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Sub-19

OS HERÓIS DE 83

texto: José Dias | entrevista: Iata Anderson e Sérgio Lobo | vídeo: Rodrigo Cabral

A equipe do Museu da Pelada teve a honra de participar da comemoração dos 33 anos da conquista inédita do mundial sub-19. Em uma resenha muito divertida numa churrascaria do Rio de Janeiro, os “heróis nacionais” não escondiam a felicidade por reencontrar os companheiros com os quais fizeram história em 1983, no torneio disputado no México.

O supervisor José Dias, o técnico Jair Pereira, os preparadores Antônio Mello e Ismael Kurtz, o volante Demétrio, o lateral Jorginho e o ponta arisco Paulinho marcaram presença no encontro, que contou ainda com o grande jornalista Iata Anderson, responsável pela cobertura daquela competição. O título de 1983 encerrava um jejum de 13 anos sem conquistas mundiais. A última havia sido em 1970, quando a seleção principal encantou o mundo e Carlos Alberto Torres, o Capitão do Tri, levantou a taça.


Da esquerda para a direita: Jorginho, José Dias, Demétrio, Jair Pereira, Antônio Mello, Paulinho, Ismael Kurtz e Sergio Pugliese

Antes do mundial, no entanto, a equipe comandada por Jair Pereira já havia feito história na Bolívia, onde os craques brasileiros venceram o também inédito Campeonato Sul-Americano. O segredo dessa equipe, segundo José Dias, estava na organização e na preparação. Embora contasse com muito menos profissionais do que a de hoje em dia, aquela delegação organizou uma logística de dar inveja a qualquer seleção, o que foi fundamental para o êxito.

Confira o relato detalhado do supervisor José Dias sobre a preparação do grupo campeão:

“Puxa vida! Conseguimos!

Com um gol de Geovani, de pênalti, no dia 19 de junho de 1983, no Estádio Azteca, na Cidade do México, contra a seleção da Argentina, a delegação da seleção brasileira pôde, finalmente, bradar com todas as forças que lhe era permitida, as exclamações acima – era o coroamento de um trabalho que teve seu início em abril de 1981, com a participação da Seleção Juvenil, no XXX Torneio de Cannes, na França.

O Planejamento elaborado para a participação no III Campeonato Mundial Juvenil da FIFA – Taça Coca-Cola foi calcado na experiência adquirida em participações anteriores, que reportam ao ano de 1976, quando começamos os preparativos para o I Campeonato Mundial, que seria realizado na Tunísia, em 1977. É de se salientar que esta competição é realizada de dois em dois anos e precedida, sempre, de uma fase classificatória que é o Campeonato Sul americano “Juventude da América”.

DESENVOLVIMENTO DO PLANEJAMENTO

Em 1981 – Junto com os preparativos da seleção de juniores para o Mundial na Austrália, iniciamos os trabalhos previstos no planejamento com a convocação de dezenove jogadores, visando à participação no XXX Torneio de Cannes, com a seleção juvenil. É de se salientar que dos convocados, apenas três conseguiram ir até o final do ciclo. Foram eles: Brigatti, goleiro da Ponte Preta; Aloisio, zagueiro do Internacional, e Geovani, meio campo da Desportiva.

Era um trabalho de pesquisa intensa e buscávamos o melhor.


O ponta-esquerda Paulinho entortando a defesa argentina

Prevíramos, também, que com a participação nos diversos torneios e jogos amistosos, faríamos com que obtivessem experiência internacional e que fosse criado o “espírito de seleção”. O sacrifício, a renúncia, a saudade, tão comum nesta faixa etária, com certeza fortaleceriam o caráter, somados aos aspectos que os tornariam atleticamente e socialmente aptos. A reunião destes valores daria a eles todas as condições para que obtivessem o êxito. O objetivo principal, nesta fase, era o de buscarmos os jogadores que melhor se enquadrassem no “Espírito de Seleção” e, os resultados não eram prioritários.

No período compreendido entre 15 e 29/11/81, a seleção excursionou ao norte do país, jogando no Acre, Rondônia, Roraima e Amapá, contra adversários adultos, embora amadores. Estes jogos foram programados para que pudéssemos avaliar o comportamento de novos jogadores, já que, em janeiro de 1982, participaríamos de um torneio em Moscou, de elevado índice técnico. Nesta etapa, dois jogadores se juntaram aos três primeiros que foram ao Mundial: Hugo, goleiro do Atlético Goianiense e Demétrio, meio-campo do Campo Grande, aumentando para cinco os escolhidos.


Artilheiro e melhor jogador do torneio, o craque Geovani exibe seus troféus

Em 1982 – Do dia 06 a 14/01/82, a seleção participou do Torneio Granatikan Memorial, em Moscou, a primeira experiência forte a que o grupo foi submetido. Muitas dificuldades foram encontradas, a começar pelo clima (inverno rigoroso, com a temperatura média em torno de 18 graus negativos).

Dando continuidade ao planejado, a seleção passou a participar de um ou dois jogos por mês, até o início de novembro. Estas partidas foram realizadas em Recife, Petrópolis, São Paulo, Londrina, Curitiba, Vitória, Cuiabá, Goiânia e Campinas, contra seleções de jovens dos estados, equipes profissionais e Seleção de Juniores do Paraguai.

Depois desses amistosos, mais nove jogadores passaram a integrar o grupo que seria campeão mundial no México: Boni, zagueiro do São Paulo; Adalberto, lateral do Flamengo; Dunga, meio-campo do Internacional; Guto, zagueiro do XV de Jaú; Mauricinho, ponta-direita do Comercial/SP; Marinho “Rã”, atacante da Portuguesa Paulista; Regis, meio-campo da Ponte-Preta; Bebeto, meio-campo do Vitória/BA e Heitor, lateral da Ponte-Preta.

De 29/11 a 03/12/82, a seleção participou da Copa Atlântico Sul, no Paraguai. Para este torneio, foi convocado o jogador Paulinho, ponta-esquerda do Fluminense, aumentando para quinze o número dos efetivos no Mundial.

Em 1983 – O primeiro estágio foi cumprido com a participação no X Campeonato Juventude da América, realizado na Bolívia, no período de 22/01 a 13/02/83, quando a seleção se classificou, sendo campeã do torneio sul-americano – título inédito. Na equipe, foram incluídos: Jorginho, lateral direito do América/RJ e Gilmar, meio-campo do Flamengo. Já eram dezessete.


Grupo campeão sul-americano sub-20 de 1983, na Bolívia  

O segundo estágio teve seu início em 17 de março de 1983, quando começou a série de sete amistosos no Brasil e no México, antes do início da participação no Mundial, iniciado em 4 de junho daquele mesmo ano, na cidade de Guadalajara, no México.

Para fechar a lista dos 18 jogadores, foi convocado Sidney, ponta-direita do São Paulo, que se juntou aos dezessete, aos membros da Comissão Técnica e Dirigentes, para que no dia 19 de junho de 1983, no Estádio Azteca, na cidade do México, pudéssemos exclamar:

“PUXA VIDA! CONSEGUIMOS!”

DIFICULDADES – Ao passar os olhos pelo histórico transcrito até agora, muitos podem imaginar ter sido fácil o caminho percorrido, do primeiro ao último dia desta jornada. Muitos países foram visitados, com seus usos e costumes diferenciados; estados e cidades de nosso país; povos e civilizações, que ao mesmo tempo causavam espanto, curiosidade e admiração; a saudade que sentiam os ainda jovens que nunca haviam saído de suas casas; a ansiedade num futuro que não sabiam se seria promissor ou que lhes traria decepções (verificamos este sentimento várias vezes); a dúvida em saber se deveriam ou não continuar na seleção, tendo em vista o aliciamento ostensivo de figuras que desejavam tirar partido da potencialidade de cada um (comportamento combatido de forma intensiva); as diferenças existentes entre os jovens jogadores – “uns sérios, outros nem tanto” – alguns mais ou menos educados, não invalidaram, no entanto, a técnica inata de cada um.

Alguns deram algum trabalho, porém, com a filosofia imposta de “liberdade com responsabilidade”, não tivemos nenhum problema mais sério que merecesse registro.

Acreditamos que prevaleceu o “Espírito de Seleção” e um dos fatores que certamente contribuiu para que o trabalho fosse coroado com a conquista foi a composição da Comissão Técnica que, praticamente, acompanhou todo o trabalho, desde seu início: treinador Jair Pereira, preparadores físicos Antônio Mello e Ismael Kurtz, Doutor José Fernandes, massagista Paulinho e o já falecido roupeiro Antônio Loureiro, que deixou muitas saudades.

Todos altamente qualificados, cada um em sua função. Não basta ser um excelente profissional tecnicamente. É necessário que as qualidades morais sejam impecáveis para que sejam considerados excelentes profissionais. Os relacionados acima sempre foram!

CONCLUSÃO – Planejamento criteriosamente elaborado. Jogou-se no nível do mar e a 3.600 metros de altitude. Não se buscou resultados nas fases de preparação e sim o aprimoramento moral-físico-técnico-tático, que definem o verdadeiro atleta e a verdadeira equipe.

Acreditamos que todos os objetivos foram alcançados.”