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zé roberto padilha

O GÊNIO DAS PERNAS TORTAS, DA CABEÇADA CERTEIRA, UM TIRO DE CANHOTA DE FORA DA ÁREA

por Zé Roberto Padilha


Uma foto vale por mil palavras. 13 de Junho de 1962. Semifinais da Copa do Mundo, Chile X Brasil. Jogando em casa, a grande chance do Chile ir às finais pela primeira vez na sua história.

Pelé machucou, ficou de fora da Copa. Suas chances aumentaram.

Daí veio esse tal de Mané Garrincha e abre o placar de fora da área. Com a canhota, a de pegar o bonde. E faz 2×0, de cabeça, e cala o estádio em Santiago.

Caçado impiedosamente, revidou uma porrada dando um inusitado chute na bunda do seu caçador. E foi expulso. E lhe atiraram, quando deixava o campo, um objeto na cabeça. Vává fez os outros dois. Brasil 4×2 Chile.

Que bom que tenham tirado essa foto. Nossa memoria é frágil, mas a fotografia veio ao mundo para registrar momentos que não temos o direito de esquecer.

Que um dia fomos o país do futebol. Onde morava um Rei e, na sua ausência, um Príncipe, puro, talentoso e humilde como sua gente, com as pernas tortas, pegava a bola e resolvia.

Obs. Quem duvida o que jogou esse homem, divido com vocês o comentário ao texto de quem jogou mais ou menos:

“Bela lembrança, para mim o segundo melhor jogador da história do futebol”.

Zico, pelo zap, do Japão.

INACREDITÁVEL FUTEBOL CLUBE

por Zé Roberto Padilha


Nem dá para saber o quanto o Manchester United pagou para ter o Cristiano Ronaldo.

Daí, no mais pegado dos campeonatos ingleses, sua equipe estava perdendo neste sábado, em casa, para o Aston Vila por 1×0, quando, nos acréscimos, Cavani cabeceia e a bola bate na mão do zagueiro adversário.

E o juiz marca pênalti. Dentre as maiores virtudes do português, a cobrança de pênaltis é uma delas. Bate com a precisão de uma tacada do Tiger Woods.

Então, quem vai bater? Bruno Fernandes.

Ele ajeita e joga a bola nas nuvens.

Sabe quando todo mundo que assistia o jogo não entende nada?

Nem eu.

Quer emoção, coisas sem explicações, esquece Telecine, séries da HBO. Assista futebol. Vai dormir com a pulga atrás da orelha. Melhor que o Bruno Fernandes.

Que nem vai dormir.

AH! CAZARES…

por Zé Roberto Padilha


Se você, Cazares, soubesse quantos jogadores de futebol gostariam de ter a oportunidade que você está jogando pela janela.

Se você, Cazares, assistisse seus minutos jogados contra o Cuiabá, na Arena Pantanal, e constatasse a extensão alcançada pela sua barriga, ficaria envergonhado.

Talvez na década em que cheguei ao Fluminense, anos 60, ainda fosse possível um jogador extremamente técnico, como você, e inacreditavelmente lento, atuar ao lado do Denilson, Didi e Lulinha…

Mas hoje?!

O Marcão acreditou, nos minutos finais, em quem não tinha fôlego sequer para puxar um contra-ataque.

Como um veterano de apenas 31 anos, limitou-se a tocar a bola pros lados. E pensar que deixamos o Nenê, tão profissional, fininho e focado, nos escapar entre os dedos.

Segue um conselho de quem vestiu esse manto imaculado e suou muito nos treinos para merecer ser escalado em jogos oficiais: esquece a noite, as bebidas, as baladas nas quais tem sido flagrado.

Dos 72 anos, que estão na sua cota segundo a atual expectativa de vida, apenas 15 anos, ou seja, nem 1/3 dela, você irá abrir mão para exercer com dignidade o dom que Deus lhe concedeu.

Se cuida. Treine mais. Faça por merecer usar uma camisa tão gloriosa que seus quilos a mais não estão alcançando o seu real valor de usar.

Nem defender. Mal atacar. Muito menos, a dignificar.

O DIA EM QUE DEIXEI DE SER TRICOLOR

por Zé Roberto Padilha


O telefone tocou das Laranjeiras. Quando isso acontece lá em casa, e não foram poucas às vezes, quem atende é o coração. De minha parte. E ele engole a razão, que vem da patroa, dos filhos e de quem mais tenha juízo.

Daqueles que sabem que não pagamos nossas contas com sonhos e idealismo. Mas com dinheiro.

Do outro lado da linha, Edinho, que assumia os profissionais do Fluminense, convidou-me para reassumir o juniores e ser seu auxiliar técnico nas finais contra o Vasco, pelo título do estadual carioca de 1993.

Após trabalhar em Xerém, nas divisões de base entre 1987 e 1991, voltara a Três Rios para ajudar na formação profissional das nossas equipes amadoras: o América FC e o Entrerriense FC.

Com a ajuda do supervisor tricolor, Paulo Alvarenga, estrutruramos os dois clubes, o Fluminense nos emprestou oito jogadores e ambos disputaram a primeira divisão em 1992. Algo inimaginável nos dias de hoje.

Mesmo assim, após uma derrota, fui demitido quando treinava o América. Depois disso, trabalhei na Distribuidora Brahma, com carteira assinada e sem depender de resultados para ter direito à estabilidade. E quando as contas se equilibraram, minha paixão falou mais alto e fui para uma nova aventura no futebol.

Parti debaixo de ressalvas coletivas. Nossos parentes sabem mais desse mundo sórdido do que nós, jogadores, treinadores, que somos reféns dessa cachaça. E das ressacas que nos provocam.

Ao mesmo tempo que disputava os dois jogos decisivos contra o Vasco, Edinho anunciava a imprensa que recebera uma proposta irrecusável do Marítimo, de Portugal, e que indicara meu nome para substituí-lo.

Todos os jornais estamparam minha foto como seu sucessor e o presidente do clube, Arnaldo Santiago, nem se manisfetara a respeito.

Tinha um Fiat Uno, mas na semana decisiva, conhecendo de onde buscam “valores” para ocupar o cargo, pedi emprestado o Santana zerado da minha irmã, que era o top de linha. Chegando com ele, não fiz feio diante do carro importado do Super Ézio.

O Vasco foi campeão e Edinho se despediu do clube e bateu nas minhas costas no vestiário:

– Agora é com você, amigo!

Sem ser anunciado oficialmente, perguntei ao supervisor dos profissionais, Roberto Alvarenga:

– O que faço?

Roberto disse: vem cedo dar o treino normalmente. Alguém precisa estar aqui. Fui pro hotel e nem dormi pensando na minha possível estreia no domingo, contra o Palmeiras, pelo Torneio Rio São Paulo.

Todos que nos antecederam no cargo, como Gilson Gênio, Rubens Galaxe, Sebastião Rocha, Gama, tiveram essa interinidade. Ocuparam a cadeira enquanto um Dorival Junior, Cuca, Celso Roth… vocês sabem!.


Cheguei cedinho ao clube e uma leva de jornalistas passou por mim. “Oi, Zé!” Tinha algo errado. Não era eu, caso contrário me cercariam. Ximbica, o roupeiro amigo, oito anos de clube como a gente, me chamou no canto do vestiário para nos consolar.

– O Nelsinho Rosa é muito amigo do Presidente! – disse.

– Mas por que não o anunciou? Deixou no ar meu nome, meus sonhos…

Enfim, fiz a viagem de volta mais triste da minha vid, mas ela era só aperitivo. Quando cheguei, Paulo Alvarenga ligou do Flu.

– Já soube, não é?

Eu respondi:

– Sim, mas ainda temos chances, afinal sou o treinador do juniores!

Ele retrucou:

– Não é mais. Nelsinho indicou o filho para treinar o junior. Você foi demitido!

Sabe aquele dia que você olha do alto da ponte e agradece o privilégio de ter tido os pais, tios, professores e avós que tive, nos ensinando o valor da vida?

Do Paulo Matheus, nosso psicólogo, que diz que precisamos ser os protagonistas da nossa própria história?

Pois é. A vida continuou. Foi apenas um dia em que deixei de ser tricolor por causa de uma gestão covarde, incapaz de assumir suas preferências à luz do dia. E que não estava à altura de dirigir nosso clube como eu estava preparado, naquela ocasião, para dirigir o Fluminense.

Era apenas uma gestão. O clube, e eu, somos maiores do que ela. E sobrevivemos.

UMA ESTRELA SOBE

por Zé Roberto Padilha


Sabe quando você vê um profissional acima do seu contexto? Sobrando na turma?

Foi assim quando jogava no Marília AC, durante o Campeonato Paulista, 1980, quando conheci o professor Bebeto de Oliveira.

Tinha fraturado o perônio e estava entregue ao DM. E quando pensei que ia me liberar para vir a Três Rios, Bebeto programou uma série de exercícios na pista de atletismo uma hora antes do treino da equipe profissional.

Pegou duas muletas, forrou sua base com ataduras, para não machucar os braços, e nos orientava a dar três voltas na pistas. Dando seguidos galeios.

Com uma semana, encostei no recorde paralímpico. E quando tirei o gesso, nem precisou recuperar a atrofia. A perna contundida ficara mais forte que a boa.

Ficava pensando: o que um homem tão bom, inteligente e guerreiro como esse está fazendo escondido aqui?

Mais tarde, soube que foi para o São Paulo. Depois, alcançou a Seleção Brasileira. E eu recebia cada notícia dessa com aquele orgulho tipo “eu já sabia!”.

Agora, soube que foi convocado pro céu. É o destino natural de uma estrela cujo brilho percebi logo que o conheci.

Descanse em paz meu professor mais do que querido.