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Sergio Pugliese

ESPECTADOR PRIVILEGIADO

por Mauro Ferreira


Fominha, Mauro Ferreira não desgruda da bola (Foto: Claudio Duarte

Lá na serra carioca de Santa Teresa, os campinhos de pelada eram muitos. Curvelo, Frei Orlando, Paula Mattos, Rua Áurea. Apesar deles, a bola também rolava nas ladeiras, como a da Eduardo Santos, mesma rua da Escola Santa Catarina. Lá, a baliza ficava na calçada. Delimitavam o gol, de um lado as paredes e muros das casas e vilas; do outro, os postes de iluminação. O “gramado” tinha três tipos de textura: cimento rala-coco, asfalto e paralelepípedo.

Rua bem inclinada, dominar o “courinho” era tarefa difícil. Menos para quem jogava morro acima, é verdade. A gravidade corrigia os lançamentos, os passes mais longos e os caneleiros com pouca intimidade. O time morro abaixo suava para controlar a pelota e frear a desabalada carreira. Kichutes e Bambas sofriam. Invariavelmente rasgavam e expunham os dedões – sempre eles – a contatos doloridos com o piso “irregular”.

Assim eram os fins de dia. A turma da escola da manhã se juntava com a da tarde. A bola esfolada, gomos descascando, esperava os dois par-ou-ímpar. O primeiro, para escolher os times; o segundo, para determinar quem jogava sentido arriba, quem sofria morro abaixo. As lamparinas dos postes de luz da Eduardo Santos eram os refletores do “estádio”.

Alguns dos moleques, cujos tênis eram calçados de dia inteiro, jogavam descalços. Sim, descalços. Sabe-se lá por que cargas, eram os melhores. Colô era um deles. Mário, o outro. Um, louro de olho azul, cabelo liso e comprido, sorriso farto, cuja principal característica era coçar a ponta do nariz com a ponta da língua. Morreu cedo, o Colô. Acidente mal contado, história incerta. Mário, mulato de cara emburrada, cabeça maior que o corpo, sempre disposto a sair na porrada. Mário, mais tarde, virou bandido. Apareceu de óculos rayban mequetrefe, muito tempo depois, exibindo um “trezoitão”. Não demorou muito, foi em cana e sumiu de vez.


Cria de Santa Teresa, Sergio Pugliese bateu um papo com Claudio Duarte e Mauro Ferreira

Os outros moleques eram os outros moleques. Coadjuvantes dos dois craques. Eles, que jamais jogavam no mesmo time, discutiam a valer, mas inseparáveis quando o jogo encerrava com os assobios e gritos de pais e mães, chamando os filhos para o banho e a janta. Mesmo descalços, quase nunca esfolavam os dedos, tamanha habilidade. Jogar contra ou a favor da gravidade, pouco influenciava no trato carinhoso da maltratada gorducha. E ela agradecia. De tão gasta e tantas vezes recosturada, já quase expunha a câmara de ar, mas reinava doce nos pés dos dois.

Até que surgiu o Campinho. Dos escombros de um cortiço ergueu-se um monumental terreno baldio, espaço adequado para que se cravasse duas traves com redes de barbante e um piso sem efeitos gravitacionais (nem tanto, mas bem menos) e de textura única: o bom e macio barro amarelo. É justo contar que havia algumas pedrinhas para uma adaptação mais rápida. O barranco da travessa Fluminense servia de arquibancada para os grandes eventos. E lá, nesse campo, Mário e Colô passaram a jogar juntos, no time da Eduardo Santos, vice-campeão do famoso torneio da Frei Orlando. Era um time quase imbatível com os dois. Quase. O goleiro era uma porcaria e dias antes da decisão, caiu da bicicleta, ralou joelhos e cotovelos e, mesmo assim, foi jogar a final. Se já era ruim, sem mobilidade foi um desastre total. Derrota anunciada.

O Campinho fez morrer as peladas da ladeira, das bicudas nos paralelepípedos e até ele próprio morreu, quando o Jornal O Dia comprou o terreno baldio e transformou o local em garagem e oficina da frota de fusquinhas. Até a garagem acabou morrendo. Hoje, nada lá funciona. Poderia voltar a ser o Campinho. Poderia. Morreria adiante também. O tempo apaga tudo. Mário e Colô, craques que eram, estão vivinhos da Silva na memória de um espectador privilegiado do futebol peladeiro de ambos: eu, o goleiro do time da Eduardo Santos.

CAPITÃO DO TRI!

vídeo: Rodrigo Cabral

No Dia Nacional do Futebol, nada mais justo do que um papo com um dos jogadores mais importantes do Brasil. Trata-se de Carlos Alberto Torres, o Capitão do Tri! Considerado um dos maiores laterais da história, o craque bateu um papo divertidíssimo com Sergio Pugliese e contou como foi seu início nas peladas, na Vila da Penha, e no seu primeiro clube, o Fluminense.


O talento fora do normal, ainda na infância, chamou a atenção dos amigos mais velhos, que o convidaram para fazer parte de um dos melhores times da Vila da Penha. A partir daí, o jogador deslanchou e chegou ao auge quando levantou a taça da Copa de 1970, no México, com uma seleção considerada por muitos como a melhor da história!

Atualmente, Carlos Alberto Torres é comentarista dos programas da Sportv. De acordo com o ex-lateral, os estádios vazios são resultado da carência de ídolos no futebol brasileiro e, principalmente, carioca.

A TURMA DO MARINHO

texto: Sergio Pugliese | fotos: Reyes de Sá Viana do Castelo

Gerson, o Canhotinha de Ouro, fez um carnaval na defesa, driblou o goleiro-paredão Gil Rios e deixou o saudoso João Sergio com a missão de apenas empurrar a redonda para o gol, mas, vai entender, o chute possuído por algum efeito sobrenatural fez a coitadinha da bola mudar totalmente a direção e mergulhar nas águas da Praia de São Francisco. O campeão do mundo de 70 gritou “é brincadeira!”, jogou a camisa no chão e despediu-se: “Nunca mais volto aqui”. Mas quem consegue? Na semana seguinte lá estava ele, no Praia Clube, em Niterói, animando a resenha com o seu pandeiro, na companhia de Jair Marinho, outro campeão mundial, e de incontáveis amigos. Nossa equipe entendeu perfeitamente a quebra de palavra do ídolo. Não dá para ficar longe dessa rapaziada, turma do bem, liderada pelo engenheiro Edgar Chagas Muniz!! São dezenas de doidos que esbanjam felicidade, autênticos malucos-beleza que adoram estar juntos.


Jair Marinho beijando Edgar Muniz, organizador da pelada do Praia Clube, em Niterói.

– Babalu, desce mais uma!!!! – berrou Shubert. 

No dia de nossa visita a casa estava cheia, mas Babalu, o garçom, deu conta do recado. Na verdade, ali a casa está sempre cheia! O salão reunia quase 70 jogadores, uma grande família!!! A turma tem até jornal, O Racha, editado por Edgar, que também é mestre de cerimônias, fundador da pelada, artilheiro e violonista dos bons! O evento foi de alto nível! Estavam alguns presidentes do clube, como Henrique Miranda Santos, e o primeirinho de todos, quando a história começou há 32 anos, Onofre Bogado. O Praia Clube era apenas um quiosque no meio do nada e hoje seus fundadores Edgar, Fabiano, Cesar Maia, Huguinho, Nelson, Gil Rios e Ney Vargas mostram orgulhosos cada espaço construído, com destaque para o porrinhódromo e, claro, o belo campo soçaite, de grama sintética, onde todas às noites de quinta-feira, os veteranos craques viram crianças. 

– Nosso lema é Saúde, Paz, União e Força no Vergalhão! – gabou-se o analista jurídico Cesar Maia. 

Disposição realmente não falta ao grupo. No embalo de Cássio (vocal) e de Marcílio Tanaka (bandolim), músico que, entre outras feras, já tocou com Zeca Pagodinho e Beth Carvalho, a rapaziada não olhava para o relógio. Então, Fabiano, de 67 anos, abraçado ao filho Fabson, de 43, e ao neto Fabinho, de 11, puxou o hino do time: “É quinta-feira, por favor não esqueça, não me segura pois estou em cima da hora, no Praia Clube vou fazer minha cabeça e se eu me atraso rola a bola e eu tô fora. Não gosto de te ver chorando, mas tô me mandando, só vou relaxar…”. 

– É uma espécie de homenagem às nossas mulheres – brincou Merinho, craque do time. 

Num canto da festa, Reyes de Sá Viana do Castelo, da equipe do Museu da Pelada e corintiano apaixonado, chorou ao ver Jair Marinho, campeão mundial, em 62. Ele faz parte de uma terceira geração de fãs do craque, que começou com seu bisavô Paulo, torcedor da Portuguesa, e passou por seu avô Raul, também Coringão. Por isso, se emocionou ao ouvir Jair contando sobre Pampolini, Ivair, Dino Sanni e Rivellino. Sobre Jair Marinho, no entanto, os amigos ignoram o passado de glória e preferem lembrar o dia em que ele escondeu a dentadura de um parceiro dentro do copo de cerveja de Gerson, o Canhotinha. Após a descoberta foi tudo parar dentro da piscina. Jair fez cara de moleque e deu um beijo carinhoso em Huguinho. 

– Aqui todos somos iguais e até podemos reclamar dos lançamentos errados do Gerson – resumiu Cesar Rizzo, consagrado locutor, criador do bordão “Sacudindo, sacudindo a galera!”. 

O churrasqueiro Jonas continuava queimando carne. Há 25 anos no clube, ele conhece o apetite da turma. O cardiologista Ciro Herdy tentava controlar o consumo de gordura. Esse conhece o colesterol da turma! Mas ninguém ouvia mais nada. Sinval, sósia de Gerson, se despediu. Aproveitamos o embalo e fomos juntos, com a felicidade de ter descoberto mais um cantinho recheado de felicidade!.


Os craques do time posam para foto

GENTILEZA GERA GENTILEZA!

Apresentadora da TV Globo, Fernanda Gentil revelou que já teve seus tempos de peladeira nas areias da praia!

TRIO DA COLINA

Responsável por cuidar de centenas de crianças em Guadalupe, o Instituto Bola Pra Frente, liderado pelo técnico Jorginho, realizou recentemente a 11ª edição do Jantar Solidário, no Copacabana Palace. Com a presença de muitos craques, principalmente do Vasco, não seria difícil imaginar que o evento contaria também com a equipe do Museu da Pelada.

O auge da confraternização, no entanto, ocorreu quando Sergio Pugliese promoveu uma resenha memorável! Para a euforia dos demais jornalistas que cobriam a festa, Serginho Pugliese bateu um papo com Jorginho, Nenê e Andrezinho, o trio da colina. Companheiros de time no rachão – pelada que ocorre antes dos jogos para descontrair -, os craques revelaram que estão invictos e que vai ser difícil perder esse ano! 

A resenha só foi interrompida devido à chegada de ninguém menos que Carlos Alberto Torres, que deu um abraço em Andrezinho! Ele pode!

Com esse clima leve, o Vasco enfrenta o Santa Cruz hoje, às 21h45, em São Januário, pela Copa do Brasil!