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CONVOCADO POR ENGANO

por Victor Kingma


A mais desorganizada seleção brasileira de todos os tempos foi, seguramente, aquela que disputou o mundial da Inglaterra, em 1966.

Durante  os quase quatro meses de preparação para a Copa, foram formadas nada menos que quatro seleções para os treinamentos. Astros consagrados como Pelé e Garrincha disputavam espaço com outros, muitas vezes desconhecidos do público, selecionados por questões políticas.

Alguns jogadores famosos, mas já em final de carreira, eram convocados apenas para agradar ao público por onde a seleção passava.

O técnico Vicente Feola, com tanta interferência em seu trabalho, passou o tempo todo tentando armar um time base e, apesar do longo tempo de preparação, chegou à Inglaterra sem saber qual era a melhor escalação.

O fato mais marcante da desorganização daquela seleção foi o incrível episódio em que um jogador foi convocado por engano.


Numa das listas divulgada pela CBD, saiu o nome de Gilberto Freitas Nascimento, o Ditão, vigoroso zagueiro do Flamengo. Na verdade, o selecionado deveria ser o outro Ditão, seu irmão mais velho, Geraldo Freitas Nascimento, que após se destacar na Portuguesa de Desportos havia sido contratado pelo Corinthians, time pelo qual brilhou por muitos anos.

Surpreso com a convocação, o Ditão caçula se apresentou à seleção e foi incorporado ao grupo para os treinamentos.

Constrangidos, os cartolas acabaram mantendo a convocação. O raçudo zagueiro rubro-negro, posteriormente, acabou sendo cortado.

Apesar de tantos desacertos, o Brasil ainda foi para a Copa com um grupo muito forte, uma mescla de craques consagrados com jovens promessas.

Mas, como não poderia resistir a tanta bagunça, a seleção acabou desclassificada ainda na primeira fase do mundial. Estreou vencendo a Bulgária por 2 x 0, com gols de Pelé e Garrincha, ambos de falta, na última partida em que os dois gênios da bola jogaram juntos. Entretanto, nos dois jogos seguintes, o Brasil foi derrotado pela Hungria e por Portugal, do grande astro Eusébio, pelo mesmo placar de 3 x 1.  O então garoto Tostão, contra os húngaros, e o lateral esquerdo Rildo, contra os portugueses, assinalaram os gols brasileiros.

Nas três partidas que disputou, o Brasil atuou com escalações diferentes e nada menos que 20 jogadores foram utilizados. Apenas o volante Zito, contundido,  e o ponteiro Edu, que era muito jovem, pois foi convocado com apenas dezesseis anos, não atuaram. O meia Lima e o ponteiro Jairzinho foram os únicos que participaram dos três jogos.


O grande fracasso acabou valendo como lição. Quatro anos mais tarde, na Copa do México, agora com uma organização ímpar, vários destes jogadores, como Brito, Gerson, Jairzinho, Tostão e Pelé, além do reserva Edu, deram a volta por cima e encantaram o mundo na conquista do tricampeonato, fazendo parte daquela seleção mágica.

Jogadores   brasileiros que foram à Copa da Inglaterra:

Goleiros: Gilmar (Santos) e Manga (Botafogo).

Laterais: Djalma Santos (Palmeiras, Fidelis (Bangu), Rildo (Santos) e Paulo Henrique (Flamengo).

Zagueiros: Brito (Vasco), Belini (São Paulo), Orlando (Santos) e Altair (Fluminense).

Meio Campo: Denílson (Fluminense), Zito (Santos) Lima (Santos) e Gerson (Botafogo).

Atacantes: Jairzinho (Botafogo), Garrincha (Corinthians), Alcindo (Gremio), Tostão (Cruzeiro), Silva (Flamengo), Pelé (Santos) Edu (Santos) e Paraná (São Paulo).

Victor Kingma – www.historiasdofutebol.com.br

NOS TEMPO DO ONÇA

por Victor Kingma 


Nos anos 60, os campeonatos estaduais viviam o seu auge e os estádios estavam sempre lotados. No Rio, o Flamengo, que na primeira metade tinha sido campeão em 1963 e 1965, passou todo restante da década sem conquistar um título sequer.

O jejum de conquistas começou em 1966, ao perder por 3 x 0 a célebre decisão contra o Bangu, jogo que acabou em pancadaria, protagonizada pelo lendário Almir, o pernambuquinho.

Nos anos de 1967 e 1968, sua torcida teve que conviver com a impressionante hegemonia do Botafogo, que montou um dos maiores times de sua história, com quase todos os jogadores oriundos da sua base.  Realmente era difícil conter o ataque formado por Rogério, Gerson, Roberto, Jairzinho e Paulo César, comandados pelo novato técnico Zagalo, ainda com um “L” só no nome. Nesses dois anos o Flamengo sequer chegou à decisão, vencidas pelo alvinegro contra Bangu (2 x 1) e Vasco (4 x 0).

Em 1969 a seca de títulos continuou, quando os rubro-negros perderam por 3 x 2 a decisão para o Fluminense, cujo grande destaque era o centroavante gaúcho Flávio, o Minuano, o artilheiro do campeonato.

Naqueles sombrios anos sem conquistas para o futebol rubro-negro, as alegrias vinham de esporádicas e emocionantes vitórias.


A torcida vivia à procura de um ídolo, quando, no início de 1968, vindo da Bahia, aportou na Gávea um raçudo quarto zagueiro,  de nome Onça, que, vencida a desconfiança inicial pelo estranho apelido, logo foi alçado a essa condição.

E o bravo Onça, teve mesmo os seus dias de glória:

Numa partida contra o arquirrival Vasco, invicto há 10 partidas, pelo segundo turno do campeonato de 1968, o Flamengo perdia por 1 x 0 quando o zagueiro marcou um golaço de falta, da intermediária, empatando a partida e caindo de vez nas graças da torcida. Até porque, Dionísio, “o Bode Atômico”, e ainda, de letra, marcaria o gol da sensacional vitória, comemorada com euforia pelos rubro-negros, em tempos de vacas magras.  Isso diante de 134.185 mil pagantes, recorde nacional de público naquele ano.

As manchetes dos jornais do dia seguinte deram grande destaque, não só à vitória rubro-negra mas ao golaço de falta marcado pelo novo xodó da torcida.

Sem ser um craque consagrado, como tantos que vestiram a camisa rubro-negra, Onça era daqueles jogadores respeitados pela torcida do Flamengo, pela raça com que defendia as cores do clube.


Além do Flamengo, onde jogou 164 partidas e marcou 7 gols, de 1968 até 1971,  atuou ainda pelo Fluminense-BA, Sport de Recife, Bahia e Sergipe, onde encerrou a carreira, em 1978.

Mario Filipe Pedreira, o Onça, nasceu em 13 de julho de 1943, na cidade de Santaluz, Bahia, e faleceu em 7 de setembro de 2017, em Salvador, aos 74 anos de idade.

Sua raça e determinação o fez entrar para a história do clube e nas resenhas diárias com os amigos se vangloriava muito disso, antes de ser acometido pelo mal de Alzheimer, nos últimos anos de vida.

CABRA MENTIROSO

por Victor Kingma


Charge: Eklisleno Ximenes.

Chico Cabra foi um folclórico goleiro do interior nordestino. Depois que pendurou as chuteiras vivia de bar em bar contando as façanhas do seu tempo de jogador. 

Certa vez, entre uma cerveja e outra paga pelos amigos, que sempre colocavam pilha para vê-lo exagerar nas lembranças de suas proezas, Chico Cabra recordava a maior atuação de sua carreira.

Segundo ele, foi numa decisão do campeonato local, contra o grande rival da época. Seu time jogava pelo empate para ser campeão.

–  O time deles era um timaço e atacava o tempo todo, mas eu, numa tarde de gala, fechava o gol. Já havia defendido três pênaltis na partida. Vangloriava- se o ex- goleiro, incentivado pelas cervas geladas. E prosseguia:

–  O jogo estava 0 x 0 até o último minuto, e a torcida do meu time já comemorava o título, quando o juiz marcou a quarta penalidade contra nós. Por azar, agora o cobrador era Quarenta, o maior chutador de todos os tempos no Agreste. E descreve o lance:

–  Quarenta tomou longa distância e disparou um torpedo no ângulo.

–  E aí você pegou o quarto pênalti? – provoca um dos presentes, em meio às gargalhadas da turma, já prevendo outra bravata do bravo Chico.

–  Quase! Voei como um gato e cheguei a tocar na bola, mas o cara chutava demais. Não teve jeito, foi gol. Se eu dissesse que peguei o pênalti os amigos até podiam pensar que sou de contar vantagem.

–  Que pena! Então apesar da sua grande atuação seu time acabou perdendo o título? – indaga, decepcionado, um dos amigos.

–  Por pouco! Só não perdemos porque na saída de bola teve um escanteio a nosso favor.  Fui à área, subi mais que todos os grandalhões da defesa deles e, de cabeça, consegui fazer o gol do título.

Vixe! Goleiro pegar três pênaltis numa decisão e ainda fazer o gol do título…

Êta Cabra mentiroso!

Leia mais histórias em www.causosdabola.com.br

 

 

ESCALADO PARA A MISSÃO IMPOSSÍVEL

por Victor Kingma


Mais uma história para homenagear um dos maiores gênios da bola. No início dos anos 60, o Botafogo, base da seleção que acabara de conquistar o bicampeonato no Chile, era requisitado para fazer jogos amistosos em todo o país. 

Certa vez foi disputar uma partida no interior de Minas.

Preocupado, o técnico da equipe local estudou durante toda a semana uma tática que pudesse neutralizar o poderoso ataque alvinegro e assim se safar de um vexame que se desenhava.

No dia do jogo, o treinador reuniu seus atletas no vestiário para uma última conversa:

– Quero todo o time concentrado na marcação! Vamos marcar as peças chaves deles! Meio de campo em cima de Didi.  Não o deixe distribuir o jogo!

 E continua:


– Lateral direito na cola do Zagallo e a dupla de zaga sempre atenta aos movimentos de Quarentinha e Amarildo. Não podem chutar a gol de jeito nenhum! Todo cuidado é pouco!

Para o lateral esquerdo Bauru, entretanto, reservou uma conversa especial e mais longa:

– Pra você, meu craque, reservei a missão mais difícil: quero que marque o Garrincha em cima, o tempo todo! Olho vivo! Gruda nele e não descuide um minuto!


O vigoroso defensor, apreensivo, ouve atentamente as instruções e no final, assustado, argumenta:

– Mas sozinho, ninguém vai me ajudar?

– A tarefa é sua, meu craque! Confio em você!

 – Uai! Mas aí não dá, professor! Isso é trairagem! Deixar eu levar baile do Mané Garrincha durante 90 minutos é sacanagem!

 

TUPI, O FANTASMA DO MINEIRÃO

por Victor Kingma


Após a inauguração do Mineirão, em 1965, o futebol de Minas estava no auge. O Cruzeiro, então, tinha montado um dos maiores times da história do futebol brasileiro, rivalizando na época com o famoso Santos, de Pelé, com o qual travava partidas memoráveis.

Eu morava em Juiz de Fora naquela época, cidade onde passei toda a minha juventude. Os torcedores locais, que historicamente sempre foram muito ligados no futebol do Rio de Janeiro, passaram a acompanhar mais os jogos e os noticiários esportivos que vinham de Belo Horizonte. Todos queriam acompanhar as partidas do esquadrão celeste, a nova sensação do futebol brasileiro.

Em 1966, o Tupi, que rivalizava com o Tupinambás e o Sport, os outros grandes clubes locais, tinha renovado boa parte do time, após a conquista do torneio regional do ano anterior, numa decisão contra o Olympic, de Barbacena.

Para apresentar a nova equipe, em 6 de março daquele ano, o Galo Carijó programou um amistoso exatamente contra o imbatível Cruzeiro, o time da moda da época. A cidade parou para ver a partida e nas esquinas e bares  o que mais se comentava era o que o alvinegro local podia fazer para, pelo menos, não fazer feio diante dos cruzeirenses.


Mas, com o Estádio Sales de Oliveira totalmente lotado, o inesperado aconteceu.  O Tupi venceu o timaço de Natal, Piaza, Dirceu Lopes e Tostão por 3 x 2. 

Nos dias seguintes ao jogo, a imprensa mineira não falava em outra coisa a não ser a façanha do time de Juiz de Fora. O Atlético, então, devido à repercussão do feito, o convidou para fazer um amistoso no recém inaugurado estádio, dez dias depois. Certamente passava pela cabeça dos atleticanos uma vitória por goleada e, assim, ainda tirar sarro em cima dos cruzeirenses.

Mas o Tupi aprontou novamente: 2 x 1 contra o Atlético, de Paulo Amaral, em pleno Mineirão, com dois gols do ponta direita João Pires. A vitória contra o Cruzeiro não fora obra do acaso.

Restava então ao América, de Yustrich, vingar os times da capital. O jogo foi marcado e o Galo Juiz-forano não respeitou também o Coelho Mineiro: nova vitória por 2 x 1, em 10 de abril. Novamente o ponteiro João Pires e Vicente fizeram os gols.

Apesar de todos esses feitos, os cruzeirenses argumentavam que a derrota que sofreram foi em Juiz de Fora e que a forte ventania do dia do jogo tinha influenciado no resultado. E a revanche aconteceu um torneio quadrangular em que participaram também o Botafogo e o América Mineiro. Estava na hora de acabar com a brincadeira.

Mas o Tupi venceu de novo: 2 x 1, dessa vez no Mineirão, no dia 17 de abril. A equipe de Dirceu Lopes, Tostão e Cia, comandada pelo técnico Airton Moreira, irmão dos consagrados Zezé e Aimoré Moreira, também não conseguiu fazer mais que um gol na sólida defesa e nem segurar o arisco ataque carijó. O ponteiro João Pires, mais uma vez, e Mauro fizeram os gols.


E devido a esses feitos memoráveis que assombrou o futebol mineiro naquele ano, o Tupi, o Galo Carijó de Juiz de Fora, foi apelidado pela imprensa futebolística na época como o Fantasma do Mineirão.

A histórica equipe era dirigida pelo treinador e grande estrategista Geraldo Magela Tavares e tinha como time base: Waldir, Manoel, Murilo, Dário  e Walter, França e Mauro, João Pires, Toledo, Vicente e Eurico.

A repercussão do feito foi tanta que o Tupi foi convidado para fazer um jogo treino contra a seleção brasileira, que se preparava, em Caxambu, para o mundial da Inglaterra. E nem o escrete nacional que contava com Gerson, Garrincha e Pelé conseguiu vencê-lo. A partida terminou 1 x 1.O ponta João Pires, que infernizou a vida dos laterais Altair e Paulo Henrique, anotou mais uma vez o gol do time de Juiz de Fora. Seu companheiro de ataque, Toledo, teve uma atuação tão destacada que até Pelé fez questão de conhecê-lo no final do jogo.

Victor Kingma – www.historiasdofutebol.com.br