Hoje, 28 de outubro, é aniversário de Garrincha, o maior criador de “joões” da história do futebol! Mas o parceiro Josafá Almeida nos alertou que existe uma polêmica em relação ao dia exato. Para seu biógrafo Rui Castro (“Estrela Solitária”), ele teria nascido no próprio dia 28. Autor de diversos livros sobre futebol, o jornalista Roberto Assaf, no entanto, afirma que o dia correto é 18 de outubro. Parabéns, onde estiverem suas pernas tortas…
Em homenagem a um dos maiores craques do futebol mundial, resgatamos um texto muito bacana da coluna “A Pelada Como Ela É”, publicado em 26 de outubro de 2013.
CATA-CATA DE AFONSINHO
por Sergio Pugliese
Há dez dias, Afonsinho, cracaço botafoguense, estava na Itália quando recebeu a ligação do amigo Edson José de Barros, o Edinho, presidente do Esporte Clube Pau Grande, com uma missão para lá de especial: levar um time para enfrentar a seleção local, em comemoração aos 80 anos de Garrincha, maior ídolo da história do Botafogo, morto em 1983. Afonsinho, claro, topou, mesmo sabendo das dificuldades, pois chegaria ao Brasil dois dias antes da festa, em Magé. Mas jogar no campo onde Garrincha deu seus primeiros dribles é emoção até para vascaínos, tricolores e flamenguistas, imagine para os alvinegros!
A turma da coluna “A Pelada Como Ela É” chegou cedo e encontrou o presidente Edinho, indócil, na porta do centenário clube. Casa cheia, cervejas no freezer, churrasco no ponto, mesas arrumadas, grama aparada, time adversário completo e nada de Afonsinho, o criador da Lei do Passe Livre, o rebelde, o engajado, o politizado, o barbudo que sacolejou a cabeça e abriu os olhos de toda uma geração, na década de 70. Um cara desses não vai deixar furo, mesmo tendo desabado um temporal no dia anterior e o trajeto Paquetá-Magé não ser dos mais animadores. Apesar dos pesares, Guilherme Careca Meireles, fotógrafo de nossa equipe e botafoguense supersticioso, assinou embaixo:— Cheguei em Paquetá e iniciei o cata-cata — divertiu-se ele, sábado passado, na concorrida resenha pós-jogo.
— Com esse não tem erro, ele vem!
Pedimos uma gelada para relaxar e brindamos por Garrincha! Estávamos na terra do homem, era o mínimo! Na mesa, Guilherme me perguntou baixinho: “Será que o Afonsinho vem mesmo?”. Caímos na gargalhada, mas nos concentramos quando Edinho se aproximou com um senhorzinho em plena forma, segundo ele “o maior especialista em Garrincha”. No envelope pardo, fotos do amigo e parceiro de ataque do Palmeirinha, primeiro time do infernal camisa 7. Ali, naquele campo oficial, bem na nossa frente, Genarino Cozzolino, o Bacalhau, hoje com 82 anos, fez muitos gols com passes do maior ponta-direita do planeta. Do time, Valdair, Cico Militão, Gido Lobo, Cico Peixinho, Zé Mergulhão, Ivo, Zé Baleia, Ari Morte, Tião Morfeia, Diquinho, Bacalhau, Garrincha e Irineu, só ele continua na área e se derrubar é pênalti! —Deus vem me mantendo aqui, talvez para continuar contando essa história tão bacana! — brincou ele, capitão de mar e guerra.
Do fundo do bar, alguém gritou “Olha o Afonsinho, aí!” Edinho benzeu-se, Guilherme Careca também! Afonsinho realmente chegou, mas e o time? Ele foi logo se explicando. Muita gente viajando, outros tantos machucados, alguns com medo de chuva, dezenas trabalhando, centenas incomunicáveis, grande parte vetado pela mulher, mas deu para o gasto. Os adversários vibraram com a presença do ídolo e foram ao delírio com a chegada da arma secreta e outro gênio botafoguense, Nei Conceição, o Nei Chiclete, apelido por grudar a bola no pé. Cara de sono, explicou que fora convocado em cima da hora e só conseguiu uma chuteira emprestada, algumas horas antes, de madrugada, num samba na quadra da União da Ilha. Mais Nei Conceição, impossível! O escrete de Afonsinho também contou, entre outros, com o talento do inquestionável Betinho Cantor, Macaco, ídolo de Americano, Rio Branco e São Bento, Otávio, zagueiro estiloso, e, sim…. Guilherme Careca Meireles. Faltou um e sobrou para ele!
— Nei Conceição, Afonsinho e eu formaremos um trio insuperável — profetizou, orgulhoso. Em campo, um desastre! O Esporte Clube Pau Grande, bem treinado por Paulinho Fluminense, ganhou tranquilamente por 4×1. Nei saiu rouco de tanto reclamar. Afonsinho fazia a bola rolar fácil, mas, sempre que procurava alguém para tabelar, não aparecia uma alma. Numa das vezes, olhou para a ponta-direita, imaginou Garrincha e lançou com a maestria habitual, mas era Guilherme Careca Meireles. A bola chegou macia e Afonsinho ainda tentou incentivá-lo: “Parte para cima deles!”. Mas eram quilômetros de campo, mal dava para ver o gol adversário, e o lateral lhe roubou a bola facilmente. Nei, desgostoso, balançou a cabeça, Afonsinho, arrasado, colocou a mão na cintura e Guilherme, realizado, sentiu-se o Anjo das Pernas Tortas num dia ruim.