Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

VAR

VOCÊ CONFIA NO VAR?

por Elso Venâncio


O VAR e confiável? Acha precisa essa tecnologia? Tenho lá minhas dúvidas. Ou, para ser mais claro e direto, entendo que o sistema deixa dúvidas no ar. Não é inquestionável. Muito pelo contrário.

Fiquei mais de 25 anos trabalhando como repórter no campo de jogo. Quando a bola rolava, ia para trás do gol. Na Rádio Globo, do Rio de Janeiro, onde permaneci por 17 anos, o “Garotinho” José Carlos Araújo, nosso grande locutor esportivo, me posicionava, independentemente de partidas no Brasil ou no exterior, sempre no gol à direita da cabine. Vi de perto vários lances que não foram pênaltis mas que a TV indicava falta.

Junior Baiano deu um carrinho em 1997, visando e tocando só na bola, dentro da área, e não atingiu Zé Alcino, atacante do Grêmio, no Estádio Olímpico. Lance legal. Alexandre Serquiz, que coordenava a jornada esportiva, entrou no retorno dizendo que a televisão, com uma câmera lateral, mostrava a falta… Cito aqui um dos inúmeros exemplos que presenciei in loco.

Nelson Rodrigues, há mais de 50 anos, falava que o videotape era burro. O que posso afirmar sobre a dúvida, se a bola tocou na mão ou não, depende do ângulo de posicionamento da câmera. E, no fim, acaba valendo sempre a interpretação. Ridículo o locutor e o comentarista de arbitragem repetirem o óbvio. Nesse ângulo não foi. Mas nesse… hum, nesse foi…

A jornalista e ex-árbitra Renata Ruel, em seu blog, analisou cientificamente o caso. Ela entrevistou o professor Felipe Moura, do Laboratório de Biomecânica Aplicada da Universidade Federal de Londrina. A margem de erro do equipamento é de 10 cm a meio metro.

O VAR é um GPS que determina a posição do jogador. O dispositivo aciona pelo menos três satélites, para fazer a triangulação. O professor Felipe alerta que a Ciência lida frequentemente com erro de medidas. O equipamento leva em torno de um minuto para conferir um impedimento. Por isso, os lances seguem, mesmo tendo a gente notado uma irregularidade clara – o que, convenhamos, é um retrocesso.

O tema merece um debate maior… A tecnologia chegou para evitar os erros ou nos confundir ainda mais?

A cada paralisação pra checarem o vídeo, os árbitros ficam acuados, cercados pelos atletas. O jogo fica, ao contrário da Europa, irritantemente parado.

O VAR é uma ferramenta que possui limitações e, ainda por cima, é pilotada por humanos. Isso sem falar nos gigantescos interesses da CBF, dos clubes, dos patrocinadores e, o que é mais perigoso, empresas de apostas, que hoje dominam no mundo – o dinheiro mais pesado colocado no futebol.

O FUTURO É O VAR

:::::::: por Ricardo Dias ::::::::


Meu querido Arnaldo Cesar Coelho que me perdoe, mas o futuro é o VAR. Um VAR melhor, evidentemente, mais rápido e sem camisa de time nenhum, com profissionais especializados, treinados para isso. Afinal, se o cara é ruim no campo, o será em qualquer lugar. E vejo a tragédia que é sua falta no Campeonato Carioca. Não assisto a muitos jogos, me detenho mais no meu Fluminense, mas a quantidade de erros básicos é assustadora. E nem chamo de roubo, não, é incompetência mesmo. 

Antes de chegar à minha tese, gostaria de uma reflexão sobre juízes e técnicos. O sujeito rala, e muito para chegar a uma Série A. Chega no campo, como juiz, e fica olhando para ontem, perdendo jogadas óbvias. Se técnico, faz um gol e recua o time. Os erros são muito maiores, mas simbolizo nessas duas características. Um dia volto ao tema. 

Voltando às minhas ponderações sobre o VAR, vemos que algumas de suas limitações estatutárias não fazem sentido. Por exemplo: o VAR pode chamar o juiz no caso de achar que um atleta mereça ser expulso, mas não para um cartão amarelo. Porém, se o jogador faz algo que mereça um SEGUNDO amarelo, e consequentemente, a expulsão, o VAR nada pode fazer… 

Algumas pessoas, cujo raciocínio não alcanço, dizem gostar dos erros de arbitragem, pois dariam “sabor” ao jogo. Imagino que torçam para algum hipotético time que, ano após ano, receba ajuda da arbitragem. De minha parte, quero que o resultado seja sempre cristalino. 

Outro uso para o VAR é ouvir o que é dito no campo. Alguns juízes, portadores de enormes tuberosidades isquiáticas (também conhecidos como “bundões”) aceitam tudo que lhes é dito, e não fazem nada para proteger os auxiliares, os “bandeirinhas”. Simples: o VAR, ouvindo ofensas, aplica o cartão devido, no mínimo o amarelo. 

-Mas Ricardo, isso tira a autoridade do juiz de campo!

-QUE autoridade? Se o cara não toma nenhuma atitude, alguém tem que tomar. E vale para qualquer erro flagrante do juiz, em que não caiba interpretação. 

Também poderia caber ao VAR corrigir marcações erradas, como corneres ao invés de tiro de meta e vice-versa, ou laterais invertidos. Não demanda tempo, viu, marcou, acabou o assunto. Outra coisa que facilitaria a arbitragem seria acabar de vez com o carrinho. O jogador pode até deslizar para pegar a bola, mas se em qualquer momento atingir o adversário, falta. Sola, idem, é falta e sem interpretação. Isso tudo protege o craque (supondo que ainda tenhamos algum jogando por aqui), e deixa o jogo mais limpo. Cera, também, caberia a um cronometrador na cabine, incluindo os sempre ignorados 6 segundos que o goleiro tem para repor a bola. Também poderiam manter os 5 minutos de parada técnica em todos os jogos. É sempre importante dar chances ao técnico de fazer bobagem!

Profissionais poderão ponderar, porém, pontuando a pouca possibilidade de percepção de problemas presencialmente, que pode a peleja passar a pobre em pelintragens. Alguns acham que malandragem é bom. Já foi, é de uma outra época, quando piadas com pretos e gays não eram problema, quando o machismo imperava – ok, ainda impera – e os dinossauros dominavam a Terra. Precisamos de um esporte limpo, bonito, que valorize a arte e proteja o craque. E os erros vão continuar acontecendo, para os doidos que gostam deles;   nada é perfeito. 

Alguém aí tem o zap do International Board para eu enviar essa crônica para eles? E estão todos convidados para a solenidade em que eu serei reconhecido como o salvador do futebol. Vou só precisar de um fraque emprestado.

CRITÉRIOS DE ARBITRAGEM

por André Luiz Pereira Nunes


Houve um tempo em que o quadro de árbitros do Campeonato Carioca era formado por elementos indicados pelos clubes então filiados à Liga Metropolitana de Desportos Atléticos. Ainda que os times tivessem a primazia de escolha, a escalação de juízes, embora em comum acordo, se tornava um verdadeiro nó cego. Não raro, eram necessários três dias para a escolha de um juiz. Quando as agremiações não chegavam a um consenso, o encontro ficava sem árbitro. Fazia-se então a chamada “pescaria” pelas arquibancadas. As agremiações apresentavam vários nomes de cavalheiros que iam assistir ao cotejo e, quando não chegavam a um acordo, ocorria então um sorteio.

Um saudoso cronista acabou sendo vítima desse rudimentar critério de escalação. Certa feita, o ilustre Zé de São Januário estava no campo do Vila Isabel, onde se localizava o antigo Jardim Zoológico, para assistir a uma partida entre a equipe local e o Sport Club Mangueira. O juiz não havia comparecido. O presidente do Vila Isabel, Alberto Silvares, pediu então ao jornalista para que dirigisse a disputa. Ele gentilmente aceitou. Ainda que o jogo tivesse terminado em empate, a diretoria do time mandante, nada satisfeita, resolveu entregar o juiz às feras. Não às do zoológico, mas às que se encontravam na entrada. As manifestações de simpatia foram de tal natureza, que muitos adeptos do Vila Isabel, não tendo flores para jogar, atiraram pedras e guarda-chuvas no pobre cronista e dublê de árbitro por um dia. Dos braços da multidão, o infeliz foi parar na ambulância.

Anos depois, dada a grave situação da arbitragem, os clubes passaram a ser responsáveis pela atuação das partidas. Extinguindo-se o quadro, os times tiveram que indicar nomes. Para exemplificar melhor, em um jogo entre Flamengo e Botafogo, o Vasco poderia ser obrigado a fornecer juízes. Esses nomes tanto poderiam ser conhecidos do público, como serem ilustres desconhecidos. Essa fórmula logicamente fracassou. Na época do comum acordo, todos concordavam antes do jogo, mas no final do encontro o que prevalecia era o desacordo com o árbitro. 

Atualmente dispomos da tecnologia e de profissionais preparados e dedicados à função de arbitrar jogos de futebol. Porém, nada disso ao longo do tempo parece ter surtido algum efeito prático. Em 9 de janeiro, a partida entre Sport e Palmeiras, a qual terminou com a vitória dos paulistas por 1 a 0, deu o que falar mesmo após o apito final. Isso porque, aos 49 minutos da etapa final, o juiz Dyorgines José Padovani de Andrade assinalou um penal a favor dos mandantes. Contudo, após a intervenção do VAR e a ida ao monitor, a penalidade acabou anulada.

Após a partida, Augusto Caldas, diretor de futebol do clube pernambucano, insinuou que Botafogo e Vasco, dupla carioca que briga contra o rebaixamento, está sendo ajudada.

Além da insinuação, o dirigente detonou a comissão de arbitragem e o árbitro de vídeo.

– Fico imaginando onde a comissão de arbitragem e o VAR vão parar. É escandaloso. Essa falta de respeito com o Sport e com os times nordestinos nos deixa imaginar a proteção que se tem com esses clubes do Rio. No momento em que Botafogo e Vasco estão na zona, tudo começou a acontecer de uma forma no mínimo estranha, insinuou.

Thiago Neves, um dos atletas mais experientes do Sport, utilizou as redes sociais para   demonstrar sua insatisfação. O meia escreveu: ‘Seguimos sendo roubados’. Além do dirigente e do meia, o técnico Jair Ventura também criticou a decisão da arbitragem. Em entrevista coletiva, afirmou que não era a primeira vez que erravam contra o Sport, mas se conteve por conta, como ele mesmo afirmou temer, da possibilidade de ser denunciado ao STJD.

– Não é a primeira vez. Daqui a pouco, o campeonato vai passando, faltam nove jogos, agora, depois que acaba, ninguém vai lembrar dos pontos que foram tirados da gente. É triste, porque a gente trabalha para caramba. Vou seguir, ainda, sem falar de arbitragem. Posso pegar um gancho. Eu estou pendurado, não posso nem falar com o juiz. Estou com dois cartões e eu não posso largar minha equipe”, lamentou. 

AS POLÊMICAS DO VAR

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Não pode haver nada mais chato do mundo, para um adepto do futebol bem jogado, bonito e com muitos gols, do que, após as rodadas, ficar discutindo a eficácia do VAR. Pelo que li, o VAR foi utilizado pela primeira vez, no Brasil, em 2017, e sempre causou polêmica. Os especialistas das bancadas alertaram que seria preciso um tempo de adaptação e depois a reclamações cessariam, como acontece no mundo todo. Mas se esquecem que estamos no Brasil, um país que ninguém confia em ninguém e que a falta de critério impera.

Já vi bolas baterem na mão e não ser pênalti e já vi bolas baterem no ombro, com o jogador de costas, virar penalidade. Qual o critério? Os próprios comentaristas de arbitragem se enrolam nas explicações. Alguns dizem que não é função do árbitro de vídeo alertar para uma “falta” que o árbitro de campo não viu e acabou virando gol. Em alguns casos, uma falta de cartão amarelo vira vermelho depois de o VAR avisar ao árbitro. Essa é a função do VAR? Não sei. Acho que ao invés de punirem o Gatito, com sei lá quantos jogos, a CBF deveria rediscutir a função do VAR, deixar tudo mais claro. Cada lance leva um tempão para ser validado, as partidas são paradas muitas vezes e os jogadores colaboram para piorar, pois são mal educados, cercam o árbitro o tempo todo, xingam descaradamente os bandeirinhas, simulam faltas e prestam um desserviço.

O Brasil vive um momento conturbado politicamente. No Rio, vamos para o sexto governador afastado e, é óbvio, que muita gente acha que o VAR favorece os clubes em melhores condições financeiras. Esse é o pensamento. No Brasil, desconfiam da urna eletrônica, por que não desconfiariam do VAR? Claro que ninguém quer perder um campeonato com um gol ilegal. Já sofri com isso. Certamente o VAR acusaria falta de Marco Antônio no goleiro Ubirajara, na final do Carioca, de 71. O gol de mão de Maradona também seria anulado. Mas, quer saber? Se eu fosse a FIFA acabaria com essa chatice de impedimento.

O futebol seria muito mais divertido, com muitos gols e a torcida feliz da vida! Prefiro mil vezes um 5×4 do que um 0x0 covarde. Sem falar que a vida útil de um centroavante chegaria a uns 50 anos! Se o Fred fez um gol no Vasco, da intermediária, imagina se não tivesse impedimento? O futebol brasileiro tem que voltar a ser uma grande pelada e o “banheira”, enfim, terá seus dias de glórias e o merecido reconhecimento! Em tempo, se não bastassem os chavões, ouvi em uma mesa redonda que Mano Menezes está cotado para assumir o Corinthians em caso de demissão de Tiago Nunes e o plano B é Felipão! Tive que mudar de canal depois dessa!

NO ESPORTE, EMOÇÃO É MAIS IMPORTANTE QUE JUSTIÇA

por Wilker Bento


Pierluigi Collina é considerado o maior árbitro de todos os tempos. O italiano apitou a final da Champions League de 1999 e da Copa do Mundo de 2002, entre outros jogos importantes. É o único juiz que já foi garoto-propaganda de um jogo de videogame, o Pro Evolution Soccer 4. Sua careca inconfundível tornou-se um ícone.

Em 2006, perguntado em uma entrevista sobre os segredos de um bom juiz de futebol, Collina afirmou: “O árbitro não pode ser sábio. Deve ser impulsivo. Deve decidir em três décimos de segundo”.

Pouco mais de uma década após a aposentadoria de Collina, parece que esse princípio básico foi esquecido. O árbitro de vídeo transforma uma simples decisão em uma odisseia interminável. E a troco de quê? As polêmicas continuam, as suspeitas em relação a idoneidade do processo só crescem e falhas ocasionais continuam ocorrendo, pois o VAR é um instrumento e a decisão sobre os lances é sempre tomada por seres humanos. E humanos, naturalmente, erram.

Até agora, o único legado do VAR para o esporte bretão têm sido transformar partidas ruins em intragáveis. Com o nível técnico do futebol brasileiro lá embaixo e os estádios silenciosos por causa da pandemia, o árbitro de vídeo é a última pá de cal em um esporte outrora emocionante. Porque, afinal, o torcedor não tem mais o direito de comemorar em paz o momento mais importante: o gol.

A frustração de comemorar um gol e depois perceber que não valeu é algo que sempre existiu. Muitas vezes vimos jogadores gritarem, tirarem a camisa, irem pra galera, e depois saberem que estavam em impedimento. Acontece.

Mas o VAR inventou o contrário: o gol sair e, mesmo assim, todo mundo ter que ficar esperando a confirmação do árbitro, espera essa que não raramente se estende por minutos. É brochante, um balde de água fria.

Lógico, sempre vamos lembrar do título que o nosso time poderia ter ganho em 1900 e chacrinha se o VAR existisse na época e o árbitro da ocasião pudesse ver o lance várias vezes. Mas todo time também já foi ajudado por erros de arbitragem, e essa possibilidade de ganhar ou perder um campeonato de forma suspeita nunca atrapalhou nossa paixão pelo futebol.

Isso porque é a emoção que torna o esporte apaixonante, e não a justiça. Embora o futebol envolva muito dinheiro e investimento dos profissionais, é no fundo uma grande brincadeira que precisa ser divertida para existir. Ninguém vai pegar prisão perpétua ou pena de morte se um juiz tomar uma decisão errada, diferente do que acontece num tribunal de justiça comum. Estamos falando da coisa mais importante entre as menos importantes.

Por isso, discussões a respeito de mudanças nas regras do futebol devem levar em conta a emoção que move a paixão do torcedor. Não basta simplesmente ser justo – e já deu para perceber que o VAR não será o responsável pela implementação dessa justiça nem pelo fim das polêmicas.

A tecnologia é bem-vinda, mas precisa ser bem aplicada para a realidade de cada esporte. O futebol tem uma dinâmica própria, assim como o vôlei, o basquete, o boxe, etc. Se a política do árbitro de vídeo não for repensada, o resultado será um futebol moribundo e sem graça.