por Zé Roberto Padilha
É preciso que a história do futebol brasileiro faça justiça a Zé Mário. A partir dele, do seu equilíbrio, classe e senso de organização (era praticamente incaível) apresentado na década de 70 atuando tanto no Flamengo, Fluminense e Vasco, valorosos e aplicados cabeças-de-área foram sendo substituídos por jogadores mais hábeis.
Um processo natural de evolução técnica capaz de permitir que André, hoje, vista a camisa de Denilson, o Rei Zulú. E Thiago Maia a de Liminha. Graças ao talento de Zé Mário, o Vasco fez de Guiñazu seu último guerreiro. E foi permitido ao futebol escalar jogadores mais talentosos à frente de suas zagas.
Um dos segredos do Zé Mário, e só notei porque joguei ao seu lado, era sempre dominar a bola com o pé de apoio. Como era destro, dominava com a canhota e a boa já estava com o dedo no gatilho direito. Parece pouco porque inverte a lógica em um nível de detalhamento quase imperceptível.
Simples mortais, como eu, dominam com a canhota, ajeitam o corpo e só depois realizam o passe. São frações de segundos que podem custar um contra-ataque causado por uma bola roubada de frente a uma zaga desarrumada.
Juro que tentei fazer o mesmo, dominar a bola com o pé que pegava o bonde. E como treinei. Mas era tarde, são fundamentos vindos da base, do berço, dos Deuses.
Fernando Diniz só ousa insistir no toque de bola para iniciar as jogadas do Fluminense porque viu Zé Mário e Carlos Alberto Pintinho enfrentarem nosso saudoso Badeco. E se dá ao luxo de por ali escalar um Martinelli.
E foi a partir do seu pioneirismo que, na posição mais difícil do futebol, a única que você joga de costas para o gol adversário e onde não é permitido errar passes, foi provado que pode e deve existir vida inteligente.