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Vasco da Gama

VASCO DA GAMA SE RECONCILIA COM SUAS ORIGENS

por Luis Filipe Chateaubriand


O Club de Regatas Vasco da Gama é um clube de futebol que nasceu sob o signo da igualdade, da democracia e da inclusão social.

Ao ser um dos primeiros grandes clubes do país a ter jogadores negros, mulatos, pardos e miscigenados em geral a atuar sob o seu pavilhão, deu o exemplo que outros clubes ainda não haviam feito.

Ao ser o grande clube oriundo da quase sempre excluída zona norte carioca, mostrou ao mundo do futebol que o Rio de Janeiro não deve ser a cidade partida, mas sim a cidade unida.

Ao dar ensejo para que muitos garotos de origens modestas, ao longo do tempo, surgissem de suas categorias de base e melhorassem de vida, se mostrou um clube que propicia oportunidades de ascensão social a pessoas excluídas mas com talento para superarem a exclusão.


O clube passou por período obscurantista, durante algumas décadas recentes. Foram tempos de pranto e ranger de dentes, com o clube entregue a autoritarismo, desmandos, bravatas, truculência, falta de modos.

Mas, com as lindas a recentes atitudes de solidariedade em relação ao arquirrival Clube de Regatas do Flamengo, o Vasco recupera sua verdadeira dimensão: Gigante!

Querido Gigante da Colina: seja bem-vindo de volta às suas raízes, ao seu feitio, à sua identidade! Nós, seus torcedores de quatro costados, te recebemos de volta de braços abertos!

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email:luisfilipechateaubriand@gmail.com.

O VASCAÍNO PINGA ‘AMAVA’ OS GOLEIROS DO BOTAFOGO

“Sinceramente, eu mesmo não consigo explicar como tudo dá certo comigo quando jogo contra o Botafogo”. Um dos maiores artilheiros da história da Portuguesa de Desportos e do Vasco, o centroavante faria anos hoje.

por André Felipe de Lima


Se houve um centroavante vascaíno que gostava muito do Botafogo, este foi o Pinga (José Lázaro Robles), cidadão paulistano que nasceu em uma casa modesta da rua Visconde de Parnaíba, no Braz, no dia 11 de fevereiro de 1924. Mas foi na Mooca — bairro em que também residiu este dublê de repórter — onde Pinga cresceu ao lado dos cinco irmãos. Todos verdadeiramente apaixonados por uma boa, porém “arriscada” pelada. Vamos explicar o porquê de tão inofensiva peleja na rua representava risco para Pinga e seus irmãos.

O rude pai dele, o espanhol José Robles, era operário de uma fábrica de fundição no Ipiranga. Criava os filhos com carinho, mas impondo-lhes disciplina e mostrando que mentira não leva a lugar algum. Qualquer ato de desobediência significava que uma coça estava a caminho. Dona Philomena Moreno, igualmente espanhola e mãe dos meninos, é quem fazia o papel de advogada dos filhos.

Muitas vezes Philomena evitou que o velho Robles empunhasse o cinto para “educar” os filhos amantes das peladas. Mas o velho pai tinha ojeriza. Abominava futebol. Philomena é quem acobertava os garotos, que saíam de fininho para rolar uma peleja no quintal do vizinho ou mesmo na rua. Coitados. Se o pai descobrisse, o chinelo ou cinto “cantaria” sonoramente na casa. Mas Pinga driblou o pai e foi ser feliz na vida com a sua pelota embaixo dos braços e rolando macia pelos pés. Era o que desejava. E foi o que fez. O pai conformou-se.

O grande craque herdou o apelido “Pinga” do irmão mais velho Arnaldo, que também jogou profissionalmente. O impiedoso centroavante figura na lista dos maiores goleadores da história do Vasco, mas brilhou antes na Portuguesa de Desportos, onde jogou ao lado de cobras como Julinho Botelho, Djalma Santos e Simão. Igualmente ao que fez no cruz-maltino — ou seja, gols — executava com maestria na Lusa. Foram centenas deles assinalados por um artilheiro implacável e um dos poucos craques de sua época a não beber ou fumar. Fato bastante incomum.

Pinga tinha uma vítima predileta de seus intermináveis gols: o Botafogo: “Nunca vi um atacante para dar tanta sorte contra os arqueiros botafoguenses como eu. Sinceramente, eu mesmo não consigo explicar como tudo dá certo comigo quando jogo contra o Botafogo. Até mesmo as jogadas mais complicadas e os tiros menos precisos resultam em gols. E o mais curioso é que minha sorte não se afirma contra um arqueiro isoladamente. Não. Todos os goleiros alvinegros passam maus pedaços comigo. Quem inaugurou a série foi o Osvaldo Baliza. Ele não dava sorte comigo, coitado. Certa vez, numa só partida, em São Januário, em disputa do Torneio Rio-São Paulo, ele engoliu três bolas minhas. Também Ernani, Adalberto, Amauri e Manga já deixaram passar, num só jogo, dois ou três chutes meus.”

O Botafogo realmente não tinha vida fácil com ele. Na reta final do épico Supersupercampeonato carioca de 1958, Pinga fez os dois gols da vitória de 2 a 1 sobre os alvinegros. O caminho para o título vascaíno estava mais que consolidado.

Pinga marcou mais de 250 gols pelo Vasco. Seu filho, o excelente ponta-esquerda Ziza, vi jogar (mas que ironia…) no Botafogo. Era arisco e com bom drible, mas jamais teve o faro de gol do pai.

Pinga foi único e herói de um passado de ídolos da bola e dos centroavantes de ofício, que dificilmente se repetirá no futebol brasileiro. Fica a pensata.

ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO

VASCO 1977

por Marcelo Mendez


Na nova série para o Museu da Pelada, decidi por algo que sempre me chamou atenção, que sempre me aguçou os sentidos em se tratando de futebol. Decidi por falar dos grandes clubes do futebol do Brasileiro, mas não apenas isso. 

Quero falar de máquinas de sonhos, de artilharias pesadas, de estufamento pleno de todas as redes.

Quero falar dos maiores Esquadrões do Futebol Brasileiro.

Para começar, vou falar de algo afetivo, de um grande time que marcou, mas não apenas por títulos e vitórias. Do ponto de vista lúdico, sob o olhar de um menino de apenas sete anos de idade, que passava a descobrir as ondas do rádio e o futebol, essa equipe foi fundamental para eu entender do ludismo do futebol

A série Esquadrões Do Futebol Brasileiro, pega carona na máquina do tempo e vai para 1977 para falar do Vasco, o Vascão 77.

Vamo lá…

ERA UM MUNDO LEGAL EM 1977

A ligação afetiva de quem vê futebol aos 7 anos de idade é algo que te marca para o resto da vida. Morava em Santo André. O Parque Novo Oratório ainda era algo bucólico, as marcas de asfalto eram poucas, a pressa não havia e a vida era quase que contemplativa.

Nasci num quintal cheio de primos, na casa da Avenida das Nações, até 1975, quando mudamos para nossa casa. Todavia, a ligação com os primos e primas era muita para deixar de haver de um dia para outro. Então, eu, menino de 7 anos vivia no quintal da Tia Leoni, onde uma das casas era nossa.


Ali tinha os primos, Zé Carlos e Tine, todos mais velhos, as primas, Lourdes, Miriam, Silmara, Marlene, Mirian e Angela. E meu Tio João. Foi com ele que descobri o “Futebol Compacto” da Tv Cultura de domingo à noite. Era o VT da rodada do Campeonato Carioca que passava pra gente às 20h do domingo.

Numa noitada daquelas, descobri um dos narradores que mais gosto, de nome José Cunha, um cara de voz rouca, cheio de onda, narrador carioquissimo que não gritava gol quando o sujeito estufava as redes; “Isso é televisão, o cara tá vendo que foi gol. Pra que vou dizer isso?” – Dizia. Foi com o Zé, não gritando gol, mas gritando “Roberrrrtôôôôôô”, que descobri que no Rio de Janeiro de 1977, havia um camisa 10 que dinamitava todas as defesas de lá e que o time que ele jogava, era um timaço.

BLACK RIO!

O Rio de Janeiro era um barato em 1977!

Nos subúrbios a black music fervia os bailes com Tim Maia, Cassiano, Carlos Dafé, com as equipes de baile e as orquestras como a Banda Black Rio. Uma lindeza! No maracá, o show ficava por conta do Vascão.

Um timaço que desde o começo, dava cara de ser um baita time, como conta Zé Mário, o volante, Gerente da meiuca daquele time:

– Desde as primeiras trocas, desde o principio de tudo, deu pra perceber que o time tinha potencial. Chegaram Geraldo e Orlando Lelé do América, Marco Antonio veio do Fluminense, Dirceu… O time foi tomando forma, com o Orlando Fantoni no comando.”


Na meiuca, além de Zé Mário, tinha Zanata e Fumanchu. O Ataque era avassalador; Ramon, Roberto Dinamite e Wilsinho Xodó da Vovó. Uma máquina que varreu com todo mundo em goleadas homéricas, como 6×0 no Bangu, 7×1 no Madureira, Passeio no Fluminense, Flamengo, Botafogo, em Geral toda. O Vasco venceu os dois turnos, para ser campeão do Cariocão.

Depois disso, o Vasco demorou a ser feliz. A chegada de uma nova geração, formaria um outro esquadrão, esse, eu vi jogar muito, mas muito.

Mas essa história fica pra outra hora.

Por hora, vamos cantar de coração; O Vascão 77 foi um puta dum timão!

UM LUGAR PARA CAIR MORTO

por Rubens Lemos

O lugar do Vasco é a Série B. Sou um cara beirando os 50 anos de idade e perdi a capacidade de me desiludir posto que não me iludo com mais nada. São 30 anos de profissão e se elogio fosse dinheiro, compraria quatro São Januários para mim com todos os craques sonhados reais, cada um na flor da forma, para fazer torneios de imaginação.

Escalaria Acácio; Mazinho, Ricardo Rocha, Mauro Galvão e Marco Antônio (de meiões arriados); Zé Mário, Geovani e Dener; Edmundo, Roberto Dinamite e Romário. Seriam os onze do primeiro estádio desejado. Desejar é grátis.

Depois, Leão; Orlando, Torres, Daniel González e Pedrinho; Zé do Carmo, Zanata e Arthurzinho; Mauricinho, Dé (cheio de areia nas mãos pra jogar nos olhos dos goleiros) e Dirceu. O terceiro time: Mazarópi; Luis Carlos Winck , Abel, Geraldo e Felipe; Pintinho, Mário Português e Juninho Paulista; Euler , Luizão e Bismarck.

Os outros onze saem aleatoriamente, saltando de alegrias esparsas ou sentenciais aos dribles, lançamentos e gols espíritas: Carlos Germano, Paulo Roberto, Donato, Válber e Cocada improvisado (entra, abençoado pela fúria do gol de 1988 contra os urubulinos); Luisinho, Boiadeiro e Tita; Donizete, Sorato e William.


Juninho Pernambuco, não. Estou em pleno gozo dos meus direitos individuais e o tal sujeito é um militante tão insuportável que apagou seus milagres de minha retina. Um chato metido a Che Guevara sem motocicleta nem ternura.

Vou duelando no cansaço mental, os quatro Vascos, um de cada São Januário do meu coração. Pedaços flutuando no tempo e despertando o sorriso feito carranca por um clube que a cartolagem conseguiu transformar em ex.

Recuso-me a aceitar qualquer um do Vasco de hoje. Craque com nome de boneco eletrônico japonês de franquia é o meu baralho. Argentino gagá tratado feito bibelô é cascata não casaca, nosso brado de viradas heroicas lusitanas. A eles, o anonimato da insignificância.


O Vasco dos meus quase 50 anos (tenho 48) não mira taças, títulos, epopeias. Esperneia e se debate feito vira-lata rodrigueano crônico para não cair à Série B, seu devido barraco por fracasso imposto por um capo caricato e um ídolo grotesco fantasiado de cartola.

Quando se chega às imediações dos 50 anos de vida, sonhar é recordação e dependência. É o doce cansaço da primeira divisão existencial onde o passado e a impaciência, jogam na linha de fundo o que faz mal e é desamor. Série B, Vasco. É teu lugar pra cair morto.

ROBERTO DINAMITE

por Serginho 5Bocas


Roberto Dinamite foi o maior artilheiro do estádio de São Januário, do Vasco, do Campeonato Carioca e do Campeonato Brasileiro em números absolutos de todos os tempos. Um dos maiores “faros” de gol que vi jogar.  Parecia lento, mas tinha força, velocidade e precisão para arrancar de longe e levar até aonde pudesse bater em gol, e batia forte e com direção, como poucos.

 Ele era temido pelos adversários, mas não me lembro de ter raiva dele, só medo. Tinha ótimos fundamentos e muito oportunismo, sabia como poucos onde a bola iria estar e suas cobranças faltas eram um “deus nos acuda”.

 Foi artilheiro do Campeonato Brasileiro duas vezes, do Carioca três entre outras marcas excepcionais.

Na seleção não teve muitas oportunidades, a época era bem servida de bons centroavantes, mas ainda assim, Roberto foi a duas Copas do Mundo (1978 e 1982), em cima da hora nas duas, sempre substituindo alguém por contusão, Nunes e Careca respectivamente foram os centroavantes que deram lugar a ele.

Na primeira ele ficou na reserva de Reinaldo e depois ganhou a vaga na “canetada” do Almirante Heleno Nunes, mas ali mesmo, dentro do campo, ele calou a boca dos críticos que duvidaram dele, marcando gols importantes e ajudando muito o Brasil a chegar em 3° lugar. Faltou pouco para vencer aquela Copa e se consagrar, talvez como artilheiro.

 Não fosse aquele jogo infame e “sem vergonha” em que a Argentina meteu 6×0 no Peru, quem sabe até aonde ele poderia ter chegado.

 Fez o gol salvador da primeira fase contra a Áustria e contra a Argentina, na fase semifinal, se o seu chute a queima roupa não tivesse batido no pé esquerdo de Ubaldo Fillol, numa defesa espetacular, e aquela bola tivesse entrado, vai saber até onde o Dinamite poderia chegar…

Em 1982, ele nem para o banco de reservas foi relacionado, foi um turista privilegiado na Espanha, infelizmente ele fez muita falta.


 Roberto teve uma importância enorme para o Vasco. No time da Colina, na época em que o seu maior rival, o poderoso Flamengo de Zico, vencia tudo e todos, contra o Vasco de Roberto, não era bem assim, sempre era osso duro de roer. Pois apesar do Vasco ter uma equipe considerada inferior no papel, os jogos eram sempre decisivos e duríssimos, raras eram as goleadas.

Tenho uma imensa saudade da briga saudável entre Roberto e Zico pela artilharia do Carioca, era palmo a palmo, e olha que vencer o Galinho em gols naquela época era tarefa para poucos, apesar de Zico não ser centroavante.

A gente escutava os gols de um e queria saber quantos o outro tinha feito na rodada, era outra época, uma época de ouro do futebol carioca, em que Roberto Dinamite era protagonista.

Roberto deixou saudades em quem gosta de bom futebol, ele foi um craque da grande área e acima de todas as torcidas, foi patrimônio do futebol brasileiro pelos seus mais de 700 gols em mais de 1000 jogos.

Pena que os meninos de hoje não saibam muito bem quem foi Bob Dinamite, aquele do oportunismo, do chute violento, da falta bem cobrada e do gol de placa que todos nós gostaríamos de ter feito um dia na vida, aquele em que a gente sonha até mesmo acordado que um dia vai fazer um igual. Sim, o gol de placa.


Matada no peito dentro da grande área, Lençol e chute forte de primeira sem deixar a bola cair no chão, aos 40 e lá vai fumaça do segundo tempo, golaço, aço, aço, aço, contra o Botafogo de Osmar.

Pergunte a um botafoguense daquela época se até hoje não tem pesadelos com Roberto? Como ele judiava dos botafoguenses, até quando jogava mal…

O Jornal dos Sports acertou na mosca quando criou o apelido que notabilizou o garoto Carlos Roberto de Oliveira no futebol.

Ô tempo bão!