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RESUMO DA PRIMEIRA RODADA

por Mateus Ribeiro

Depois de seis dias e dezesseis partidas, a primeira rodada da Copa do Mundo chegou ao seu final. Foram muitos gols, alguns resultados inesperados, diversos jogos ruins e outros mais legais. No frigir dos ovos, o mundial teve seus bons momentos. Sem mais conversas, vamos falar um pouco de tudo o que aconteceu.

Grupo A


A honra de abrir o mundial caiu no colo de duas das piores seleções desta Copa: os donos da casa e a Arábia Saudita. Nem o mais otimista dos espectadores imaginava que a partida pudesse ser um espetáculo. E realmente não foi.

Apesar da Rússia ter feito impiedosos cinco gols, a Arábia Saudita mostrou um futebol sem o mínimo traço de organização e/ou talento. Quanto aos russos, pelo menos sua torcida ganhou um pouco mais de esperança.

Egito e Uruguai não ficaram longe do circo de horrores da partida inaugural. Vale ressaltar que o Egito se segurou bravamente até o final do jogo, mas mostrou que sem Salah, é uma Arábia com um pouco mais de noção. Já nossos vizinhos devem melhorar muito se quiserem sonhar com algo além das oitavas de final. E Suárez não pode perder os gols que perdeu.

Grupo B


A primeira partida do grupo B foi Irã x Marrocos e é meio óbvio que não podia se esperar muita coisa. O gol contra no final deu uma pitada de emoção na partida, que foi um tanto quanto sonolenta durante praticamente toda a sua duração.

O primeiro grande duelo da Copa ficou reservado para o último jogo da sexta feira. Portugal e Espanha proporcionaram o melhor jogo até então. Cristiano Ronaldo marcou três vezes (uma delas contando com a generosa ajuda de De Gea), e garantiu o empate nos minutos finais. Além disso, mostrou que ao contrário dos dois últimos mundiais, os lusos tem reais condições de fazer barulho na Copa. Diego Costa foi muito bem, e mostrou que apesar da desconfiança gerada pela demissão de Lopetegui, a Espanha continua forte. Duas seleções que merecem atenção.

Grupo C


A dificuldade que a França encontrou para vencer a Austrália é um pouco preocupante. De qualquer forma, começar vencendo é sempre importante, e o gol esquisito de Pogba (que parece estar focado em jogar bola, o que é quase inacreditável) deu um pouco mais de tranquilidade para os campeões de 1998. Já a Austrália é esforçada, tem boa intenção, mas deve ficar pela primeira fase mesmo.

Depois de tanto alarde e todo o auê que foi feito por causa de Paolo Guerrero, o Peru estreou. Os peruanos mostraram um futebol bacana, jogaram legal, mas apesar de toda a modernidade que tentam implantar no futebol, o gol ainda é o fator que decide o vencedor. Melhor pra Dinamarca, que ao contrário da seleção peruana, não perdeu um caminhão de gols, e com a vitória pelo placar mínimo, ocupa o segundo lugar do grupo.

As vagas estão abertas, e a impressão que se tem é a de que  a Austrália será o fiel da balança.

Grupo D


O calvário da Argentina parece não ter fim. Os amigos de Messi apenas empataram com a valente Islândia. Os escandinavos fizeram uma grande partida, com destaque para o goleiro  Halldórsson, que entre outras coisas, defendeu um pênalti cobrado pelo camisa 10 argentino. De um lado, a Islândia sonha com vôos maiores. Do outro, a Argentina deve mudar muito as peças do time (e a mentalidade) se quiser pensar em fases mais agudas da Copa. Se continuar com esse espírito (e com nomes como Rojo), corre grande risco de não passar nem de fase.

A Croácia, sempre badalada, parece que dessa vez vai justificar todo o oba oba criado por alguns internautas entendidos e por alguns comentaristas de mesa quadrada (ou redonda, como queiram). Uma exibição segura e muito sólida diante de uma Nigéria que está bem longe de seus melhores momentos, e se continuar com esse futebol engessado, tem tudo para ser uma das últimas colocadas do Mundial.

Grupo E


Costa Rica e Sérvia fizeram um jogo fraco, com cara de manhã de domingo mesmo. A Sérvia foi um pouco melhor, e o gol de falta de Kolarov salvou uma partida fraca e sem emoções. De qualquer forma, a Sérvia é mais time que a Costa Rica, e o time que surpreendeu o mundo na última Copa parece que em 2018 vai apenas fazer figuração.

O Brasil ficou no empate com a Suíça. Apesar do lance de falta no gol dos suíços, não se deve esquecer que na hora do tento, OITO jogadores de linha brasileiros estavam na área quando Zuber subiu sozinho para empatar a partida. Além disso, o individualismo exagerado de algumas peças do time deve ser encarado com um pouco mais de seriedade. Quanto ao treinador, tratado como um deus intocável por parte da imprensa e da torcida, faltou um pouco de ousadia, ou apenas fazer algo diferente de trocar seis por meia dúzia nas alterações. O Brasil continua sendo favorito ao caneco, muito pela ruindade da maioria das seleções. Mas se continuar com essa postura arrogante, pode rodar antes do esperado.

Quanto ao time da Suíça, a escrita de ser uma das seleções mais terríveis de ser enfrentadas se manteve. Um time coeso, que joga firme na defesa, e sabe tocar a bola. Se tivesse um atacante um pouco mais eficaz que Seferovic, talvez estivesse comemorando uma vitoria sobre o Brasil. Deve brigar forte para passar de fase.

Grupo F


O México foi GIGANTESCO. A Seleção mais simpática do planeta fez um primeiro tempo muito bom contra a Alemanha. Já na segunda etapa, o professor Pardal Osório recuou demais o time, e a retranca excessiva somada aos gols perdidos pelos atacantes aztecas por pouco não custaram caro demais. Enfim, após muito tempo, os mexicanos jogaram e venceram como nunca!

Já os alemães precisam abrir o olho. As falhas defensivas foram constantes, e faltou sangue nos olhos. O sinal amarelo está aceso, e não é de hoje.

Suécia e Coréia do Sul fizeram um jogo que foi decidido pelo polêmico e famigerado árbitro de vídeo. Fora isso, nada de muito grandioso foi apresentado pelos times, a não ser os penteados extravagantes de alguns coreanos, que pareciam recém saídos de uma gravação de um clipe de alguma boyband. Aparentemente, a Suécia é ligeiramente mais organizada, e vai dar o sangue para tentar arrancar um empate com a Alemanha, o que deixaria os germânicos com a calça nas mãos. A Coréia pelo visto, mais uma vez, não vai longe.

Grupo G


O grupo mais óbvio do mundial até agora. A Bélgica fez o que se espera de uma seleção superior, e passou o carro em cima do pobre Panamá. Nada que deva deixar os belgas animados, uma vez que ganhar do Panamá é obrigação moral de qualquer equipe do grupo. De qualquer forma, a Bélgica fez uma partida tranquila, o que muitos favoritos não conseguiram. Está certo que o adversário não era dos mais fortes, mas os belgas possuem muitos méritos. Olho neles!

A Inglaterra fez o que costuma fazer: transformou uma partida teoricamente fácil em um drama. A diferença é que desta vez, ganhou o jogo. Harry Kane mostrou ter estrela, e o zagueiro Maguire é o mapa da mina para os adversários.

Ficou claro que Bélgica e Inglaterra lutarão pelo primeiro lugar.

Grupo H


Aqui a zebra passeou bastante. A começar pela vitoria do Japão sobre a Colômbia. Apresentando uma disciplina tática impressionante, e se aproveitando de um erro capital dos colombianos logo no início da partida, o Japão venceu por 2 a 1, e largou muito bem no grupo mais aberto da Copa.

Completando o grupo (e a primeira rodada), Senegal venceu a Polônia por 2 a 1. Os africanos mostraram uma surpreendente postura tática, sem os erros defensivos que muitas equipes do continente cometeram em outros mundiais. Com um futebol baseado na força e na velocidade, a vaga nas oitavas já é um sonho não tão distante. Quanto ao time polonês, temos mais uma prova de que escolher os cabeças de chave de acordo apenas com o ranking da Fifa é uma tremenda bobagem.

Para a segunda rodada, podemos esperar mais emoção, polêmica, além de algumas equipes avançando para a segunda fase, enquanto outras já comprarão a passagem de volta. Ah, e o VAR vai dar as caras, não tenha dúvidas!

Qual o seu palpite?

Um abraço, e até a próxima!

A TAÇA DO MUNDO É NOSSA

por Victor Kingma


Daqui a poucos dias teremos uma nova Copa do Mundo, na Rússia. Como sempre acontece no país do futebol, o Brasil vai parar nos dias dos jogos para assistir a nossa seleção. Um acontecimento mágico capaz de unir, numa só torcida, atleticanos e cruzeirenses, gremistas e colorados, palmeirenses e corintianos ou rubro-negros e cruzmaltinos. É a pátria de chuteiras, como dizia Nelson Rodrigues.

A cada vitória todos se unem para comemorar, normalmente embalados pelo som de alguma música que cai no gosto dos torcedores e acaba se tornando o hit da seleção.

Nas conquistas de 1958 e 1962, quando o Brasil se tornou bicampeão mundial, uma mesma música é lembrada até hoje, como símbolo das memoráveis jornadas de craques consagrados como Gilmar, Didi, Nilton Santos, Garrincha e Pelé, nos gramados da Suécia e do Chile:

“A taça do mundo é nossa,

Com brasileiro não há que possa

Êh eta esquadrão de ouro,

É bom de samba, é bom no couro.”

A música, dos autores Wagner Maugeri, Lauro Muller, Maugeri Sobrinho e Victor Dagô, na verdade, foi composta após a conquista do primeiro título, em 1958, para homenagear o feito inédito da seleção brasileira.

Em 1970, na conquista do tri, no México, enquanto Gerson, Rivelino, Jairzinho, Pelé e Tostão encantavam o mundo com um futebol arte, nas ruas o povo, eufórico, apesar dos difíceis tempos políticos, cantava a marchinha ufanista do compositor Miguel Gustavo:

“Noventa milhões em ação

Pra frente, Brasil

Do meu coração

Todos juntos vamos

Pra frente, Brasil, Brasil

Salve a Seleção!”

Em 1982, na Espanha, embora o Brasil não tenha conseguido o título, apresentou ao mundo uma verdadeira orquestra, comandada por Telê Santana e que tinha “músicos” consagrados como Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico. Interessante é que um dos principais músicos daquela orquestra, o lateral Júnior, era quem também animava a torcida com seu hit “Povo Feliz”, dos compositores Memeco e Nono, que acabou ficando popularmente conhecida como “Voa, canarinho, voa”:

“Voa canarinho, voa,

Mostra pra esse povo que és um rei.

Voa canarinho, voa,

Mostra na Espanha o que eu já sei.”

Na conquista do tetra em 1994, nos Estados Unidos, a música Coração Verde e Amarelo, de Tavito e Aldir Blanc, tema das transmissões da rede Globo, foi a escolhida para embalar a conquista de Romário, Bebeto e Cia:

“Eu sei que vou

Vou do jeito que eu sei

De gol em gol

Com direito a replay

Eu sei que vou

Com o coração batendo a mil

É taça na raça Brasil!!”

Já em 2002, ano em que o Brasil sagrou-se pentacampeão, nos gramados do Japão e Coréia do Sul, o refrão de um grande sucesso da época, da música “Festa”, de Anderson Cunha e interpretada por Ivete Sangalo, contagiou a torcida e a seleção do técnico Felipão, Rivaldo e Ronaldo:

“Avisou, avisou, avisou, avisou

Que vai rolar a Festa, vai rolar
O povo do Gueto mandou avisar
Que vai rolar a Festa, vai rolar.”

 

Outra Copa está aí e vamos aguardar para saber, e ouvir, qual musica vai ser escolhida pelos torcedores para incentivar nossos jogadores na luta pela conquista do Hexa.

Victor Kingma  –   www.victorkingma.com.br

A COPA DO MUNDO DE 1986 SOB A VISÃO DE UM MENINO LOIRINHO

por Marcos Vinicius Cabral


Sentado na última cadeira da primeira fileira do lado contrário da porta na sala de aula, o suor escorria pelo rosto daquele menino loirinho de 13 anos.

Aquele espaço físico de aproximadamente 4m x 3m, sem ventilação e com pequenas janelas encardidas deixavam à mostra algumas folhas secas castigadas pelo tempo e sopradas pelo vento.

Vez ou outra, o som dos pássaros famintos pedindo comida no ninho que estava instalado no peitoral em uma das janelas tornava menos tediosas determinadas aulas.

E era para os alunos da 6ª série do CETHL (Colégio Estadual Técnico Henrique Lage), motivo de contemplação a relação daquelas espécies de aves.

Por mais que aquele menino loirinho fosse aplicado em Matemática do professor Feliciano, equações, raiz quadrada e porcentagem nunca foram seu forte.


Já em Português, da professora Terezinha, sujeito, verbo e predicado faziam com que seu desempenho fosse satisfatório nesta disciplina.

Portanto, nada seria mais natural que a leitura e a busca incessante por informações fizessem que o menino loirinho se tornasse um ávido leitor da Reader’s Digest – revista mensal criada em 1922 por Lila Bell Wallace e DeWitt Wallace em Nova York – conhecida aqui no Brasil como Seleções e das manchetes esportivas, pois era também apaixonado por futebol.

Mas aquele ano de 1986 era ansiedade, ansiedade e ansiedade…

Era ano de Copa do Mundo e tanta ansiedade só seria atenuada à procura de informações quase sempre nas folheadas escondidas do jornaleiro nas páginas do Jornal do Brasil na banca próxima ao colégio.

Enfim, o domingo de estreia do Brasil se aproximava e era contra os espanhóis.

Aliás, os mesmos espanhóis que eram considerados favoritos na Copa de 1950 em solo brasileiro até o confronto pela fase final da competição, quando sofreram uma goleada de 6 a 1 para o escrete canarinho – Ademir da Guia e Zizinho só não fizeram chover naquela tarde no Maracanã – onde os 153 mil pagantes aplaudiram de pé os brasileiros.

Desde então, a Espanha passara a ser chamada de Fúria em virtude do encantamento de seu futebol apresentado naquela Copa.

E para não perder o brilho nos seus olhos, o menino loirinho, aflito, não escondia de ninguém a frustração se viesse a perder algum jogo caso fosse em um dia de aula.


E as partidas eram novamente no México, onde havíamos conquistado o tri com uma linha de produção dos operários da bola como Jairzinho, Gérson, Tostão, Pelé e Rivelino, que com o selo de qualidade, transformou aquele time em um fábrica de bons resultados e se transformou em um dos melhores nas vinte edições de Copas do Mundo.

Mesmo sendo um aluno exemplar, o menino loirinho não hesitaria em matar aula para correr para casa e ver seus heróis em ação.

Com os fantasmas da eliminação da seleção brasileira na Copa da Espanha, em 1982, assombrando e sobrevoando o imaginário dos amantes do bom futebol, havia no povo brasileiro, um misto de certeza e desconfiança.

Ainda mais que alguns acontecimentos infelizes pré-Copa seriam um presságio de coisas ruins.

E teria como não sê-los?

Ei-los:

Parecia mentira o 1° de abril, quando no amistoso contra o Peru, em São Luís (MA), o camisa 11 Éder Aleixo deu um tapa na cara de um adversário na lateral do campo.

Telê não hesitou e cortou o ponteiro que não mais vestiria a camisa amarelinha em jogos oficiais.

Já o outro ponteiro, Renato Gaúcho ficou de fora da lista final dos jogadores selecionados que usariam terno com as iniciais CBF bordadas no bolso do terno para viajar ao México.

O técnico brasileiro não engoliria a fatídica noite na esbórnia dele com o parceiro Leandro, em que chegaram noutro dia na concentração, na Toca da Raposa – que foi o centro de treinamentos utilizada para a preparação da Seleção Brasileira para as Copa do Mundo de 1982 e a de 1986 -, na cidade mineira.

Talvez o lateral Leandro, que surpreendeu a todos ao refutar sua segunda Copa do Mundo em solidariedade ao ponteiro gremista, tenha sido a ausência mais sentida por Telê.

Pouco tempo depois, o treinador dizia em entrevistas que precisava apenas de 40% de seu futebol, independente do estado de seus joelhos.

Mas Leandro não retrocedeu, manteve-se firme em não ir ao México e surgia Josimar, camisa 2 do Botafogo como seu substituto.

Na lateral esquerda, surgia um impressionante Branco – que sagrava-se tricampeão carioca pelo Fluminense –  que obrigaria o técnico a deslocar Júnior para o meio de campo, formando com Elzo, Alemão e Sócrates, os pensadores da equipe.

Com experiência comprovada na magia de um futebol envolvente como foi em 1982 na Espanha, Telê preferiu reservar três lugares cativos no banco: um para Cerezo, outro para Falcão e mais um para Zico.

Os dois primeiros estavam por deficiência técnica, enquanto nosso camisa 10, tentava se recuperar de uma grave contusão em seu joelho.


Era muita coisa negativa para uma seleção que buscava o Tetracampeonato Mundial.

Se o pernambucano Gagliano Neto foi o primeiro locutor brasileiro a transmitir um jogo de Copa do Mundo – na França em 1938 -, Galvão Bueno, Luciano do Valle e Osmar Santos tentaram fazer com que a torcida brasileira acreditasse no título de uma seleção pragmática com suas respectivas narrações, que vinham recheadas de emoção e de uma inquietude jamais escutada pelos ouvidos daquele menino loirinho.

A bola ia rolar…

Em 1° de julho, no gramado do estádio Jalisco em Guadalajara, brasileiros e espanhóis se perfilaram para o ritual dos jogos em Copas do Mundo.

Coisa normal, aparentemente.

Bastou tocar o Hino à Bandeira e não o Hino Nacional, que o sorriso sem graça de Sócrates e o balançar negativamente de sua cabeça, demonstraram o que seria o futebol brasileiro naquela décima segunda edição de Copa do Mundo.


O sonho acalentado há quatro anos, quando sucumbimos para a Itália, ali, naquele momento foi determinante: o Brasil não ganharia aquele Mundial.

Se o menino José Carlos Vilella Júnior, então com 10 anos, estampou a capa do Jornal da Tarde chorando lágrimas torrenciais, dando ao fotógrafo Reginaldo Manente seu terceiro prêmio Esso de Jornalismo – considerado o Oscar para a imprensa – na derrota para a Itália, em 1982, aquele menino loirinho chorava silenciosamente, sentado no chão acimentado situado à Rua Dr. March, 70, no Barreto em Niterói.

Ali, rodeado por alguns vizinhos, ele é milhares de torcedores viram o Brasil vencer a Espanha por 1 a 0, graças ao árbitro australiano Christopher Bambridge, que invalidou um gol legítimo do espanhol Michel.

O Brasil venceu mas não convenceu.

No segundo jogo contra a Irlanda, um pobre futebol e o mesmo placar da estreia – 1 a 0 – e o pessimismo cada vez mais presente àquela seleção.

No terceiro jogo, com dois golaços de Josimar e uma vitória por 3 a 0 contra os irlandeses, o caminho ia se tornando firme com os passos dado pela equipe de Telê Santana.


No jogo seguinte, contra a envelhecida Polônia do craque Zbigniew Boniek – que já não era o mesmo de quatro anos antes – um 4 a 0 trouxe um serenismo à torcida e um euforia contagiante.

Contagiante sim e perigosa também!

A próxima fase seria um desafio ainda maior já que os três jogos iniciais não serviriam de parâmetro àquela altura do campeonato.

E chegava enfim, às quartas de final da Copa do Mundo.

De um lado a seleção brasileira de Edinho, Sócrates, Júnior e Careca enfrentaria a seleção francesa de Platini, Tigana, Giresse e Amoros, para ir à semifinal.

Naquele 21 de junho, completava-se 16 anos da conquista do Tricampeonato Mundial do Brasil em 1970 e era o aniversário de 31 anos de Michel Platini, o maior jogador francês da história até o surgimento de outro maravilhoso camisa 10: Zinedine Zidane!

E o Brasil fez, sem sombra de dúvidas, sua melhor exibição.

Não era a sombra do espetáculo que produziu quatro anos antes na Copa do Mundo da Espanha, mas era uma equipe com uma tática bem definida.

Era um clássico histórico, dramático e inesquecível!

Se o camisa 10 deles esbanjava talento nos gramados mexicanos, o nosso estava no banco e sem ritmo de jogo, entrando no decorrer das partidas.


Entrou no segundo tempo e aos 26 minutos na primeira bola que recebeu no meio campo, enfiou na diagonal para a entrada do lateral Branco que tocado pelo goleiro francês (até então um desconhecido), dentro da área, cometeu pênalti.

Os olhos do menino loirinho brilharam como nunca naquele momento.

Enquanto Branco com os punhos cerrados recebia o abraço forte do meio campista Alemão fazendo-o desabar no gramado e olhando o céu mexicano, o menino loirinho abraçava todo mundo, inclusive Carlinhos, um morador de rua que assistia a partida e era famoso no bairro.

Na hora da cobrança, Edinho pega a bola e dá ao Zico como se dissesse: “Toma. É sua. Só você sabe o que passou para chegar até aqui”.

O árbitro autoriza o Galinho, que bate mal e o camisa 1 da equipe francesa voa e defende.


Nesse instante os olhos do menino loirinho começam a ser uma nascente de lágrimas de diferentes sentimentos.

Elas escorrem pelo seu rosto inocente e incrédulo com o que havia acontecido, ele olha para o céu e busca resposta para sua pergunta: “Deus, por que o SENHOR deixou isso acontecer?”.

O silêncio toma conta dos quase 100 torcedores, que aglomerados naquele chão recém acimentado fazem daquele instante um momento doloroso e inesquecível.

O jogo terminaria empatado e o Brasil perderia na decisão dos pênaltis – Sócrates e Júlio César desperdiçariam suas cobranças e Platini também – por 4 a 3.


Fim de um sonho.

Se o goleiro italiano Zoff foi o vilão da história em 1982, o que dizer de Bats, que não deixou a geração de Zico e Cia. ir além naquele Mundial?

O amor irrestrito no coraçãozinho daquele menino loirinho pelas cores verde e amarelo se transformaria em ódio mortal pelas cores da França até bem pouco tempo atrás.

Aquele menino loirinho acreditou cegamente que o Brasil de Telê Santana na Copa do México seria campeão exatamente no melhor jogo que fizera naquela competição: contra os franceses!

Vem aí, a vigésima primeira edição de Copa do Mundo, a da Rússia, em junho.

Que não tenham mais meninos loirinhos chorando em silêncio e sendo desacreditados por aquilo que há de mais precioso no futebol: a magia da inocência de se acreditar!

Passados quase 32 anos daquela Copa do Mundo, aquele menino loirinho se lamenta até hoje e vive sonhando que o pênalti perdido pelo Zico foi tudo uma brincadeira de mau gosto dos deuses que dominam e cometem injustiças nesse esporte chamado futebol.

Em tempo: O menino loirinho se chama Marcos Vinicius Cabral, tem 44 anos, é escritor – lançou dois livros e está terminando o terceiro – é jornalista, chargista, taxista, pintor de quadros, colaborador do Museu da Pelada, coordenador do jornal niteroiense on-line A Metropole e craque da camisa 23 – numa clara alusão ao dia do nascimento de sua única filha Gabrielle Cabral – do Grêmio Recreativo e Esportivo Barabá, no Porto Velho em São Gonçalo.

VALEU, FÉLIX!

Tricampeão mundial com a seleção de 70, o saudoso goleiro Félix completaria hoje 79 anos! Em homenagem ao craque, relembramos uma entrevista de 2010, durante o Cinefoot.

Homenageado no festival de cinema, o paredão não escondeu sua felicidade e relembrou as peladas da infância nos campinhos de várzea paulistanos e sua vitoriosa carreira, encerrada no timaço do Fluminense.

Vítima de enfisema pulmonar, Félix faleceu em agosto de 2012, após várias paradas cardiorrespiratórias.

Esse deixou saudades!

 

O TIME DO CÉU

:::: por Paulo Cezar Caju ::::


Estou triste, mas não vou falar de tristeza. Chorei, mas quero rir. Capita, descanse em paz, afinal não tinha mais pontas para você marcar mesmo. O futebol é outro. Tá chatooo! Agora, lateral virou beirada de campo, lado de campo, sei lá, um sonífero. Capita, após o seu enterro ouvi um resenheiro, Sérgio Roberto de Souza, comentar com o outro que o time do céu estava reforçado.

Perguntei, de brincadeira, quem ele havia escalado. O gaiato respondeu que o time era de Deus, não dele. Não sabia que Deus também era “professor”, kkkk!!! Começou com Gilmar. Logo freei e perguntei pelo Félix. Alguém do lado gritou “Barbosa”. Sou mais o Félix!

Na latera, o Capita recebeu todos os votos, óbvio!!! Na zaga, ok para Domingos da Guia, mas interferi novamente na escalação celestial. Trocaria o Bellini pelo Mauro, outro capitão. Nilton Santos é irretocável e pelos bons serviços prestados deve ter virado santo. Zito, Didi e Zizinho, no meio, perfeito! Deus sabe das coisas!

Alguém gritou por Sócrates no lugar do Zito, mas um outro gozador lembrou que o Sócrates aprontou muito em vida e deve ter sido barrado no céu, kkkkk!!!! Deus os perdoe!!! Na ponta-direita, Garrincha! Dizem que o Mané é reverenciado até por Deus Todo Poderoso e que teria lançado a moda das pernas tortas entre os anjos, kkkk!

Vavá de centroavante? Vou de Ademir Menezes!!! Friaça, na ponta? Vou de Leônidas da Silva, o Diamante Negro, o homem que virou chocolate!

Feola de técnico? Imagino o Feola dormindo numa nuvem aconchegante, kkkk!!! Vou de Telê!!! Fechamos assim, Sérgio Roberto? 

A grande verdade é que essa alegria e escracho dos torcedores é que sustentam o futebol. Só os torcedores conseguem manter viva essa molecagem que encantou o mundo.

Os geraldinos também morreram e animam esses craques, que divertem-se no antigo Maracanã, agora coberto por um gramado azulzinho. Lá é o seu lugar Capita, Garrincha, Nilton Santos & Cia!!!

“Professor” Deus, cuide bem da turma e pode deixar minha convocação para a Copa de 2.900.