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victor kingma

CHUVEIRINHO COM O CANO QUEBRADO

por Victor Kingma


No final dos anos 60, o Atlético-MG, treinado por Yustrich, tinha uma jogada mortal: os cruzamentos precisos do ponteiro esquerdo Tião para as cabeçadas de Dario. A jogada, inicialmente batizada de “cavadinha” e que acabou sendo eternizada como“chuveirinho”,  consagrou o grande Dadá Maravilha, recém chegado ao Galo, vindo do Campo Grande, do Rio.  Foi responsável por muitos de seus gols.

Certa vez, no último coletivo antes de um clássico contra o Cruzeiro, o grande rival, Yustrich, estranhamente, passou boa parte do treino ensaiando lances pela direita.

Tião, isolado na ponta esquerda, logo questionou o treinador:

–  Me desculpe, professor, mas nosso ponto forte é o “chuveirinho!” E eu estou o tempo todo aqui sem receber a bola.


Ai o “Homão”, como também era conhecido o truculento treinador, em tom paternal, o acalma:

– Meu filho, já esqueceu de quem vai te marcar domingo? É o Pedro Paulo (vigoroso lateral cruzeirense, que batia até na própria sombra). No segundo ou terceiro cruzamento que você der em cima dele ele vai estourar o cano do seu “chuveirinho” e ai nossa jogada vai por água abaixo.

Por isso tenho que treinar alternativas com o Buião, pela ponta direita.

 

Victor Kingma

 

 

 

NAQUELE TEMPO ERA ASSIM

por Victor Kingma


No próximo dia 7 de outubro os eleitores brasileiros estarão escolhendo através do voto secreto e soberano o novo presidente da república, que governará o país pelos próximos quatro anos. Um direito sagrado, que hoje é garantido pela constituição brasileira.

E foi justamente em defesa desse direito que aconteceu, em 1984, um dos mais marcantes movimentos da história política do Brasil: a luta pelo retorno das eleições diretas para presidente, sistema que havia sido interrompido após a implantação do regime militar, em 1964.

O movimento “Diretas já” tomou impulso após uma histórica entrevista do senador Teotônio Vilela, no programa Canal Livre, da TV Bandeirantes.

A bandeira levantado pelo Menestrel das Alagoas, como ficou eternizado na canção de Milton Nascimento e Fernando Brant, foi ganhando as ruas e arrastando multidões para os comícios organizados nas principais capitais do país. Animados pelo locutor esportivo Osmar Santos, contava com representantes de toda sociedade brasileira e clamava pela aprovação da emenda constitucional do jovem deputado mato-grossense Dante de Oliveira, que propunha eleições diretas para Presidente da República.

Apesar de todo o clamor popular, no dia 25 de abril daquele ano, a emenda  “Dante de Oliveira” embora tenha vencido a votação no plenário, não conseguiu os 2/3 dos votos necessários para a sua aprovação, causando uma grande comoção.

Finalmente, em 1989, após a nova constituição promulgada em 1988, foi realizada a primeira eleição direta para Presidente após 25 anos, sendo eleito pelo voto popular o alagoano Fernando Collor de Mello e seu vice, o mineiro Itamar Franco, quando foi definitivamente restabelecida a democracia no Brasil.

Na música internacional Michael Jackson estourava nas paradas de todo mundo com o mega-sucesso “Thriller.”  No Brasil, Roberto Carlos com a canção “Caminhoneiro” e Chico Buarque e seu clássico de protesto “Vai Passar” seguiam sua rotina de sucesso. O rock estava em alta no Brasil naquele ano e uma série de novas bandas despontavam com seus hits: Ultraje a Rigor, “Inútil”,  Paralamas do Sucesso, “Óculos” e Titãs, “Sonífera ilha.”  

Na televisão o SBT exibia o primeiro episódio de uma série mexicana, que veio a contrapeso num pacote de filmes comprados pela emissora. Silvio Santos jamais poderia imaginar que os personagens Chaves, Seu Madruga, Quico, Senhor Barriga, Professor Girafales, Dona Florinda, Chiquinha, etc. tornariam uma febre e fariam tanto sucesso por todos esses anos.

E no futebol?


No futebol, o Fluminense, com um time muito bem armado pelo técnico Carlos Alberto Parreira, e com uma defesa quase inexpugnável, que ficou os cinco últimos jogos da competição sem tomar um gol sequer, conquistou o Campeonato Brasileiro daquele ano, numa decisão contra o rival, Vasco da Gama. Venceu a primeira partida por 1 x 0 e empatou a decisiva por 0 x 0. Apesar da forte defesa, os destaques do time eram o meio campista paraguaio Romerito, autor do gol do primeiro jogo, e a dupla de ataque formada por Washington e Assis, que ficaria eternizada como o “Casal 20”, em alusão a uma série que fazia de muito sucesso na televisão, na época.

Naquele tempo era assim.

O DIA EM QUE O GOL FICOU VAZIO

 por Victor Kingma


Minha paixão pelo futebol começou muito cedo. Como já escrevi em outros textos, quando criança, nas tardes de domingo ou nas noites frias de Mantiqueira, bucólico pedacinho de Minas Gerais, o que eu mais gostava de fazer era acompanhar as transmissões esportivas com os famosos locutores da época, como Waldir Amaral, Jorge Curi ou Fiori Giglioti. Sempre  ouvia os jogos pela frequência da emissora que o nosso velho e chiador rádio Zenith  sintonizasse primeiro. 

Uma das transmissões que mais marcaram a minha infância foi a decisão da Copa do Mundo de 1962, no Chile, entre Brasil e Tchecoslováquia. Naquele dia 17 de junho, eu, meus irmãos e tantos outros amigos, ouvíamos o jogo pelo serviço de alto falante que o mano João tinha instalado na torre da igreja.

O Brasil, que começara perdendo o jogo, tinha virado para 2 a 1. Masopust, o grande craque rival, abriu o placar mas Amarildo, o jovem substituto de Pelé, que havia se contundido na segunda partida da Copa contra os próprios tchecos, e Zito, marcaram os gols brasileiros. A seleção estava a poucos minutos de se tornar novamente campeã do mundo.


O jogo estava quase no fim e a tensão era grande a cada novo ataque da Tchecoslováquia, que buscava o empate a todo custo. A transmissão pela Rádio Globo estava bastante inaudível naquele dia, o que aumentava ainda mais a apreensão de todos. Agonia que só terminava quando Waldir Amaral, aliviado, enchia os pulmões e narrava:

– DEFENDEU GILMAR!!!

E todos vibravam como se o Brasil tivesse feito mais um gol. No final, Vavá, o raçudo centroavante brasileiro, ainda faria mesmo o terceiro gol. O Brasil, vencendo por 3 a 1, se tornaria bicampeão mundial de futebol. A grande atuação do nosso goleiro foi fundamental para a histórica conquista.

Gilmar era daqueles jogadores que no seu clube, primeiro no Corinthians e depois no Santos,  era um bom goleiro que, às vezes, até ficava na reserva. Na seleção, entretanto, era insubstituível. Com a camisa do escrete nacional, virava um paredão, capaz de deixar na reserva lendas do gol, como Castilho. Com grande espírito de liderança tinha moral para dar bronca até em craques consagrados, como Bellini ou Nilton Santos, quando acontecia alguma falha de marcação na defesa.


Jogou 103 partidas pela seleção e participou de três Copas do Mundo: 1958, na Suécia, 1962, no Chile e 1966, na Inglaterra. 

Gilmar dos Santos Neves, para muitos o maior goleiro da seleção brasileira de todos os tempos, exemplo de atleta e um dos mais consagrados jogadores de futebol que o Brasil já teve, faleceu em 25 de agosto de 2013, aos 83 anos. Naquele dia, o futebol perdeu um mito. E o gol ficou vazio.

SUCO SAGRADO

por Victor Kingma


(Charge: Eklisleno Ximenes

Pafuncio Parreira, popularmente conhecido como PAPA, era um poderoso cartola do interior.   Próspero empresário do ramo de sumos de frutas e cacique político da região, era amado pelos aliados e odiado pelos adversários. Não tinha meio termo. Pré-candidato a prefeito de sua cidade foi denunciado à Justiça Eleitoral por estar fazendo propaganda antes da data permitida, ou seja, distribuindo um sem número de jogos de camisas para os times de várzea do lugar com a inscrição: “O PAPA vem aí”. 

O juiz do lugarejo, em razão disso, concede um mandado de apreensão e as camisas são recolhidas.

Os adversários já cantavam vitória por terem inibido a fraude, quando, no domingo seguinte, todos os times entram em campo com o novo uniforme patrocinado pelo mega cartola. Dessa vez trazendo estampado nas camisas a propaganda de um inusitado “produto”, desenvolvido às pressas pela sua empresa e que em breve chegaria ao mercado:

– Vem aí o SUMO PONTÍFICE!

 

PELÉ E COUTINHO OU COUTINHO E PELÉ?

por Victor Kingma


Nos tempos daquele timaço do Santos, Pelé fazia uma dupla infernal com Coutinho que, além da semelhança física com rei, também tinha muita técnica, habilidade e faro de gol. A dupla ficou famosa pelas celebres tabelinhas entre eles. Só que o companheiro de ataque de Pelé às vezes passava por situações injustas. 

Certa vez, num jogo noturno na Vila Belmiro e com muita neblina, Pelé não estava bem, coisa rara de acontecer. Numa jogada no ataque santista, ele tenta tabelar com Coutinho e dá uma engrossada. O companheiro, entretanto, recupera a bola, finta o zagueiro e toca para o gol.

Na cabine o locutor, após narrar o lance, comenta:

– Coutinho falhou na tabela, mas rei é sempre rei. Recuperou a jogada, entortou o adversário e estufou as redes. Santos 1 x 0.

Logo a seguir outro lance: Coutinho faz linda jogada individual, se livra do goleiro e toca para o gol vazio. Mais uma vez o narrador, encoberto pela neblina, após o longo grito de GOOOOOOOLLLLLLL do Santos, descreve o lance:

– Pelé, Pelé! Sempre Pelé! Até quando seu companheiro de ataque não está bem ele resolve sozinho.


Algumas dessas histórias são confirmadas pelo próprio Coutinho, que admitia, em alguns casos, ficar chateado.

Certa ocasião, devido a uma contusão no pulso, atuou algumas partidas com uma atadura no local. Mas, como o futebol é feito de lendas, logo apressaram em dizer que ele estava usando a faixa para diferenciá-lo do parceiro famoso e assim se livrar das injustiças.

Antonio Wilson Honório, o grande Coutinho, o maior parceiro de Pelé, estreou no time do Santos em 1958, aos 15 anos, substituindo o lendário Pagão. Atuou pela equipe da Vila Belmiro por 12 anos e em 457 partidas fez 370 gols.    

Com sua incrível frieza diante do goleiro entrou para a história do futebol como um dos maiores gênios da pequena área.

 

Veja mais: www.historiasdofutebol.com.br