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Vasco da Gama

O PRIMEIRO VASCO DA GAMA DO BRASIL

 por Antonio Carlos Meninéa


No ano de 1913, o futebol já se fazia vivo e forte no Estado do Amazonas. Muitos clubes estavam se formando e muitos outros viriam.

Numa pegada lusitana, um grupo de jovens portugueses resolveu fundar o Club Vasco da Gama, isso no dia 11 de outubro de 1913. A finalidade era ter em seus quadros esportivos somente portugueses, assim como dois outros clubes patrícios existentes, o Luso e o Onze Esportivo.

Tendo Manoel Pinto como Presidente, o primeiro Vasco da Gama do Brasil começou a definir seus quadros titular e reserva, bem como já pensava em seu primeiro jogo.

Em 15 de novembro de 1913 o Vasco da Gama, foi goleado pelo Manaos Sporting, um dos clubes mais fortes da cidade, pelo placar de 4×1. Não poderia ser diferente, pois o Cruz Maltino Manauara tinha muito o que treinar e aprender.

No ano de 1914, disputou a primeira edição do Campeonato Amazonense, não se saindo bem na A nem na série B.

No ano seguinte também se inscreveu nas séries A e B, mas não terminou as competições por problemas com a Liga Amazonense de Futebol.

Após o término da temporada de 1915, fundiu-se com o Onze Esportivo, dando origem ao União Sportiva Portuguesa.


Segundo o Amazonense, professor historiador, Gaspar Vieira Neto, o Vasco Manauara foi o primeiro do Brasil a jogar com esse nome e o Clube só recebia portugueses em seus quadros. Porém, a título de curiosidade levantado pelo próprio Historiador, o time já disputou partidas com jogadores de nacionalidade Inglesa e Alemã.

E essa foi a história do primeiro Vasco da Gama do Brasil, o Manauara. Já o famoso carioca, teve seu Departamento de Futebol criado em 1915, disputando sua primeira partida em 1916 quando seu xará Amazonense não mais existia, e nunca houve confirmação de qualquer ligação entre o Vasco Manauara e o Carioca.

O VERDADEIRO EPISÓDIO DA LUTA DO VASCO CONTRA O RACISMO

por André Luiz Pereira Nunes


Não é totalmente falsa, tampouco totalmente verdadeira a premissa de que o Vasco, em 1923, encampou uma cruzada contra o racismo no futebol carioca. Em realidade, a luta dos cruzmaltinos foi a favor dos pequenos clubes contra as regras vigentes da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) que impediam que os jogadores exercessem outra atividade que não fosse o futebol. É necessário frisar que o esporte nesse tempo era exercido pela aristocracia. Portanto, a profissionalização ainda não era aceita pelos dirigentes. Consequentemente, essa restrição atingia os mais pobres, notadamente os negros, que precisavam trabalhar em outras atividades para garantir a sobrevivência diária.

Na famosa Assembléia Geral, que culminou com a cisão do futebol carioca, o discurso de Barbosa Júnior, representante do Sport Club Mackenzie, provando o racismo dos clubes grandes, desmoralizou os dissidentes. Como então salvar a situação perante os revoltados desportistas? Durante o encontro, Mário Pólo, do Fluminense, confabulou com Ari Franco, esse mesmo que hoje dá nome ao presídio, e que era representante do Bangu. Ambos se retiraram para uma sala ao lado. Quando retornaram, Mário Pólo pediu a palavra e disse:

“São falsas as insinuações do representante do SC Mackenzie, Barbosa Júnior, declarando que os grandes clubes têm o propósito de afastar os homens de cor da Liga. Agora mesmo o representante do Bangu acaba de aderir ao nosso movimento e se trata de um clube proletário que contém homens de cor.”


Ninguém acreditou nas palavras do representante tricolor, pois antes dos entendimentos com Ari Franco os chamados jogadores de cor do Bangu também estavam na lista negra da Liga. Portanto, em 7 de abril de 1924, o presidente do Vasco, José Augusto Prestes, dirigiu um ofício a Arnaldo Guinle, do Fluminense, declarando com grande elevação e respeito que seu clube não tinha interesse em pertencer à Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), pois acima de tudo colocava a dignidade de seus jogadores, jovens brasileiros, no começo de sua carreira esportiva, campeões da cidade, que com sacrifício e brilho, honraram o pavilhão vascaíno.

Em 1924, a cidade então contou com duas ligas. Pela entidade oficial, a Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT), o Vasco sagrou-se campeão, cabendo a última posição ao Palmeiras. Na entidade dissidente o campeão foi o Fluminense e o último colocado foi o SC Brasil. Essa cisão durou apenas um ano. Em 1925, através da intervenção de Oscar da Costa, diretor do Jornal do Comércio, formou-se a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), constituída por dez clubes: Flamengo (campeão), Fluminense (vice-campeão), Vasco, Botafogo, America, São Cristóvão, Bangu, Sírio e Libanês, Helênico e Brasil.

A atitude do Vasco, assumida pelo presidente José Augusto Prestes, acabou com esse tipo de racismo e outros preconceitos. Em 1924, o Gigante da Colina detinha uma modesta praça de esportes localizada na Rua Morais e Silva, próxima ao Colégio Militar, na Tijuca. No mesmo ano os cruzmaltinos iniciaram a campanha financeira para a construção do estádio de São Januário e, em 1926, foi iniciada a grande praça de esportes, inaugurada no ano seguinte.

GEOVANI E O TEMPO

por Rubens Lemos


Geovani nasceu em 1964. Nasceu tarde demais. Seu estilo refinado é natureza pura dos anos 1950/60, faixa dos craques de nenhuma correria e inteligência superlativa. Práticos da lei máxima de que no campo corre a bola e aos craques era facultado o direito ao prazer de saber movimentá-la, com sutileza e brilho.

Eram os tempos de Didi, Gerson, Dirceu Lopes, Ademir da Guia, Mengálvio. Suavam pouco, alegravam multidões na toques clássicos. Na morosidade de arapuca. Homens de raciocínio superior, de ocupação de espaços pela diminuição do campo no compasso dos passes que aproximavam a bola dos artilheiros. Geovani foi desse naipe, da tal categoria.

Na cronologia correta, teria disputado Copa do Mundo. Ou brilhado ainda mais do que luziu com seu jogo faceiro e delicioso, entorpecente de criatividade, de invenções em segundos de eternidade, de imortalidade genial guardada em jogadas absurdas, de tão belas.

Depois de Roberto Dinamite, o artilheiro do sorriso triste e impiedoso com zagueiros e goleiros, Geovani é o maior ídolo contemporâneo do Vasco.

Se nasceu depois da hora, Geovani veio subverter a era de um Vasco freguês caloteiro do Flamengo, início da década de 1980, Zico liderando a tropa que ganhava campeonatos com a naturalidade de um casal de adolescentes tomando sorvete ao primeiro dos namoros. O Vasco tinha Dinamite de Dom Quixote. E um monte de esforçados e brutamontes.

Em 1982, um garoto baixinho e gordinho, nascido no Espírito Santo, chegou e Impôs uma qualidade absoluta, ritmo acadêmico de veterano, visão periférica de uma partida, imperador do meio-campo em dribles de minifúndio e lançamentos longos como se houvesse um novo Gerson, ambidestro. Geovani tomou conta da cátedra de melhor meia-armador de minha geração de torcedores.

Geovani arquitetava, organizava e compunha. Roberto Dinamite e Romário concluíam a obra de engenharia, executavam o projeto e verbalizavam a cantoria de gols.

A história, exemplar em seus castigos, mostra em seus replays que faltou Geovani para o Brasil estilizar beleza e improvisação. Geovani é o jogador (ele e Dinamite) com mais títulos cariocas conquistados pelo Vasco. Foram cinco, três deles sobre o Flamengo de Zico.

Foi chamado de lento e exagerado perfeccionista. Tratava a bola com carinho e carícia de namorado. Exatamente o traço da casta nobre dos idos do futebol acadêmico, categórico e intelectual. Sem força. Na ginga e no jeito.

Sem ele na seleção brasileira, perderam-se duas Copa do Mundo sintomáticas pela falta de um cérebro na criação da meia-cancha: em 1986, viajaram Elzo e Alemão.

Em 1990, Dunga e o tal Alemão, bom maratonista, obscuro criativo. Sebastião Lazaroni, especialmente, o técnico medíocre do Mundial da Itália, será praguejado pela memória nacional por não ter convocado Geovani e levado seu compadre Tita. Ou cinco zagueiros.

Geovani arquitetava, organizava e compunha. Roberto Dinamite e Romário concluíam a obra de engenharia, executavam o projeto e verbalizavam a cantoria de gols.

A Geovani, Romário deve muitos dos seus gols, recebendo livre na área lançamentos de 40 metros, fita métrica na chuteira do Pequeno Príncipe, assim batizado o regente cruzmaltino. Tenho que dizer aos meninos de hoje. Se vocês tivessem visto Geovani, glorificar Firmino, Fernandinho e Jô, seria castigo implacável da proibição do videogame ou da exaltação da mediocridade.

Geovani, guerreiro suave, conquistou o maior campeonato da vida: superou um câncer e fez transplante de medula. Com a força extraordinária da fé e a luz radiosa dos homens escolhidos para gerar felicidade em milhões. Geovani veio depois e fez sua hora, impondo o batuque das rodas de samba em tardes vascaínas que liderou na solidão da maestria. Dos precursores de Maracanã com 100 mil pessoas.

DECADENTES

por Rubens Lemos


Olhávamos para as caras amarradas e o passado atestado na barba imensa. Éramos meninos, eles na faixa entre 30 e 40 anos. Lá estavam os sofredores do Botafogo. Viviam a psicose dos 21 anos sem títulos. Se recusavam a pronunciar a escalação medonha, exceto o craque Mendonça, falecido em 2019.

Os torcedores de outrora repetiam:

– Há coisas que só acontecem ao Botafogo!

Estavam certos. O Botafogo que eles tragavam com prazer acabara em 1968 com Cao, Moreira, Zé Carlos, Sebastião Leônidas e Valtencir; Carlos Roberto e Gerson; Rogério, Jairzinho, Roberto Miranda e Paulo César Caju. Um timaço que não tinha medo do Santos de Pelé. Do Corinthians de Rivelino. Nem do Cruzeiro de Dirceu Lopes e Tostão, muito menos do Flamengo de Silva Batuta.

O Botafogo vendeu Gerson ao São Paulo, Paulo César ao Flamengo, Jairzinho ao futebol francês e, tempos depois, em 1972, passou a contar com a solitária maravilha do potiguar Marinho Chagas.

O Botafogo achava normal empatar com o Olaria, ganhar de 1×0 do São Cristóvão e perder de 3×1 do Bonsucesso, times pequenos e tragados pelos ventos secos da mediocridade.

Nós, os mais novos, ouvíamos histórias contadas nas emoções detalhistas. A final de 1968 (4×0 no Vasco), a busca frenética pelos lançamentos de Gerson, as arrancadas de Jairzinho, o biquinho abusado do estilista Paulo César Caju.

Quando as lendas eram esmiuçadas, o Botafogo era um pobre time montado e envergonhado em doses etílicas. Sua camisa sacra vestia Wecsley, Gaúcho Lima, Tiquinho, Ademir Vicente, namorado da cantora Vanusa, Té, Ataíde, Mirandinha e Lupercínio. Faltava um violão para as canções melosas de Orlando Silva, um dos reis da dor de cotovelo.

Nós, os piedosos com os botafoguenses, variávamos dos 10 aos 15 anos. Parecíamos vascaínos felizes, ainda que apanhássemos do Flamengo de Zico e das arbitragens desavergonhadas.

O Vasco escalava bons times liderados por Roberto Dinamite. Havia Acácio, começando debaixo das traves, Orlando Lelé e suas chuteiras homicídas.

Tínhamos Guina, um meia de quem lembramos pouco, Wilsinho, Zé Mário, senhor volante e reforços pontuais: Jorge Mendonça, meio-campista artilheiro, Paulo César Caju, Elói, estupendo criador, o artilheiro Arthurzinho e um jovem armador que, em torno de si, criou uma época: o Vasco de Geovani.

Envelhecemos empanturrados de troféus: uma Libertadores, quatro Brasileiros, seis Cariocas e presença constante em decisões. Esse era o Vasco quando fomos meninos parecidos com os do Botafogo.

Estamos fartos de mediocridade. Temos Thales Magno, Marrony, Vinícius, Parede, Gustavo Torres, Catatau, Felipe Bastos e um Jardim Zoólogico de leões medrosos, tigres sem dentadura e jacarés preguiçosos. Somos, agora, o que os botafoguenses na faixa dos 60 anos, foram para nós: homens tristes e revoltados.

O Botafogo está na Segunda Divisão. Humilhado, despedaçado, entristecendo o paraíso de Garrincha, Didi e Nilton Santos. O Vasco caiu com seu timeco. Para tristeza eterna de Bellini, Orlando Peçanha e Vasco.

Os três mencionados do Botafogo e o trio do Vasco foram campeões do mundo, titulares da seleção brasileira de 1958. Hoje, rebaixados para a Série B do Brasileirão, Vasco e Botafogo erguem a Taça dos Miseráveis, apogeu da decadência.

A FUNDAÇÃO DO VASCO E A DISPARADA DO CAVALO

por André Luiz Pereira Nunes


Por ocasião dos preparativos para a criação do Vasco, na primeira reunião, realizada em um sobrado na Rua Teófilo Otoni, em agosto de 1898, um dos presentes lembrou que o clube não teria dinheiro, tampouco barcos. É certo que todos os presentes eram honestos, mas a honestidade, embora seja uma virtude, não paga contas de absolutamente ninguém. A única solução seria conseguir alguém que tivesse condições de financiar os custos da agremiação. Foi então ventilado o nome de Francisco Gonçalves Couto, proprietário de uma serraria no bairro da Saúde, zona central do Rio de Janeiro.

No dia seguinte ele foi procurado. Como ninguém escapa de uma boa conversa fiada, dizem que ele caiu feito um patinho. Animados, os fundadores do Vasco investiram no Dr. Henrique Lagden. Tratava-se de um médico popular no bairro que gozava de grande prestígio político. Não demorou para que dias depois, não só ele aderisse, como também o Dr. Guarani e outros ao novo grêmio esportivo recém-criado.

Em 21 de agosto de 1898, na sede do Filhos de Talma, no mencionado bairro da Saúde, fundava-se o Club de Regatas Vasco da Gama e, nos moldes da boa política, foi eleito presidente Francisco Gonçalves Couto e tesoureiro o Dr. Henrique Lagden, justamente as figuras de maior projeção. Sete dias depois, após a posse da primeira diretoria, realizada na Estudantina Arcas, Francisco Couto foi tremendamente assediado por todos os presentes que lhe pediam “apenas” uma flotilha completa para que o clube pudesse fazer boa figura no remo.

Um dos requerentes, conhecido como Zé da Praia, passava a mão afetuosamente em seu ombro, dizendo-lhe:

– O Vasco precisa de “caravelas”. Sem a supremacia dos mares, jamais venceremos a batalha.

O presidente logo se animou e, em um tremendo arroubo de entusiasmo, respondeu que a agremiação teria não só os mares, como o céu também.

É provável que ele tenha posteriormente se arrependido, mas como naquele tempo promessa de homem se cumpria, o primeiro presidente vascaíno logo dotou o clube de uma flotilha completa, embora tivesse ficado com a reserva de domínio.

Porém, o Vasco precisava de um barracão para guardar os barcos, pois na doca do Largo da Imperatriz, as baleeiras e canoas ficavam à mercê do tempo. Na Ilha das Moças, na Praia Formosa, posteriormente aterrada por ocasião da construção da Avenida Francisco Bicalho, havia um perfeito barracão disponível. Somente o Francisco Couto poderia consegui-lo. A turma chorou, chorou, chorou e o presidente acedeu. Afinal, não podia ver lágrimas.

– Não há nada, rapazes. Tudo certo. Um homem quando está com a mão na massa, tanto amassa um saco de farinha como dois ou três.

E torcendo os fartos bigodes, acrescentou:


– Amanhã irei falar com o proprietário e dentro de poucos dias os barcos estarão na Ilha das Moças.

De fato, dias depois os vascaínos estavam de mudança para o local. Para ligar a ilha à Praia Formosa houve a necessidade de se construir uma ponte de madeira que foi feita pelos próprios sócios. Quando a passagem estava concluída, os policiais que faziam patrulhamento, amarraram seus cavalos no corrimão. Como o terreno era muito lamacento, os animais obstruíram a pequena passagem seca do local.

Em um domingo ensolarado de janeiro, um certo Antonio Mendes apareceu na Ilha das Moças de terno e sapato brancos, moda comum à época. Na hora da saída acendeu um charuto e ao chegar ao fim da ponte, encontrou um cavalo amarrado. Como não podia passar sem enlamear os sapatos, desamarrou o cavalo e enfiou-lhe o charuto aceso no ouvido. O animal saiu correndo. O policial, que de longe assistia aquela cena, vendo-o correr e relinchar, dirigiu-se a Antonio Mendes e perguntou-lhe:

– O que você fez ao cavalo?

– Eu? Nada, seu guarda.

– Como é que o animal saiu correndo feito um doido? – retrucou a autoridade.

– Coitado, é um animal de sentimento. Comuniquei-lhe o falecimento de sua mãe e ele saiu em disparada. Deve ter ido tratar do enterro.