Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Seleção Brasileira

AS APOSTAS

:::: por Paulo Cezar Caju ::::

A rapaziada adora me provocar, mas aprendi a lidar com essas situações e, hoje, me divirto. Há alguns dias, pouco antes de Pintinho voltar para a Espanha, estava no Bar da Pelada, em Copacabana, com ele, Búfalo Gil, Carlos Roberto, Moreira e Edevaldo Cavalo, quando alguém na mesa ao lado perguntou ironicamente: “e aí, PC, quais as apostas para o ano que vem?”.


Antigamente responderia que não era nem Nostradamus, nem Mãe Dinah. Mas não é preciso ser um dos dois videntes para cravar que nada melhorará no futebol e no mundo, simplesmente porque nada está sendo feito para isso.

Certamente outros times grandes cairão porque repetirão os erros do Inter de trocar treinador como se troca de roupa. Jogadores seguirão atuando até os 40 por falta de novos talentos e algum time regular, como foi o caso do Palmeiras, ganhará o Brasileirão. Os donos da CBF continuarão livres, leves, soltos e com os bolsos cheios. Renan Calheiros continuará em cena e a Baía de Guanabara, poluída.

Ah, não duvidem se Messi e Cristiano Ronaldo voltarem a se enfrentar pelo título de melhor do mundo. Os volantes continuarão a ser as grandes estrelas e Philippe Coutinho, hoje titular, certamente amargará a reserva para algum botinudo após o Brasil perder duas seguidas.

O pessoal da mesa ao lado, assustado com as previsões do Pai Caju, pediu a conta e se mandou. Só faltou fazer o sinal da cruz, como se eu fosse o Conde Drácula, mas ainda ouviram Búfalo Gil dizer “não mexe com quem está quieto”.

– texto publicado originalmente no jornal O Globo, em 04 de janeiro de 2017.

PÉS NO CHÃO

por Mateus Ribeiro


Tite está invicto no comando da seleção brasileira

Sonhar é bom. Manter os pés no chão, melhor ainda. A seleção brasileira passa por um bom momento. Venceu os últimos jogos das Eliminatórias com autoridade ímpar. O clima é de empolgação por parte de torcedores e da imprensa (como sempre). Não se pode negar que existe a troca de comando modificou muita coisa.

O time, com praticamente os mesmos jogadores, agora rende muito mais, o que causa uma dúvida: será que Neymar e seus amigos faziam corpo mole na gestão Dunga? Claramente jamais ouviremos tal hipótese, visto que agora não temos mais jogadores, e sim heróis de verde e amarelo. É claro que temos bons nomes. Neymar é ao lado de Messi e Cristiano Ronaldo um dos três jogadores que podem carregar um time nas costas. Desses três, o brasileiro é o que conta com melhores companhias.

Não podemos ignorar também que nomes como Gabriel Jesus e Coutinho estão indo muito bem, e enchem de esperança quem tanto sofreu torcendo para o selecionado da Nike durante os últimos anos. O que não pode ser ignorado de maneira alguma é que apesar da melhora evidente no futebol apresentado, os adversários enfrentados estão longe de enfiar medo em alguém.


O trio ofensivo da seleção tem dado trabalho aos marcadores

Apesar da Argentina contar com Messi, já faz um bom tempo que até nos piores momentos da canarinho, os vizinhos são atropelados. De resto, a vitória em Quito contra o Equador merece elogios. Porém, transformaram o triunfo em um desafio de Hércules. Não custa lembrar também que exatos dez anos atrás, estávamos no céu. A seleção era a melhor desde 1982 na boca de muita gente. Os títulos seguidos das insossas Copa das Confederações fizeram muita gente sonhar (e falar besteira) de maneira desenfreada. O resultado todos sabem: em um dia péssimo para o futebol brasileiro e ótimo para Zidane, a França mostrou que oba-oba não vence (e nunca vencerá) nada.

Já exista quem fale em hexa. A possibilidade existe, visto que muitas seleções sofreram declínio nos últimos anos, casos de Espanha, Holanda, Argentina, Uruguai e Itália. Porém, vale lembrar que se aqui as coisas mudaram em apenas seis meses, por lá as coisas podem mudar também. Afinal, até mesmo a falta de organização que tanto contribuiu com o enfadonho 7 a 1 já não aparece mais no discurso dos pachecos.


A corrupção da CBF, que tanto atrapalhava, aparentemente acabou. A seleção atingiu o Nirvana. Tudo isso com vitorias que não são menos que obrigação de quem sempre se orgulhou de ter a camisa mais pesada do futebol mundial, e que atualmente conta com estrelas de cinema que ganham zilhões de reais, dólares e euros. Os adversários também ganham isso? Ganham. Em proporção menor. E Peru, Colômbia, Bolívia e Equador não são obrigados a ganhar da seleção brasileira, mas sim o contrário.

Isso não acontecia com técnicos anteriores? Não. O que não anula o fato de ser obrigação chutar cachorro morto. Não sou nenhum urubu. Não quero jogar praga. Mesmo porque o cenário está muito mais claro do que até meses atrás. Sem cair naquela ladainha de que a seleção voltou a ter o amor, a confiança da torcida, até porque brasileiro não gosta de torcer, gosta de ganhar. Mas as chances de melhora, ao menos nessa geração, são reais.


Oscar é consolado por Lahm após a goleada alemã no Mineirão

O que quero com esse texto é apenas relembrar todos vocês que tempos atrás todos sonharam. Todos falaram muito. Todos já davam como certo o sexto título mundial. Todos caíram do cavalo. E após os tombos (que se repetiram em 2010 e 2014), tudo de ruim foi atribuído a fenômenos do porte de apagão, pane, ao invés de reconhecer que dias ruins acontecem, e que derrotas são possíveis e mais normais do que se imagina. Sonhar é bom. Mas manter os pés no chão evita quedas abruptas.

OBRIGADO, CAPITA!!!

por Sergio Pugliese


O futebol perdeu hoje um dos jogadores mais respeitados da história! O respeito era tanto, que lhe deram a missão de ser o líder daquele timaço que conquistou a Copa de 70! E a função foi tão bem exercida que ganhou o apelido de “Capita”, o “Capitão do Tri”, que beijou com carinho a Taça Jules Rimet! Vítima de um infarto fulminante, Carlos Alberto Torres morreu hoje, aos 72 anos, no Rio de Janeiro.

Com uma classe incomum para jogadores defensivos, o lateral-direito surgiu como uma grande promessa do Fluminense no início da década de 60 e, posteriormente passou a jogar como zagueiro. Atuou também por Santos, Botafogo, Flamengo e New York Cosmos, sempre caindo no gosto das torcidas sem precisar de muito esforço. Atualmente, trabalhava como comentarista do Canal SporTV.

Em homenagem a um dos maiores jogadores do futebol mundial, recordamos uma entrevista e um texto da coluna “A Pelada Como Ela É”, publicado em 14 de abril de 2012, que conta um pouco sobre a vida de boleiro do “Capita”, desde a infância:

O MENINO DA PENHA

Após mais uma vitória sobre o rival Independente, a rapaziada do Ipiranga seguiu para o Armazém do Seu Carlos, tradicional ponto de encontro “pós-massacres”. Seu Carlos além de excelente anfitrião também funcionava como patrocinador do time porque bancava sanduíches, refrigerantes e, claro, o uniforme: camisa branca de gola vermelha, calção azul e meião branco. Nesse dia, o jogo foi duríssimo e o lateral Carlos Alberto, líder do grupo, deitou-se na calçada da Vila da Penha de braços abertos, extasiado e principalmente aliviado por libertar os pés em carne viva das chuteiras, dois números menor.

– Minha família não tinha dinheiro para comprar e usava as que me emprestavam – recordou-se Carlos Alberto Torres, o capitão do tri, rodeado pela orgulhosa comitiva do A Pelada Como Ela É formada pelo trio de atacantes Reyes de Sá Viana do Castelo, Daniel Planel e Fernanda Pizzotti. 

O problema dos pés esfacelados complicava no dia seguinte. Precisava cumprir as tarefas como mensageiro da corretora de imóveis, de Seu Geraldo Albernaes, e à noite marcar ponto no Educandário Santa Fátima. Mas se tivesse bola rolando esquecia tudo. Queria seguir os passos de Zé Luiz, o irmão mais velho que treinava no Fluminense e despontava como possível substituto do ídolo Pinheiro. Mas um acidente de carro jogou tudo ralo abaixo. Os pais Chico e Alaíde não davam a menor força para Carlos Alberto, mas um dia ele foi convidado para um treininho no Fluminense por Roberto Alvarenga, dono do Ipiranga e supervisor tricolor. Inventou para o patrão que precisava visitar uma tia doente, mas foi flagrado pelo Velho Chico nas Laranjeiras. 

– Ele me chamou de vagabundo para baixo, mas num jantar com a família pedi uma chance e ele deu. Era um paizão! – contou, ao lado do filho Alexandre Torres. 


E Carlos Alberto não desperdiçou a chance. Aos 16 anos, barbarizou nos treinos, entrou para o juvenil e três anos depois substituiu Jair Marinho, que fraturara a perna, no time principal. Comemorou sua estreia no Maracanã dançando até se acabar numa das festas organizadas por Seu Barbosa, figura folclórica do bairro. Perdeu de 3 x 0 para o América, mas vibrou com os Golden Boys tocando na carroceria de um caminhão, na Estrada do Quitungo. Ele e os parceiros do Ipiranga, Noca, o ponta-direita Othon, o lateral-esquerdo Chicão e o goleiro Rui. O pai coruja empolgado com a performance do garotão, liberou o Chevrolet 40 preto para ele ir ao treinos. Um arraso! 

– Em 1963 fui convocado para o Panamericano e em 1964, comprei meu próprio Fusca! – vibrou. 

Também em 1964 foi convocado para a seleção brasileira e ganhou a vaga de Djalma Santos. Na estreia, vitória sobre a Inglaterra, no Maracanã, ao lado de Gilmar, Gerson, Vavá e Pelé. No ano seguinte, outra grata surpresa: o convite para integrar o dream team do Santos, com Gilmar, Mauro, Orlando Peçanha, Geraldino, Zito, Mengalvo, Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. 

– Ganhamos tudo e ficamos mundialmente famosos – orgulhou-se. 

A carreira de Carlos Alberto foi fulminante. Se aos 15 anos resgatava as bolas da vala negra que rasgava o campinho de terra batida do bairro, apenas 10 anos depois, no dia 21 de junho, o maior lateral-direito de todos os tempos, entrava no Estádio Azteca, na Cidade do México, para ser assistido por centenas de milhões de pessoas, na decisão da Copa do Mundo de 1970, contra a Itália. E colocou-se naquela faixa de campo, no território onde pouquíssimos ousaram se engraçar. Um deles, Abel, ponta-esquerda do América, pai do jornalista Abel Neto. Esse, por muitas vezes, tirou o seu sono. Mas o tempo seguiu e faltava pouco para o mais jovem capitão da história das Copas do Mundo atingir o sonho maior: erguer a Jules Rimet. E Pelé resolveu ajudá-lo nessa missão rolando aquela bola macia que implorava “me chuta!”. Dessa vez a chuteira tinha o número certo e a pancada pegou na veia. O Brasil explodiu em emoção e no Armazém do Seu Carlos todos desabaram em lágrimas. O eterno patrocinador prometeu uma festa de arromba no Largo do Bicão para recepcionar o craque e, cinco dias depois, a promessa foi cumprida. Carlos Alberto Torres retornou ao armazém e os dois trocaram um longo e emocionado abraço. Depois foram para o jogo! O Ipiranga estava de volta! Após 90 minutos de racha sob sol escaldante, Torres, quebrado, descalço e rodeado de amigos, deitou-se na mesma calçada de sempre, abriu os braços e chorou olhando para o céu azul de Vila da Penha, onde tudo começou.

NAS ONDAS DO RÁDIO

por Victor Kingma

Meu gosto pelo velho e bom esporte bretão começou muito cedo, quando eu tinha cino ou seis anos, lá pelo final dos anos 50. A influência maior foi da minha tinha Luquinha que, contrariando os hábitos das moças da época, gostava muito de futebol. Foi ela, inclusive, quem me fez torcer pelo Flamengo, paixão incontrolável que me acompanha por toda a vida.

Nas tardes de domingo ou nas noites frias de Mantiqueira, um pedacinho das Minas Gerais onde nasci e fui criado, o que eu mais gostava de fazer era ouvir as transmissões esportivas com os tradicionais narradores da época. Meus ídolos eram Waldir Amaral e Jorge Curi e eu gostava de imitá-los narrando os gols de Dida e Babá, pelo Flamengo, ou Pelé e Vavá, pela Seleção. Entretanto, gostava também dos outros narradores e sempre ouvia os jogos pela frequência que o nosso velho e chiador rádio Zenith sintonizasse primeiro. 


 Um dos primeiros jogos que escutei pelo rádio foi a partida semifinal da Copa de 1958 entre Brasil x França, realizado em 24/06/1958, no estádio Rasunda, em Estocolmo, na Suécia.  Naquela época, minha família morava num enorme casarão, a centenária Fazenda da Sotéria, em Mantiqueira. No dia do jogo nossa casa estava cheia de gente, entre amigos e parentes,  pois éramos dos poucos que tinham rádio na região. Interessante é que o que mais me marcou nesse jogo não foi a sensacional vitória do Brasil por 5 x 2 diante da poderosa seleção da França, de Fontaine e Kopa, mas uma situação muito divertida que aconteceu naquele dia e da qual nunca esqueci:   

 O Brasil vencia o jogo com uma atuação de gala. Logo no início do jogo, Vavá abriu o marcador, mas Just Fontaine empatou para a França pouco depois, marcando um de seus treze gols numa mesma Copa, recorde nunca mais superado. Ainda no primeiro tempo, Didi, com sua famosa folha seca, colocou o Brasil em vantagem. No segundo tempo então foi um show de bola. Pelé, numa de suas melhores exibições com a camisa da seleção, marcaria por três vezes, elevando o placar para 5 x 1. Fazíamos a maior algazarra lá na fazenda e cada gol era uma festa. Até meu pai, que não acompanhava muito futebol e só gostava do Garrincha,  estava eufórico. Todo mundo aguardava o fim do jogo para iniciarmos o foguetório pela vitória, como vinhamos fazendo desde o início da Copa.


A transmissão estava bastante inaudível naquele dia nublado e o narrador, se não me engano, era Pedro Luiz, da Rádio Bandeirantes, outro monstro da narração esportiva.   

 O jogo estava quase no fim e ninguém mais escutava direito a transmissão devido aos ruídos, quando alguém gritou: gooool!!! 

 Não deu mais para segurar a euforia. Saímos todos para o terreiro da fazenda e gastamos antecipadamente todo o estoque de foguetes.  Só que o goltinhasidoda França.  O autor, nunca esqueci: Piantoni. Logo depois o jogo acabou. Mas os foguetes também…     

 Não fosse umasprovidenciais bombas cabeça de nêgo compradasàs pressas na venda de seu Olegário,  a   molecada,  dentre as quais eu me incluía, ficaria frustrada pela falta dos fogos na comemoração que se seguiu, regada a vinho Moscatel  para os adultos e guaraná Pérola para a criançada.

 Poucos dias depois, em 29/06/1958, em outra exibição memorável, o Brasil venceria a Suécia também por 5 x 2 e se tornaria, pela primeira vez, campeão mundial de futebol.  E foi uma festa maior ainda lá na fazenda da Sotéria, já com o estoque de foguetes renovados.

 Como bom boleiro, claro que já assisti ou ouvi tantos jogos memoráveis do escrete nacional, entretanto, aquela partida na semifinal, pelasituação inusitadae que tanto marcou minha infância,  ainda hoje, passados mais de cinquenta anos, ainda guardo na lembrança.

Foimeu jogo inesquecível da seleção!

TREINO INESQUECÍVEL

por Antonio Carlos Ferreira da Costa


Recentemente, em homenagem ao aniversário de 63 anos de Paulo Roberto Falcão, publicamos uma imagem do craque durante a Copa de 1982 na nossa página do Facebook. Para nossa surpresa, recebemos um comentário de Antonio Carlos Ferreira da Costa, ex-jogador do time de juniores do Flamengo, que recordou o dia em que a base rubro-negra foi convidada para treinar contra a seleção brasileira no Maracanã.

Era dia 6 de maio de 1981, quando Telê Santana, técnico da seleção brasileira, convidou um grupo de jogadores da base do Flamengo para treinar com aquele timaço que se preparava para a Copa de 82. Tive a oportunidade de participar daquele treino e me deu até raiva! Tentei marcar o Falcão, mas o cara era surreal.

Além do “Rei de Roma”, a seleção ainda contava com Leandro, Oscar, Luizinho, Júnior, Cerezo, Sócrates, Zico, Reinaldo e Éder! Uma verdadeira covardia, que timaço! Foi um dia inesquecível não só para mim, mas para todos os meus colegas do Flamengo, pois enfrentamos uma das melhores seleções de todos os tempos, mesmo sem ter conquistado aquela Copa do Mundo.


Embora tenha sido muito prazeroso, aquele treino também foi muito desgastante. Além dos jogadores da seleção serem muito superiores, Telê Santana havia pedido para que a equipe do Flamengo fizesse marcação sob pressão, para dificultar a saída de bola daquele timaço! Nosso time até tentou, mas marcar aquelas feras era complicado demais e terminamos a atividade bem mais cansados do que eles.

O lance que mais me chamou a atenção nessa partida, sem dúvidas, foi uma matada de bola do Falcão! Após um bate-rebate na área, a bola subiu, subiu, subiu.. e o craque, com toda sua classe e elegância, dominou com o pé, sem deixar ela cair no chão. Todos ficaram perplexos com a genialidade do Rei de Roma!