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Tita

NO MEIO DO CAMINHO EXISTIA UMA PÉROLA

por Eliezer Cunha


Milton Queiroz da Paixão, mas conhecido como Tita. Não sei o que liga o nome ao apelido, mas, isso pouco importa. O conheci frequentando a geral do mágico Maracanã. Entrava sempre no segundo tempo ainda muito jovem em jogos sem maior expressividade. 

Destacava-se pela sua inteligência e o potencial na habilidade no cabeceio. Presenciei um dos seus gols cabeceando abaixo de meio metro de altura. Fã incondicional de Zico, queria um dia substitui-lo. Honrar a camisa dez do time rubro-negro. Lutou para isso, se sacrificou para essa missão, mas, apenas e somente tinha uma pérola no seu caminho, ele, Zico, o maior ídolo da história do Flamengo. 

Sujeitou-se a trabalhar em qualquer posição e por isso chegou à Seleção Brasileira. De ponta esquerda a ponta direita o fez com carinho e merecimento. Recusou-se até em ser convocado para a seleção por não atuar como ponta de lança. Subiu dos juniores em uma época de Carpegiani, Adílio, Zico, Andrade e Júlio César.


Lutou contra as feras, mas aguardava um lugar ao sol e a camisa 10. Entretanto o destino lhe aguardava uma missão: a final do Campeonato Carioca de 1979. Zico, a pérola, estava lesionado e não podia participar do grande jogo com o maior rival da década o Clube de Regatas Vasco da Gama. A torcida aflita estava apreensiva, sem Zico e com Roberto Dinamite do outro lado o que será de nós? 

Tarde de Domingo, ele finalmente era a camisa Dez de seu ídolo e em um jogo alucinante comanda a vitória do Mengão por 3X2. Sendo dele o gol e que, mas uma vez por cabeceio quase fora da área após um levantamento de Toninho venceu as garras do goleiro Leão. 

Seguiu seu caminho em outros clubes como Vasco e Grêmio obtendo sucesso em sua carreira, mas, a poderia ter sido diferente e com mais êxito se não houvesse uma “perola” em seu caminho.

O CRAQUE QUE JOGAVA PARA O TIME

por Serginho 5Bocas


Final do segundo turno do Carioca de 1977, FLAMENGO X VASCO, a rivalidade estava começando a ficar “nervosa” e se transformando no clássico dos milhões.

Depois de um jogo tenso, foram para a decisão por pênaltis e me lembro que todos foram convertendo até chegar a vez do quarto batedor rubro-negro que era ninguém menos do que Tita, um garoto recém saído do juvenil que todos apostavam como o sucessor natural de Zico.

Tita era o camisa 10 titular nas divisões de base e vinha sendo aproveitado nos profissionais com êxito, o que se comprovou com a escolha dele, um garoto de 19 anos, para bater um pênalti decisivo na final do turno.

Tita bateu e Mazaropi voou no canto e pegou. Ainda faltavam cobranças de Zico e Roberto, só que ninguém perdeu mais e o Vasco foi o campeão carioca. Tristeza no vestiário que poderia representar o final de uma carreira promissora de um garoto mal aproveitado.

Só esqueceram de combinar com Tita, pois já no ano seguinte se firmaria como um falso ponta tanto pela direita quanto pela esquerda, titular absoluto do Mengão e substituto do “Galinho” toda vez que este se contundia ou servia a seleção brasileira.


Tita era um jogador que diziam naquela época ser “moderno” – a imprensa adora falar isso – pois fazia ás vezes de ponta bem aberto quando o time tinha a posse de bola e voltava para marcar, fechando o meio e ajudando o lateral, uma raridade até nos dias de hoje, imaginem no final dos anos 70. Mas não se engane, não era um garotinho frágil, muito pelo contrário, não fugia de cara feia nem de pancadas e chegava duro nos adversários também, tanto que foi peça fundamental para o Flamengo e o Grêmio vencerem suas Libertadores, torneio mais importante das Américas, que infelizmente não basta ter futebol para vencê-lo.


Tita foi tendo atuações de gala, pois além de marcar muito bem, passava com muita precisão, sabia cruzar com perfeição cirúrgica e fazia gols, muitos gols, gols de cabeça, com o pé direito e o esquerdo, de falta e sempre com muita categoria. Foram mais de 300 gols em toda sua carreira, só no Flamengo mais de 100, marca considerável se levarmos em conta que ele não era centroavante e nem sempre jogou de ponta de lança, próximo ao gol, como gostava mais.

Tita começou a ser convocado por Claudio Coutinho em 1979 e depois por Telê durante a preparação para a Copa do Mundo de 1982. Foi compondo o elenco e, quando finalmente entrou no time, não saiu mais até seu derradeiro fim da linha com Telê.

Telê gostou de Tita logo de cara, porque ele era exatamente o que o treinador procurava e gostava. Tita não era chegado a uma noitada, era disciplinado, extremamente técnico e muito talentoso nos cruzamentos e nas finalizações, polivalente, e econômico nos dribles, o que mais Telê poderia querer?


Vieram as Eliminatórias nos meses de fevereiro e março de 1981 e Tita arrebentou, virou titular a partir do segundo jogo e chegou a marcar dois gols contra a Venezuela, e isso jogando de ponta direita, o cara estava voando baixo, o que podia dar errado? Deu…

Tita tinha uma predileção pela posição de Zico e depois que percebeu sua importância naquele grupo, talvez o sucesso precoce tenha “subido a cabeça” e aí ele jogou todas as suas fichas numa disputa por aquele lugar e se deu mal. Tanto no Flamengo quanto na seleção brasileira, perdeu espaço e visibilidade, pior ainda, perdeu a chance de entrar para a história fazendo parte de um grupo maravilhoso em que provavelmente teria lugar de destaque, o que fazer se a ideia partiu dele?

Tita perdeu espaço mas continuou sua carreira em alto nível. Foi emprestado ao Grêmio e venceu a Libertadores da América de 1983, só não disputou a final do Mundial Interclubes porque voltou ao Flamengo após a venda de Zico para a Itália.

Tita não deu certo na volta ao Flamengo, foi para o Internacional também sem muito brilho e depois no Vasco arrebentou. Jogou tanto que foi comprado pelo Bayern Leverkusen da Alemanha, jogou ainda na Itália e no México.


Tita jogava muita bola e jogava para o time, se estivesse no grupo de 82 acredito que o Brasil poderia ter feito papel melhor ainda e ele seria figura importantíssima naquela máquina. Ajudaria Leandro na marcação e ainda seria opção na direita quando subíssemos ao ataque, mas por opção sua teve seu ocaso na seleção “lamentável” do Lazaroni na Copa de 1990, quando ficou no banco de reservas de um grupo que decepcionou o país com atuações muito aquém de nossas tradições.

Tita foi fera, craque de alto nível, mas perdeu o bonde da felicidade que passou bem ali na sua frente e apesar de todo o sucesso que fez no futebol, não teve o seu real tamanho reconhecido na história, uma pena!