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Seleção Brasileira

O TEMPO NÃO PARA

por Eliezer Cunha


Mais uma vez chegamos às vésperas de uma Copa do Mundo sem apresentar os elementos básicos para almejarmos chances de conquistarmos o sonhado caneco, como diziam nossos saudosos jogadores do passado. Fato este explicitamente evidenciado durante a nossa participação na recente e limitada Copa América. Finalizamos esta competição com uma participação extremamente fútil e lamentável frente aos fracos “Los Hermanos”? 

Distantes praticamente a 1 ano da maior competição futebolística do esporte, acordamos e nos deparamos com um time desorganizado em todos os sentidos, técnica e taticamente. Sabemos que para vencer uma competição deste nível, tínhamos que já estar preparados e se concordam comigo a tática pode substituir a técnica, ou vice-versa. Mas notoriamente não temos nenhuma, nem outra, quem dirá as duas juntas.

Mas o que temos então: um treinador perdido e inoperante taticamente, jogadores absurdamente voláteis e inconsistentes tecnicamente e, uma instituição desorganizada e confusa, ou seja, um país totalmente sem esperanças.

Quando voltaremos a colorir as ruas de verde e amarelo? Pintar nossos muros com as caricaturas de nossos jogadores? Ou ter uma nova canção de esperança cantada entre as vielas e ruas deste país, voando como o canarinho ou deixando a vida nos levar.

Será que nossa ressurreição ainda surgirá das cinzas de alguns jogadores? Ou será que alguma semente ainda não plantada nos dará os frutos necessários dentro das quatro linhas? Ou quem sabe teremos algum novo comandante que saberá juntar os cacos restantes formando uma bela aquarela.

Acho que a nossa única certeza e a que nos resta no momento é se preparar para o pior, pois como disse o nosso poeta imprevisível “O tempo não para”.

ONDE ESTÁ O FORA DE SÉRIE?

por Paulo-Roberto Andel


Muitos são os fatores que ajudam a explicar por que o Brasil deixou de ter o melhor futebol do mundo. Podemos dizer que perdemos grande parte dos espaços públicos onde os jovens jogadores surgiam. Hoje, um garoto forte com técnica limitada sempre terá preferência em relação a um craque franzino. Os clubes de menor investimento, verdadeiras fábricas de jogadores, estão à míngua – muitos já fecharam as portas ou sobrevivem com ex-jogadores em atividade. A evolução dos métodos de preparação física levou ao conceito de ocupação máxima dos espaços, exigindo que a prioridade fosse a questão atlética. Enquanto outros países apostaram na adaptação a certo tipo de jogo tido como “brasileiro”, o Brasil abriu mão de suas características essenciais para copiar o modelo de força bruta europeu. E muito mais.

Durante décadas, nos campinhos de subúrbio, nas quadras de futebol de salão, nos times de fábrica e de várzea, no futebol de areia, surgiam jogadores em quantidade industrial. Esse resultado aparecia nos clubes, onde cada time possuía diversos jogadores de alto nível, mesmo dentre aqueles que não necessariamente brigassem por títulos. E essa produção em série fazia emergir talentos a granel. Basta olhar o passado e verificar quantos craques consagrados jogaram pouco, quase nada ou simplesmente não defenderam a Seleção Brasileira. São centenas e centenas de nomes.

A inflexão que decretou a morte do chamado “futebol-arte” foi na Copa de 1982. Em vez de aprimorar a produção de jogadores de talento, o Brasil optou pela massificação da força física. Ironicamente, conquistou ainda mais duas Copas do Mundo e chegou a outra decisão, em todas com jogadores fora de série, ainda herdeiros da velha tradição do futebol brasileiro: Romário, Bebeto, Rivaldo, Ronaldo Nazário, Ronaldinho Gaúcho. Quando essa última geração se desfez, sucumbimos e passamos a viver de promessas não cumpridas em campo. O último jogador que, embora não chegasse ao mesmo platô destes citados, sabia utilizar seus recursos técnicos com inteligência absoluta foi Kaká, não por coincidência o último brasileiro a conquistar o prêmio de Melhor do Mundo.

Com filosofias de jogo ultrapassadas e a obsessão da força sobre a técnica que sempre tivemos, ficamos para trás à espera de lampejos. Qualquer jogador surgido de uma campanha de sucesso no futebol brasileiro passou a ser “digno” de jogar nas Seleções que conquistaram nossos cinco títulos mundiais. Ídolos passaram a ser construídos com marketing. Promessas de talento não se cristalizaram em craques definitivos da Seleção Brasileira, numa longa lista que vai de Adriano Imperador, passa por Robinho e Paulo Henrique Ganso, bate em nomes como os de Bernard e Oscar, até chegar aos atuais onde o mais reluzente deles é, sem dúvida, Neymar. Todos fizeram fama e fortuna, todos são conhecidos internacionalmente, mas nenhum deles teve o êxito na Seleção que se esperava.

Especificamente no caso de Neymar, a frieza dos números leva seus fãs mais ardorosos a vê-lo superando Pelé, isso por conta do número de gols marcados pela Seleção Brasileira. É fácil perceber que se trata de uma sentença inconsistente: basta avaliar as circunstâncias da construção das duas artilharias e, claro, a trajetória dos dois jogadores. Mas um fato é inquestionável: aos 30 anos de idade, Pelé já tinha três títulos mundiais, dois deles como ator principal, enquanto Neymar jamais chegou perto disso.

A seu favor, o atual camisa 10 da Seleção Brasileira tem até Rivellino em sua defesa, tendo declarado recentemente que Neymar poderia ter sido um titular de 1970 no lugar de Tostão. Com todo respeito a um dos maiores craques de todos os tempos, considero sua declaração um verdadeiro delírio: em nenhum momento de sua carreira Neymar jogou mais do que Tostão, o que não quer dizer que não possua um enorme talento que hoje lhe coloca entre os maiores jogadores do mundo atual. O problema é que esse mesmo mundo tem a sua principal fábrica de talentos fechada por tempo indeterminado, chamada Brasil.

Quando falamos das Seleções Brasileiras vitoriosas, é impossível não falar de três ou quatro, cinco nomes. A Era Neymar tem esse porém: é a jornada de um homem só, e isso ajuda a refletir sobre o que se tornou o futebol brasileiro atual. Longe de transformar a final da Copa América como uma tragédia, ironicamente neste momento a Seleção faz uma excepcional campanha nas eliminatórias, só que sem o menor brilho. Os resultados têm sido impecáveis, mas é possível disfarçar a mediocridade, e isso é que cada vez mais afasta o torcedor brasileiro de sua paixão de outrora, junto com a total falta de identificação com um grupo praticamente anônimo, embora com relativo sucesso no exterior.

O fato é que nosso talento ficou no século XX, cuja última raspa da colher foi em 2002. Precisamos recuperá-lo, antes que seja tarde demais. Todos os grandes centros de futebol do mundo têm condições de desenvolver seus jogadores até o apogeu físico, mas isso não precisava significar um desprezo ao talento, uma ojeriza ao improviso, ao drible objetivo e fulminante. Onde foi parar o nosso drible? Onde está o fora de série? Sabemos. Está escondido nas comunidades carentes, sem recursos nem empresário para adentrar um clube. Ou desprezado porque faz “palhaçadas” em campo. Ou ignorado por ser magriço, incapaz de mostrar sua força física.

Um dia, tivemos um futebol tão espetacular que o mundo inteiro tentou copiar, sem sucesso. Há quem não acredite, mas é só entrar no YouTube e ver. Está tudo lá. Dez minutos de passes, dribles e lançamentos num vídeo qualquer são suficientes para se entender onde é que a gente se perdeu.

@pauloandel

SELEÇÃO DE MENTIRA

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Quem ligasse a tevê no momento em que Tite, de terno, curvava-se ao público, balbuciando algo, poderia imaginá-lo como um maestro reverenciando a plateia, que acabara de aplaudi-lo fascinada com o brilhantismo do espetáculo. Mas, não. Era o comandante da seleção brasileira, outrora a mais temida do mundo, pedindo desculpas por mais uma bola fora de sua orquestra decadente, desafinada, que já nasceu fora do tom e nunca floresceu. Na verdade, essa seleção é uma mentira, uma piada, um tapa na cara do torcedor.

Tite é um tenor sem voz, um professor que se embaralha com as próprias fórmulas, especialista em caras e bocas, mas que nesses anos todos nada acrescentou ao futebol. Sinceramente, acho que após a derrota para a Argentina o professor deveria ter reunido a sua turma, ainda no vestiário, e cantado o sucesso de Kleiton e Kledir…”deu pra ti, baixo astral, vou pra Porto Alegre, tchau..”. A reformulação deve ser rápida e rigorosa. Alguns jogadores não tem a menor condição de vestir a camisa da seleção. Estar em algum grande time da Europa não é sinônimo de ser bom de bola. Os empresários lotearam a seleção e a CBF está deixando o baile seguir.

Se estamos com escassez de craques vamos investir em alma. Não temos qualquer estratégia e quando estamos no sufoco a saída é dar a bola para Neymar e torcer para que ele drible o time inteiro. Mas Neymar não é mais o menino que muitos ainda imaginam ser. Não temos mais um fora de série, não sabemos jogar coletivamente e sequer temos um líder. Nem o choro da derrota nos convence. Patético Casemiro aplaudindo o árbitro, patético Thiago Silva explicando mais um fiasco, patético Vinicius Jr. consolando Neymar. E olha que perdemos para uma Argentina sem graça, onde o destaque foi De Paul. Os “desarmadores de jogadas” se transformaram nos grandes astros do futebol, nunca vi isso.

Mas, certamente, Tite sairá mais prestigiado desse episódio, afinal é o queridinho da CBF, da mídia e vai classificar o Brasil para a Copa, missão “dificílima”. Escrevo enquanto assisto a final da Eurocopa e ouvi muitos gritos no gol da Inglaterra e mais ainda na vitória da Itália. Não vi nenhuma mobilização para a decisão do Brasil. Isso é grave, na verdade, triste, muito triste. Fico feliz por Roberto Mancini, da Itália. O episódio triste foi a volta dos hooligans, que aterrorizaram para invadir o estádio antes da bola rolar.

Por aqui, tudo na mesma. O Flamengo conseguiu uma virada no sufoco contra a Chape.O Náutico lidera a Segundona sob a batuta do veterano Hélio dos Anjos, algum time anunciou o retorno de Ney Franco e Felipão voltou ao mercado comemorando um empate com o Inter. Que nosso futebol está dentro de um túnel, não tenho dúvida o problema é descobrir onde está a luz, a saída, a salvação. Enquanto isso, sou obrigado a ouvir que fulano deu uma estilingada na bola pela beirinha do campo e que o Fortaleza é um time com conceito de ideia de jogo…

FALTA DE IDENTIFICAÇÃO

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Itália, Espanha, Inglaterra e Dinamarca. Fiquei muito feliz com o quarteto final da Eurocopa. Torci pela Bélgica, mas é bem interessante ver a Itália, de Roberto Mancini, seguir em frente, afinal ele não adota mais aquele insuportável ferrolho. Consegue defender-se bem, mas atacar com qualidade. É uma seleção bem mais leve. Também gosto muito do trabalho de Luis Enrique, apesar de a Espanha não ter feito nenhuma apresentação brilhante.

A Dinamarca é quase sempre uma surpresa agradável e Gareth Southgate vem surpreendendo no comando da Inglaterra. Virou técnico da seleção principal quase que por acaso, mas vem dando conta do recado. Como nos últimos anos me acostumei a ver a liga inglesa, a qual considero a mais agradável de acompanhar, acabo torcendo um pouco para eles. Preferia que o técnico fosse o Guardiola, mas a sua hora vai chegar.

Não acho nenhuma espetacular, mas consigo assisti-las e não consigo ver o Brasil. Acho que algo muito grave acontece e não é só comigo. Estava viajando com amigos e ninguém sequer sabia que a seleção jogaria. Não temos qualquer identificação com esse time. Não falta apenas qualidade, mas carisma. É um grupo sem sal que depende apenas dos lampejos de Neymar. É preciso uma reformulação geral, um trabalho de marketing pesado para atrair novamente a atenção do torcedor. O futebol por si só já está muito chato.

Estava vendo Vasco x Goiás e o pau cantou só porque um atacante do Goiás tentou um drible no fim do jogo. Alguns vascaínos foram reclamar com o árbitro, pedir cartão!!!! Não falta mais nada!!! E outro dia o Cazares, do Flu, fez gol contra o Corinthians, seu ex-clube, e não comemorou em respeito. Meu Deus, qual a história que o Cazares tem com o Corinthians? Quanto tempo jogou lá? Virou piada! Mas piada mesmo foi Gustavo Scarpa respondendo ao jornalista no fim da partida contra o Sport, vitória de 1×0, gol seu. O repórter queria saber a que se devia sua excelente fase. “Estou jogando na minha posição”, respondeu. Morri de rir porque o futebol é óbvio, simples, mas não para esses professores que só destroem nossa arte. Já colocaram o Gustavo Scarpa na lateral, ponta-direita, só faltou de goleiro. Agora, descobriram que ele rende na posição de ofício. Patético.

Pelo menos Bahia, Fortaleza, Ceará e Bragantino seguem fazendo bonito! O reinado precisa mudar de mãos e se depender da minha reza esse dia vai chegar! Os que não me dão mais esperanças são os analistas de computadores, que inventaram agora jogador agudo! Na minha época agudo era o acento! E teve outro que disse que o número 10 central deu uma assistência por dentro para o atacante concluir!

A SELEÇÃO QUE NÃO NOS REPRESENTA MAIS

por Zé Roberto Padilha


Era tão bom quando a seleção era brasileira.

Jogavam em nossos clubes, viviam os nossos problemas, sofriam com os engarramentos, o aumento da gasolina e do gás de cozinha.

Quando eram convocados, iam para uma estância hidro mineral e treinavam ao lado de sua gente. A energia era repassada na beira do alambrado, na busca pelos autógrafos, no assédio dos torcedores.

De uns tempos para cá, foram trancafiados em condomínios de luxo do outro lado do atlântico. Falam outra língua, recebem outra moeda e quando são convocados desembarcam na área vip protegidos.

Dos seguranças, do assedio dos fãs.

Dos clamores, se protegem com headphones.

São incapazes de se posicionar sobre qualquer causa que afete sua gente. Nao são a favor ou contra a cloroquina. Ídolos são porta-vozes de quem os idolatra. Eles, tão distantes, não estão nem aí.

Não sou saudosista, que vive do passado. Sou saudoso das coisas boas que vivemos.

Jairzinho deixando o Botafogo e se apresentando na sede da CBD. E a sua gloriosa torcida presente, no centro da cidade, toda orgulhosa porque se sentia convocada também.

A sintonia se foi, a empatia desapareceu, a cumplicidade se perdeu. Até quando acertam o nome que está na boca do povo convocam o Fred errado.

Sério? Prefiro assistir Botafogo x Coritiba. Pelo menos vamos cruzar com seus jogadores em algum lugar do presente.

Porque o passado é uma camisa Athleta, verde amarela, sem patrocínios, feita a mão, disputada a tapa de uma seleção brasileira, que, hoje, tão fria, previsível e distante, não nos representa mais.