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zé roberto padilha

VIDA E OBRA DE ZÉ ROBERTO PADILHA

por Flavio Brasa


Nascido em Três Rios em 1952, desde pequeno seu brinquedo favorito era a bola, disputada a tapa na Árvore de Natal com seus outros dois irmãos menores, Flavio e Mauro.

Após se consagrar no futebol local – o América -, se sagra campeão em 1968 na categoria juvenil. No jogo de entrega de faixas contra os aspirantes do Fluminense, também campeão de 1968 no Rio, foi prontamente chamado para integrar o elenco do infanto juvenil da equipe tricolor (técnico Pinheiro) ao lado de Nielsen, Zé Maria, Abel Braga, Marinho, Silvinho, Té e grandes jogadores que seguiram suas carreiras.

Zé Roberto começa sua carreira no Flu, ganhando campeonato infanto em 69, Juvenil em 70, sendo chamado para compor a primeira seleção Olímpica que iria tentar a classificação para os jogos de 1972 em Munique.

Mais um título: campeão pré-olímpico em Cannes. Infelizmente, às vésperas da ida aos jogos, sofre sua primeira de muitas contusões ao longo de sua longa e gloriosa carreira, no tornozelo, que iria persegui-lo eternamente…

Já integrado ao elenco dos profissionais em 1971, se torna reserva de Lula e daí para uma série de títulos: Carioca de 71 (reserva de Lula), 73 (revezando com Lula) e 1975 (titular absoluto da primeira Máquina Tricolor). Em 1976, Francisco Horta promove um troca-troca que mudaria a história do futebol carioca, indo Toninho Baiano, Roberto goleiro e Zé Roberto para o Fla e o Flu recebendo Dirceu, Doval e Rodrigues Neto, o que fez o Vasco ser campeão em disputa de pênaltis contra o Flamengo (Zico perdeu e Luiz Gustavo marcou). Uma vergonha.

Com a ascensão meteórica de Júlio César, que vinha voando dos juniores ao lado de Leandro, Tita, Andrade e Adílio, Zé Roberto é vendido ao Santa Cruz em 1977 e lá se sagra campeão em 1978, após longa batalha pela posição com Pio do Palmeiras.

Política no Santa Cruz FC: leitor assíduo do Pasquim e MDB ferrenho por conta de seu ídolo Ulisses Guimarães, se vê ameaçado pela diretoria do Santa Cruz, onde todos eram coronéis a favor da ditadura (só existiam a Democracia Corinthiana e o Afonsinho na militancia) e teve prisão decretada por pichação de vestiários e discursos ao elenco sobre democracia, obrigando seu pai e um advogado irem até Recife para resolver a situação.

Fica afastado e viaja para o Leste europeu como intérprete do Santa Cruz, uma provocação da diretoria para que ele conhecesse o que era o comunismo e socialismo… Se filia ao PT. Volta da excursão e é vendido ao Itabuna, onde se sagra campeão. O Marília compra seu passe e lá foi Zé Roberto tentar mais um título, mas se machucou, sendo vendido ao Americano e, por fim, encerrou a carreira no Bonsucesso.

Sua carreira como técnico: monta em Xerém, a pedido de Roberto Alvarenga, o CT do Flu e ganha o primeiro título de juniores depois de 17 anos. Treina o América Três Rios e consegue chegar a 1ª divisão do Cariocão, fato inédito para a sua cidade e depois treina o Entrerriense com igual êxito…

Lança um trabalho técnico-tático no auditório do MIS e é aplaudido de pé por técnicos e jornalistas: o 5×1 invertido.

Jornalista e escritor, Zé Roberto já está em seu 8º livro.

Foram quase 20 anos de estrada, de dedicação e a sua luta contra o corpo, visto que corria, acima do limite para a época, a distância de 4 km por jogo, só perdendo para o Dirceuzinho. 

Atualmente, Zé Roberto, 68 anos, mora em sua cidade natal, onde é Presidente do diretório do PT, comanda há 40 anos o Blocos “Unidos da Barão”, tendo passado por 15 anos em cargos de secretarias de todos os partidos da prefeitura local, mesmo sendo PT, pois sua imagem vale mais do que os partidos que lá aportam…

Epílogo (por Flavio Brasa)

Sua história de vida é um exemplo de que nada está perdido, para um jovem que pretende ser alguém na vida.

Basta ter ideais e lutar!!!

A MAIOR DAS EVOLUÇÕES

por Zé Roberto Padilha


Até a Copa de 1974, disputada na Alemanha, esse atleta ruim de bola, que quando tiravam par ou ímpar nas peladas ninguém queria na linha, e o mandavam para o gol, não tinha no seu clube quem os treinasse.

Mesmo usando as mãos quando 92% utilizam os pés, e usam fundamentos completamente diferentes, eles corriam na pista e se exercitavam com zagueiros, meias, atacantes…

Os goleiros mais esforçados, após os treinos, iam para a caixa de areia do atletismo, aquela do salto em distância, e pediam para a gente jogar a bola. E ficavam saltando, por conta e risco, de um lado para o outro.

Na minha época, no Fluminense, os heróis eram Félix, Roberto, Nielsen, Jairo, Paulo Sérgio, Paulo Goulart e Jorge Vitorio.

Após a Copa, Sepp Meyer, goleiro alemão e já campeão do mundo, lançou um livro. Nele revelava seu segredo: jogava tênis. Se acertava aquela bolinha minúscula, escreveu, como erraria a grandona jogada em sua direção?

Daí veio um membro da militarizada comissão técnica brasileira, Raul Carlesso, e criou uma nova profissão: treinador de goleiros. É só pegar os jogos do Gilmar, duas Copas do Mundo anteriores, do Félix, tricampeão, que vocês verão como evoluíram em todos os fundamentos.

Quando batiamos pênaltis, eles tentavam adivinhar o canto. Hoje, na véspera das partidas, assistem aos vídeos e ficam sabendo da nossa preferência.

Na profissão mais cruel do mundo, porque onde pisam mal nasce grama, e um deles, Barbosa, nada treinado, foi sacrificado e faleceu sem ser perdoado, nenhum goleiro começou jogando porque levava jeito. Pelo contrário, surgiram na rejeição à prática do seu ofício.

Mas temos que reconhecer: nada no mundo do futebol evoluiu mais do que os seus treinamentos. Se tenham dúvidas, pergunte a um jogador do Palmeiras, escalado para bater ontem, se esse novo modelo, que vem treinado de fábrica, tenta adivinhar o canto?

Antes, o batedor, diante de um boneco, perdia seu pênalti. Hoje, o goleiro, capacitado, é quem defende a cobrança.

Diego Alves se tornou uma máquina programada para pegar pênaltis. Parabéns a Raul Carlesso. Parabéns aos goleiros salvaguardas das nossas maiores paixões.

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO

por Zé Roberto Padilha


Na quarta, em meio a um equilibrado Campeonato Carioca, em que Botafogo e Vasco estão mostrando que terão dificuldades em subir, e o Fluminense tentará se manter, caso não invista, eis que surge o desequilíbrio.

O outro patamar.

Se apresenta um time de futebol diferenciado. Capaz de nos lembrar da Máquina Tricolor, da Academia do Palmeiras, do Expresso Cruzmaltino, do Botafogo e Santos que eram a base das nossas maiores seleções.

Se apresenta aquele que vai buscar o título maior do futebol brasileiro e mundial.

O que o Flamengo mostrou, quarta à noite, contra o bom time do Madureira, há muito não assistíamos. Uma exibição de almanaque, onde a técnica apurada, os deslocamentos incessantes, a vontade de jogar bola aliado a um enorme entrosamento não nos deixou sequer levantar para ir a geladeira buscar uma latinha.

Bola e jogadores, apaixonados, pareciam saudosos uma dos outros e se entregaram, de corpo e alma, a 90 minutos de puro êxtase.

Mais que uma exibição, foi um sopro de esperança no desacreditado futebol brasileiro.

Espero que o Tite tenha assistido a partida. Se colocar o Daniel Alves na lateral, o Neymar no lugar do Diego e naturalizar o Arrascaeta, o maestro, basta trocar as vestes rubro-negras pela amarelinha.

Deixe, por favor, aqueles Firminos, Fernandinhos, até mesmo Jesus quietos por lá. Há muito não estão identificados com a gente. Mal falam português, não jogam ao nosso lado como Gabigol, Everton Ribeiro e Bruno Henrique.

Daí não teremos apenas uma grande seleção de volta. Daquelas que dá vontade de ir a Teresópolis assistir ao treino, colecionar figurinhas, até voltar a pedir autógrafos.

Mais do que favorita para buscar outro título mundial, teremos novamente o orgulho de ser o país que pratica, forma e exporta o melhor futebol do mundo.

Parabéns, Flamengo.

DEVOLVAM A BOLA PARA OS BRAÇOS DO POVO

por Zé Roberto Padilha


Quando o circo chegava, era uma festa. A família toda ia para lá em busca de lazer e diversão. Daí proibiram os animais e o Corpo de Bombeiros exigiu um laudo de prevenção contra incêndios para um teatro erguido sob lonas.

E o palhaço foi perdendo os motivos que tinha para sorrir e os circos nunca mais apareceram por aqui.

Restava para a familia brasileira o circo que trazia sua maior paixão: o futebol. Que bom assistir o Botafogo se apresentar em Três Rios. Gente saindo pelo ladrão e pais mostrando aos filhos: “Olha o Túlio, ali!”.

Colados ao alambrado, radinho de pilhas em uma mão, copo de cerveja na outra, nada de Canal Premiére, o show do intervalo tinha a sabedoria de cada um. Tudo ao vivo. Nem precisava do Júnior ou do Tita para nos explicar o que estava acontecendo.

De repente, viraram as costas para o interior.

Surgiram as arenas, desapareceram os geraldinos. Veio a Fla-TV no lugar do trem que trazia a torcida Fla Subúrbio. Ou você assina o pacote Sky, mesmo sabendo que é cúmplice de um grupo de extermínio do seu clube local, ou fica sem assistir o futebol.

Uma nova arma para aumentar nossa desigualdade social veio a reboque da maior paixão do povo brasileiro. Milhares de clubes fecharam suas portas, talentos foram desperdiçados e oportunidades de trabalho negadas a centenas de trabalhadores.

Ou seu filho talentoso busca entre muitos um espaço no Ninho do Urubu, mesmo que lhe sobrem apenas containers a abrigar tanta gente, ou adormece seus sonhos de menino.

A solução? Menos campeonato brasileiro, quem sabe com 12 clubes, e mais espaço, valor e apreço aos campeonatos estaduais, devolvendo às cidades sua melhor festa do interior.

Está aí a beleza que é a Copa do Nordeste.

Os cartolas poderosos podem matar uma, duas, três promessas do nosso futebol que estão sem competições, jogando bola, como meus netos, ali no quarto pelo Playstation da Fifa.

Mas jamais poderão evitar a Primavera que nos encherá de esperança quando os gramados voltarem a dar frutos e flores de um incontido amor.

A TARDE DOS VENCEDORES

por Zé Roberto Padilha


Tem tardes, raras na vida da gente que é treinador de futebol, em que vamos para casa feliz toda vida independente do resultado. Como no Fla x Flu de ontem, no Maracanã.

Um, Roger, porque venceu a partida, outro, Mauricio Souza, porque venceu no futebol.

Há muito não assistia, durante os 90 minutos, uma aplicação tática, cheia de entrega e qualidade técnica para trocar passes e penetrar pelos flancos, como a do Flamengo. Talvez tenha faltado o Nunes, Gaúcho, Romário, Fio, Silva, Obina, Vinicius e Claudio Adão para confirmar a superioridade.

Há tempos, desde que era jogador do Fluminense, já sabia que a nossa camisa detém uma cumplicidade com títulos e vitórias que transcende a imaginação.

Quantas vezes levei uma faixa para casa que não era destinada a nossa casa. Jogamos menos, mas jogávamos no Fluminense. E ganhamos 71, 73, 75…

Tita, meu amigo e comentarista da partida, quanto maior era a posse de bola do Flamengo, recebeu um Zap meu que dizia: Fluminense 1×0.

Ele devolveu: “Caramba. Vai ser uma surpresa!”.

Sobrenatural de Almeida, o personagem de Nelson Rodrigues, adora surpresas. Incorporou em Lula, 1971, Manfrine, 1973, Assis duas vezes nos anos 80, Renato Gaúcho, em 1995, e ontem levou Igor Julião a acertar um lindo chute de fora da área.

Sabemos que no esporte, como na vida, só sobrevivem os vencedores. Ontem, foi uma exceção. Um Fla x Flu, na sua mais pura concepção, em que os dois venceram.

Mais do que eles, o futebol.

Parabéns aos dois treinadores.