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O GOL DE PLACA, O MAIS BONITO GOL E O SOCO NO AR

por Victor Kingmar


Pelé, o melhor jogador e maior artilheiro da historia do futebol, marcou em toda sua carreira, oficialmente, 1281 gols, em 1363 jogos.

O milésimo destes gols, marcado, de pênalti, no Maracanã contra o Vasco, em 19 de junho de 1969, foi seguramente o mais esperado e festejado.  

Outro dos seus tentos, que também se imortalizou, foi o famoso marcado contra o Fluminense, no torneio Rio x São Paulo, em 05 de março de 1961. Naquela tarde de domingo, também no maior estádio do mundo, Pelé, partindo do seu próprio campo, driblou toda a defesa do time carioca e venceu o goleiro Castilho com um leve toque.   

O lance foi tão bonito que o jovem jornalista Joelmir Beting, que cobria o jogo para o Jornal O Esporte, sugeriu que deveria ser homenageado com uma placa. Feito isso, aliás a placa acabou sendo paga pelo próprio jornalista, o gol foi eternizado e acabou entrando para o vocabulário do futebol como “O Gol de Placa.”

Entretanto, segundo o próprio Pelé, e amplamente divulgado, o mais bonito de todos os seus gols, aconteceu em 1959, contra o Juventus, na Rua Javari, em São Paulo.  


Embora já tenha até sido reconstituído, poucos são os registros originais sobre esse jogo  e não existe nenhuma filmagem que se tenha notícia.

Muitos jornalistas e torcedores veteranos costumam afirmar que assistiram ao jogo e presenciaram o famoso gol. Costuma-se brincar no meio esportivo que, se isso fosse verdade, não haveria espaço suficiente no pequeno estádio do bairro da Mooca, em São Paulo, para abrigar tanta gente.

Embora a beleza do gol sempre foi atestada por todos que, efetivamente, assistiram ou participaram da partida, há algumas divergências em relação aos detalhes do lance.          

Sendo assim, nada melhor do que o depoimento de um jogador que, não somente estava em campo naquele dia, mas que participou diretamente do lance, como o zagueiro Clóvis, do Juventus, (já falecido):

“Eram decorridos 36 minutos do segundo tempo e o Santos estava atacando para o gol dos fundos (aquele situado ao lado da Creche Marina Crespi). O ponteiro Dorval, recebeu um passe do meia Jair e cruzou. A bola passou por cima da grande área…

Tira, tira, cabeceia, gritei! Quando a bola desceu encontrou o Pelé. Sem deixá-la fugir, ele, com um leve toque por baixo da bola, encobriu o zagueiro Julinho que chegava para dar combate. Na sequência deu novo chapéu, no Homero.  

E prossegue:

Fui para cima dele e também tomei o meu…


Faltava apenas o goleiro Mão-de-Onça, que saiu para abafar a bola. Aí Pelé também deu um chapéu nele e completou o lance de cabeça, com uma lucidez impressionante. 

O fato teve um lado até engraçado. Tinha chovido bastante de manhã e havia uma poça d’água na pequena área. O Mão-de-Onça pegou só barro. Ele ficou com a cara sobre a lama”. 

Após o fantástico gol, uma cena de grande emoção tomou conta do estádio, com todos os jogadores e os torcedores aplaudindo a jogada magistral daquele que se tornaria o maior jogador de todos os tempos.

Para completar, se não bastasse o gol genial, Pelé, que vinha sendo hostilizado pela torcida, correu em direção ao alambrado xingando e dando socos no ar, criando, naquele mesmo jogo histórico, o gesto que se tornou sua marca registrada e o acompanharia por toda a sua carreira.

Dados do Jogo:

 

Santos  x  Juventus

Local:  Rua Javari

Data :    02/08/1959

Público: aproximadamente 10 mil torcedores

Renda:  Cr$ 622.225,00 

Árbitro: Sebastião Mairinque

Primeiro tempo: Santos 1 x 0  (Pelé aos 23 minutos)

Final Santos 4 x 0 (Pelé, aos 8 e 36 e  Dorval aos 27 minutos).

 

Times: 

Santos: Manga, Ramiro, Pavão, Mourão e Formiga;

Zito e Jair;

Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe.

 

Juventus: Mão-de-Onça, Julinho, Homero, Pando e Clovis;

Lima e Zeola;

Lanzone, Buzone,  Cássio e Rodrigues. 

 

 

Fontes : Arquivo particular do autor e

Site Portal da Mooca.

OS INCRÍVEIS POMPEIA E VERMELHO, OS “ACROBATAS” DO FUTEBOL

por Victor Kingma


Nos início dos anos 60, o Bangu e o América tinham grandes times e vários craques desfilaram pelos gramados defendendo suas gloriosas camisas, como Djalma Dias, Leônidas e Amaro, pelo América e Zózimo, Roberto Pinto e Paulo Borges, pelo Bangu.

Entretanto, os saudosistas, como eu, devem se lembrar de dois jogadores, que, embora não fossem os astros das suas equipes, faziam a alegria das torcidas pelas acrobacias que faziam em campo: o goleiro americano Pompeia e o ponteiro banguense Vermelho.

Pompeia, que havia trabalhado em circo e sonhava um dia ser trapezista, era um espetáculo à parte com seus voos espetaculares, o, que, aliás, lhe rendeu o apelido de “Constellation”, aeronave famosa da época. Já o arisco ponteiro banguense tinha uma característica peculiar: cruzar as bolas e até bater escanteios, de letra. A torcida ia à loucura com as peripécias dos dois jogadores.

Certa vez, num jogo América e Botafogo, Pompeia foi fintado pelo endiabrado Mané Garrincha que partiu sozinho na direção ao gol para entrar com bola e tudo.


A torcida botafoguense se levantou para comemorar o gol, em mais uma diabrura do seu ponteiro, quando, inesperadamente, o elástico arqueiro do América deu um salto acrobático para trás e pegou a bola nos pés de Garrincha, em cima da linha.

Enquanto as torcidas dos dois times aplaudiam o lance, os dois artistas da bola se abraçavam, e, às gargalhadas, se divertiam pela jogada inusitada que acabavam de protagonizar. 

Em outra oportunidade, acontecia no Rio o tradicional torneio início, evento com vários jogos de 20 minutos, que marcava o começo dos campeonatos regionais. Os times que venciam as partidas iam prosseguindo na competição.

Em um jogo do Bangu, toda vez que havia um escanteio em favor do time, a torcida em coro pedia para Vermelho efetuar a cobrança. Era uma festa no Maracanã.

De repente aconteceu um pênalti para a equipe banguense. O cobrador, Ocimar, se preparava  para bater quando, assim que o juiz apitou, Vermelho tomou a frente e executou a cobrança, de letra, convertendo a penalidade, para delírio do público presente.


Nesse mesmo torneio, que não tinha tanto compromisso, pois servia para apresentar as novidades dos times para a temporada, Bangu e América se enfrentavam. 

Quase no final do jogo acontece um corner a favor do Bangu. Vermelho bate de letra e executa mais uma vez a sua inusitada jogada. A bola vai no ângulo. O ponteiro parecia tentar um gol olímpico. 

Pompéia, então, salta e faz mais um de seus voos acrobáticos para efetuar a defesa. Um detalhe: em vez de segurar a bola, como tinha feito em chutes de outros atacante, a espalma novamente para a linha de fundo, cedendo novo escanteio.

Talvez, lembrando dos tempos do circo, tenha pensado naquela hora que todos que estavam ali no “picadeiro” mereciam o replay daquela cena e das acrobacias que ele e o amigo Vermelho acabavam de executar. Valia a pena repetir.

Que saudade  daqueles românticos tempos do futebol e de seus “palhaços” e “acrobatas” da bola!  

TIRO DE META, UMA JOGADA EM EXTINÇÃO?

por Victor Kingma


O futebol, o esporte mais praticado no mundo, e que no Brasil se tornou uma paixão nacional, é formado por inúmeras jogadas, amplamente conhecidas e apelidadas pelos seus aficionados. Não só aquelas que acontecem com a bola rolando, como o drible, o passe ou o lançamento, mas, também,aquelas onde a bola é colocada novamente em jogo após ultrapassar os limites do gramado, como o corner (escanteio), arremesso lateral ou tiro de meta. 

Uma dessas jogadas, das que mais acontecem durante as partidas, é o popular “TIRO DE META”, que é a reposição da bola ao campo de jogo quando ela sai pela linha de fundo tocada pelo adversário.

Ficou popularmente conhecida por esse nome pois, originariamente, consistia em um “tiro” longo e forte, executado de dentro da área e próximo da meta, geralmente pelo goleiro, na direção do ataque. 

No passado, como a maioria dos campos tinham dimensões reduzidas e os times costumavam jogar com quatro atacantes, essa jogada era mortal. 

Não era comum o goleiro sair jogando, então, ele não precisava ter muita habilidade com a bola nos pés, bastava ter um chute forte para bater os tiros de meta.

Hoje, com a evolução tática do futebol, os melhores times do mundo são aqueles que ficam mais tempo com a bola nos pés, e dão menos chutões, escola implantada e difundida principalmente pelo Barcelona, de Pepe Guardiola.

E essa mudança chegou também aos goleiros, que passaram a ser mais um jogador na armação das jogadas.

Assim, no futebol atual, não basta aos “guarda metas”, como eram conhecidos antigamente, serem verdadeiros paredões para defender com as mãos as bolas chutadas ou cabeceadas contra o seu gol mas,também, precisam ter habilidade para iniciar as jogadas com os pés. 

Ao contrário do “Tiro Livre” ou “Tiro de Canto”, o velho e bom “TIRO DE META”, na sua concepção original, é cada vez menos executado durante os jogos.  E se tornou uma jogada quase em extinção.

NARRANDO O GOL DO INIMIGO


Charge: Eklisleno Ximenes

Final dos anos 50. De férias em Ubá, sua terra natal, Ari Barroso é apresentado a um jovem locutor esportivo de uma cidade vizinha, do qual falavam maravilhas.

Ari, com a experiência de tantos anos, logo se impressionou com a postura e a voz do locutor, que parecia realmente ser muito bom. Resolveu, então, testá-lo,  visando um possível aproveitamento na Rádio Tupi, na qual era uma das estrelas da narração esportiva.

Dias depois, o recebe no Rio, na sede da emissora. Querendo ver a desenvoltura da jovem promessa, pede que ele narre, de improviso, três lances de um hipotético jogo de futebol.

Enquanto o locutor ficou dentro da cabine, Ari permaneceu do lado de fora, fazendo sinais de positivo ou negativo através da divisória de vidros, muito comum nas emissoras de rádio. 

Assim, o narrador descreveu o primeiro lance, de um fictício jogo entre Flamengo x Botafogo:

Avança o Flamengo com o ponteiro Joel pela direita… É barrado por Nilton Santos. 

A enciclopédia do futebol toca com elegância para Didi no meio de campo…

Didi passa a bola entre as pernas de Moacyr e toca para Garrincha na ponta…  

Mané ginga para um lado e pro outro, finta Jordan, invade pela direita, passa por  Jadir e cruza para a área…  Quarentinha emenda de primeira:

 GOOOOOOOOL do Botafogo!   Qua…ren… ti… nha!

Botafogo, um! Flamengo, zero!

Ari faz sinal de positivo, e sem muita euforia manda narrar o segundo lance. E o narrador continua, agora mais vibrante ainda:

Desce novamente o Botafogo para o ataque… 

Zagalo recebe pela esquerda e toca pra Didi… O Príncipe Etíope se livra da marcação e lança para Paulo Valentim. O avante alvinegro passa por Pavão e abre para Garrincha…

O demônio da pernas tortas passa espetacularmente por Jordan… Dequinha vem na cobertura e também é fintado…

Garrincha cruza… Quarentinha entra de bicicleta:

GOOOOOOOOL do Botafogo:    Qua…ren…ti…nha!

Botafogo,  dois! … Flamengo,  zero!   

A torcida Botafoguense delira. Show de bola no Maracanã! 

E, empolgado, começou logo a narrar o terceiro lance: 

Ataca o Botafogo novamente com Garrincha…

Neste instante, Ari Barroso, furibundo, invade a cabine e interrompe o teste:

–  Meu filho! Afinal de contas, você veio aqui para fazer teste ou para me gozar? 

– Vai radiar jogo do “arranca  tôco”,  lá na sua cidade! 

O promissor locutor, que não sabia da paixão do homem da gaita pelo Flamengo, acabou reprovado no teste.

GERSON NO FLAMENGO, A VOLTA DO CANHOTINHA

por Victor Kingma


Rubro-negro histórico, seu Tobias sabia tudo sobre o Flamengo. Podia, por exemplo, descrever com detalhes o  gol de Agustin Valido sobre o Vasco, no primeiro tricampeonato carioca do Flamengo, em 1944. Nas resenhas com seus contemporâneos, o sorriso meio sacana admitia que o avante argentino tinha mesmo se apoiado nas costas do defensor vascaíno Argemiro para fazer o gol do título.

Recordava, saudoso, do ataque de meninos formado por Joel, Duca, Evaristo Dida e Zagalo, pela segunda vez tricampeões, em 1955.

Gostava de contar da ousadia do técnico “Feiticeiro” Fleitas Solich ao apostar todas as suas fichas no garoto alagoano Dida, autor dos quatro gols naquela decisão contra o América, vencida por 4 x 1.  Até porque o Flamengo, que havia vencido a primeira partida da melhor de três por 1 x 0, com gol de Evaristo,  tinha levado uma sonora surra de 5 x 1, na segunda partida da final.

Sua memória era uma autêntica enciclopédia rubro-negra. Era capaz de se lembrar de cada título, das campanhas e até do apelido de cada jogador.

Sabia tudo da carreira do “Diamante Negro”, Leônidas, do “Doutor” Rubens, e de “Mestre Ziza”, o grande Zizinho, com quem, dizia, Pelé aprendeu muitas coisas.

Lembrava das matadas no peito de Silva, “o  Batuta” , do gol com a cara na lama de  Almir, “o  Pernambuquinho” contra o Bangu, em 1966, e do gol de cabeça de  Rondineli, “O Deus da Raça”, naquela decisão contra o Vasco, em 1978.

 Até dos jogadores menos conhecidos que passaram pelo clube ele sabia o apelido, como o de Dionisio,  “Bode Atômico”, Rodrigues Neto, o  “Turíbio” e de  Merica,  o “Cabra de  Lampião”, volante que que não perdia uma dividida.  Dividiu era do Meriquinha! – Ele sempre dizia.

Apenas de um jogador ele não gostava muito do apelido. Achava que “Galinho” era pouco para Zico, o maior de todos.


Hoje, sentindo o peso da idade quase centenária, a memória já não é a mesma, e seu Tobias, às vezes, mistura a realidade com a fantasia, quando fala do seu time de coração.

Outro dia, sentado na sua inseparável cadeira de balanço, com cachecol preto e vermelho no pescoço para se abrigar do frio, parecia cochilar. Enquanto isso, seus netos, economistas, discutiam sobre o custo benefício do alto valor pago por Gérson, a nova contratação do Flamengo. De repente ele entra na conversa:

– Verdade o que vocês estão falando? O Flamengo contratou de novo o Canhotinha de Ouro?  Quer dizer que o Violino vai ter novamente seu companheiro de meio campo? Henrique e Dida vão se cansar de fazer gols novamente com os lançamentos do Canhota! 

– Não, vovô! Responde os netos, entre risos. Esse é outro Gérson, aquele meia que jogou no Fluminense e estava na Itália.

Ai o velho rubro-negro, recuperando totalmente a lucidez:

– Que ótima notícia, meus netos! Não sei se esse menino é  mesmo bom de bola’ e quanto pagaram por ele, mas foi barato!

E com os olhos marejados de saudade, seu Tobias, que sabe tudo de bola, conclui:

– Ter um Gérson no meio de campo de qualquer time do mundo soa muito bem aos ouvidos! Enriquece qualquer escalação!

Com  certeza, vai dar certo!