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zé roberto padilha

OBRIGADO, DIRETORIA DO FLAMENGO

por Zé Roberto Padilha


Em nome de todos os tricolores, gostaria de agradecer aos sábios e ilustres diretores de futebol do Flamengo por ter vendido, e nos livrado, do seu melhor jogador.

Seria muito complicado ter nas semifinais o “Luiz Henrique deles” jogando contra nós.

Sabe aquela jogada cada vez mais rara no futebol, aquele drible que chega à linha de fundo e puxa a bola com um pé, ameaça cruzar e sai para o outro, se bobear, dá mais uma entortada no zagueiro…

Que eu me lembre, excetuando essas duas feras acima mencionadas, apenas o Soteldo realizava essa jogada no Santos. E ela é mortal, objetiva e desmoralizante.

Espero, sinceramente, que o valor da transação tenha sido bem alto. À altura das dores de cabeça que vocês terão para encontrar um outro Michael.

Como vendem um jogador no melhor momento de sua carreira para pagar a maior e mais vultosa Comissão Técnica, portuguesa com certeza, já contratada no país?

Falar nisso, quem foi mesmo o sabido que bateu o martelo? Gostaria de agradecer pessoalmente. Lhe conceder minhas sinceras “saudações tricolores”.

SÓ O TITE NÃO VIU

por Zé Roberto Padilha


O treinador da Seleção Brasileira foi assistir aos últimos jogos do Fluminense. E só ele, e sua obsessão por quem atua fora do nosso país, não foi capaz de reconhecer as duas novas pérolas do nosso futebol: Calegari e Luiz Henrique.

Até o Matinelli ele preferiu convocar o similar importado.

Atuando do lado direito, onde nossa seleção tem encontrado sérias dificuldades desde que Cafu se aposentou e Mané Garrincha nos deixou, Calegari e Luiz Henrique tem nos oferecido momentos raros de criação e inspiração.

Um entrosamento que trazem desde as divisões de base. Desde Xerém. Não é todo dia que surgem dois grandes craques assim em nosso futebol.

Um lado direito tão ruim, o da nossa seleção, que Fagner foi titular das últimas Copas do Mundo e Daniel Alves, próximo do seu jogo de despedida, foi convocado para sua milésima participação.

Nem ele aguenta mais apoiar, muito menos Thiago Silva e Marquinhos cobrirem o buraco que ele deixa escancarado às suas costas.

Para nós, que jogamos futebol, a convocação para a seleção brasileira representa um prêmio, um reconhecimento a uma fase esplendorosa da nossa carreira.

Sabe aquele choro do Pelé, saindo do Santos novinho, convocado para defender a seleção do seu país na Suécia? Mais ou menos o que estão sentindo os civis ucranianos, saindo às ruas para defender a sua pátria.

Só que as guerras no futebol são pacíficas, armas de chuteiras, balas de uma bola sintética, que já foi de couro e que não querem destruir ninguém, apenas acertar o gol e impor o talento e a vocação proprios de uma nação.

Calegari e Luiz Henrique mereciam estar na lista, mas não foram jogadores do Corinthians aos quais Tite deve eterna gratidão. Tantas tem demonstrado, que escalou contra a Bélgica, na última Copa do Mundo, Fagner, Paulinho e Renato Augusto.

A Bélgica nos eliminou por 2×1. E ele continuou no cargo a distribuir gratidão, não ao seu país, à sua profissão. Mas aos seus interesses particulares, sensíveis aos assédios dos empresários que rondam à CBF, somados às palestras e preleções de auto-ajuda quem nem o Paulo Coelho aguenta mais.

Fora, Tite !

MÃOS SÁBIAS E SEGURAS PARA NOS CONDUZIR À VITÓRIA

por Zé Roberto Padilha


Fábio acabara de renovar seu contrato com o Cruzeiro. Na Série B, do ano passado, foi seu melhor jogador. Aos 41 anos, idade onde o goleiro alcança sua plenitude, se preparava para uma nova temporada.

Daí chegou o novo dono do clube, um ex-jogador, e no lugar de apontá-lo como exemplo de sua administração, aponta-lhe o olho da rua. Quando, na verdade, merecia uma estátua.

E rasga um contrato assinado e o coloca para treinar à parte.

De uma maneira seca, covarde, Ronaldo, o Fenômeno da imbecilidade, esquece suas origens e inicia sua gestão desrespeitando um companheiro de profissão.

Quando um goleiro não se lesiona, e treina forte, e joga todas as partidas de uma temporada, como Fábio faz há anos, não há uma bola, chutada ou cabeceada, de córner, falta ou um tiro de fora da área que lhe surpreenda.

Que não tenha vindo em sua direção e que já tenha encontrado maneiras de colocar o perigo para escanteio. Tal sabedoria acontece em toda a profissão em que a vocação, a preparação e e a seriedade vão a campo defender um patrimônio.

Em meio a tanta indignação ocorrida no mundo do futebol, protestos de todos os lados, o único que não reclamou foi ele, Fábio. Sabia que encontraria um clube à altura não apenas do seu talento, mas da sua nobreza.

Recebeu, calado, a notícia de sua liberação e desembarcou, em silêncio, no Rio. E foi para debaixo das traves tricolores trocar a voz pelas mãos. Responder com defesas e dar sequência a sua admirável trajetória com a qualidade das suas intervenções.

Sua vinda para o Fluminense não foi por acaso. Teve o de dedo de Carlos Castilho, as mãos seguras do Félix, no texto redigido por Nelson Rodrigues e encaminhado aos Deuses do Futebol.

Na terça, Fábio foi o goleiro titular em nossa estreia na Copa Libertadores. Com ele no gol, o Fluminense iniciou sua caminhada em uma competição que tem a sua cara. O seu prestígio. A sua história.

Porque com a experiência do Fábio, a juventude de Luiz Henrique, André, Calegari e uma lenda viva à sua frente, como referência, deixaremos, como dizia nosso mestre e dramaturgo, de ser grande.

Seremos ainda maiores.

AS CICATRIZES DE UMA PAIXÃO

por Zé Roberto Padilha


Nem sei o que faria sem essa válvula de escape em que, quase diariamente, registro as lembranças de dezessete anos como jogador de futebol. O jornalismo, em que fui buscar ferramentas para descrevê-las melhor, tem me ajudado bastante.

Conto as passagens vividas, sofridas ou vencidas, tem empates também na loteria. E logo existo.

Mas penso nos meus amigos que ralaram ao meu lado. De como estão se defendendo sem uma caneta nas mãos. Como o Paulo Sérgio (foto), esse excepcional goleiro, pelo Té, símbolo maior de Santo Antônio de Pádua, do Marco Aurélio, o dono de Muriaé, do Rubens Galaxe, que está no Detran mas que merecia era dar nome a Sala de Troféus do clube em que se entregou de corpo e alma: o Fluminense FC.

Como tantos, viveram intensamente o mundo da bola e ele, por ser a paixão maior do nosso país, não tem respeitado, ou aposentado com dignidade, os que viveram debaixo da emoção única que o cerca.

Ao contrário das demais profissões, não há um só dia de trabalho em que você não esteja sendo observado. Cobrado nos treinos, por alguns, nos jogos, por uma multidão. Durante a semana é o chefe e seu auxiliar técnico quem berra contigo. E, no final, são os torcedores.

No nosso tempo, segunda-feira vinha a nota de sua atuação. Não no mural da escola, no quadro de funcionários do mês, mas nas bancas no Jornal dos Sports. Um dia a Robertinha, minha filha, comentou: “Nota quatro, pai!” Nossos feitos, bem ou mal feitos, eram de domínio público.

Em Campos, onde atuei por três anos, dois no Americano e um no Goytacaz, tinha um caixa no banco que não podia me ver. Como não tinha Pix, ou mesmo Caixa Eletrônico, antes de me pagar o salário, exclamava, ao vivo, para todo mundo escutar: “Puxa, Zé Roberto, que vexame, hem!”.

Ele queria que ganhássemos do Flamengo. Em 1982.

Não são apenas dezessete anos que o INSS deveria levar em conta ao nos aposentar. Recebemos o triplo de pressão, pancadas e contusões que deveriam computar. No corpo e na alma.

Por na conta duas décadas sem o sábado, passados em uma concentração, sem horas extras computadas. Duas décadas atuando no domingo, sem a paga dobrada, tendo apenas a segunda-feira, de clubes fechados, boates, discotecas e teatros sob manutenção, para o lazer. Seu e dos seus filhos que estarão no colégio.

Só lhes restou a praia. E quando você mergulha, uma voz, que gritou o seu nome na véspera, não o reconhece sem o pavilhão para o qual lutou por noventa minutos. E comenta, dentro de um Copacabana-Irajá, via Jóquei: “Mas como tem vagabundo neste Rio de Janeiro!”

Alguns são lembrados na televisão. “E aí, Maestro!”. “O que achou do River Plate, nosso Tetra?”. “E a atuação do Palmeiras, Animal!”.

Mas são exceções. A maioria está se virando em outro ofício diferente do talento herdado. Do dom tão cobiçado que os levou, um dia, a serem ídolos de alguém.

Hoje, são reféns do ostracismo, alguns com retratinhos no bolso tentando provar, pelos barzinhos que perambulam, os heróis que foram um dia.

Sendo assim, em nome de todos aqueles que são, hoje, esnobados pela indiferença dos que um dia subiram as rampas, dos maiores e menores estádios do país, para gritarem seu nome e pedirem garra para reforçarem a sua, os meus respeitos.

Vou continuar aqui nos defendendo, contando nossos casos. Quem sabe um dia levem nossas histórias a sério? E nos aposentem pelo tempo que merecemos, mesmo que tenhamos que esperar pelo dia em que vivermos em um país sério.

UMA ESTRELA POUCO SOLIDÁRIA

por Zé Roberto Padilha


Há pouco mais de oito meses, era comum passar pelo Júlio, meu vizinho, e ele reclamar: “Não vamos subir de jeito nenhum com esse time!”. Pela campanha, tinha razão, seu time se arrastava na competição ao lado do Vasco.

Como num passe de mágica, o time se encontrou. Sem o Julio perceber, acabei lhe contando depois, o Botafogo engatou uma serie de bons resultados. E não apenas retornou à primeira divisão, como foi o Campeão da Série B.

Havia uma unanimidade diante desse milagre: o treinador Enderson Moreira. Recolheu os cacos que encontrou, os colou e apresentou um time sólido e unido. Na última partida, foi ovacionado pelos torcedores. E deu uma volta olimpica inédita no Engenhão, cena que jamais fora concedida a um treinador.

Já de volta à elite, apareceu, claro, um investidor interessado: John Textor. Se o time cai, nem daria as caras. E logo na terceira rodada do estadual, demite o principal responsável pelo investimento que adquiriu.

Pior foi a desculpa: “Em nome da transição de um novo modelo de gestão, mudanças são necessárias e naturais ao projeto!”.

Partindo de um empresário, frio e calculista, que se torna da noite para o dia um cartola, tudo bem. Seria demais exigir que conhecesse a importância da estrela solitária dentro do futebol brasileiro.

Mas e quanto à torcida que o reverenciou? Não protestou? Por que não invadiram o treino para defender aquele indefeso cidadão que sempre perseguem após uma derrota?

O silêncio e a omissão dos torcedores do Botafogo, em relação a quem lhes trouxe a mais recente conquista, tem sido uma das maiores provas de ingratidão que já presenciei no futebol.

Pior do que isso é trazer outro apóstolo de Jesus, como se milagres fossem alcançado por qualquer Luiz Castro.

A memória do torcedor é apenas superior a razão que sobrou do seu fanatismo. É fraca, mas como dói.

Ao Enderson Moreira, nosso apoio, respeito e solidariedade.