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zé roberto padilha

APENAS UMA NOITE DE NÚPCIAS

por Zé Roberto Padilha


Não dá para explicar à luz da razão.

Aconteceu comigo e com meus companheiros, aconteceu sábado no Maracanã sob o comando de Mano Menezes.

Embora nossa profissão seja encarada com seriedade, e o esforço e a dedicação sejam iguais, em todas as partidas, quando um novo treinador assume vamos buscar na estreia algo a mais para mostrar ao novo comandante “quem somos!”.

Não há psicólogos que expliquem esse fenômeno. Psiquiatras, talvez.

Ontem, no Maracanã, não foi um time “sem vergonha”, o Fluminense, que perdeu. Foi o outro “sem vergonha” diante do que vinham apresentando, o Internacional, que foi buscar o melhor de todo o seu arsenal físico e técnico. E fizeram uma partida impecável.

Perguntem ao treinador que saiu se eles estavam jogando desse jeito.

Poderia dizer que seria como um casal jogando em sua lua de mel. Do outro lado, o mesmo casal voltando para suas bodas de prata no Maracanã.

Embora no primeiro tenha acontecido até gol de bicicleta, neste último “confronto” jogariam como o Abel aprecia, sem firulas no gramado e fechadinho nas intermediárias. Jogando simples, papai toca, mamãe devolve de primeira. E com muita luta e sorte, conseguiriam colocar uma bola no fundo das redes ao apagar do abajur.

1×0 já seria uma goleada. Com direito a uma Moet Chandon e um bombom de cereja da Kopenhagen.

A SAUDADE DELA ESTÁ DOENDO EM MIM

por Zé Roberto Padilha


Eu, Nielsen Elias, Abel Braga, Marco Aurélio, Rubens Galaxe e Marinho tínhamos 19 anos. Estávamos nos juvenis do Fluminense fazendo vestibular para jogador de futebol. E ganhamos, um ano antes, em 1970, o título carioca da categoria.

Mal sabíamos a importância daquele título.

Porque com a conquista do tricampeonato, o Brasil virou referência mundial no futebol. E a FIFA, ao organizar em 1971, em Cannes, França, o primeiro Mundial Sub-20, convidou sua seleção. Que jamais havia sido formada.

Com pouco tempo para convocar e treinar uma, o que fez a CBD? Chamou a base do time do Fluminense, todos titulares e entrosados, e acrescentou Ângelo, do Atlético-Mg, Mário, do São Paulo, Nilson Dias, do Botafogo, Clayton, do Santos e Jorginho Carvoeiro do Vasco. No banco, Enéias, Portuguesa, entrava sempre nas partidas.

Seleções da Hungria, e da França, além do Chelsea, foram nossos adversários. E levantamos o título invictos. Esse título nos valorizou no clube, foi praticamente uma pós graduação. Ganhamos de presente uma semana em Paris e a medalha mais bonita desse mundo.

De ouro puro, cunhada na Casa da Moeda, nas ondas do milagre econômico do Brasil Ame-o ou Deixe-o, ela ficou como símbolo maior das nossas carreiras.

Que teve, como na minha e de todos, altos e baixos. Em uma das baixas, foi pra Caixa Econômica Federal. E na baixa das baixas, atrasamos com o pagamento. E ela foi leiloada.

Acontece. Hoje, mais estável, ao reunir meu acervo para deixar como lembrança para os filhos e netos, gostaria de saber se quem a resgatou poderia me vender. Tenho certeza que seu colecionador não terá os motivos que tenho para recebê-la de volta.

Campeão Mundial. Só quem conquista um título para o seu país, escuta o Hino Nacional, representa uma cidade pequenininha na região serrana do estado do Rio de Janeiro, pode aquilatar a emoção e o orgulho dessa conquista.

A medalha era o símbolo maior desse momento único de nossas vidas. Na minha estante está faltando ela, e a saudade dela está doendo em mim.

ABRAM AS ASAS SOBRE NÓS

por Zé Roberto Padilha


Durante uma partida de futebol, um dos momentos mais complicados para o árbitro acontece durante a cobrança de um corner. Ou de uma falta ao lado da área.

Fica quase impossível marcar uma penalidade, contra ou a favor, pois todos se agarram e todos se empurram na grande área.

E salta aos olhos a quantidade de gols que são marcados na pequena área diante de um goleiro colado à linha do gol. Estático e omisso, tem sido batido por qualquer desvio. Contra ou a favor.

E fico a esperar, como um apaixonado pelo futebol, o dia em que um goleiro corajoso, treinado por um preparador de goleiros de vanguarda, “descobrir” que ele é o único que pode tocar as bolas com as mãos durante aquele alvoroço.

E ele resolver não apenas sair para cortar um cruzamento dentro da pequena área, mas buscar a bola em toda a extensão da grande área.

Como um Albatroz, voará com suas luvas, deixará de ser coadjuvante de um desvio para ser o protagonista que estanque no ar uma granada atirada por um adversário. E próxima a explodir em suas redes.

No momento em que todos por ali estão escondendo as suas mãos, porque qualquer toque é pênalti, quem está liberado para utilizá-la a encolhe. E se omite dos recursos que as regras do esporte lhe concede.

Fico a pensar neste goleiro do Flamengo, o Hugo, alto, com braços longos, se fosse treinado para buscar a bola em toda a extensão da grande área.

O futebol iria mudar. Porém, para mudar uma postura precisa-se de coragem, ousadia, não ter medo de perder o emprego E, principalmente, treinamento, elasticidade, tempo da bola para entrar para a história.

Os goleiros precisam abrir as asas sobre todos aqueles que encolhem as suas.

Não se trata de uma invenção, algo que eles não sabem fazer, como sair jogando à la Fernando Diniz. Se foram para o gol é porque desde pequeno eram ruins “na linha”. E, com o tempo, se tornaram hábeis com as mãos.

Quem se atreve a abrir as suas e colocar no cardápio mais um ingrediente dessa doce degustação, que é sentar numa poltrona, abrir uma Corona e assistir a uma partida de futebol ?

Raul Carlesso, o pai dos treinadores de goleiros, e Nielsen Elias, seu discípulo mais consagrado, colocavam cones sobre estacas, no lugar dos zagueiros e realizavam cruzamentos para que saíssem da meta com um olho na bola outro nos homens.

Parou por quê?

UM GANSO FORA D’ÁGUA

por Zé Roberto Padilha


Será que não lhe alertaram que o futebol arte acabou?

Que precisa parar de insistir com que a classe, a habilidade, o domínio e a assistência persistam em meio ao futebol moderno?

Quando os garotos chegam às divisões de base, os gritos dos treinadores trogloditas, que tomaram o lugar dos ex-atetas nos clubes, começam a soar: toca, pega, marca, dá um chutão nessa porra!!!

Eles estão salvando seus empregos. E castrando gerações.

Não se formam mais craques, potencializam seu dom ou dão asas às suas infinitas inovações. Cerceiam na fonte ao priorizar a correria. A marcação forte, se possível, um carrinho voador.

Ganhar, por uma bola, como missão também nos infantis, são barricadas que se estendem para evitar a ousadia.

E o garoto vai chegando à graduação com medo de dar um drible. Uma caneta? Vai levar uma porrada porque, tão rara, vai parecer um acinte. Um deboche.

Luiz Gustavo, Fernandinho, Casemiro, Fred, Arthur, Fabinho, todos chegaram craques em seus clubes. Mas só foram convocados porque foram catequizados para deixar, gradativamente, sua classe pelo caminho.

Sabe quando o Ganso vai ser convocado depois que a Era Dunga veio forte e consagrou Felipão?

Quando entrar no Du Lorean do Dr. Brow e desembarcar na década de 1970. Com Ademir da Guia, Gerson, Geraldo, Cléber, Clodoaldo e Carlos Alberto Pintinho, iria entrar para a história do nosso futebol.

Como nasceu ontem e joga hoje, sem Telê Santana no comando da seleção, vai ser sempre um Ganso fora d’água.

Pobre água.

PARABÉNS, AMIGO

por Zé Roberto Padilha


Sobre você, Abel, posso escrever um livro. Chegamos juntos ao Fluminense, aos 16 anos, e saímos formados cidadãos e atletas profissionais sete anos depois. Você foi pro Vasco, eu para o Flamengo.

Oito anos depois, nos reencontramos em Campos, e disputamos, ao lado do nosso mestre, João Batista Pinheiro, e do Rubens Galaxe, o estadual de 84 pelo Goytacaz.

Histórias suas tenho aos montes para contar, mas, hoje, vou apenas lhe dedicar uma crônica pela vitória do nosso tricolor. E ela é mais do que merecida.

Sei do que você passou, há dois anos, quando saiu pelas portas dos fundos do Ninho do Urubu enquanto, pela da frente, entrava Jesus.

Nunca foi fácil, que o digam os imperadores romanos, questionar Jesus.

Na ocasião, escrevi o quanto foi injusto o Flamengo ao não lhe conceder as faixas e medalhas de campeão estadual, brasileiro e das Américas porque foi você que montou a base daquele time.

Carro de F1 e time de futebol se montam na pré ‘temporada. Seja em Jerez de la Frontera ou uma estâncias climática, dos campos e túneis de vento saem a a suspensão, os chassis e a aerodinâmica. Foi quando você indicou Bruno Henrique, Rodrigo Caio e Gabigol.

Depois, nas pistas e nos gramados, bastou ajustar os pneus, durante os milagres ocorridos no reino de Fátima, quando Rafinha chegou para o lugar do Pará, e o Filipe Luis para o do Renê.

Inegáveis foram os méritos de Jesus. Lamentável, na ocasião, foi a diretoria rubro-negra subestimar sua valiosa contribuição em meio a tantas conquistas. Mas esse é o mundo do futebol, cruel e imediatista, e você que sabe dele mais do que eu.

Sábado, no Maracanã, você não deu o troco. Nem se vingou.

Não faz parte da Escola das Laranjeiras tomar atitudes arrogantes quando a Roda Gigante nos coloca acima. Mas já que o Flamengo não lhe concedeu as medalhas, você foi lá e além de pegar a sua, mostrou que quando lhe deixam montar um time e conduzi-lo ao mesmo tempo nas pistas, o Fluminense levará a campo, durante o Campeonato Brasileiro, mais do que uma grande equipe de futebol.

Será uma Mercedes.