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Seleção Brasileira

TODOS IGUAIS, MAS UNS MAIS IGUAIS QUE OS OUTROS

por Ivan Gomes


O título acima nos remete a uma frase de George Orwell em seu fantástico livro “A Revolução dos Bichos”, lançado em 1945. A frase também foi utilizada em 1992 pela banda gaúcha Engenheiros do Hawaii, na música “Ninguém é igual a ninguém”, que nos remetia ao final do governo Collor e seus escândalos. 

E em 2019, ela pode ser utilizada para o time, para mim seleção não existe mais, da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que puniu Douglas Costa, de maneira correta, após cuspir em um adversário, mas não irá punir Neymar, que atingiu um torcedor com um soco há algumas semanas.

Por qual motivo a agressão de Douglas Costa foi punida e a de Neymar não? Acredito que o futebol reflete em muito a sociedade na qual está inserido e, com essa atitude, mostra que realmente as regras no Brasil não são para todos. Como diz um antigo ditado, “aos amigos a lei, aos inimigos os rigores da lei.”

Muitos podem dizer que o jogador do PSG não pode ficar fora, pois trata-se de uma competição importante, que a “seleção” precisa do título, entre outras desculpinhas insignificantes. Mas não podemos esquecer que o futebol é o esporte mais popular do país e adentra às casas de milhões de brasileiros e praticado por muitos jovens e crianças que aspiram um dia tornarem-se profissionais e defender a seleção.


Devido a quantidade de pessoas que são afetadas por essa modalidade esportiva, acredito que ela poderia ser utilizada para mostrar às crianças e adolescentes que todo ato tem consequências. Neymar é tido como ídolo por muitos desses jovens, que mau exemplo ele deu e exemplo pior dá a confederação ao não puni-lo.

Quem é amante do futebol sabe que não é somente um jogo, é muito mais do que isso, mas a competitividade não pode estar acima de questões morais e éticas. Se bem que a CBF e a maioria da classe política brasileira são antros de péssimos exemplos e estão muito longe de valores éticos/morais, basta lembrarmos dos escândalos que envolvem Ricardo Teixeira, Marin e Marco Polo, os três últimos presidentes desta entidade.

Mas se alguém está preocupado com a competição, basta lembrarmos que na Copa do Chile, em 1962, Pelé, o rei do futebol, se contundiu e não disputou a fase final, mesmo assim o Brasil sagrou-se bicampeão do mundo. Também sem Pelé, em 1963, Almir Pernambuquinho substituiu o rei e o Santos conquistou o bicampeonato mundial de clubes. Esses exemplos mostram que quem vence é o grupo, não somente um jogador.

Além de ser péssimo exemplo de comportamento fora de campo, o atacante do time da CBF também o é dentro. Trocar o Santos pelo Barcelona é até compreensível nos dias atuais, devido ao neocolonialismo que sofremos, como se tudo que fosse feito na Europa seja o correto e o restante do mundo tem que seguir seus padrões. Mas trocar o Barcelona por um PSG, aí vemos que algo não está relacionado somente ao futebol… 

Talvez por isso hoje seja difícil termos ídolos no futebol. Os últimos são Rogério Ceni e Marcos, que sempre defenderam com honra e orgulho as cores de seus clubes. Cássio, o atual goleiro do Corinthians, trilha esse caminho, todos eles com carreiras feitas nos clubes e conquistas importantes.


Acredito que para que o futebol brasileiro e o sul-americano no geral melhorar (afinal, são sul-americanos os maiores craques de todos os tempos: Pelé, Garrincha, Maradona, Di Stéfano) é preciso que ocorram mudanças nas gestões dos clubes, profissionalismo é fundamental, incentivo às categorias esportivas dentro das escolas e que os jovens parem de usar os principais clubes de seus países como trampolim para ser contratados por times médios e pequenos de outros continentes. 

Quando criança nos anos 80, o sonho da molecada era ser jogador e ídolo no Santos, Corinthians, São Paulo, Palmeiras… ninguém falava em Europa. Hoje, a maior parte só pensa em jogar fora do Brasil. Precisamos deixar o eurocentrismo de lado e valorizar mais nosso povo e cultura. E, fundamentalmente, fazer com que as regras sejam aplicadas a todos e todas, independentemente da ocasião.

Ivan Gomes é jornalista e professor

 

 

CASCA-GROSSA DA COPA DE 78, RODRIGUES NETO NOS DEIXOU

por André Felipe de Lima


Ele curtia os atores Gary Cooper, John Wayne (e porque ninguém é de ferro) a estonteante Sônia Braga. Diziam que gostava de churrasco com farofa e de um carteado com amigos, mas apenas para passar o tempo, sem grana na jogada. Esse perfil está na antiga coleção Futebol Cards, com a qual a garotada, hoje na casa dos cinquentinha, se divertia entre 1979 e 1980. Réu confesso, fui um daqueles “fominhas” pelos disputadíssimos cartões com chiclete. Mas o camarada do cartão a que me refiro chama-se José Rodrigues Neto, um mineiro que nos deixou neste dia 29 um pouco órfãos.

Foi um lateral-esquerdo valente, excelente marcador. O estilo seduziu Claudio Coutinho, que, além de técnico da seleção brasileira, também treinava o Flamengo, onde o titular da posição era o incomparável Junior. Coutinho ignorou Junior e levou Rodrigues Neto para a Copa do Mundo de 1978, na Argentina.

Começou na reserva, mas com o ímpeto nos treinos convenceu Coutinho de que seria importante para a defesa, onde também se destacava Amaral. Aliás, como esquecer aquela rebatida na bola, em cima da linha do gol, no jogo contra os espanhóis? Amaral era sensacional. Mas o papo (e prossigamos) é com o Rodrigues Neto, que também foi um leão na grande campanha do Brasil naquela Copa do Mundo fajuta, arranjadinha pela ditadura argentina para que eles, os hermanos, fossem os campeões.

Ficamos com um honroso terceiro lugar, e Rodrigues Neto lavou a alma com os apupos que justamente recebera. Afinal, ele teria ido para a Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, não fosse uma até hoje mal explicada história em que o jogador abandonou o escrete durante uma excursão à Europa, no ano anterior. Ao dar de ombros para a delegação, que se encontrava em Berlim, o lateral selara seu destino longe da seleção brasileira. Pelo menos enquanto Zagallo fosse o técnico. Pelo menos até o fiasco do Brasil na Copa de 74.


Inventaram de tudo como motivo para Rodrigues Neto ter abandonado a seleção em 73. Citaram, inclusive, a trágica morte da primeira esposa dele, ocorrida em 1970, durante um parto prematuro. Rodrigues não estaria bem psicologicamente e por isso andava fazendo bobagens; também maldosamente comentaram que estaria enrabichado com amantes e que até teria se recusado a fazer um tratamento psiquiátrico sob recomendação do Flamengo após a morte da esposa. Porém o próprio jogador desfez o emaranhado de especulações e disse que decidiu deixar a seleção porque estava machucado e de nada adiantaria brigar pela posição com Marinho “Bruxa” Chagas e Marco Antônio, o reserva do Everaldo na Copa de 70.

A vida seguiu. O lateral impressionou os argentinos na Copa seguinte e ficou por lá mesmo, em Buenos Aires. Poucos meses após a vexatória competição organizada pela Fifa, o Ferro Carril Oeste, que na época peitava os grandões Boca Juniors, River Plate, Independiente, San Lorenzo e Racing, contratou o brasileiro. Rodrigues Neto estava com 29 anos: “Aqui, na Argentina, o jogador é mais respeitado como ser humano. No Brasil, você é considerado acabado quando passa dos 27 anos. Mesmo assim, não entendo como lá, no Brasil, possam se surpreender com meu sucesso no Ferro Carril Oeste. Ora, em julho de 1978 eu era titular da seleção brasileira!”

Veja só o que César Luiz Menotti, técnico da seleção da Argentina campeã da Copa de 78, dizia do Rodrigues Neto: “Lástima que El Negro Neto no sea argentino”. Pois bem, ele era respeitadíssimo e sempre garantiu jamais ter sofrido alguma cena de racismo na temporada que passou em Buenos Aires. Já “coroa”, com 35 anos, defendeu o Boca Juniors, mas a passagem pela Bombonera durou muito pouco. Nem um ano inteiro.

Rodrigues Neto jogou pelo Flamengo. Chegou à Gávea após ser “descoberto” pelo olheiro e massagista Mineiro, em 1965. Com o Rubro-negro, foi campeão carioca de 72 e 74. No troca-troca da dupla Fla-Flu, ele acabou indo para as Laranjeiras no ano seguinte. No Fluminense, foi o lateral canhoto titular da Máquina montada por Francisco Horta, e foi campeão carioca de 1976. Do Tricolor foi para o Botafogo, em fevereiro de 1977, ocupar a lacuna deixada pelo Marinho Chagas. Não ganhou nada lá. Era um tempo difícil demais para o Alvinegro, que mesmo assim montou um timaço, que incluía Paulo Cezar Lima e outros cobras sensacionais. Mas Rodrigues Neto queria ser novamente campeão, e foi com Inter, em Porto Alegre, ser feliz novamente, erguendo taças.


O futebol é generoso para quem o leva a sério e é, sobretudo, competente com a bola nos pés. Rodrigues Neto foi tudo isso e um pouco mais.

Do sucesso nos gramados a um susto tremendo muitos anos depois. Em 2015, Rodrigues Neto descobrira, pela imprensa, que havia… morrido. Vários jornais, sobretudo da Bahia, e sites esportivos conceituados publicaram a notícia, com obituário, lástimas e tudo o mais. Mas o Rodrigues que verdadeiramente morrera foi um ex-ponta-esquerda que defendeu o Flamengo, a Portuguesa de Desportos e o Cruzeiro.

O Rodrigues Neto mais famoso, que sofria de diabetes, acabou nos deixando nesta segunda-feira. Resta-nos agradecer pela página que escreveu no livro de amor que todos nutrimos pelo futebol.

DESMISTIFICANDO TELÊ SANTANA

por Luis Filipe Chateaubriand


Não cabe aqui questionar a excelência do trabalho de Telê Santana como grande treinador que foi. Isso é líquido, cristalino e inquestionável. Sempre foi um técnico que buscou imprimir em seus times a marca do futebol bem jogado, técnico, artístico.

Alguns imaginam que isso começou quando assumiu o cargo de técnico da Seleção Brasileira, em 1980. Falso. Seu trabalho anterior no Palmeiras, por exemplo, mostra que armou um time que “jogava por música”, mesmo com jogadores de técnica não lá muito desenvolvida. Seu Palmeiras de 1979, especialmente no Campeonato Paulista, foi um time de futebol bastante apreciável, embora tenha sido eliminado nas semifinais pelo rival Corinthians, que seria o campeão.

Contudo, alguns resolveram alçar Telê à condição de mito. Aí, parece ser um pouco demais.

Vejamos alguns vícios do treinador Telê Santana em relação à Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1982, decantada em prosa e verso como a melhor do pós 1970:

  • Telê, desde que assumiu a Seleção até a Copa, nunca convocou Emerson Leão, o melhor goleiro do país. Preferia jogar, na zaga, com o técnico, porém lento, Luisinho, ao invés do dinâmico Edinho. Tendo Roberto Dinamite à disposição, preferia escalar Serginho Chulapa. Não via que Dirceu era um ponta com função tática muito mais útil que Éder. Não percebia que Batista poderia dar mais solidez ao sistema defensivo. Teimosia pura.

  • Telê se negou a enxergar que o Flamengo de 1981 era um time incrível – seja tecnicamente, seja taticamente, seja em termos de conjunto – e, assim, perdeu a oportunidade de fazer essa espetacular equipe seu time base para 1982. Não o fez porque isso seria “encher a bola” de Cláudio Coutinho, que armou aquele brilhante escrete. Vaidade pura.

  • Telê não convocou o craque, o gênio, o espetacular Reinaldo para a Copa porque este mantinha relacionamentos de amizade com homossexuais e tinha visão política distinta da dele. Preconceito puro.

  • Telê, diante da negativa de Tita em continuar na Seleção jogando de ponta direita, o excluiu definitivamente das convocações, ao invés de, através da conversa, tentar convencê-lo a atuar daquele lado do campo, brilhante que era. O lado direito do time ficou torto. Inflexibilidade pura.

  • Telê, não dispondo de Tita, treinou meses Paulo Isidoro na ponta direita… para depois praticamente não utilizá-lo em toda a Copa. Incoerência pura.


Em função destes fatos, se está dizendo que Telê era mau técnico? De forma alguma. Mas havia falhas notáveis em seu trabalho, como, por exemplo, levar pouco em consideração concepções táticas ao armar seus times. Alguns dizem que o “barato” dele era botar os melhores em campo e que eles treinassem coletivos e se entendessem. Não era bem assim, mas que a concepção tática ficava em segundo plano, parece ser real.

Transformar um profissional com méritos, mas também com deficiências, em mito, parece não ser apropriado. É hora de desmitificar.

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.

A SELEÇÃO BRASILEIRA DE 82

por Luis Filipe Chateaubriand


Cantada em prosa e verso como uma das maiores seleções de futebol que o mundo já viu, a Seleção Brasileira de 1982 tinha imperfeições que muitas vezes não são notadas.

O técnico Telê Santana, notório adepto do futebol bem jogado, perdeu a oportunidade ímpar de fazer do Flamengo da época seu time base. Tivesse o feito, tendo o Flamengo como time base, teria ainda maiores chances de ganhar aquela Copa do Mundo do que de fato aconteceu.

Leão; Leandro, Oscar, Edinho e Júnior; Andrade, Falcão e Zico; Tita, Sócrates e Adílio. Seria um time titular com a base rubro-negra – ou seja, técnica, tática e conjunto – aliado à genialidade de Sócrates e Falcão, à experiência de Leão (o melhor goleiro do país de então), à segurança de Oscar e à agilidade de Edinho (que Luisinho não tinha, apesar da técnica).


O banco de reservas, à época composto por cinco jogadores, poderia ter Raul, Luisinho, o excelente Toninho Cerezo, o gênio Reinaldo (que não foi convocado pelo conservadorismo pessoal do técnico) e o versátil Lico (que não foi convocado sabe-se lá por que).

Vamos convir: se assim fosse, o escrete canarinho teria muito mais chances de êxito do que mesmo aquele timaço que foi montado à época teve.

Times como o Flamengo de 1981 e 1982 aparecem muito raramente em nosso futebol. Desperdiçar a chance de torná-lo base de nossa seleção foi enorme desperdício.

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email:luisfilipechateaubriand@gmail.com.

ESTÃO BRINCANDO CONOSCO


É sabido que a imprensa em geral foca seus principais holofotes em Flamengo, Corinthians e, agora, Palmeiras. E, claro, em Tite. A imprensa tem os seus queridinhos e não disfarça isso. Felipão continua sendo tratado como fenômeno e Fábio Carille é o mais novo amor dos jornalistas esportivos.

Ele era o treinador de zaga de Tite, portanto é mais um professor retranqueiro que surge com a função de engessar a nossa arte. A imprensa prefere destacar a contratação do Pato pelo São Paulo do que discutir profundamente o que estão fazendo com o nosso futebol.

Querem um exemplo? Pouquíssimo se falou sobre a derrota da seleção de Sub-17 de 3×0 para uma fraquíssima Argentina. O Brasil podia perder até de dois gols e se classificaria. Vale lembrar que em fevereiro a seleção Sub-20 também havia sido eliminada do Sul-Americano e não garantiu a vaga para o Mundial.

Na época, perguntei quem era o técnico Carlos Amadeu, comandante da garotada. Na mesa redonda, uma “comentarista” disse quer era uma das maiores referências mundiais dessa categoria, Kkkkkk, peraí, estão brincando conosco!


Agora foi a vez da Sub-17. Em um grupo com cinco seleções, ficou em quarto e só os três primeiros se classificavam. O Brasil amargou sua pior campanha na história da competição. Nunca ficou fora da fase final. Sua pior posição foi a quarta colocação, em 1993. A “sorte” é como a sede do Mundial Sub-17 será no Brasil o time está garantido no torneio.

Novamente fui pesquisar para saber quem era o nosso técnico. Guilherme Dalla Déa está no comando desde janeiro de 2018. Você conhece? O que já fez para estar lá? Comandou escolinhas no interior de São Paulo? Chupou laranja com quem, Guilherme Dalla Déa???

Repito, estão brincando conosco. A CBF está distribuindo sua legião de amigos em áreas estratégicas porque é na base que está a galinha dos ovos de ouro. Essas subs todas são como festivais de moda e de automóveis. A intenção é exibir os produtos.


Dizem que o destaque da Sub-17 foi Reinier, do Flamengo, que tem interesse de Real Madrid, Manchester, Milan, Juventus, e Arsenal. Essa notícia, sim, interessa aos jornalistas esportivos. Ou seja, o futebol agora merece a cobertura da Caras. Mas aviso que Neymar namorando Anitta não me interessa.

Por que a imprensa não faz um raio-x das bases dos clubes? Vai descobrir que os empresários comandam a festa. E desde a molecada de nove anos, até menos. Os treinadores que não escalarem um garoto encomendado perde o emprego. Mas a imprensa, como diz a garotada, segue o baile!

Só sei que ontem zapeando ouvi um comentarista experiente dizer “que guardadas as devidas proporções o Clayson, do Corinthians, lembra o Cristiano Ronaldo em seu início de carreira”. Kkkkkkkk!!!!! Acham que continuei no canal ou fui assistir Pica-Pau?