por Victor Kingma
Zé Percata era um zagueirão do interior mineiro. Daqueles que davam pontapé até na própria sombra. Forte como um touro e com quase dois metros de altura, no dia a dia era um sujeito gentil e pacato. Entretanto, em campo, defendendo as gloriosas cores do Guarany, de Mantiqueira, virava uma fera. Principalmente quando algum adversário atingia seus calos, o que geralmente acontecia, pois, para conseguir calçar as chuteiras e abrigar os pés, de tamanho 49, tinha que fazer um furo nas mesmas e deixar as enormes calosidades à mostra.
Certa vez, numa decisão local, no estádio Mantiqueirão, arrumou um tremendo sururu com meio time do adversário, após ter sido pisado no “Nicanor” do pé direito. Além de expulsos pelo juiz, os arruaceiros foram presos. E passaram a noite no xadrez. No outro dia, o delegado local, um pernambucano “linha dura” que assumira a delegacia do lugar, foi chamando, um por um os esfolados brigões e passando-lhes o maior sermão. Por último, chamou o Zé Percata:
– Gosto de cabra macho! Foi você o valente que brigou sozinho com aqueles cinco?
– Fui eu mesmo, seu delegado!
– Pode ir embora. Eles continuam presos e você está solto! Já falei com eles que achei uma covardia!
– Eu também achei que foi, Dotô! Na verdade eu queria bater no time todo, mas os outros seis covardes fugiram!