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Zé Carlos

ZÉ CARLOS, ‘CARREGAR PIANO’ ERA COM ELE MESMO

por André Felipe de Lima


(Foto: Reprodução)

Fosse no grande Cruzeiro de 1966 a 1976 ou no estupendo Guarani de 1978, lá estava José Carlos Bernardo, o grande volante Zé Carlos, carregando o piano do time. Mas, verdade seja dita, “carregar piano” naqueles elencos era tarefa das mais amenas. Afinal, o Cruzeiro, em 1966, tinha um time campeão da Taça Brasil formado por craques sensacionais, do goleiro ao ponta canhoto, de Raul, passando por ele, Zé Carlos, Piazza, Procópio Cardoso, Dirceu Lopes, Natal e Tostão, a Hilton de Oliveira. Na máquina de 76, campeão da Taça Libertadores, ocorria o mesmo. No gol, novamente Raul, mas também havia Roberto Batata, outra vez Piazza, Palhinha, Joãozinho, Zé Carlos e até Jairzinho, o “Furacão de 70”. Só cobras…

Pelo Cruzeiro, Zé Carlos entrou em campo 633 vezes e conquistou nove campeonatos estaduais. Até surgir o goleiro Fábio, que defende a Raposa desde 2005, o meio-campo era o jogador que mais vezes vestiu a camisa azul do clube mineiro. Vestiu com extrema galhardia. “Eu me preocupava com a técnica porque é o que tem de prevalecer em qualquer jogador de meio-campo. Se eu errasse mais de três passes em um jogo, voltava para casa com raiva de mim mesmo, até se ganhasse prêmios e fosse elogiado por colegas.”


(Foto: Reprodução)

Quando tinha pouco mais de 30 anos e com a carreira praticamente consolidada como um dos maiores ídolos do Cruzeiro em todos os tempos, Zé Carlos teve o passe negociado com os cartolas do Guarani. O que, para muitos, representava uma aventura sem precedentes, tornou-se uma das maiores surpresas da história do futebol brasileiro. Ao lado de jogadores espetaculares, como o goleiro Neneca, o zagueiro Gomes e os meias Renato e Zenon, Zé Carlos foi campeão brasileiro em 1978.

Na seleção brasileira, teve poucas oportunidades. Por muito pouco não foi à Copa de 70, mas acabou cortado na reta final. Inicialmente, indignou-se, mas acabou resignando-se.

A melhor chance foi com o técnico Oswaldo Brandão, em 1975, quando Zé Carlos ainda se recuperava da grave contusão que sofrera no tendão de Aquiles do pé direito. Com Zé Carlos, o Brasil ficou em terceiro lugar no Campeonato Sul-Americano, na época disputado em jogos de ida e volta. Devido à contusão, Zé entrou em campo somente na segunda fase da competição. “Ele está voltando de uma contusão grave. Ficou muito tempo parado e precisa de apoio para não sentir nada quando entrar no time. É um craque e não posso dispensar seu trabalho”, disse Brandão antes do início da competição.


(Foto: Reprodução)

Certa vez, ele disse o seguinte ao saudoso repórter Fausto Netto: “Se eu tivesse que recomeçar tudo de novo, seria jogador de futebol novamente. Jogo por profissão e por gostar de futebol”. Verdade. Zé foi uma unanimidade entre os companheiros de time. Piazza afirmava ser o amigo o “elo perfeito” entre defesa e ataque. Dirceu Lopes aponta o passe perfeito: “Com o Zé, a jogada sai fácil. Sua colocação em campo é um troço.”

Hoje, dia 28, o mineiro Zé Carlos, de Juiz de Fora, comemora mais um aniversário. Com o craque no Cruzeiro ou no Guarani, os times eram verdadeiras orquestras. Ele, naturalmente como todo volante, o bravo maestro a regê-las. Feliz e em total sintonia com o divino espetáculo chamado futebol.

ZÉ CARLOS FEZ DO BAHIA O MAIOR DO BRASIL EM 88

por André Felipe de Lima


(Foto: Reprodução)

Hoje, 20, é aniversário do Zé Carlos, o meia-atacante decisivo para o Bahia na conquista do bicampeonato brasileiro de 1988.

Zé Carlos teve uma infância difícil e começou a trabalhar aos 13 anos para ajudar a família: “Tenho o orgulho de dizer que passei fome, mas nunca mexi em nada de ninguém, nunca apelei para a marginalidade. Sempre acreditei na honra e no trabalho honesto. É isso que procuro ensinar para as escolas de futebol em que atuo.”

O ingresso no futebol foi tarde. Zé tinha 18 anos, quando o juvenil do Tricolor de Aço baiano o acolheu após uma peneira com mais de mil garotos. Tiro certeiro dos olheiros do Bahia. O rapaz, embora muito magrinho e com quase 1,80m, era bom de bola pra chuchu. Em 1985, foi peça fundamental para o título estadual de juniores. Para não o dispensarem, fazia exercícios contínuos pendurado no travessão para tentar ganhar musculatura. Nem precisava disso. Zé batia um bolão. Após a boa fase na base do Bahia, já entre os profissionais, foi tricampeão baiano e, a maior de todas as conquistas, campeão nacional, em 1988.

O rapaz bom de bola fez tanto sucesso que o treinador da Seleção Brasileira, Sebastião Lazaroni o convocou para amistosos contra Arábia Saudita e Portugal, em 1989.

Com todo aquele futebol, não há dúvida: os Orixás sempre deram uma força bacana para o craque e ídolo Zé Carlos. Axé, mestre! E, claro, feliz aniversário!

 

PROPOSTA IRRECUSÁVEL

por André Mendonça


“Quando eu fui para a China passei a ganhar mais que o Zico, que tinha o maior salário do Brasil”. Com passagens pelas divisões de base do Flamengo e pela equipe profissional do Vasco, José Carlos Muniz Pereira, o Zé Carlos, foi um dos primeiros brasileiros a se aventurar no futebol chinês, especificamente em Hong Kong, na época em que a região ainda era uma colônia inglesa. A transferência para o continente asiático, aliás, é motivo de orgulho para o meio-campo que jogou suas primeiras peladas nas ruas do Catumbi, bairro do Rio de Janeiro.

Filho de dono de time amador na Baixada Fluminense, Zé Carlos nasceu respirando futebol. Desde cedo, já estava na beira dos campos e passou a freqüentar o Maracanã aos sete anos de idade para acompanhar o Flamengo, seu time de coração, apesar do carinho pelo Vasco, clube em que se profissionalizou.

Aos 12, começou a disputar campeonatos na categoria “dente de leite”, defendendo a Associação Atlética Souza Cruz, time da fábrica de cigarros, com muita tradição nas categorias de base. Devido ao talento e ao porte físico semelhante, Zé Carlos passou a ser chamado de “Pelézinho”, pelo narrador Carlos Lima.

– Esses campeonatos eram transmitidos pela extinta TV Tupi! Era muito bacana! Uma oportunidade única para os jogadores que estavam surgindo.


De acordo com o ex-jogador, foi na infância que ele viveu o momento mais mágico da carreira. Como ocorria em todos os Dias das Crianças, em 1970, o Maracanã organizou um campeonato da categoria “dente de leite”, com todas as equipes do Rio. Zé Carlos arrebentou e ajudou a equipe da Souza Cruz a conquistar o título do torneio em um dos maiores palcos do futebol mundial!

– Fiz muitos golaços, conquistei títulos, mas naquele dia eu vivi um sonho! O Brasil tinha acabado de ser tricampeão mundial. Ao pisar naquele gramado, me senti um Pelé, um Jairzinho… Nesse dia comecei a acreditar que poderia virar um jogador profissional!

O bom desempenho na competição chamou a atenção do Flamengo e o menino passou a treinar na Gávea, ao lado de craques como Adílio e Tita. Morando em Belford Roxo, Zé Carlos perdia muito tempo se deslocando até o treino. Além disso, o craque explicou que ainda estava no primeiro ano da categoria em que jogava, de 12 a 14 anos. Sendo assim, teria que esquentar o banco por um bom tempo até as primeiras oportunidades surgirem.

A ansiedade para entrar em campo e mostrar serviço diante das câmeras, no entanto, interrompeu a curta passagem do jogador pelo rubro-negro. Saiu do Flamengo e se transferiu para o maior rival, o Vasco, onde se profissionalizou em 1980.

– Me arrependo disso até hoje! Se tivesse algum assessor para me orientar, teria ficado no Flamengo e teria muitas chances de fazer parte daquele grupo que foi campeão mundial dez anos depois! – lamenta Zé Carlos.

Do que o craque não se arrepende é da transferência para o futebol chinês. Em 1982, aos 24 anos, cheio de gás, o jogador fazia parte do timaço do Vasco. No meio-campo, a concorrência era desleal: Pintinho, Paulo Cezar Caju e Jorge Mendonça. Apesar da qualidade no passe e da visão diferenciada, Zé Carlos tinha poucas chances no meio dessas feras e, por isso, não pensou duas vezes quando recebeu a proposta do Tung Sing.


De braços cruzados, Zé Carlos posa ao lado dos companheiros chineses

– Os companheiros perguntavam se eu era maluco, mas eu passei a ganhar em um dia o que eu ganhava no mês inteiro. Não tinha como recusar aquela oferta.

Por pouco, no entanto, o craque não colocou tudo a perder. Quando saiu do escritório após a reunião, o craque, ainda atordoado com a proposta dos chineses, quase foi atropelado por um carro. Passado o susto, Zé Carlos arrumou as malas e partiu para o continente asiático.

Quando desembarcou, uma multidão de jornalistas o esperava na sala VIP do aeroporto de Hong Kong e centenas de máquinas fotográficas eram apontadas para o novo reforço do futebol chinês. Uma recepção de gala, que nem nos sonhos Zé Carlos imaginava.

– Aquilo me surpreendeu e me deixou emocionado! Eu não sabia que era tão importante assim. Na verdade, o futebol brasileiro que estava em alta no mundo todo! É uma história de superação, mostrou que o futebol me colocou no caminho certo!

A adaptação no novo país, obviamente, não foi das mais tranqüilas. Contudo, poderia ser ainda pior se a região não fosse colônia inglesa. Em campo, Zé Carlos sofreu com o estilo de jogo, muito mais veloz que o dos brasileiros, mas logo se adaptou, se tornando ainda mais completo na explorada parte tática. Além das habilidades adquiridas no esporte, o ex-jogador garante que a viagem foi uma baita experiência cultural, contribuindo para a sua formação pessoal.


A transferência para o futebol chinês teve grande repercussão

Depois de um ano na China, Zé Carlos passou mais cinco em Portugal. Defendeu o Sporting Clube Farense e o União de Coimbra, antes de retornar ao Brasil, aos 30 anos, uma idade considerada avançada para o futebol dos anos 80. Mesmo assim, o experiente meia ainda teve passagens por Sampaio Corrêa, Goytacaz e São Cristóvão, antes de penduras as chuteiras e apostar na vida de treinador.


Atualmente, Zé Carlos trabalha como diretor de futebol do Duque de Caxias

aA carreira de técnico não foi das mais longas, comandou o Queimados, o Heliópolis e o Rio Branco, de Vitória. Depois disso, se tornou um dos primeiros gerentes de futebol do Brasil. Como diretor, tinha como grande trunfo aproveitar jogadores de qualidade que não tinham muitas chances nas concorridas equipes do Rio de Janeiro.

Hoje em dia, Zé Carlos trabalha como diretor de futebol do Duque de Caxias, mas acabou de assumir o cargo de treinador provisório, devido à saída do técnico Cássio. Como a equipe não está disputando nenhuma competição no momento, cabe ao diretor a missão de preparar os jogadores nesse intervalo.