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Walter Duarte

LENDAS ETERNAS

por Walter Duarte


Sempre tive grande admiração e curiosidade pela imagem, principalmente das fotos jornalísticas, em especial as revistas e cadernos de esporte. Ao saber da “passagem” do grande fotógrafo Raimundo Valentim, lembrei-me da infância, lá pela segunda metade dos anos 70, onde juntava os trocados para comprar os principais jornais da época e ver as fotos dos jogos.

Confesso que anos depois, na adolescência, é que comecei a me interessar pela a leitura ou a “substância” da crônica do jogo, porém a Imagem do lance capital, a emoção da jogada e a vibração do gol congelados no tempo é o que me encanta.

Não era comum para mim frequentar o Maracanã, palco dos principais jogos, devido a dificuldades e distância da nossa terra. Cabia, então, pedir insistentemente ao meu pai, Sr. Walter, para ser levado aos estádios em Campos e ver de perto os jogos ou, caso contrário, aguardar o “VIDEO-TAPE” e as resenhas da noite na TVE ou TUPY.

A oportunidades de assistir aos grandes craques representava um sonho para todos nós, pois aqueles caras eram mais do que “atletas da bola”, eram heróis ou entidades no meu mundo idealizado. Naquela época, o Jornal do Brasil, o Globo e o Jornal dos Sports eram muito concorridos nas bancas e eu não perdia tempo nas segundas-feiras de ir cedo assegurar quase que a “tapas” meu exemplar, principalmente quando meu time ganhava. Costumava também recortar as fotos e colar na parede do quarto, e fixar meu olhar infaltil no “acervo” e imaginar um dia jogar como eles, motivo de muitas broncas da minha mãe Dona Marlene que me cobrava os estudos e sinalizava as dificuldades da vida.


Não tenho conhecimento da matéria jornalística no sentido profissional, pois não sou do “ramo”, mas imagino o quanto de inspiração e técnicas devem ser adotadas para dar emoção e realismo àqueles instantes. Algo de muita inspiração e “feeling” devem existir para o resultado do trabalho, transcendendo as regras elaboradas no ofício dos fotógrafos ou cinegrafistas.

Sempre me instigou a situação real de não podermos reproduzir novamente o fato histórico na sua plenitude, servindo então a imagem fixa, ou não, o papel importante do testemunho daquilo que não voltará mais a acontecer, pelo menos na sua forma original. Um remake de um filme jamais terá a mesma atmosfera inicial, mesmo mantendo o elenco anterior.

O gol ou a jogada decisiva será o momento único fixado no tempo, sendo “tempo passado” um segundo depois, restando a imagem gravada a matéria que nos vai fazer saudosos na alegria da vitória ou na tristeza da derrota. Independente do vídeo, gostaria de ter todos esses lances marcantes em quadros com molduras de grande arte, no meu “Museu imaginário”. 

Flashs recorrentes estão em minha memória tais como o elástico do Riva no saudoso Alcir, o golaço do Dinamite em 76 com aquele lençol no Osmar, aquela falta magistral do Zico contra o Santa Cruz em 87, o gol do Maurício do Botafogo no título de 89 que acabou com a angústia da fila, aquele chute improvável do Nelinho que traiu o Zoff em 78, o quase gol do Pelé no cabeceio defendido pelo Banks da Inglaterra em 70, o olhar desesperado dos marcadores do Garrincha na iminência do “baile”, o “drible de corpo” do PC e tantos outros lances  fantásticos dos nossos craques.

Tudo isso faz parte do inconsciente coletivo dos amantes do futebol e não nos cansa recordar. Independente de todos recursos computacionais e de multimídia da atualidade, o meu museu teria todos instantâneos em preto e branco e entraria todo dia no túnel do tempo daquelas emoções. Viva assim a arte do futebol, viva a arte dos nossos magos da imagem. Viva a memória daqueles que deixaram um legado de poesia nas lentes eternas do esporte chamado futebol.

AMOR QUE NÃO SE MEDE

por Walter Duarte


(Foto: Reprodução)

Sabemos que torcer para os chamados times “pequenos” requer antes de tudo muita paciência e paixão. O dia 16/09/2017 ficará marcado na bonita, porém sofrida, história do Goytacaz FC como o dia de sua oportunidade de redenção ou renascimento.

Após 25 anos o “AZUL DO POVO” retorna à primeira divisão do Campeonato Carioca, com contornos de dramaticidade e de suspense, onde a ” dimensão da catástrofe” estaria ali, muito perto de acontecer. Quis o destino que essa “via crucis” fosse encerrada na Serra Fluminense, na cidade de Friburgo, tal como no seu último combate de redenção no ano de 1992, desta vez numa vitória épica de 1 a 0 aos 44 minutos do segundo tempo contra o seu maior rival, o Americano FC.


O Goytacaz é um dos mais tradicionais clubes do interior do Brasil, com 105 anos de fundação, e experimentou grandes confrontos nas década de 70 e 80, inclusive em participações no Campeonato Brasileiro, mantendo na época uma rivalidade importante com o Americano , uma espécie de Guarani e Ponte Preta, guardadas as devidas proporções.

Lembro-me bem no ano de 1977 de um grande jogo contra o Santos no Arizão, pelo Brasileiro, que ficou no 0 a 0, além de outros tantos pelo Carioca, sempre com “casa cheia”. Porém, no início da década de 80, o GOYTA sofreu seu primeiro e doloroso rebaixamento, devido a uma série de fatores que somados levaram o clube a quase fechar as portas, literalmente. Diante do quadro de estrutura profissional fragilizada, inclusive financeira, o que faria então a sua fiel torcida manter tal firmeza de propósito e paixão durante todo esse tempo? Como explicar o interesse de jovens torcedores mantendo a tradição dos mais antigos, personificada pelo apaixonado Tonico Pereira, lotando o seu estádio em vários jogos da segundona? Acho que isso pode acontecer em outros clubes de menor estrutura Brasil afora, entretanto o Goytacaz tem algo diferente, uma “magia” que faz com que as pessoas que passam por Campos se apaixonem pelo clube.


(Foto: Gustavo Garcia)

O que se viu no estádio Eduardo Guinle confirma esta tese pela comoção explícita e apoio incondicional. Foi algo muito forte que o “torcedor raiz” do Goyta transpareceu sem nenhum pudor, sem nenhuma vergonha de chorar e dizer em alto e bom tom – é possível ser feliz e ter um amor que não se mede pelo clube do coração, mesmo que a razão muitas vezes nos queira impedir.

Se algo de orgulho nasce e renasce com a espera e a angústia da fila, é sinal que o futebol do interior ainda teima em existirmesmo que a imposição atual de estrutura e a gestão do negócio FUTEBOL sejam implacáveis. Palavras de ordem como: BENCHMARKING, ENGENHARIA ECONÔMICA, MARKETING… permeiam a frieza dos números do mundo Corporativo. E o futebol se tornou basicamente isso, ou seja, um “Negócio”.

Por isso meus amigos, tratemos dos nossos corações, das nossas aflições, das nossas mazelas com a perseverança e a fé que Deus nos deu, mas sem nunca perder a paixão, combustível do torcedor de verdade.


(Foto: Reprodução FutRio)

****Dedico esse texto a todos os torcedores e aqueles que dentro ou fora do Campo ajudaram e fizeram a diferença para o Goytacaz manter-se de pé ao longo de sua história, retornando à elite.

CHURRASCO TRICOLOR

vídeo: Guillermo Planel | edição de vídeo: Daniel Planel

Com muita felicidade, fomos convidados para participar do churrasco de aniversário do Fluminense, nas Laranjeiras, e não pensamentos nem duas vezes antes de aceitar o convite e relembrar grandes momentos com ídolos que vestiram a camisa tricolor.


Como a alegria merece ser compartilhada, levamos também Walter Duarte, colorador ativo do Museu, para participar da festa e trocar uma resenha com craques como Delei, Carlos Alberto Pintinho, Mário Português, Arturzinho e Búfalo Gil. A felicidade estava estampada no rosto do tricolor, de Campos dos Goytacazes.

Quando deixávamos a Laranjeiras, ainda tivemos o privilégio de encontrar os sambista Noca e Celsinho, da Portela, que se declararam pelo clube pelo Fluminense cantando uma música:

– Ôôô ôôô o Fluminense é o meu grande amor! Ôôô ôôô eu sou guerreiro, eu sou tricolor!!

UMA PARTIDA “IMPROVÁVEL”

por Walter Duarte

O dia era 6 de agosto de 1974, em uma manhã ensolarada, Campo dos Goytacazes parou para assistir ao desembarque do craque Afonsinho e do zagueiro Brito, campeão do mundo em 70. A dupla reforçaria o tradicional e modesto Roxinho, o Campos Atlético Associação, em uma partida amistosa contra o Palmeiras.

Após vários embates com os dirigentes dos clubes que defendeu, Afonsinho, o homem que não vendeu sua alma, havia conseguido o tão sonhado “passe livre”, fato que resultou em uma frase inesquecível do Rei Pelé: “Homem livre no Brasil somente o Afonsinho”.

Naquela época, eu tinha apenas sete anos de idade e morava no bairro Parque Leopoldina, onde fica o pequeno estádio Ângelo de Carvalho, do Roxinho, palco de muitos jogos do extinto Campeonato Campista.  Levei alguns anos para saber da ocorrência do amistoso, e ainda jovem fiz um questionamento a mim mesmo: como e quem teria trazido o craque para este jogo, além de Brito e a Academia do Palmeiras completa com Leão, Luis Pereira, César, Leivinha, Ademir da Guia e cia?


Devido ao apelo de público, essa “partida improvável” para os padrões da época foi disputada no estádio do Goytacaz, “lotado até o bigode” como diria um amigo meu. O Campos Atlético na sua melhor fase disputava o campeonato local e o campeonato do interior Fluminense (sem os grandes da Capital), com os rivais Goytacaz e Americano, que no ano de 1975 participaria pela primeira vez do Campeonato Brasileiro. O Palmeiras, por sua vez, era quase imbatível na época com vários jogadores na seleção, sendo uma atração imperdível para os amantes do futebol.

Como de fato o amistoso foi viabilizado, faz parte do folclore e desperta curiosidades para muitos até hoje. O certo é que o Palmeiras venceu o jogo por 4 a 1 com um gol do Afonsinho para o CAA. Curiosidades à parte, após 41 anos, em 2015, Afonsinho retornou à Campos como convidado especial para as comemorações dos 102 anos do Roxinho. Por acaso, naquele domingo de outubro eu estava visitando minha mãe no bairro onde cresci e fui convidado pelo Mauro, amigo e frequentador das peladas no clube a participar desta partida comemorativa. Confesso que não estava acreditando, mas abendo da veracidade do convite, não perdi tempo! Fui correndo pegar as surradas chuteiras e me apresentei para o MATCH.

Joguei a pelada ao lado de veteranos como o grande lateral Totonho do Goyta (meu time na cidade) e procurei não inventar. Tirei fotos com o craque Afonsinho e como todos ali fiquei impressionado com a simpatia, simplicidade e seu inconfundível estilo de jogo. Ao final, realizei um sonho de criança e o Campos Atlético, sem dúvidas, reviveu as lembranças de seu maior evento no futebol.

Quanto ao resultado da pelada,  1 a 0 para o time do Afonsinho, mas foi o que menos importou. Ganhei o dia me sentindo o peladeiro mais feliz do mundo ao som daquela música do Gil “Meu Amigo Afonsinho”.


(Foto ilustrativa: Marcelo Tabach)

FICHA TÉCNICA:

06/Agosto/1974

Amistoso: Campos-RJ 1 x 4 Palmeiras

Local: Ary de Oliveira e Souza (Campos-RJ)Árbitro: Silvestre Campos Filho (RJ) 

Renda: Cr$ 135.000,00 

Gols: Afonsinho 12 do 1º Tempo; Leivinha, Nei, Ronaldo e Brito (contra) no 2º Tempo. 

Campos-RJ: Gato Félix, Edalmo, Brito, Rebite e Gilberto; Afonsinho (Ramon) e Emílson; Lauro, Neto, Balula (Xavier) e Jorge. 

Palmeiras: Leão, Eurico, Luís Pereira, Alfredo Mostarda e Zeca; Dudu e Édson Cegonha (Fedato); Edu Bala (Ronaldo), Ademir da Guia, Leivinha e Nei. Técnico: Oswaldo Brandão.