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serginho 5bocas

GOL COM GOSTO DE PEIXE

por Serginho 5Bocas

Aquele campeonato de futebol de campo que o várzea organizou em 1992 foi histórico para o time das 5bocas.

Fomos campeões invictos com uma campanha de seis vitórias e um empate, tendo ainda o melhor ataque com 28 gols, a melhor defesa, sofrendo apenas cinco, além da artilharia do atacante Ivan. Mas o melhor daquele campeonato foi a partida final, no dia 21 de julho de 1992.

Estávamos embalados e todo mundo queria jogar naquele time. Se não me engano e não me falha a memória, a escalação do esquadrão era essa aí embaixo:

Fernando (o português), Manel (caolha), Paulão (Aldair), Jorjão e Pezão; Marcelo (cabeção), Serginho (5bocas) e Jaime (Vanusa) Alexandre, Anibal do Engenhão ou Ivan e Jurandir.


Na final, vencemos o Urupema por 7×2, com um esquema 4-3-3 para lá de ofensivo, com uma zaga firme que arrepiava quando precisava, com dois pontas bem abertos e um meio de campo leve e de muito toque de bola.

O melhor da história foi que no intervalo, quando o jogo já estava uns 3 ou 4 a zero para nós, Arnaldo (o pepeta), mistura de técnico, mecenas e reserva de luxo, lançou o desafio: vou entrar no meio do segundo tempo e se alguém me der o passe para marcar um gol, vou bancar todo o peixe e a cerveja que o time for capaz de consumir.

Arnaldo entrou com uns dez minutos da segunda etapa e acho que ele nunca recebeu tanta bola para fazer gol, só que um misterioso azar o perseguiu durante toda a partida. O cara chutava, cabeceava e nada, a bola não queria ajudar a rapaziada a comer um pescado de jeito nenhum.

Um desespero já tomava conta de todos quando lá pelas tantas, pênalti para o nosso time e quando eu já me preparava para cobrá-lo, como em todos os jogos, a “fera” chegou perto de mim e ordenou: deixa que eu faço!

Quem sou eu para minar tanta convicção? Tudo pela causa.

Não vi mais nada, só sei que o “pepeta” fez o gol de pênalti meio chorado e nunca na história deste país se viu tanta comemoração por um gol, mesmo que tenha sido o sétimo de uma sonora goleada.

De noite, a peixada comeu solta, regada a muita cerveja gelada e refrigerantes tudo na conta do Arnaldo.

Nunca um gol teve tanto sabor….de peixe!

ROMÁRIO & BEBETO

por Serginho5Bocas


(Foto: Agência Getty Images)

♫♫♫

“Eu não existo longe de você

E a solidão é o meu pior castigo

Eu conto as horas pra poder te ver

Mas o relógio tá de mal comigo”

♫♫♫

Não, hoje eu não vou falar de música, vou falar de dois monstros sagrados que entraram para a história do futebol brasileiro quando formaram uma dupla pra lá de infernal, mas sempre respeitando suas individualidades, e quanto talento quando somavam suas forças.


(Foto: Reprodução)

Bebeto, garoto mirrado esquelético da Bahia, que vi pela primeira vez na seleção de juniores na conquista de nossa primeira Copa do Mundo da categoria em 1983.

Ele era reserva do desconhecido Marinho Rã, mas sempre que entrava melhorava a qualidade do futebol da seleção. Tanto fez que durante a competição, ganhou a vaga de titular.

Saiu do Vitoria da Bahia e desembarcou no Flamengo, com a fama de craque do futuro. Em pouco tempo mostrou seu futebol e teve seu melhor momento com a camisa rubro-negra na Copa União de 1987, quando marcou gols nos quatro últimos jogos que garantiram a conquista da competição.

Seu divisor de águas na carreira foi a Copa América de 1989 quando sagrou-se campeão e artilheiro, mostrando todo seu valor, seu amadurecimento e que era um predestinado, o tempo confirmaria, ali aconteceu o primeiro encontro de monstros.


(Foto: Reprodução)

♫♫♫ 

“Avião sem asa

Fogueira sem brasa

Sou eu assim, sem você

Futebol sem bola

Piu-Piu sem Frajola

Sou eu assim, sem você”

♫♫♫ 

Passou momentos difíceis com a amarelinha, sendo barrado na Copa de 1990 por Lazaroni e depois pelo treinador Falcão, mas deu a volta por cima e retornou a seleção de Parreira a tempo de ser campeão do mundo.


(Foto: Reprodução)

Romário foi diferente, já o conheci arrumando encrenca, pois após ter sido artilheiro do Sul-Americano de juniores de 1985, foi cortado do mundial do mesmo ano por Gilson Nunes, por supostamente ter urinado da janela do hotel nos pedestres que passavam na calçada e perdeu o bonde do bi mundial.

Depois fez “chover” no Rio e foi vendido para o PSV da Holanda. Antes disso, no entanto, ainda ganhou a Copa América de 1989 com o parceiro Bebeto.

♫♫♫ 

Amor sem beijinho

Buchecha sem Claudinho

Sou eu assim sem você

Circo sem palhaço

Namoro sem abraço

Sou eu assim sem você

♫♫♫ 

Na Copa de 1990 teve que conviver com a reserva, muito por estar se recuperando de uma lesão gravíssima e assistiu ao fracasso dos companheiros na companhia de Bebeto no banco de reservas de luxo, bota luxo nisso.

Romário fez chover no Barcelona na mesma época que Bebeto arrasava no La Coruña. Nesta época, dividiram as atenções e tiveram uma luta digna e limpa pelo título espanhol até a última rodada, quando Romário sagrou-se campeão e Bebeto teve uma grande decepção com a perda do título.


(Foto: Reprodução)

No ano seguinte os dois arrebentariam na Copa do Mundo dos Estados Unidos e entrariam para a história como uma das mais completas (se não a mais) duplas de atacantes que o futebol brasileiro e mundial já produziu.

Fizeram oito dos 11 gols da equipe na Copa e deram show de entrosamento em várias partidas. A dupla salvou aquela seleção do fracasso e da mediocridade, pois foi sem sombra de dúvida, uma Copa do Mundo das mais feias e cautelosas de todas as Copas que o Brasil já participou e ganhou.

Romário foi o craque da Copa e Bebeto, injustamente, não foi relacionado na seleção da competição, recebendo apenas uma menção honrosa da FIFA, que deixou o baianinho muito insatisfeito.

Nunca mais puderam mostrar o seu valor juntos na seleção em Copas do Mundo.

♫♫♫ 

Neném sem chupeta

Romeu sem Julieta

Sou eu assim, sem você

Carro sem estrada

Queijo sem goiabada

Sou eu assim, sem você

♫♫♫ 

Estiveram poucas vezes juntos, mas quando o fizeram, foi com uma perfeição dos deuses. Juntos, tudo o que faltava em um tinha no outro, eram complementares e exemplares na eficiência do conjunto.

Um futebol rápido, inteligente, bonito e ótimo de assistir. Tenho na minha lembrança a ótima atuação dos dois no jogo das eliminatórias da Copa de 1994 contra o Uruguai, foi um primor, uma aula de futebol.

Dá muita saudade, não vê-los mais em campo em sua plenitude e juntos.

Bebeto era o passe de primeira, a jogada simples e aparentemente econômica, mas bem executada, o taco de sinuca, sem mais nem menos. Romário era a execução sem piedade, com rapidez, frieza e simplificação, sem abrir mão da qualidade e do talento raro e único da finalização perfeita, o matador.


“Feijão com arroz

carne seca com abobora

queijo com goiabada

Romeu e Julieta…”

Romário e Bebeto as paralelas que se encontraram antes do infinito.

 

 

DENTE DE LEITE

por Serginho5Bocas


A pelada estava pegando fogo literalmente, pois se dentro das “quatro linhas” e dois pares de chinelos no meio da rua, o bicho tava pegando entre os jogadores, fora dela, o calor era insuportável, com certeza mais de quarenta graus! Todos descalços, pés pequenos, mas protegidos por uma “capa” negra, produto forjado por milhares de horas jogadas sob sol escaldante e sobre uma superfície asfáltica pra lá de hostil, frente àquela molecada que se divertia, brincando de jogar bola.

Bola rolando de pé em pé, toque de prima, de letra, caneta, lençol, fintas e dribles acompanhados de sons de deslumbre da galera do time de fora, eis que após se livrar de um beque com um jogo de corpo, ficar de frente pro gol e preparar para o golpe fatal, repetido diversas vezes, igual comer uma goiaba roubada do pé, o nosso atacante, canhotinho e serelepe se desconcentra, e…

– Sééééééééééérgiooooooooo… vem almoçar, moleque – era o grito inconfundível da mãe do 5Bocas, chamando para comer!

Aquele deveria ser o quinto ou sexto e isso já gerava um prenúncio liquido e certo de que o próximo chamado seria de cocheira, ou se preferir no “ouvidinho”, com um cinto e fivela na mão e força nos braços para arranca-lo da pelada! Melhor ir embora logo, afinal, prudência e canja de galinha não faz mal a ninguém. 


O segundo da direita para a esquerda, Serginho5Bocas passou a infãncia jogando bola na rua com os amigos

Mas o que é dente de leite?

Era a bola e personagem principal de quase todas as nossas historias daquele maravilhoso intervalo de nossas vidas.

Nos sonhos dos meninos, que não tinham dinheiro para comprar uma bola oficial G-32 naquela longínqua década de 70, a companheira de borracha, bem menos pesada, era a solução possível e mais adequada para aquele período de escassez de recursos financeiros. Nossos pais agradeciam.

Pelada de rua, um monte de moleques com os pés descalços, dribles imitando os craques da seleção, jogadas de três dedos, passes de efeito, defesas milagrosas, enfim, um tesão do “karaiu”, imitando o que se ouvia dos trepidantes do rádio, já que jogo na TV era igual bolinho de bacalhau ou rabanada, só uma vez por ano e olhe lá.

Hoje, se pergunta a uma criança o que é dente de leite, com certeza não saberá a resposta certa! Talvez pense que são aqueles 20 dentinhos branquíssimos que depois serão substituídos por 32 de um adulto saudável.

Se a mesma pergunta fosse feita para um adulto peladeiro com mais de 45 anos, a resposta seria outra, completamente diferente. A resposta viria carregada de emoção e ele com certeza te diria que essa ou esse dente já foi muita coisa em sua vida e pode acreditar que é verdade

A “dente de leite” famosa era a bola branca, com “gomos” pretos pintados, toda de borracha, fabricada pela estrela, que tinha em sua superfície o desenho de um moleque chutando uma bola igualzinho a nós, era o suprassumo das peladas.


Naquela época não era fácil comprar uma bola “oficial”, então a saída para os pais era adquirir a genérica de borracha, mais leve, sem gomos, mas cheia de charme e com um nome pomposo.

Pessoalmente, tive muitas historias com essa bola. Tive sorte porque eu era (e ainda sou) louco por uma pelada e a bola dormia na minha casa. Minha mãe era a única da rua que aceitava ser a guardadora da “criança”. Uma bola dente de leite furada, que por esse motivo, ficou mais pesadinha e lembrava muito uma bola de futebol de salão, o nome antigo do futsal de hoje.


Como a bola ficava comigo, aproveitava e, sem saber o quanto me ajudava, treinava muito sozinho. Chutes contra a parede, embaixadinhas, chutes de efeito, de chapa, de peito de pé e aquela pratica constante com certeza me dava uma vantagem competitiva em relação aos outros colegas. Além de todo este treinamento empírico, também dormia com ela, literalmente, jogava sozinho na sala e os pés das cadeiras faziam as vezes das balizas, mas essa constância me trouxe uma marca indelével também.

Chutávamos a bola descalços numa rua de paralelepípedos durante horas e essa era a nossa rotina, impensável ficar de fora. Já ia pra escola pensando na volta e invariavelmente tinha o tampão do dedo arrancado, mas dava meu jeito de não ficar de fora do jogo! Botava um curativo e chutava com a outra perna, e foi numa dessas que fiquei pra sempre batendo com a perna esquerda e por isso sou canhoto no pé, acredite se quiser.

Hoje é bacana ver os malabarismos que aquela galera do “Freestyle” faz com a bola. No século XXI é comum o cara fazer “graça” com a bola enquanto uma câmera o filma pra postar na web, nos canais, nas redes sociais e aí o caminho natural é viralizar, curtiu?

O engraçado é que, naquele tempo, os valores eram um pouco diferentes para os peladeiros. Desdenhavam de quem era muito bom no controle de bola, costumavam dizer que o cara que fazia muita palhaçada com a redonda, geralmente não jogava nada quando o jogo era a vera. Mito ou verdade, ninguém queria comprovar na pratica e aí o único “luxo” que a gente se permitia era disputar a vaga na “linha de passes”, no “um toque” ou no “bobinho” pelo maior número de embaixadinhas que alguém fosse capaz de fazer e olhe lá.

Ô tempo bão, dos pés descalços, da rua de paralelepípedo, do gol feito de chinelos e de uma bola dente de leite novinha de presente de natal que assim que recebida e o saco de plástico era rasgado, ia quicando pra rua sorrindo de encontro aos nossos pés, para a gente chamá-la de “você” com muito carinho, como num passe de mágica…

Quantas saudades! E você?

Um forte abraço!

TALENTO DESPERDIÇADO

por Serginho5bocas


Josimar era fera na bola! Criado nas peladas da Cidade de Deus, levava jeito para o futebol desde pequeno. Joia da base do Botafogo, que na época revelava muitos craques sob a batuta de Neca e do técnico Joel,  fez parte dos titulares da seleção brasileira de juniores, vice campeã no mundial da categoria em 1981. Na época, jogava no meio de campo com Leomir, que viria a ser do Fluminense, e tinha como companheiros, Mauro Galvão, do Inter, Julio Cesar, do Guarani, Paulo Roberto, do Grêmio, e Cacau do Goiás.


No canto direito, Josimar comemora um dos seus gols pela seleção

Como se costuma dizer, Josimar era “bola”, mas não tinha sido convocado para nenhuma partida da seleção de Telê que iria disputar a Copa de 1986 e nem fez parte do grupo que teria alguns cortados antes da competição. Mas quis o destino que Leandro pedisse dispensa e, como só teria Edson, do Corinthians, Telê decidiu chamá-lo.

Josimar estava voando, como sempre, tinha um fôlego acima da média e seria provado que a decisão fora mais do que acertada, pois os jogos no México seriam ao meio-dia e na altitude. Ou seja, Telê precisava de alguns jogadores com ótimo preparo físico, pois também estava levando alguns veteranos remanescentes de 1982. O craque chegou como reserva, mas não demorou a ganhar a vaga lá no México. Fez dois gols espetaculares e deixou uma impressão tão boa com suas atuações que foi escolhido pela imprensa como o melhor lateral daquela Copa.

Um detalhe inusitado é que durante os treinos, Josimar tinha o melhor aproveitamento nas cobranças de pênaltis entre todos os jogadores. Antes do jogo contra a França, dizem que não errou nenhuma das cobranças. O problema era que ele levava tudo na sacanagem e batia os pênaltis nos treinamentos sem tomar distância e bem devagar, matando o goleiro de raiva. Em razão dessa displicência, não foi relacionado para as cobranças que, por ironia do destino, nos fez amargar mais uma derrota daquelas de doer. Não sei se com ele ganharíamos, mas seria no mínimo diferente.


Foi tudo tão bom na vida dele que, após a Copa, o lateral foi convocado para uma destas seleções da FIFA e, num jogo amistoso, fez o gol da vitória de 1×0 com passe de Maradona.


Posteriormente, foi vendido para o Sevilla, da Espanha, mas não vingou. Voltou ao Brasil contratado pelo Botafogo, mas nunca mais seria o mesmo. Josimar ainda jogou algum tempo na seleção, mas foi perdendo espaço e as noitadas faziam ele frequentar mais as páginas policiais e de fofocas do que as de esportes.

Terminou sua carreira vagando por clubes sem expressão e sem o viço e a alegria que dava gosto de ver quando ele jogava no inicio da carreira. Josimar foi mais um daqueles talentos desperdiçados, aqueles jogadores que não conseguem cuidar do seu maior patrimônio, o seu próprio corpo, seu instrumento de trabalho.

Uma pena que o triste exemplo de Josimar não faça surtir nenhum efeito em muitos jogadores atuais que levam a vida no mesmo ritmo e, ás vezes, até mais alucinante do que o ex-lateral.

Dizem que hoje ele dá aulas para meninos que sonham ser jogador como ele foi. Espero que aprendam só a parte boa, que convenhamos, foi espetacular, mas, infelizmente, durou tão pouco.

É MUITO DIFÍCIL SER PELÉ

por Serginho5Bocas


Antes de Pelé surgir para o mundo do futebol, ninguém conhecia a realeza, ainda não havia nascido alguém capaz de encantar a todos e carregar o imenso fardo de ser o melhor sempre. Ninguém imaginava que alguém pudesse ser tão poderoso.

O mundo só foi conhecer o Messias na Copa de 1958, nos gramados da Suécia, em parcos quatro jogos, mas nós brasileiros, tivemos mais sorte, um pouco antes, em meados de 1956, sua majestade já encantava por aqui com dribles e gols.

Nelson Rodrigues foi o primeiro, apesar de míope, a enxergar todo o talento daquele moleque franzino, mas que já “gastava” a bola como gente grande. Em um jogo em que o Santos venceu o América por 5×3, Pelé encaçapou quatro bolas e aí o genial Nelson não se conteve e o chamou de Rei. Isso mesmo, aos 17 anos, antes de todos, ele vaticinou o que depois ficou óbvio para todos, que só tiveram o trabalho de homologar.

Então, por que não é fácil ser Pelé, até mesmo para o Edson?

Porque Pelé não foi um jogador de futebol como os outros, não tinha uma habilidade específica que o diferenciava. Ele era acima da média em quase todos os fundamentos e fora do campo cuidou da sua imagem como poucos. Nasceu para a realeza, essa era a diferença.


Pelé, aos 17 anos, debutando no cenário internacional, deu show na sua primeira Copa do Mundo na Suécia. Na ocasião, marcou seis vezes em quatro partidas, sendo que na final se eternizou com um gol em que dá um lençol no zagueiro e, sem deixar a bola cair, bate para o fundo das redes. Um golaço para a história pela beleza, pela dificuldade em executar o lance e pela precocidade.

Já aos 29, fez quatro gols em seis jogos da Copa do México. Marcou um gol de cabeça espetacular, inventou jogadas de futebol que assombraram o mundo. Pegou a Copa e botou no bolso, quando muitos diziam que ele estava acabado para o futebol. A fera jogou quatro Copas e ganhou três, fazendo gols em duas finais. Dois golaços, diga-se de passagem, inigualável.

A diferença dele para os outros é que ele parecia ser muito experiente quando tinha apenas 17 anos e lembrava um garoto na maturidade dos 30. Esse era o segredo do Rei: maduro ou jovem a qualquer tempo, só que ninguém mais conseguiu repetir este feito.

Fez mais de 1200 gols e ganhou todos os títulos que disputou muitas vezes. Ele não jogou em um time milionário que o fez aumentar de tamanho, ele fez o Santos ser o maior do mundo e mais temido. A equipe paulista, aliás, nunca foi tão grande antes, nem depois da passagem do Rei por lá.


Ser desse jeito custa caro e Pelé pagou o preço quando comemorou 50 anos. Jogou um amistoso festivo pela seleção brasileira frente a uma seleção de craques do resto do mundo e, por não ter feito gol e jogadas acrobáticas, teve gente desconfiando que aquele quase coroa foi essa “coca-cola” toda. Não posso deixar de falar que se Rinaldo (ponta da seleção naquele jogo) não fosse “fominha” e tivesse passado a bola para o Rei, em vez de tentar um chute sem ângulo, a historia seria outra. 


Agora imagina ser comparado ao Pelé sem ser Pelé? Suicídio!

Vários craques chegaram perto, mas todos ficaram pelo caminho.

Di Stefano começou a jogar antes do Rei e fez historia na Europa, comandando o histórico Real Madrid, um time recheado de estrelas e supercampeão do continente. Em Copas do Mundo, no entanto, foi medíocre, uma passagem discreta pela Espanha na Copa de 1962. Não dá para comparar.

Eusébio, a pantera negra de Portugal, talvez, por ter comandado a eliminação do Brasil de Pelé em 1966, chegou a ser comparado ao Rei, mas a carreira não teve a continuidade e as comparações foram arrefecendo. Era rápido, forte, fazia muitos gols, ganhou títulos e premiações importantes, mas ficou longe demais.

Cruyff era o jogador do campo todo, elegante e cerebral, lia o jogo, uma máquina de jogar e de fazer seu time jogar, mas não fazia gols como o Rei, não foi campeão do mundo, mas ainda assim, foi um dos que chegou mais perto em termos de qualidade e de respeito e temor dos adversários.

Beckembauer foi outro da lista. Elegante, excepcional com a bola, foi um zagueiro, líbero que comandava seu time e sua seleção como um líder nato. Saía de trás organizando o jogo, driblava bem, fazia gols e defendia como poucos, mas perto do Rei, ficava pequeno.


Em nosso quintal, Zico, apesar de não ter vencido uma Copa do Mundo, tinha o estilo de arco e flecha, aquele jogador que vem do meio armando jogadas e concluindo na área, cabeceava bem, batia fácil com as duas pernas, talvez tenha sido o maior batedor de faltas que o mundo viu, mas não foi tão monstruoso. Ser lembrado pelo próprio Rei já foi uma honra.

Maradona foi o jogador canhoto mais espetacular que o mundo já viu, mas não era o mesmo com a direita, não cabeceava como o Rei e, em termos de títulos e gols, ficou a léguas. O segundo lugar está de bom tamanho para quem jogou quatro Copas e ganhou uma espetacularmente.

Garrincha foi uma alegria literalmente, as pessoas iam ao estádio para vê-lo, torciam para a bola chegar aos seus pés na ponta direita, e não era apenas um “showman”. A alegria do povo também ganhou Copa do Mundo com e sem o Rei, mas não foi tão eficiente nem tão vitorioso, fica um pouco atrás.


Ronaldo foi espetacular muito jovem, ganhou duas Copas das quatro que esteve, foi artilheiro de uma e fez mais gols que o Rei em mundiais, mas talvez as contusões tenham reduzido suas chances de igualar ou ultrapassá-lo. Muito cedo sofreu lesões gravíssimas, uma pena. Era uma grande aposta para poder batê-lo, um dos poucos que também foi especial tão jovem, mas também não deu.

Messi era o candidato recente mais cotado. Craque especial e precoce como o Rei, venceu mundial de juniores, ganhou ouro em olimpíadas e no Barcelona venceu tudo que se possa imaginar. Na seleção da Argentina não foi tão efetivo, perdeu final de Copa do Mundo, finais de Copa América e definitivamente não há mais como chegar, uma pena.

Por tudo isso e mais um pouco é tão difícil ser Pelé…

Pelé foi mais do que um jogador, mais do que um atleta, foi uma marca, um selo. Quem nunca disse uma vez na vida: “aquele cara ali é o Pelé do basquete” ou utilizou essa expressão para dimensionar a grandeza de alguém em qualquer outro esporte ou atividade?

Por isso, volto a afirmar: É muito, mas é muito difícil ser Pelé, entende? 

E você o que acha?