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victor kingma

DIVERTIMENTO QUE RESISTE À MODERNIDADE

por Victor Kingma, de Minas Gerais


Toda hora surge no mercado uma grande variedade de brinquedos, com as mais modernas tecnologias. Os jogos desenvolvidos para serem utilizados nos computadores, celulares e similares, então,estão cada vez mais sofisticados.

Entretanto, existe um divertimento que apesar de todos os avanços tecnológicos e mudança de costumes consegue, ainda hoje, mais de um século após ter surgido, causar o mesmo fascínio na criançada: o velho e sempre atual álbum de figurinhas.

No Brasil, os primeiros álbuns surgiram no final do século XIX, quando os fabricantes de cigarros lançaram os cromos para divulgar os seus produtos.


Quando Charles Miller trouxe o futebol para o nosso país, em 1894, esse esporte logo se tornou uma paixão nacional. Vários clubes foram surgindo e, consequentemente, os grandes ídolos também. Na década de 30, foram lançados os primeiros álbuns com as fotos dos jogadores de futebol. E colecionar figurinhas virou uma febre entre os torcedores.

Isso, porque, através dos cromos os amantes do futebol puderam ser apresentados aos ídolos dos seus times de coração, os quais, muitas vezes, só conheciam no imaginário, através das narrações esportivas dos famosos locutores do rádio.


Em época de Copa do Mundo, então, onde as paixões e rivalidades entre os torcedores eram deixadas de lado em prol de um objetivo comum, a vitória da seleção, os álbuns de figurinhas sempre fizeram o maior sucesso.

Um detalhe importante no costume de colecionar e trocar figurinhas é que incentiva a interação e o relacionamento entre as crianças e jovens, fato não muito comum em tempos de solitários jogos eletrônicos

Recordo-me bem que, no início dos anos sessenta, cheguei a andarvários quilômetros, de São Mateus, bairro onde morava em Juiz de Fora, Minas Gerais, até um bairro distante, atrás da figurinha de Djalma Santos,  que faltava para eu completar o meu álbum da Copa de 1962, no Chile. 


Aliás, trocar aquela figurinha repetida ou disputar no “bafo” por alguma que faltava no seu álbum, era o maior barato e agitava a molecada do bairro naqueles tempos. Quando alguém conseguia alguma figura carimbada, as mais difíceis do álbum, tirava a maior onda.

 Hoje em dia, os cromos são autocolantes, mas, no passado, muitas vezes nós mesmos tínhamos que fazer a cola (grude) para colar as figurinhas no álbum, utilizando a velha receita de levar ao fogo um pouco de maizena com água. Bons tempos! 

Passados tantos anos de seu lançamento, esse saudável divertimento continua fazendo a alegria da criançada. Que bom vê-los reunidos nas proximidades das bancas de jornal, às vezes até com os pais e avós, comprando ou trocando suas figurinhas, em época de lançamento de algum álbum de sucesso, como agora, no inicio do Brasileirão.

DOIS GOLAÇOS DE ESCRITORES

por Claudio Lovato

PÊNALTI PERDIDO


Hemingway dizia que o escritor devia escrever sobre aquilo que conhece. Marcus Borgón, em seu livro de estreia, “Pênalti Perdido”, lançado no começo deste ano pela P55 Edições, escolheu como tema o futebol porque entende de futebol num sentido bastante amplo e profundo. A aparente singeleza da história do menino Marcelo e seus camaradas cativa o leitor e o coloca, de repente, diante de assuntos essenciais como a capacidade de enfrentar dificuldades, viver mudanças, sobreviver aos próprios fracassos e aprender com eles. Recomendo aos amigos. Marcus só precisa me explicar uma coisa: como é que um carioca, radicado desde a infância em Salvador, vira torcedor fanático da Ponte Preta? Saudações!!

 

DALI O JOCA NÃO PERDE


Nosso grande colaborador de Minas Gerais, Victor Kingma está prestes a fazer mais um gol de placa!! No dia 19 de junho, de 14h às 16h, o escritor estará na 1ª Bienal do Livro de Juiz de Fora, no Independência Trade Hotel, com o livro “Dali o Joca Não Perde”. Com o prefácio escrito pelo craque Zico, a obra conta com 100 divertidas histórias e causos do futebol!! Imperdível!!
Valeu, Victor!!

ZAGUEIRO BRAVO

por Victor Kingma, de Minas Gerais

Naquela decisão da Liga Mantiqueirense, no interior mineiro, o time de Mantiqueira precisava vencer para chegar ao título. Precavido e temendo alguma surpresa, o presidente do clube, “Coronel” Neca Pereira, escolheu a dedo o juiz e os bandeirinhas e reservou para os visitantes o vestiário ao lado do curral de sua fazenda, onde ficava o campo.

Sabendo que o adversário usaria sua tradicional camisa vermelha, mandou prender, em local bem próximo à passagem dos jogadores, um feroz touro chamado Bravo, o terror das touradas da roça.

Logo ao pisar no gramado, os visitantes receberam as boas-vindas do animal, que avançava ferozmente contra a tela de proteção, tentando chifrar aquelas camisas encarnadas.

E assim continuou durante toda a partida. Sempre que alguém de vermelho se aproximava da lateral, lá vinha a besta fera, bufando e chifrando o alambrado que separava o estábulo das quatro linhas.

Intimidado, o adversário parecia presa fácil. Aos 15 minutos, já perdia por 1×0. O jogo, porém, foi se arrastando, sem outros gols. Aos 44 do segundo tempo, um cochilo do time da casa e, em um contra-ataque, o ponta inimigo driblou dois e chutou: gol! Empatada a partida! Resultado que dava o título aos visitantes.

Pressionado pelo poderoso cartola, o árbitro ainda deu dez minutos de acréscimo, mas o gol não saía. Então, chegou à beira do gramado e avisou:

– Coronel, tenho que acabar o jogo! Seu time está perdido e não fará gol nunca…


Charge de Eklisleno Ximenes

Atarantado, o coronel vira-se para o técnico e ordena:

– Esse título eu não perco. Vamos melar o jogo!

– Mas, melar como? – espantou-se o treinador…

E o coronel taxativo:

– SOLTA O BRAVO!!!

O GOLEIRO VOADOR

por Victor Kingma, de Minas Gerais


Pompéia tinha uma impulsão de dar inveja a muitos goleiros

Ao longo dos anos, o futebol brasileiro revelou grandes goleiros como Barbosa, Castilho, Manga, Gilmar, Taffarel e tantos outros. Entretanto, o mais espetacular de todos, para muitos saudosistas como eu, talvez tenha sido Pompéia. Com sua incrível elasticidade e saltos acrobáticos, fazia as torcidas vibrarem, inclusive as adversárias, para delírio dos vibrantes narradores esportivos da época.

José Valentino da Silva, o Pompéia, era mineiro da cidade de Itajubá, onde iniciou a carreira no Itajubá F.C.  Antes disso, no entanto, havia sido artista de circo.

Muitos não sabem, mas inicialmente ele jogava de centroavante. Um dia, já atuando pelo São Paulo da mesma cidade, numa partida em Três Pontas, o goleiro do time adoeceu e o treinador precisou escalar o centroavante no gol. Sua atuação foi tão espetacular que a partir daquele dia jamais abandonou a posição.

 Sua fama logo correu o Brasil e grandes clubes como Portuguesa e São Paulo tentaram contratá-lo. Mas ele sempre recusava, alegando que não queria sair de Minas.

Um dia, o Bonsucesso foi jogar em Itajubá e o juiz que acompanhava o clube carioca, e que apitou a partida, ficou impressionado com a atuação do goleiro e o convidou para jogar no Rio. Como adorava a cidade, acabou aceitando.

Por volta de 1953, Alfinete, seu primeiro técnico no Bonsucesso, costumava levá-lo para assistir os jogos de Barbosa e Castilho, os maiores goleiros da época. E Pompéia aprendeu muito com eles.

No ano seguinte, foi contratado pelo América, onde desenvolveu uma carreira brilhante. Seu primeiro título foi um torneio internacional, no Peru. 

Foi campeão carioca em 1960 pelo mesmo clube e campeão venezuelano pelo Deportivo Português. Jogou ainda no Futebol Clube do Porto, de Portugal, e no Galícia, da Venezuela. 

Pelas suas defesas acrobáticas e saltos espetaculares era conhecido como Constelation (aeronave famosa da época), Ponte Aérea e Goleiro Voador.

Quando era garoto, gostava de desenhar a figura do marinheiro Popeye. Como ele e seus amigos não sabiam pronunciar direito o nome do personagem, acabou dando origem ao apelido Pompéia.

Pompéia, o mais peladeiro dos goleiros, o goleiro voador, faleceu no Rio de Janeiro em 18 de maio de 1996, aos 62 anos de idade.

NEM SAIU NA FOTO

Por Victor Kingma

Mão de Onça foi um goleiro do interior mineiro que tinha a fama de ser o maior catador de pênaltis que já existiu pelas redondezas. Para alcançar tal façanha ele tinha desenvolvido uma técnica pessoal: ficava parado no meio do gol, encarando fixamente os olhos do batedor. No último instante, quando esse mirava o canto e chutava, o gigante de 1,98m e incrível agilidade, sempre pulava para o canto certo e, invariavelmente, fazia a defesa.

Na decisão do título daquele ano, Mão de Onça tinha tudo para se consagrar mais uma vez: no último minuto do jogo, o seu time, que jogava em casa e pelo empate, segurava o 0 x 0 quando o juiz marcou uma penalidade máxima a favor dos visitantes.

A torcida, que normalmente deveria entrar em desespero, esperava, confiante, mais uma espetacular defesa do seu paredão. Afinal, somente naquele campeonato da liga regional,  ele já havia defendido todos os cinco pênaltis que foram marcados contra o seu time.

Conhecendo a fama do goleiro e querendo surpreendê-lo, o técnico adversário, velha raposa das quatro linhas, mudou o batedor oficial que era o craque e artilheiro do time e colocou para bater o pênalti um desconhecido jogador que estreava.


O novato ajeitou a bola para a cobrança e o arqueiro, imóvel no meio do gol, como sempre, olhava fixamente para ele. Olhos nos olhos… Ninguém piscava no pequeno estádio.  Ele correu, chutou e Mão de Onça se atirou como um felino para o canto direito, mas a bola entrou mansamente no canto esquerdo… GOOOOL!!!   

Enquanto o desolado Mão de Onça se levantava todo empoeirado, o esforçado meia do time visitante era carregado como herói nos braços da sua pequena torcida que, eufórica, entoava:

– VESGUINHO! VESGUINHO! VESGUINHO!!!