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zé roberto padilha

ATÉ QUANDO?

por Zé Roberto Padilha


Até quando vamos transferir nossas frustrações, no caso esportivas e tricolores, para um profissional correto que depende da inspiração alheia para alcançar seus resultados?

Roger não é o Guardiola. Foi muito melhor jogador do que ele, apenas não teve um clube que investisse nele anos a fio. Que lhe desse o tempo do Guardiola para colocar suas ideias em prática. Para um dia ser…Guardiola.

De repente, Roger perde Caio Paulista, que voava de um lado, e o Gabriel, que voava do outro.

E aí vira o sabido do Roger Flores, sem chuteiras para lembrar o que passou, com microfones para omitir o que sentiu, e joga no ventilador da Globo, que ecoa como uma sentença para todo o país: o Fluminense não teve o mesmo padrão tático das partidas anteriores.

Como?

A procura de culpados já existe mesmo quando utilizamos a razão, imaginem a busca insana por eles quando a emoção domina nossos julgamentos?

Tirem o fornecedor da melhor cevada da Brahma. O lúpulo da melhor qualidade que é o trunfo da Original da Antártica. Será que o mestre cervejeiro, ao não manter seus sabores, seria demitido da Ambev? Pichariam seus muros?

Apenas deixariam de comprar. E eu não vou deixar de torcer pelo Fluminense, hoje, contra o Barcelona, para desempregar o profissional menos culpado dessa história.

Aquele que não bate o pênalti, erra pouco os passes e costuma sair de fininho, pela porta dos fundos, pagando o preço de um mau desempenho que nenhuma gestão vai mais precisar assumir.

Já tive treinadores de todas as cores, de várias idades, rudes como o Duque, dóceis como Parreira, já tive até a sabedoria do Mestre Didi.

Mas nenhum deles foi mais treinador que o Roger.

A diferença é que o primeiro tinha o Manfrini, o segundo Romário e o terceiro Rivelino. E o Roger tem…Brahma na jogada!

NAQUELA ESTANTE ESTÁ FALTANDO ELE

por Zé Roberto Padilha


Era uma vez um prêmio cobiçado e dificilmente conquistado, o Troféu Belfort Duarte. Para alcançá-lo, o atleta profissional de futebol precisaria atuar durante 10 anos sem ser expulso de campo.

Uma tarefa quase impossível diante da ausência do VAR.

O atual momento de revisão, dependendo do absurdo, do gol inglês que lhe deu o título mundial, em 1966, dentro de casa em que a bola não entrou, era o momento exato da revolta alemã. Dos nervos estarem à flor da pele.

E a revolta não tem revisão. Tem expulsão.

Desse jeito, para não dar brecha, criado na rígida universidade da bola chamada Fluminense FC, jamais fui expulso de campo.

Foram 17 anos, 7 clubes, competições em 4 estados diferentes da federação. E recebi apenas 2 cartões amarelos. Sendo um por engano, era para o Cléber, e o juiz pediu desculpas.

Pelo contrário, cínico ou sonso, pouco importava, por mais revoltado com suas decisões, diante da gritaria em cima do juiz, dizia assim: “Calma gente, erramos passes, perdemos gols. Ele tem o direito de errar também!”.

Talvez essa nem no Programa do Ratinho ele, árbitro, ouviria. Às vezes dava resultado. Tão sozinho, acuado, quando dividia a jogada era minha. Trazia o pobre coitado para o meu lado.

Ao contrário, Moisés, vigoroso xerife vascaino, pregava que zagueiro que se prezasse, jamais receberia um. Seria um afronto. Um contrassenso.

Enfim, no momento em que títulos negados são reconhecidos, a interdependência dos poderes precisa voltar a ser respeitada, que tal nos conceder, com data retroativa, o cobiçado troféu que fiz por merecer?

Na minha estante está faltando ele. E a saudade dele esta doendo em mim.

CARRINHOS ASSASSINOS

por Zé Roberto Padilha


Por centímetros, Jardel (foto) não teve sua carreira abreviada. O carrinho é a mais perigosas das jogadas ainda permitida no futebol.

Quando o zagueiro sabe que não vai alcançar a bola, se atira com os dois pés em sua direção.

Mesmo que vise a bola, basta o atacante tocar levemente que fica a tíbia, o perônio, os tornozelos, não necessariamente nessa ordem, expostos à violência do choque.

Depois de acionado, não há como puxar o freio de mão e evitar a pancada.

O cartão vermelho ainda é uma punição leve diante do estrago que provoca na vida daqueles que jogam futebol.

Mesmo porque futebol se joga em pé. Não há uma só obra de arte, em sua história, escrita através da sua prática.

Os quadros que pintou, foram expostos em Raio-x em vários hospitais e casas de saúde pelo mundo. E abreviaram a carreira de muitos dos nossos artistas.

A FIFA precisa, urgente, proibir a prática do carrinho. Ele, há muito, deixou de ser um recurso para se tornar um execrável ato de violência.

A Mesopotâmia não está nas Olimpíadas, mas podería ser copiado seu Código de Hamurabi. Aquele que se baseou na Lei de Talião, que punia o criminoso de forma semelhante ao crime cometido.

Isto é, o autor do carrinho na foto, Célio Silva, ficaria suspenso até que sua vítima retornasse aos gramados.

E se o Jardel não voltasse, para a tristeza daqueles que admiram um especialista nas jogadas aéreas, quem sentiria a falta do marcador?

O ÚLTIMO ROMÂNTICO

por Zé Roberto Padilha


Se tem um clube que representa a fase mais romântica do nosso futebol, onde o patrocínio não chegou ao peito porque o coração era maior que tudo, esse era o América FC.

Ele foi o mais amador dos nossos clubes profissionais.

Foi desaparecendo em pé, orgulhoso e ferido, na medida em que insistia, diante do dinheiro que o futebol atraía, em ser fiel às suas origens.

Em sua lenta e comovida extinção, despencando de séries e divisões, não teve sócio torcedor, não virou clube empresa, muito menos lhe concederam uma TV América para transmitir seus derradeiros suspiros.

Apenas deixou a aristocracia de Campos Sales, em Vila Isabel, e comprou uma casa de campo, em Edson Passos. Foi seu mais ousado passo.

Era, porém, nobre e curto diante da gula do capital que exigia, no mínimo, um CT.

Seus torcedores, entre eles meu pai, foram diminuindo na medida em que os seus filhos buscavam torcer pelos outros, os chamados grandes, que lhes dessem títulos. Não vivessem da memória.

Uma pena. Quando entrava em campo, a força do vermelho realçava como nenhuma outra o verde do gramado. Era bonito ver essa transfusão de sangue ocorrer na abertura do espetáculo lá das arquibancadas.

Em campo, antes de deixar o quarto e ser levado ao CTI, o País era sua grande muralha. Alex, o guardião da zaga que Badeco protegia como ninguém. Bráulio dava brilho às jogadas e Eduzinho produzia a genialidade que cabia a todo camisa 10 da fase mais bonita do nosso futebol. E Luizinho balançava as redes adversárias.

Em 1974, ganhou do Fluminense a Taça Guanabara. Foi pouco, diante de uma federação que foi perdendo a vergonha, uma CBF sem escrúpulos e uma Fifa fria, corrupta e calculista.

O América, mesmo perdendo seu brilho no cenário esportivo nacional, jamais deixou de vestir seu terno de linho, colocar uma flor na lapela e sair a convidar sua amada, a bola, para jantar à luz de velas.

Sucumbiu de cabeça em pé, sem dar um só carrinho na sua impecavel história, deixando em todos nós, apaixonados pelo futebol, uma saudade danada dos tempos em que Dondon jogava no Andaraí.

A vida, e o futebol, era mais bonito de se ver.

OBRIGADO, DIEGO

por Zé Roberto Padilha


Em nome de todos os jogadores de futebol, gostaria de lhe agradecer por ser responsável, ao lado do Nenê, pelo recente aumento da expectativa de vida de um atleta profissional.

Quando completei 34 anos, então jogador do Bonsucesso FC, disputando o estadual da primeira divisão carioca e literalmente “voando”, não havia um só comentarista que não depreciasse nossa apresentação.

– Mas ainda é aquele Zé Roberto, do Fluminense e do Flamengo? Veterano, hein! Ou seria seu filho? – ironizava.

Aí vinha o redator do caderno de esporte e, mesmo com o Motoradio nas mãos após empatarmos com o Fluminense, e abria os comentários assim:

– Apesar da idade, esteve bem…

34 anos. Em qualquer profissão, um estagiário. Na nossa, veterano.

Tudo porque os craques que nos precederam não tiveram uma nutricionista em seu clube. Um psicólogo para amenizar conflitos internos pós derrotas, e consciência profissional para evitar ir para o “bagaço”.

O campo era ruim, bola pesada, chuteira com travas que furava a sola dos pés, uniformes que pesavam 100 kg quando chovia. Pouca coisa contribuía para ir um pouco além.

Fisioterapeuta não existia, fisiatra só nos sonhos e artroscopia nenhum médico de clube dominava sua execução. E os joelhos eram operados a céu aberto.

Chegar jogando em alto nível após os trinta anos era tarefa para poucos. E como você precisa dos 35 anos para se aposentar, como toda profissão, mais cedo era jogado no mercado de trabalho em busca de algum ofício que ninguém se preocupou em lhe preparar.

Aí surge você, no Flamengo, contrariando todos os prognósticos e aos 36 anos realiza, contra o Corinthians, uma exibição de almanaque.

Como segundo homem do meio campo, deu o equilíbrio que toda equipe precisa quando não se erram passes e a bola gruda na chuteira.

Uma atuação impecável que mostra o quanto você se cuida e dá exemplos para as novas gerações.

Como toda profissão, quanto mais você pratica, mais aprende. No futebol não é diferente.

O que sobrava era preconceito. O que faltava eram Diegos.

Parabéns!