UM SER DO OUTRO MUNDO

por Zé Roberto Padilha


Tem pessoas que passam pelo mundo que, por não serem comuns ao mundo, poucos no mundo conseguem entender. Muito menos lembrar, respeitar, escalar.

Como, então jornalistas de todo o mundo votariam nele se ele, vocês sabem…

Como entenderiam um jogador que estreia em uma Copa do Mundo e vendo uma Inglaterra, toda de branco, entrar em campo num país só de brancos, no lugar de tremer, ironiza: “Oba! Hoje é contra o São Cristóvão…!”

Hoje, o camisa 07 da seleção desfila conectado ao mundo de fone de ouvido e IPhone. Garrincha carregava uma gaiola pela concentração. Não desligava um só instante da pureza da natureza que vivem a pulverizar.

Ninguém entendeu como driblava daquele jeito, ia e voltava com seu marcador como se brincasse de pique-esconde às vistas de todos que mal escondia seus encantos.

Garrincha teve mais filhos do que podia, relações que não deveria, suecas encantadas que viraram prato de comida, joelhos que não poderiam ser infiltrados e desobedeceu tantas ordens vindas do banco que caminhou por um gramado à parte em nosso universo esportivo. 


Aliás, nem teria acesso a ele se uma enciclopédia, sábia como Nilton Santos, após levar um desmoralizante drible entre suas canetas, no primeiro teste que realizou no Botafogo, no lugar de ir tirar satisfações com ele, se dirigiu ao treinador e pediu sua contratação.

Esse aí é melhor ter do lado do que contra.

Ninguém votou contra ele na seleção dos melhores do mundo. Não votaram a favor porque são jornalistas reais, óbvios, previsíveis.

Como todo o mundo. Como escalariam um ser de outro mundo?

O TAMANHO DO FLAMENGO

por Zé Roberto Padilha


Com o tempo você vai aprendendo. No caso Flamengo, o tempo foi me mostrando o seu tamanho tantas vezes não compreendido pelos que o dirigem. Principalmente no que diz  respeito às suas  contratações. O que é bom para o Fortaleza, hoje, não será ainda bom para o Flamengo.

Não é culpa do Rogério Ceni. Aconteceu lá atrás com Marcelo Cirino. E mais recentemente com Michael. Atuavam em times com suas fortalezas fechadas e eram suas válvulas de escape. Porque o Goiás, e o Atlético Paranaense, protegem mais que atacam seus adversários.

Daí eles se destacam, jogam bem contra  o Flamengo, que se expõe sempre, e são contratados ainda no vestiario.  E o Flamengo, grande daquele jeito, joga compacto por tradição e seus adversários estarão fechados.Por tradição e sobrevivência. E não permitem o contra ataque.

E como esses dois velocistas precisam dele, como vão ser úteis ? Tocando bola e entrando tabelando quando suas maiores  armas precisam de espaço?

Rogério Ceni ainda é treinador para proteger fortalezas.  No comando de uma foi crescendo como treinador. Dai o levaram para o Cruzeiro. Grande daquele jeito. E agora o Flamengo.

Ninguém passa da infância para a fase adulta sem passar pela adolescência. Que tal uma ida à boate com a camisa do Coritiba? Um encontro com a namora sob a égide de um Bahia?

Pedir uma moça do Méier para sair e levá-la, com todo respeito, para um jantar a luz de velas no Copacabana Palace você vai encantá-la.

Mas você será precocemente eliminado da Libertadores.

QUANDO UM ÍDOLO SE VAI

por Zé Roberto Padilha


Quando perdemos o Senna, perdemos o rumo.  As manhãs de domingo se tornaram sexta-feira treze. Perdemos o encanto, o orgulho de ser brasileiro e nunca mais vimos nossa bandeira tremular junto ao peito em tamanha sintonia.

Agora, o ídolo da minha geração de canhotinhos baixinhos, que jogavam futebol, nos deixa. Nem sei que quarta-feira de cinzas é essa que nos deixa tão triste.

Porque Maradona, a cada arrancada, cada drible ou gols de falta que marcava, nos mantinha em cena. Pois pra jogar tênis, basquete, voleibol, natação, então, tinha que ter asas de albatroz, você precisava ser cada vez mais alto. 

Para alcançar a cesta, o ace, a borda da piscina e saltar cada vez mais alto e distante. 

No futebol, ele provou que enquanto a bola corria nos gramados, e não voava, quanto mais perto do coração e do cérebro estivesse seria mais rápido o raciocínio. Se subisse muito, ele iria no segundo andar e daria um toque sutil e marcaria um inacreditável gol “de cabeça” em uma Copa do Mundo.

Graças ao seu talento, foi possível manter Messi em cena, Neymar encantando o mundo e até a habilidade de Soteldo, com 1,60m, foi possível permanecer em campo nos concedendo espectáculos à parte. 

Por ele, Maradona, me liguei à Argentina. Mais do que poderia. Fui Peron, desprezei Videla,  assisti Evita e por pouco não me alistei para lutar contra os ingleses nas Malvinas. 

Por ele, chorei ao ouvir “Don’t cry for me Argentina”. Por ele, passei a gostar ainda mais de futebol.

Descanse em paz, meu ídolo. Obrigado por tudo. Graças a sua genialidade, a de Pelé, Didi e Garrincha, Zico, o futebol saiu dos gramados e ganhou as galerias de arte. 

Se tornou uma paixão mundial e você tem seus méritos nessa conquista. Você e a bola eram tão cúmplices que ela se escondia por entre suas meias, suas chuteiras e não havia jeito dos zagueiros encontrá-la. Só a buscando feliz, realizada, no fundo das redes que foi para isso que foi concebida.  

Perder um ídolo já é duro. Perder um ídolo Argentino, como Maradona, é muito pior.

SEJA BEM-VINDO, MEU ÍDOLO

por Zé Roberto Padilha


Fiquei deveras emocionado. Se me tornei ponta esquerda e torcedor admirador dos canhotos argentinos, os melhores do mundo, como Maradona, Messi, Passarela, Sorin, Conca, D’Alessandro, Di Maria, Dátalo, Dybala, Mario Kempes, entre tantos, um fenômeno mundial que ainda não foi investigado, foi por causa de Ramon Diaz.

Tão forte essa idolatria que ela se expandiu além das quatro linhas. Pegamos as bandeiras azuis e brancas e fomos para a Bombera torcer contra a Inglaterra pela posse e guarda das Malvinas. Depois, demos as mãos às mães da Praça de Maio e caminhamos juntos para depor a ditadura do General Videla.

No Brasil, na época em que buscava inspiração nos juvenis, tinha o Abel, Pepe e Edu, no Santos, Escurinho no Fluminense e Zagalo no Botafogo. Quando as imagens vinham da Argentina, Ramon Diaz era todos eles em alta velocidade.

O mundo deixava o futebol arte, de 1970, para ingressar no futebol moderno, em 1974, quando a Alemanha levantou o cetro.

Enquanto o nosso país tentava ganhar força e velocidade, com a importação de máquinas apolos, testes de cooper, treinamento alemão, nós, pontas esquerdas que o cultuavam, já sabíamos o que fazer.

Raça, velocidade, garra e habilidade. Se tornar um Ramon Diaz já nos bastava para se espelhar. E sobreviver na malha fina do futebol, como sobrevivi.

Seja bem-vindo, meu ídolo. Meu filho, Botafoguense, vai ter seu pai tricolor ao lado quando seu time entrar em campo. Ele, torcendo pela estrela solitária, eu, para dizer muito obrigado. 

Seja bem-vindo, meu ídolo.