Após duas derrotas seguidas, o Vasco da Gama voltou a vencer em São Januário para a alegria de Carlos Vilela Dos Santos, o “Homem Peruca”! Presente em todos os jogos no Rio, ele é um dos torcedores mais tradicionais do clube nos últimos anos. Confira a resenha do vascaíno com a equipe do Museu da Pelada e saiba mais sobre ele!
Sergio Pugliese
COCADA, O CARA
por Sergio Pugliese
O entregador da farmácia, atrasado, deu uma freada na esquina da Constante Ramos com Domingos Ferreira, em Copacabana, e perguntou para um rapaz, na calçada, com um copo de cerveja na mão, se o cara sentado, de bermuda, resenhando com amigos, no Belo Bar, era o Zico.
– Ele mesmo!
– Peraí, é o Zico sentado ali, o Galinho de Quintino, e você fala “ele mesmo” como se fosse um parceiro normal de pelada?
– Sempre que o Cocada chama ele vem….
– E quem é o Cocada?
– O do Chelsea!
– Chelsea!!!! Tem alguém do Chelsea aí no boteco? Cocada? É o apelido do William?
– Chelsea, futebol de praia. O Cocada é o cara da praia, já ganhou tudo e tem moral com a rapaziada.
– Caraca, qual deles é o Cocada, ali? – perguntou apontando com a cabeça para a resenha.
– Aquele, sem camisa ali, no meio da resenha.
– Moral mesmo, hein!
– Jogava muito?
– Deitou e rolou, mas se quiser ver é só ir domingo, no Posto 4, às nove. Sempre joga e leva convidados. Dessa vez, chamou o Zico.
– Chamar todo mundo chama, o problema é ir.
– Mas, ali, na mesa também estão Magal, Júnior Negão, Neném, Chumbinho, só lenda da praia.
– Peraí, parceiro, lenda é o Zico! Cara, esse cara foi campeão do mundo pelo Flamengo, jogou na seleção de 82, a mais foda de todas, e tá sentadinho num boteco de Copacabana. Só no Rio! Mas o Galo jogou na praia?
– O time dele ganhou de 8 a 6 e ele meteu seis!
– Tá de sacanagem? Cocada jogou com ele?
– Cocada, Pato, Dime, Renatinho, Júnior Negão, Tom, Gama e Magal, seleção!
– E outro era bom?
– Neymar….
– Sério que o Neymar veio????????
– Não!!!! Kkkkk!!!! É apelido! Neymar, Enzo, Neivaldo, Betinho, Luciano, Chumbinho, Alberto Neném e Gilmar Popoca.
– Esse Gilmar Popoca não foi 10 no Fla?
– Ele mesmo!
– Porra, esse Cocada é foda, hein! – disse, antes de partir, atrasadíssimo, para mais uma entrega.
O TRATOR
por Sergio Pugliese
Zé Neto sempre foi determinado, tinhoso, cabeça dura e aos 16 anos cismou de transformar um terreno baldio de Santa Teresa num campinho de pelada. Pediu uma força ao administrador regional do bairro, que deu ok na liberação do espaço, mas esquivou-se da limpeza e terraplanagem. Mão de obra não faltava, afinal peladeiros unidos são capazes de tudo!!! Mas só um trator seria capaz de remover tanto entulho. Onde conseguir um trator? Zé Neto lembrou-se que sempre via vários nas obras de demolição do Morro de Santo Antônio, onde hoje é a Avenida Chile, Petrobras e Catedral Metropolitana.
– Um dia parei ao lado de um tratorista e perguntei quanto custaria uma fugidinha em Santa Teresa – divertiu-se, em nossa resenha, no Bar do Gomes, em Santa Teresa.
E teve um maluco que topou! Durante 15 dias, ele e Zé Neto, de carona, subiam as ladeiras estreitas do bairro até o futuro campinho. A cena divertia os moradores, mas o terreno foi limpo e a arena de terra batida inaugurada meses depois!!! Óbvio que, após tanto esforço, conseguir autorização para jogar no campo era uma árdua tarefa. E a fila era grande!!!! Como só o time de Zé Neto tinha regalias, mandava e desmandava nos horários, ele e os parceiros de panela, Albino e Otávio Carneiro, Briguilim e Aloísio Ribeiro Aguiar, foram batizados de Política Futebol Clube. Mas a ideia era agregar e logo iniciaram-se memoráveis campeonatos envolvendo Morro dos Prazeres, de Robô e Ancelmo, Morro da Coroa, de Macumba, Largo do Guimarães, de Tutuca e Wanderley, Paula Mattos, de Jaburu, Áurea, de Erivan, e Beco Ocidental, de Almir e Taba.
– Aquele campo marcou época! – suspirou Zé Neto.
Tempo bom!!!! O campinho virou a Praça Odylo Costa Neto, com área de lazer e uma quadra de salão, de cimento. Zé Neto, hoje com 65 anos, foi meu primeiro vizinho e, da porta de casa, na Rua Constante Jardim, sempre via o fominha correndo para as peladas ou praticando “cooper”. Disposição de touro e fama de odiar derrotas. Após me mudar para vários endereços do bairro, perdi o seu contato e fui reencontrá-lo, carequinha da Silva, na pelada dos 80 anos de Armando Pittigliani, o Pitti, no Clube dos Trinta, em São Conrado. Esbaforido, suado, saía do campo com passos rápidos, como se não tivesse jogado. “Não acredito que seja o Zé Neto?”, brinquei. Carinhoso, me levou a um a um dos convidados de Pitti para dizer que me vira molequinho. E bastaram alguns minutos para eu descobrir que a cabeça raspada, além de herança familiar, era fruto do tratamento para frear o câncer de próstata. Dois meses antes enfrentara a décima operação e já estava em campo novamente. Monstro!
– Sempre fui maratonista e por conta disso superei grandes dificuldades – revelou.
Não pude ficar muito tempo na festa do Pitti e marcamos um encontro para a semana seguinte, em Santa Teresa, onde ele mora até hoje. Papo ótimo, mas seriam necessárias várias colunas para registrar o histórico de peladeiro do engenheiro José Alves Ferreira Neto, que começou aos 11 anos na seleção do colégio São Bento, passou pelo Lagoinha, de Giba e Alexandre, Capri, de Hugo Aloy, Nelsinho, Nilo, Cláudio Bocão, Augusto, José Santoro e Xanduca, e Santa Teresa F.C., do Seu Miguel, que lotava de torcedores o campo 8 do Aterro, nas manhãs de domingo. E ainda teve o timaço da Serpro, com Luiz Mário Griner, Sergio Guerreiro e Alair, campeão de um torneio empresarial em cima do IBGE. E a seleção da Faculdade Santa Úrsula, campeã carioca universitária, e o Petropolitano, do goleiro Ricardo Bronze, mais ASBAC, PUC, Monte Líbano, Piraquê, Clube dos Trinta, de Jayme Lima, e Caiçaras, de Joca, Gilberto Dentista, Jean Jaques, Sérgio Aquino e o saudoso Vitinho.
– A morte de Vitinho, meu grande amigo, me quebrou, me desestruturou emocionalmente – recordou, emocionado.
Mas Zé Neto reergueu-se. Desde os 51 anos, quando o câncer foi descoberto, ele vem se reerguendo. Mas a primeira operação foi devastadora. Emagreceu 30 quilos e amigos preconceituosos afastaram-se imaginando tratar-se de Aids. Começou a beber e decidiu separar-se de Celina, após 21 anos de casamento, mais os oito de namoro, com quem teve os filhos Patrícia e José Alves. Tinha certeza de que morreria, delirava, sofria. O oncologista Emílio Karan acompanhava de perto e participou de quase todas as cirurgias.
– Minha família sempre manteve-se perto, mas minha cabeça estava horrível – comentou.
Mas um dia, Zé Neto recorreu aos momentos de glória da infância e resgatou o trator, a máquina que afastou escombros, limpou o terreno e o ajudou a realizar seu sonho juvenil. Então, assumiu a direção e buscou uma força sobrenatural para animar-se, levantar-se da cama, sacudir a poeira e dar a volta por cima. As dores na coluna eram insuportáveis e incontáveis vezes caiu no chão, fraco. Mas Zé Neto nunca gostou de perder, se curvar aos adversários, e não seria no momento mais crítico da vida que entregaria os pontos. Na rua, encontrou o parceiro Xanduca, que o intimou a voltar a jogar. Zé Neto animou-se e foi rever a pelada dos amigos do Capri. Revigorante! Os parceiros!!! A bola!!! Alguns meses depois, o furacão Zé Neto estava de volta! Nunca mais deixou os campos. Apaixonou-se pela cuidadora Tiana, com quem está casado há quatro anos, recuperou a auto estima, o amor no coração, o prazer de viver. A próxima operação está marcada, a próxima pelada também.
XÔ, CERVEJA!!!
Seguindo o programa “Xô, cerveja”, o Museu da Pelada, em parceria com o Projeto Facão, apresenta o quarto treino de recondicionamento físico! Dessa vez, Guido Ferreira comandou uma atividade para o volante Charles, ex-Cruzeiro e atualmente companheiro do camaronês Samuel Eto’o no Antalyaspor Kulubu, da Turquia.
Com muita disposição, o craque suou a camisa no trabalho realizado nas areias da praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. A atividade exige muita concentração, força e agilidade, além de trabalhar a coordenação motora do atleta.
Charles está aproveitando as férias no Brasil para aprimorar a parte física e voltar para a Turquia com muita disposição! O que você está esperando? Ainda dá tempo de recuperar o tempo perdido! Sábado que vem tem mais dica!!
PARABÉNS, PADRINHO!!!
por Sergio Pugliese
Não tem jeito, a relação de PC Caju com a torcida é de amor e ódio. Amor porque semeou sua arte por onde passou e ódio porque brigou por seus direitos, chutou o balde na mesma proporção do que a bola, viu o fundo do poço mas não gostou, reergueu-se e fez careta para quem duvidava disso. Pintou o cabelo antes de qualquer um, vestia-se com roupas extravagantes e também gostava de carrões. Mas amava o futebol acima de tudo e dedicava-se como poucos aos treinamentos.
Foi astro da Selefogo e da Máquina Tricolor, também levantou alguns canecos pelo Mengão e foi campeão do mundo pelo Grêmio. No Vasco foi vice, mas orgulhou-se de vestir o manto cruzmaltino principalmente por sua bela história contra o racismo. E tinha Pintinho, no meio-campo com ele. É idolatrado na França e uma vez por ano é convidado, por amigos, para passar umas semaninhas lá, gastando o seu francês!
“Chupou laranja com quem?”, costuma perguntar. “Cantou o hino nacional quantas vezes?”, provoca. E essa provocação é perturbadora para alguns, mas encantadora para quem o conhece de perto, como nós do Museu da Pelada! Atualmente, temos a honra de receber regularmente crônicas divertidíssimas desse cracaço para a seção Resenha! Caju é puro, chora fácil e não tolera injustiças. Caju é o cara! Ah, esquecemos de dizer que ele foi campeão do mundo na Copa de 70, na melhor seleção da história do futebol.
Negão, pode tirar sua onda porque você merece!!!!!!!