por Serginho 5Bocas
O torcedor que quisesse acompanhar futebol no Brasil, no final dos anos 70 e início dos 80, era praticamente só no rádio com os famosos trepidantes.
Curtia muito ouvir Waldir Amaral, Doalcey Camargo, Jorge Cury e José Carlos Araújo, o Garotinho. Sem contar os comentaristas Washington Rodrigues, o “Apolinho”, Gerson, “O canhotinha de ouro” e o grande Mario Vianna, que reza a lenda, foi o primeiro comentarista de arbitragem que se tem notícia por estas bandas.
Futebol na TV era coisa raríssima, um verdadeiro cometa Harley. Às vezes transmitiam os momentos finais de uma final de campeonato, como na do Carioca de 1977, que passaram somente a disputa de pênaltis entre Vasco e Flamengo. Outras vezes, eram jogos amistosos ou jogos da seleção brasileira, quando em excursão no exterior ou jogando em outro estado do País, resumindo, era dificílimo para a gente ver imagens dos nossos craques.
No meio desta pedreira toda, havia para nós do Rio de janeiro, a emissora TVE ou TV Educativa, que nas noites de domingo, lá pelas 22h, passava os vídeo tapes dos jogos principais da rodada, principalmente do Campeonato Carioca, pois mesmo sendo tarde da noite, valia muito a pena.
Então o esquema era escutar no rádio à tarde e depois confirmar no vídeo tape as grandes defesas e os gols que havíamos escutado e vibrado intensamente. Confesso que muitas vezes, acho até que na maioria delas, tinha uma decepção, porque as defesas não eram tão espetaculares quanto a voz do trepidante do rádio me fez acreditar ou que a velocidade do jogo não era tanto quanto parecia no “dial”, mas fazia parte do roteiro, não perdia um, até mesmo os jogos dos adversários.
Na hora do tape, a gente sentava no sofá e se deliciava com a principal fera daquelas transmissões: Januário de Oliveira, que apesar de ser tricolor, a vibração de sua voz, era igual para todos os times.
– “Domingo de sol, taí o que você queria, bola rolando…”, era assim que começava a narração na maioria das vezes, abrindo os trabalhos junto a todos os ouvintes e homenageando o finzinho do solcarioca, emoldurado num clássico arrebol, sumindo no horizonte.
Ézio, o centroavante do Fluminense que jogava quase sozinho, naquela época de vacas magras tricolores, virava “Super Ézio”, no imaginário criativo e vibrante do mestre da comunicação, porque segundo ele:
– Super-herói é pra isso…
O driblador super veloz Valdeir, que vestindo a lendária e gloriosa camisa do Botafogo, ia desmontando as defesas com a sua velocidade espantosa, foi logo apelidado de “The Flash”, por motivos óbvios.
Sávio, o ponta do Flamengo veloz, driblador e “ensaboado”, era chamado por Januário de “diabo” ou “anjo” louro da Gávea, de qualquer forma que fosse, era uma baita homenagem.
William, o craque baixinho e canhoto do Vasco, segundo Januário, era o pequeno príncipe, herdando a alcunha do seu antecessor e grande craque Geovani, que responsa!
“Tá lá o corpo estendido no chão”, ouvíamos sua voz potente, informando quando um dos jogadores caíam no gramado, sinalizando o prenúncio de mais um carreto que seria executado pelo querido “Mike Tyson” ou Enéas para os mais íntimos, era outro de seus divertidos e famosos bordões.
“Cruel, muito cruel”, o Romário, falava ele a cada gol espetacular do baixinho marrento e bom de bola. Mas cruel mesmo foi ele ter partido, aquela voz maravilhosa e aquela mente prodigiosa, que bolava e nos apresentava amiúde, versões muito mais interessantes de nossos craques do que somente os nomes simples de cada um deles, deixou muita saudade.
Entre tantos bordões o que eu mais gostava, era: “eeeee o gol, tá lá”, afinal de contas, gol é o grande momento do futebol e Januário sabia muito bem disso, que é disso que o povo gosta…
Partiu, mas deixou uma saudade danada em todos nós.
Um forte abraço
Serginho5bocas