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Seleção Brasileira

O POVO FOI BARRADO NO BAILE

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Abro o jornal e leio que Michel Platini, ex-presidente da UEFA, foi preso por suspeitas de corrupção envolvendo a Copa de 2022. Ele é um dos tantos investigados na operação que apura possíveis irregularidades na escolha do Catar como sede do próximo mundial. Joguei muito contra esse craque quando eu atuava no Olympique de Marselha e essa era a recordação que gostaria de guardar. Tenho uma foto de nós dois trocando camisas no final de uma dessas partidas.

Uma pena, mas alguém duvida que rolou muito dinheiro para a escolha do país sede? E é justamente essa ganância, clubes, federações e confederações infestados de empresários e dirigentes corruptos, que estão destruindo o futebol. Mas uma hora a conta chega, como chegou para Michel Platini, Sergio Cabral, José Maria Marin e outros da turma. Alô, foras da lei do futebol, a sua hora vai chegar!!!

Mas, por falar em país sede, como o Brasil conseguiu trazer essa Copa América, Copa das Confederações, sei lá como chamam isso, mesmo depois dos escândalos na Copa do Mundo e Olimpíadas? Que moral esse governo e esses dirigentes esportivos têm para ganhar alguma concorrência?

Como a arrecadação de uma partida horrível, como Brasil x Bolívia pode ter rendido quase R$ 23 milhões se nem cheio o estádio estava???? Como pode um ingresso ser vendido a R$ 500,00???? O futebol é do povo, esqueceram-se? Essa elitização será a pá de cal no futebol, podem anotar. Quem investiga isso??? Será que nenhuma autoridade brasileira, Ministério Público, Defesa do Consumidor, ninguém vai fazer nada? Continuaremos vendo a maior paixão nacional continuar na mão desses crápulas? Acabou a paixão!

Quem paga R$ 500,00 para assistir um jogo desses? Onde estão os torcedores que saíam se acotovelando dos trens da Central, que sofriam, choravam e se esgoelavam por seus ídolos??? Onde estão esses ídolos???


Phillipe Coutinho, meu preferido da seleção, tem o semblante triste. Os jogadores estão milionários, só querem dançar e fazer dancinha nas redes sociais, nenhum deles mora no Brasil e os que moram estão loucos para ir embora. Nenhum deles entende o significado de vestir a camisa da seleção brasileira. Preferem as Calvin Kleins e Lacostes da vida. Por que não montar uma seleção nacional com os jogadores com quem os torcedores mais convivem?

Dirigentes, entendam algo bem simples. Mesmo vencendo a Copa América ou qualquer outro torneio, essa turma do Tite nunca encantará, pois a empatia com a torcida é zero. O discurso do Tite causa arrepios, sua data de validade expirou. Lembrem-se: os que amam o futebol de verdade, desfraldavam bandeiras gigantes e socavam o bumbo com vontade eram os mais pobres e, sem dó nem piedade, eles foram barrados no baile. Mas futebol sem alma, podem ter certeza, não é futebol, mas é isso que está aí.

MARTA, A ARTILHARIA E A REPRESENTATIVIDADE

por Josie Rodrigues


Eu gosto de clichês, apesar de óbvios eles funcionam para traçar paralelos da vida, do cotidiano, daquilo que parece tão lógico que precisamos de expressões e frases para dar um certificado a alguns sentimentos. Um dos meus clichês favoritos é que o futebol é uma paixão. Mas não é qualquer paixão, é talvez a única capaz de durar a vida inteira, aquela que te dará um êxtase, uma pulsão a mais, um frescor. Tenhas tu oito ou oitenta anos.

Mas paixões nunca são fáceis. A minha por futebol não havia de ser diferente. Nasci e cresci em uma sociedade que apesar de ter no esporte bretão o mais popular do país, sempre renegou às mulheres o direito igualitário de se fazer presente. Idiotas da objetividade dirão que não, uma vez que até a expressão “torcer” tem como origem uma homenagem dos cronistas esportivos – do início do século XX – às nervosas moças que “torciam” luvas e roupas enquanto assistiam às partidas de futebol. Mas a verdade é que tirando os estereótipos de musa, torcedora ou a terrível expressão Maria Chuteira, o campo futebolístico nunca foi acessível para nós, mulheres.

A primeira Copa que guardo na memória foi a de 1994, estava empolgadíssima com Romário e Bebeto, decidi junto com uma amiga que iríamos começar a jogar futebol. O único problema é que nas aulas de educação física nos era oferecido apenas dois esportes: o inútil handebol e o odioso voleibol. Futebol só para os meninos. Não é esporte de mulher.

E de fato não era. Mulheres batendo uma bola era prática proibida através do Decreto-Lei 3199 de 1941 de Getulio Vargas, decreto esse que durou até 1979. Esse importante ano na história ludopédica, que além de liberar o futebol feminino, também conheceu o único campeão invicto brasileiro: O Glorioso Colorado de Porto Alegre, mas isso é assunto para outra crônica.

Mas voltando a minha infância, quando eu estava começando a me apaixonar por futebol, fazia apenas quinze anos que ele deixava de ser proibido para mulheres. Não havia escolinhas, nem quadras, nem tradição que permitisse uma menina jogar. Restou-me apenas a paixão por um clube e minha obsessão por participar de todas as formas possíveis. Seja criando times com as crianças da escola, batendo boca com os meninos para provar o que era impedimento, pesquisando, escrevendo, indo a estádios. Essa era a única forma de viver minha paixão.


Corta para 2019, ano de Copa Feminina. Parei para ver a seleção brasileira jogar. E pensei o quanto queria ter visto isso com dez anos de idade! Queria que minha geração pudesse ter a Marta como ídolo. Poder assistir e me identificar, sonhar em ser jogadora, ter um nome feminino nas costas de uma camisa. Aquilo que chamamos de representatividade e toda a força e identificação quando temos um exemplo que “parece com a gente”.

Chorei quando a Marta marcou seu 17º gol, ultrapassando Klose como a maior artilharia de todas as Copas. E eu só conseguia pensar em quantas forças tentaram impedi-la de estar lá. Quantas vezes ficou sem clube para jogar, quantas vezes pensou em desistir, em quantas meninas que, assim como a que fui, amam futebol, mas que nessa tarde de terça-feira viram uma mulher ganhando um jogo em Copa do Mundo, se tornando a maior artilheira de todas os tempos. Fica a certeza que ainda existe um árduo caminho pela frente para as mulheres e o futebol, mas por hoje Marta nos fez acreditar que tudo é possível.

O VAR NÃO TEM CREDIBILIDADE


Não aguento mais toda hora alguém me perguntando o que acho do VAR. Vou direto ao ponto. Árbitro de vídeo pode funcionar em países civilizados e o Brasil não se inclui nesse caso. É óbvio que ninguém gosta de perder injustamente, mas se o VAR era para reduzir injustiças e polêmicas, esquece, essa tecnologia piorou tudo. E podem anotar, os tais ajustes que precisam ser feitos não resolverão o problema.

Existe uma briga clara entre as federações e o VAR está nesse fogo cruzado. Os árbitros viraram vedetes e adoram fazer o sinal da tela da tevê e correr apontando para a marca do pênalti ou sei lá para aonde.

Não sei quantos minutos para resolver questões simples, um monte de árbitros dentro de uma cabine para nada. E comemora o gol, e não comemora mais o gol, uma chatice tremenda. Duvido que, desde a instalação do VAR, outros goleiros não tenham se antecipado na batida do pênalti.

Faltam critérios, regras claras e, acima de tudo, credibilidade. Se muitos ministros do Superior Tribunal de Justiça perderam a credibilidade, imagine uma máquina cercada por pessoas nem sempre bem intencionadas. Se fosse apenas a máquina eu até confiaria, kkkk!!! Mas é assim que tudo funciona no Brasil.


Normalmente a tecnologia e os robôs são usados para reduzirem custos. Basta pegar o exemplo de várias fábricas automotivas. Claro que não sou a favor do desemprego, mas no caso do VAR o número de técnicos foi quadruplicado. Qual o custo disso?

Deveriam investir esse dinheiro em educação. Dessa forma, talvez o diretor do Flamengo, totalmente despreparado, não falasse o que falou. Uma coisa é a pessoa escrever errado pelas condições proporcionadas pela vida e a outra é não ter educação, postura e sensibilidade. Tratar a torcida do Flamengo de analfabeta é nauseante.

Os clubes estão se lixando para a educação de seus jogadores e é muito comum assistirmos erros grosseiros de português durante as coletivas. Os erros acabam virando chacota nas redes sociais e nenhum dirigente toma uma atitude. Falam errado usando a camisa do clube e a marca do patrocinador, mas educar para quê se já já ele vai para outro clube? Os empresários também não estão nem aí, o que importa é o dinheiro no bolso.

O Brasil é o país das mutretas, do incêndio no CT, do balcão de negócios. Como querem o VAR funcionando em um país onde os dirigentes fecham os olhos o tempo todo?

Sobre a decisão do Tite, nada mudou! Escolheu Daniel Alves para ser o novo capitão da Seleção Brasileira porque ele é da patota do Neymar. Ou seja, não evoluímos nada! Que venha a Copa América e as atuações “empolgantes” dos comandados do Tite!

QUE HINO É ESTE QUE TOCA E NÃO NOS TOCA?

por Zé Roberto Padilha


Retirem as crianças da sala, para não que elas não reparem a distância que eles tomaram. E poupem nossos pais, saudosos, para que eles não percebam que nossos ídolos, até então tão próximos, ficaram tão distantes e diferentes de nós. No Globo Esporte, um helicóptero, último modelo, fretado, saía da Granja Comary levando nossos jogadores, em seu dia de folga, para o Rio de Janeiro. Tão perto Teresópolis da Cidade Maravilhosa, com suas pavimentadas e belas estradas esculpidas em torno de um visual tão bonito, carregado de hortênsias e admiradas por um dos dedos de Deus, por que não voltaram de lá naquele luxuoso ônibus da CBF pago com o dinheiro dos nossos impostos?

Você começa a perder um grande amor quando deixa de tocá-lo. Quando um da relação chega cansado e mal tem tempo para lhe conceder um abraço. O que dirá se não lhe for servida uma taça de vinho. E ainda ganhar um beijo de tia, na face. É hora, definitivamente, de começar a desconfiar desta paixão esportiva. Não há como alimentá-la quando todos eles, jogadores da seleção brasileira, cercados de segurança para não serem assediados, com fones de ouvidos para não perceberem o clamor da massa que ainda os idolatra, passam um definitivo recado quando desembarcam diante das suas invioláveis armaduras da Nike: “Por favor, Não me toques!”.

Há dois anos, Richarlison chegou ao Fluminense, em seu Toyota 2017, pela BR 040. Veio dirigindo desde Belo Horizonte, onde defendia o América FC. Dois anos depois, na segunda-feira passada, foi o primeiro a chegar na Granja Comary. E desembarcou de uma limousine tão grande e blindada, que nenhum torcedor por lá de plantão se sentiu seguro a aproximar. E lhe dar um abraço de boas-vindas ao seu país e a sua seleção. Lhe desejar boa sorte e pedir um autógrafo. Seria a Carmem Lúcia que chegava? O Governador do Estado? Ou seria o próprio presidente Jair Bolsonaro?


Em um país tão desigual, nossos jogadores cada vez mais deixam suas origens, sua língua, seu hábitos e cultura para ser tornar, diante da primeira Champions League, mais um cidadão desigual. Do real para o euro, do Flamengo para o Real Madrid, do Fluminense para a zaga do Paris St. Germain, se distanciam dos seus torcedores trabalhadores que acordam às 4 da madrugada de Caxias, Mesquita e São João de Meriti para pegar uma composição da Supervia. E que retornam espremidos às 18h, mal veem seus meninos acordados, mas que tinham orgulho de economizar um pouquinho da feira para vê-los atuar no domingo. E na outra quarta também. Como ter time e trabalho misto se jamais na construção civil surgiu o Diego, o operário Arrascaeta misto a os poupar?

Na preparação das maiores competições oficias, ficávamos colados aos alambrados do Hotel de São Lourenço, da cidade de Caxambu, do clima ameno e das Águas de Lindóia, onde se preparavam para uma Copa do Mundo. Todos iam buscar um calor, um carinho e um autógrafo com a humildade de Mané Garrincha. Com a cumplicidade de um Carlos Alberto, do Santos, do Brito, que defendia o Vasco, do Piazza, ídolo do Cruzeiro, e Everaldo, a simplicidade convocada junto ao Grêmio. Hoje, protegidos pelo Daniel Alves, da Juventus, Thiago Silva e Marquinhos, do Paris St Germain, e Marcelo, do Real Madrid, nossa seleção não respira mais o cheiro da segurança e esperança das quais almejam seus compatriotas.

Quando aquele helicóptero subiu na telinha do Globo Esporte, e estragou nosso almoço de tão soberba a aparição, parecia um aviso que vinha dos céus e que iria percorrer cada pensamento dos nossos ídolos alienígenas antes do começo de cada partida da Copa América: “Que hino é este que toca e não mais nos toca?”

O DIA EM QUE “A SELEÇÃO” MORREU

por Rodrigo Ancillotti 

(Atenção: esse texto pode ferir suscetibilidades!!)


Quando Abraham Klein, por volta das 19 horas daquele 5 de julho de 1982 ainda de sol forte em Barcelona, apitou o final de Brasil 2 x 3 Itália pela Segunda Fase da Copa do Mundo da Espanha, ele não apenas deu números finais num dos jogos mais dramáticos e surpreendentes (para os desavisados) da História das Copas, ou simplesmente confirmou a eliminação do Brasil naquela que seria conhecida como Tragédia de Sarriá (nome do antigo estádio do Espanyol). Ele assinou o atestado de óbito da Seleção Brasileira de Futebol.

Sim, senhores!! Naquele dia, “A Seleção” deu seu último suspiro e encerrou um ciclo de 24 anos de hegemonia, brilho e técnica que encantaram o mundo. Mais exatamente 24 anos e 20 dias após seu nascimento, no dia 15 de junho de 1958, quando Mané Garrincha, Pelé e Vavá assombraram o mundo no Estádio Nya Ullevi, Gotemburgo. Nesse dia, o Brasil venceu a temida União Soviética por 2×0, gols de Vavá, e jogou o que ficou conhecido como “os três minutos iniciais mais espetaculares da história do futebol”.

Poderia ter nascido antes, é verdade. Talvez em 1925, quando o Clube Atlético Paulistano de Arthur Friedenreich encantou a Europa na primeira excursão internacional de um time brasileiro, quando chegaram a ser apelidados de “Les Rois du Football” pela imprensa francesa.

Ou quem sabe em 1938, quando Leônidas da Silva bailou nos campos da mesma França e só não classificou o Brasil para sua primeira final de Copa por estar contundido e fora da semifinal contra a Itália, sem esquecer a arbitragem criminosa pró-europeus. Talvez em 1950, nada mais justo se tivéssemos vencido aquela final contra o Uruguai no Maracanazo.


Não, amigos. Foi mesmo naquela partida brilhante contra os soviéticos, ainda mais que foi a estreia em Copas da dupla mais sensacional já vista em qualquer campo gramado: Mané Garricha e Pelé, que nunca perderam quando juntos pela Seleção. A partir daquele jogo, e do subsequente título contra a Suécia, o Brasil deixava o famoso “complexo de vira-latas” de Nélson Rodrigues para trás e assumia o protagonismo mundial no futebol. Os títulos internacionais do Santos de Pelé, Coutinho e cia e do Botafogo de Garrincha, Didi, Zagallo, etc só abrilhantavam ainda mais nossa Fase de Ouro, assim como a Academia do Palmeiras, o Cruzeiro de Tostão e Piazza, dentre tantos outros.

Em 24 anos, em 6 Copas disputadas, levantamos 3 canecos e ficamos com a Taça Jules Rimet em definitivo (até ser derretida por ladrões em 1983, já na ressaca do Sarriá). Fomos bicampeões em 1962 coroando Mané Garricha como melhor do mundo e, se sucumbimos ao futebol-força em 1966 (fruto da preparação mal feita e da violência dos adversários), vencemos no México dando mais uma aula de futebol com o melhor time/seleção da história.

Mesmo após dois Mundiais complicados seguidos, quando perdemos ora para nosso próprio pragmatismo (em 1974), ora nos bastidores (em 1978), nunca deixamos de ser respeitados e temidos em Copas do Mundo, e a Copa da Espanha seria nossa consagração. Jogávamos o futebol mais bonito do mundo desde o ano anterior, e o Mundial seria só proforma: apesar de adversários fortes como Alemanha Ocidental, França, Polônia, Inglaterra e Argentina, a Taça estava no papo, como bem dizia o Pacheco a todo momento na TV.

Até que tudo ruiu numa tarde infeliz contra uma seleção desacreditada mas muito bem armada que, apesar dos resultados ruins na primeira fase (quando só se classificou pelos gols marcados), tinha tudo para deslanchar de acordo com Seo Zezé Moreira, observador da CBF. 


E na tarde em que Paolo Rossi surgiria como nosso algoz com seus três gols, A Seleção morreu!! Nunca mais seríamos os mesmos, pois a eterna dúvida sempre martelaria: jogar feio e vencer ou jogar bonito e perder?? Pragmatismo ou beleza?? E mesmo nas duas Copas que vencemos desde 1982, apesar dos espasmos de bom futebol, o pragmatismo sempre levou vantagem: primeiro garantir lá atrás, pra só depois pensar em dar espetáculo. Continuamos entrando como favoritos em todas as competições, mas deixamos a fantasia pra trás.

O espetáculo nunca mais veio, meus amigos. A chama apagou naquele 5 de julho de 1982.