Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

zé roberto padilha

DESCULPE, MARIO FILHO

por Zé Roberto Padilha


Como um personagem do esporte, que deve ter feito muita coisa em sua época para merecer dar nome ao maior estádio do mundo, fez por desmerecer continuar a ostentar seu nome no Maracanã?

Como homenagear uma pessoa se, ao mesmo tempo, desmerecemos os já reconhecidos feitos de uma outra?

Desculpe, família Mario Filho, jornalista e escritor que deu, por unanimidade, seu nome ao estádio do Maracanã, pelo aparecimento de alguns imbecis propondo substituí-lo pelo Rei Pelé.

Até levantarmos uma Copa do Mundo, e descobrir que haveria um Rei entre nós, seu nome era exibido com orgulho ao entorno naquele que se tornou o mais respeitado estádio do mundo.

Não vamos deixar trocar. Alô, torcidas organizadas.

A Rua Manoel Duarte, aqui em Três Rios, vai sempre ser dele, embora outra atitude retardada tenha a mudado para Rua Prefeito Joaquim Ferreira.

Não se cobre um santo despindo o outro.

Não se apaga uma história ocultando a outra.

O tempo, senhor da razão, há de colocar as coisas no lugar. Mesmo porque em 1950, quando foi inaugurado, ainda não havia um trono para um Rei sentar, jogar, marcar gols a merecer ocupar o seu lugar.

Salve Mario Filho, imutável nome concedido ao templo maior do futebol mundial.

E que Deus conserve o nosso Rei Pelé fora dessa gratuita e inaceitável injustiça.

O MOTORADIO É DO TITA

por Zé Roberto Padilha


Sou do tempo em que os melhores em campo ganhavam um Motoradio. Dava muito orgulho trazer um pra casa. Até hoje existem, fabricados pela Eletrobrás, porque tão precioso o rádio como veículo de comunicação que nenhuma rede social ousou desafiá-lo.

Estão cada vez mais poderosos.

Era uma ótima sacada de Marketing, até que um jogador famoso resolveu torná-lo um objeto de deboche. Ao recebê-lo, declarou aos Apolinhos na saída, ao vivo para todo o país:

– Vou aceitar a moto. Já o radio, tenho em casa o bastante.

E o Motoradio deixou de ser um objeto de cobiça. Só de ironias. E encalhou nas lojas. E desapareceu dos gramados.

Hoje, entregam uma plaquinha simbólica ao considerando o melhor da partida.

Mas no jogo Fluminense x Portuguesa quem mereceu levar o prêmio foi o Tita. Atuando como comentarista, deu um banho de conhecimento durante a transmissão.

O futebol brasileiro estava precisando de um outro Júnior analisando as partidas. Que não tivesse a arrogância do Roger, a confusão das análises táticas do Casagrande e, muito menos, as bravatas do Neto.

Equilibrado, fugiu ao lugar comum de procurar falhas no Fluminense, preferindo exaltar os acertos do adversário. Que foram muitos.

Atento, chamou a atenção da falha do goleiro da Lusa, que socou pra lateral uma bola que poderia tranquilamente segurar em suas mãos.

Criativo, disse que os jogadores tricolores estavam colocando um “laço rosinha no presente”, referindo-se as filigranas de um toquinho a mais quando davam um presente/assistência ao companheiro para marcar.

Após encerrar sua carreira, Tita se dedicou ao Golfe. Dizem que já está entre os melhores do Brasil. Com o taco ou o microfone às mãos tem sido certeiro nas tacadas.

Tita já pode experimentar o terno pro ano que vem. Seu Motoradio de hoje vai credenciá-lo ao primeiro time de comentarista da Globo na Copa do Mundo de 2022.

Palavras de quem jogou ao seu lado. Palavras de quem assistiu o show que deu domingo à tarde.

A PIOR DAS DERROTAS

por Zé Roberto Padilha


Véspera do casamento, me aprontaram uma. A tal despedida de solteiro não autorizada.

Aos 26 anos, virgem etilicamente, desembarquei de Recife, onde defendia o Santa Cruz, na cidade maravilhosa onde almoçaria com minha irmã. No caminho, meu taxi foi interceptado por uma blitz organizada por irmãos, cunhados e amigos.

Passamos toda a tarde fazendo o tour dos botecos. Brindes no Castelinho, chope da Brahma no Caneco 70. Não teve um só bar que não fosse visitado em toda a orla.

Bebia muito pouco porque era obcecado pelo aprimoramento do meu preparo físico. Era ele, nunca tive dúvidas, que me mantinha em cena por 17 temporadas. Graças a tudo que investi treinando forte, dormindo cedo e tomando meu Ovomaltine Crocante do Bobs, poucos treinadores abriam mão do seu formiguinha.

Passava das 19h quando dei entrada no Hospital Miguel Couto. Glicose na veia, nem precisou passar pela triagem. Quando a enfermeira se aproximou para aplicar o soro, meu irmão, notando seu chaveiro rubro-negro, disse a ela:

– Trata com carinho que ele defendeu seu time!

Sua resposta jogou por terra todos os meus cuidados e afundou de vez minha autoestima:

– Agora eu sei porque ele não joga mais!

Inerte, desorientado, tentei me defender mas não tinha mais voz, orgulho, chuteiras, mais nada.

“Agora eu sei porque ele não joga mais!” foi, em toda minha carreira, por não poder sequer marcar os adversários ou dar um chute a gol, a pior das derrotas.

VOLTAS DE DESPEDIDA

por Zé Roberto Padilha


Geraldo foi uma das maiores promessas do futebol brasileiro. Tinha a classe de Ademir da Guia e a plasticidade e a irreverência de Carlos Alberto Pintinho. Tão amigos que muitos passavam os anos imaginando o dia em que jogariam juntos. Que covardia! Melhor era esperar o duelo de cada Fla x Flu.

Geraldo não era um artista para ser treinado em quartéis. Seu improviso não combinava com ordem unida, muito menos havia Sentido! que podasse sua liberdade de expressão e circulação.

Nosso treinador, Carlos Froner, oriundo das casernas, não aceitava que não voltasse para marcar e guardar posição. Assobiando, procurava espaços vazios onde respirava para puxar contra ataques. E o fazia com rara beleza.

Aí o Flamengo foi jogar em Sergipe e Geraldo não foi relacionado. Na Gávea, ficamos os dois, eu por contusão, ele por insubordinação, dando voltas na pistas. Voltas que mal sabia serem de despedida.

Dr. Celio há muito precisava dessa brecha para retirar suas amígdalas, e essa parte triste da sua história não vamos rememorar.

É uma crônica de saudades de um grande amigo e um jogador acima da média.

Moral da História: nunca obrigue um talento a correr atrás de alguém. Zé Roberto, Merica e Tadeu são escalados para isso.

E deixe a arte livre para dar ao seu time o toque de qualidade que perdemos quando Geraldos são perdidos.

O GATO FÉLIX

por Zé Roberto Padilha


Não tinha treinador de goleiros. Essa profissão surgiu após a Copa de 1974, porque em 70, quem reinava no gol eram autodidatas.

Em outras vidas, trabalharam em circos, tal a plasticidade dos movimentos. Ou foram gatos, de tanta impulsão e elasticidade.

Felix, tricampeão mundial, acabava o treino e pedia para nós chutarmos bolas para ele em uma caixa de areia do atletismo. Ficava igual bife à milanesa de tanto saltar pra lá e pra cá.

Saídas do gol? Era puro instinto. Carlesso, o precursor no treinamento dirigido aos goleiros, surgiu do Leão pra frente. Chegou ao Taffarel e, hoje, tem um exclusivo para eles.

Que saudades, Papel, vi defesas como essas de perto, voos tão lindos como as lembranças que deixou em todos nós, tricolores e tricampeões do mundo.

Obrigado por tudo