por Paulo R. Carvalho
Com toda essa onda de reprises de jogos históricos por conta do confinamento que estamos passando, voltou à tona um tema que de tempos em tempos sempre retorna ao radar: a campanha da seleção brasileira na Copa de 1982 e, sobretudo, a escalação do Serginho na equipe titular.
Deixem-me voltar um pouco no tempo para poder apresentar quem realmente foi Serginho para aqueles que só viram as reprises desses cinco jogos da Copa e formaram um julgamento influenciados pela desclassificação do Brasil.
Serginho foi um centroavante espetacular. Em meados da década de 70 já esbanjava vigor físico, velocidade, técnica (SIM) e faro de gol. Por conta disso é até hoje o maior artilheiro da história do São Paulo Futebol Clube com 242 gols em 399 partidas disputadas, uma excelente média de 0,61 gol por jogo.
Em 1977, ano em que o SPFC foi campeão brasileiro, Serginho disputava gol a gol com Reinaldo do Atlético-MG o papel de artilheiro e protagonista do campeonato. Dava gosto de vê-lo jogar, fazia toda a diferença em uma equipe apenas mediana, mas que se superou e chegou ao seu primeiro título nacional.
Como o mundo não é perfeito, o que tinha de genial, Serginho também tinha de intempestivo. Uma agressão chutando um bandeirinha que anulou equivocadamente um gol legal do artilheiro resultou em uma suspensão por 14 meses, posteriormente abreviada para 11, mas que lhe tirou da lista dos convocados para a Copa de 1978 na Argentina.
Ah….se arrependimento matasse!!! Essa Copa de 1978 tinha “a cara do Serginho”. Disputada em campos pesados, esburacados e com muitas disputas físicas, tudo o que nossa seleção precisava era de um camisa 9 com as características do Serginho. Como não foi possível convocá-lo, Cláudio Coutinho optou por Reinaldo (escolha óbvia) e Nunes, artilheiro que vinha com bastante destaque atuando pelo Santa Cruz, de Recife. Com o grupo de 22 jogadores já definido, uma contusão em um treino forçou o corte de Nunes e a convocação do Roberto Dinamite às vésperas da estreia do Brasil na Copa. Curioso, né? Roberto, atacante do Vasco da Gama, foi a 4ª opção do “carioca” Cláudio Coutinho para o ataque.
Passada a Copa do Mundo e já de volta aos gramados, Serginho fez parte de uma das maiores equipes do SPFC da história, tendo sido bicampeão paulista em 80/81 e vice brasileiro no mesmo ano de 81. Nessa época, Telê Santana já estava à frente da seleção brasileira e buscava formar a equipe que mais tarde encantaria o planeta na Espanha.
No período que compreendeu Mundialito no Uruguai, eliminatórias sul-americanas e diversos amistosos pelo Brasil e Europa, todos os grandes centroavantes brasileiros tiveram oportunidades. Foram testados na posição Reinaldo, Serginho, Nunes, Roberto, Careca, Baltazar, César e até o Dr. Sócrates improvisado. Todos eles jogaram e puderam ser avaliados pelo saudoso Telê.
Entre jogos iniciados como titular e entradas no decorrer das partidas até o início da participação do Brasil na Copa de 1982, os que mais jogaram na posição de centroavante foram:
1. Serginho – 15 jogos
2. Reinaldo – 11 jogos
3. Sócrates – 7 jogos
4. Roberto – 5 jogos
5. Careca e Baltazar – 4 jogos
6. Nunes e César – 2 jogos
Os escolhidos por Telê Santana foram Serginho (escolha mais do que óbvia dada a quantidade de partidas disputadas pela seleção e excelente desempenho nos anos de 80/81/82 pelo SPFC) e o surpreendente Careca que estreou pela seleção apenas em março/82 em uma partida contra a Alemanha Ocidental no Maracanã diante de 150.289 torcedores, entre eles, eu. Reinaldo acabou ficando de fora. Uns dizem que por contusão, outros por conta de seu comportamento fora de campo que desagradava o treinador. Com o corte do Careca por contusão, também às vésperas da Copa, novamente Roberto Dinamite acabou convocado ao apagar das luzes.
Serginho foi, portanto, merecedor de sua convocação. Conquistou sua posição na bola, dentro de campo e ao longo de vários jogos distribuídos entre os 26 meses que antecederam a Copa com Telê como treinador.
O resto da história todos conhecem. Serginho fez 5 jogos como titular na Copa do Mundo, marcou 2 gols e teve participação em alguns outros gols com passes e deslocamentos. Avaliar sua participação é um tema bem subjetivo. Eu entendo que ele fez uma Copa, no mínimo, “honesta”. Discreto contra a URSS, péssimo contra a Escócia, bem contra Nova Zelândia e Argentina e mal no derradeiro jogo contra a Itália onde o time todo não se encontrou. Falando nesse jogo, muitos atribuem nossa eliminação às escalações de Valdir Peres e Serginho, porém lembro que não foram eles que “deram” 3 gols para a Itália. No primeiro gol, Júnior muito mal colocado não acompanhou Paolo Rossi e ele marcou de cabeça. No segundo, Cerezo deu um “maravilhoso passe” para Paolo Rossi marcar e no terceiro, novamente Júnior se “esqueceu” de acompanhar a movimentação da defesa canarinho de modo a deixar Paolo Rossi em impedimento. Não estou aqui buscando culpados. Só quero mostrar que não foi pela presença do Serginho na equipe que perdemos a Copa. Perdemos porque em mata-mata de Copa não podemos errar e, infelizmente, tivemos erros individuais grosseiros que cobraram seu preço. Mesmo assim ainda tivemos chance de empatar no final, porém os deuses do futebol e Zoff não deixaram.
Se tivéssemos passado pela Itália com um empate de 3×3, apesar das falhas individuais, tudo isso teria sido relevado. Nós brasileiros comemoraríamos o título considerando que tivemos apenas um “imprevisto” contra a Itália que em nada comprometeu nossa conquista. Mais ou menos como o frango do Valdir Peres no primeiro jogo e aquele gol que Serginho não fez contra a Itália tendo Zico logo ao seu lado para finalizar…
Paulo R. Carvalho
Quem sou eu?
Paulista nascido em 1968 mas que mora no RJ desde 1980. Serginho foi meu primeiro e único ídolo no futebol. Por causa dele sempre joguei de centroavante e tenho o 9 como meu número predileto. Perdi a conta de quantas brigas tive em meus tempos de colégio aqui no RJ defendendo o Serginho das gozações feitas por meus colegas cariocas que insistiam em chamá-lo de “pereba” e defendiam os locais Nunes e Roberto Dinamite. Infelizmente não tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente (ainda).