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zé roberto padilha

RESPEITO É BOM E O BOTAFOGO MERECE

por Zé Roberto Padilha


Acabo de ler, no livre espaço democrático das redes sociais, mais uma gracinha contra o Botafogo. Tipo, “Saiu a relação do Cartola e não havia jogadores do Botafogo. Erro de digitação?”.

Todo mundo deveria estudar História. Se não a grego-romana, a das grandes navegações, pelo menos aquela que diz respeito a nossa maior paixão: a do futebol. Se o fizessem, renderiam homenagens, não fariam gracinhas a essa estrela brilhante e solitária.

Porque se alcançamos o título mundial, em 58, a ala esquerda do Botafogo, com Nilton Santos e Zagallo, teve uma participação decisiva. Nossa enciclopédia marcou o primeiro gol de um lateral em Copas do Mundo. Eles, marcadores, nunca ultrapassaram a linha do meio campo em suas equipes, quanto mais marcar gols em mundiais.

E havia um príncipe negro coroado em General Severiano, reinando na ponta dos pés, tal a classe, tal a arte, que encantou os europeus: Didi.

Já no bi em 62, no Chile, se Garrincha foi decisivo, Amarildo, também atleta alvinegro, teve a mais difícil missão: substituir o Rei Pelé. E o fez com tanta competência que marcou contra a Espanha gols decisivos que nos levaram à final.

E no tricampeonato, no México, onde firmamos nossa hegemonia, o Botafogo nos revelou Gerson, Paulo Cézar Caju e Jairzinho, que marcou gols em todas as partidas do Mundial. Um recorde absoluto.

Sendo assim, antes de ironizar essa gloriosa estrela solitária, lembrem-se que existem dois países verde, amarelo, azul e branco citados pela história.

O primeiro, que foi descoberto pelos portugueses. O segundo, que o mundo só tomou conta da sua existência quando ganhamos a Copa da Suécia.

“Quem seriam esses seres miscigenados que jogam bola como pintamos quadros, escrevemos poemas, erguemos monumentos?”, disse o Rei da Suécia após levar um banho de bola em seus dominios, um 5×2 na decisão, para não deixar qualquer dúvidas sobre quem reinaria nos gramados de todo o mundo dali pra frente.

Pois se Cabral descobriu o Brasil, foi o nosso futebol, carregado de estrelas solitárias, que foi descoberto pelo mundo.

E salve o Botafogo. Que merece nossa admiração e respeito. E vai dar a volta por cima porque foi lá em cima que ele nos elevou.

REINALDO

por Zé Roberto Padilha


Passei uma tarde tentando explicar para meu filho quem foi Reinaldo. Se Raul, goleiro do Cruzeiro, batido e desolado na foto, que estava em campo e o enfrentava todo domingo, não sabia em que canto batia, em que ângulo cabecearia…

Um atacante de 1,72, que defendeu o Atlético MG por quase toda a carreira, de pura genialidade, que tirou o sono dos zagueiros, o emprego de treinadores adversários e levou ao desespero os goleiros que enfrentava.

Sem uma referência atual, achei mais fácil explicar porque parou tão cedo de, aos 31 anos, continuar dando shows que o futebol merecia eternizar. Se jogava há anos-luz, a medicina esportiva vivia na idade das trevas.

Seriamente caçado em campo, rompeu os meniscos e os médicos dos clubes, mais torcedores do que referendados pela classe, retiravam todo esse importante gel que protege e amortece cada movimento.

Alguns, homens da caverna, aproveitavam a lesão de um interno e retiravam o externo. Hoje, em que a artroscopia permite retirar apenas a parte lesionada, e dar vida longa ao atleta, teriam seu diploma cassado. Se não fossem presos.

Uma pena que, diante da genialidade explícita, as ferramentas disponíveis não eram as ideais. A bola de couro pesava 10 kg, quando chovia, 25. As camisas de malha, no dry-fit, retiam água, o short era de pano e as meias grossas toda a vida.

As chuteiras, de travas, deixavam marcas profundas nós pés, quando vemos as Nikes de hoje a vontade é de chorar. De pedir perdão aos nossos pés.

Enfim, toda essa genialidade não foi a campo no tempo em que a arte merecia. Foram tantos súditos a amar uma bola de futebol, e poucos Reis a entender, como ele, os rumos que ela merecia.

Coisas do futebol.

A SANTA FÉ

por Zé Roberto Padilha


Ter fé é acreditar nas coisas até contra as evidências.

Eles superaram, e a condenaram, toda a ditadura de Videla. Não cruzaram os braços diante da covarde invasão inglesa em suas Malvinas. Mas daí um time seu entrar em campo e enfrentar um adversário sem banco de reservas e sem goleiro?

Argentina é a minha segunda pátria. Como ponta esquerda, sempre admirei sua fábrica de revelar os melhores jogadores canhotos do mundo. E tinha em sua história de luta a Evita, Perón, e ainda nos concederam o melhor dos Papas.

Maradona, Conca, Ramon Diaz, Messi, D’Alessandro, D’Atalo, Mario Kempes, Di Maria, Di Bala, Passarela, Sorin…

Os pais do Gerson e Rivelino, certamente, passaram sua lua de mel por lá. Não há outra explicação para serem as duas honrosas exceções mundiais.

Para nossa definitiva admiração, da sedução do tango que nos leva a pista após o samba, ontem o River Plate não tinha uma equipe para entrar em campo. No limite de um time, onze jogadores, sem reservas e sem goleiros, um deles aceitou colocar as luvas e ir para o gol.

Não era um amistoso no Cruzeirinho. Era Copa Libertadores da América. E eles se superaram e venceram seu adversário utilizando o seu nome, Santa Fé, em prol de seus objetivos.

Torcer é bom. Ter fé, melhor ainda. Torcer pelo povo argentino, símbolo de garra e superação, não tem preço. Só orgulho.

Agora, depois dessa, só nos falta ocupar as praças de maio, junho, julho… colocar ordem na casa. Exemplos já não faltam mais.

A CAMISA MAIS BONITA

por Zé Roberto Padilha


Entre 68 e 75, quando defendia o Flu, usamos vários modelos de camisas. Na minha opinião, essa, utilizada na Taça Guanabara de 74, valorizada por vestir três tricampeões mundiais, foi a mais bonita.

Marca Athleta, um pouco mais grossa, sem patrocínios, riscas discretas verde e vermelha. E nem era branca, era um gelo.

Confeccionadas à mão, eram tão raras que se trocássemos nas partidas tinha bronca do Ximbica. E vinha descontada no pagamento.

Uma preciosidade.


E tivemos o privilégio de jogar ao lado desse monstro, Gerson, que fez o meio campo ao lado de Carlos Alberto Pintinho e Cléber. E se despediu na ocasião.

Que azar do futebol brasileiro que nunca mais revelou uma canhotinha assim. Uma camisa igual ainda dá tempo de copiar. Quem sabe?

Saudade e bom gosto, não tem idade. Nem verdades. Apenas a opinião de quem vestiu e foi com ela desfilar na passarela verde por onde o Fluminense se apresentasse.

NOSSO ÚLTIMO HERÓI

por Zé Roberto Padilha


Primeiro, eles vieram nas revistas infantis. Fantasma, Mandrake e Tarzan povoavam nosso imaginário nos transportando para incríveis aventuras em que salvavam as pessoas do perigo.

O inimigo poderia ser um leão, um jacaré ou uma tribo de canibais, que atacavam aldeias e vilarejos inocentes mas que, no final, nas últimas páginas, nosso herói os vencia.

E você ia dormir levando junto o precioso senso de justiça. Eram nossos primeiros tribunos, arbitros, juízes a colocar, a seu jeito, ordem na sociedade.

Veio a televisão e trouxe o National Kid, o cinema, Super Homem, e nossos sonhos passaram a voar na velocidade da luz.

E tinha a Louis Lane, todos tinham uma Jane, uma Diana Palmer, tão lindas, para se jogar nos braços após cada conquista.

Mais tarde, já no colégio, descobrimos que para ter uma deusa daquelas, e ser carregado nos braços de um grupo agradecido, só praticando um esporte. Ser campeão, fazer o gol do título, e depois ter direito a levar pra tomar um sorvete na pracinha a sua fã mais bonitinha.

Com o tempo, perdemos nossos maiores ídolos do esporte. Guga parou, Senna se foi, João do Pulo não pulou mais, Oscar cansou e Eder Jofre parou na hora certa. Como Pelé, Zico e Garrincha.

Hoje, pelo menos para nós, tricolores, temos um herói em cena. Ao vivo, em cores, de verdade. Um daqueles últimos que fazem com que você acorde num sábado sonhando em superar um adversário mais forte do que você.

Bicampeão brasileiro, quatro jogadores convocados para a seleção brasileira, um grupo unido e afinado, só seus superpoderes dentro da grande área para nosso time se superar e bater de frente com a poderosa equipe do Flamengo.

Heróis são mesmo assim. Como o Fred. Raros, cativantes, humildes e matadores.

Estão sempre bem colocados para dominar uma bola no meio de uma zaga, favorita que seja, colocá-la mansamente no fundo das redes para manter aceso, gols após gols, o orgulho da nossa tricolorida paixão.