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Seleção Brasileira

É O DUNGA, VAI ENCARAR?

por André Felipe de Lima


Nenhum outro jogador de futebol passeou pelo inferno das críticas vorazes e depois galgou ao céu das Copas do Mundo da forma como protagonizou Carlos Caetano Bledorn Verri. Foi considerado o culpado pela pífia campanha do Brasil na Copa de 1990, na Itália, quando o seu nome serviu para definir uma “Era” fracassada do futebol brasileiro. Convenhamos, uma grande injustiça com o cidadão Carlos, que quatro anos depois ergueu como capitão da Seleção Brasileira a Copa do Mundo nos Estados Unidos. A controversa personagem construída ao longo da carreira permanece viva até hoje. Porém o capitão do Tetra de 94, que foi um jogador capaz de despertar raiva e ao mesmo tempo respeito nos torcedores e jornalistas, é o mais verossímil sinônimo de um guerreiro em campo. Um gladiador das canchas futebolísticas. Dunga é histórico para o futebol brasileiro, e isso não se questiona.

O ato derradeiro da carreira dele como jogador foi salvar do rebaixamento no campeonato brasileiro, em 1999, o Internacional, clube em que começou a carreira, com um gol nos últimos minutos do último jogo da dramática campanha colorada. Um herói da garra.

Nascido em Ijuí, no interior gaúcho, no dia 31 de outubro de 1963, Dunga cresceu com pouco, mas bastante feliz ao lado dos pais Edelceu e Maria. Deleitava-se com uma mistura exótica que considerava sua sobremesa favorita: Fanta Uva com chocolate Diamante Negro. Uma guloseima “inventada” por ele, aparentemente banal, mas considerada um luxo para quem teve muito pouco quando criança. O pai trabalhava duro o dia inteiro na Prefeitura de Ijuí e após o expediente vendia bilhetes de loteria para engrossar a renda. A mãe era professora e sempre estudou. Da casa quem cuidava eram os filhos. Cabia ao Dunga varrer o chão e lavar a louça. No colégio, um tanto preguiçoso, contudo. Matar aula representaria um puxão de orelhas da mãe, e na frente dos colegas para aprender a lição. Não havia refresco para Dunga. A disciplina e o jeitão exigente, o de general dos gramados, talvez tenham vindo dessa fase infanto-juvenil.

Quem o levou para o Internacional foi o padrinho Perondi. Mas Dunga tinha tudo para parar em outros clubes gaúchos. Edelceu foi jogador do antigo Cruzeiro de Porto Alegre e o tio Marimba jogou pelo Grêmio, na década de 1950. Mas os auspícios indicavam outro caminho para o garoto. Aos 15 anos, Dunga foi treinar no Beira-Rio. E, por incrível que pareça, como meia-atacante. “Era um menino pesado, de pernas grossas e curtas [daí o apelido, Dunga]. Não acreditei nele, mas estava errado. Ele pode até não ter sido um craque, mas jogava com a cabeça, é disciplinado, um vencedor”, disse Perondi à brava repórter Mirelle França.


Em 1983, Dunga subiu ao time principal e passou a condição de volante de contenção, treinado por Abílio dos Reis. E tinha de ser mesmo titular do Inter, afinal, Dunga foi campeão mundial de sub-20, no México, naquele mesmo ano. Um time que apresentou uma geração ao futebol brasileiro que ninguém mais esqueceria. Bebeto, Jorginho, Geovani, Mauricinho… um time verdadeiramente talentoso e que já havia conquistado o sul-americano da categoria. No mesmo ano, Dunga foi medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos e em 84 pendurou no pescoço a medalha de prata durante as Olimpíadas de Los Angeles. Sem contar o bicampeonato gaúcho, em 1983 e 84. Todas essas conquistas ainda em início de carreira o credenciaram para uma aventura em algum clube milionário da Europa. Foi aí que surgiu a Fiorentina.

Os italianos contrataram Dunga, mas o emprestaram ao Corinthians, onde seria vice-campeão paulista. O volante, De León e o centroavante Serginho acabaram repassados ao Santos. Na Vila Belmiro, Dunga permaneceu de 1985 a 86. Mas foi em 1987, no Vasco, que o jogador presenciou um ano especial. Com clube carioca, foi campeão estadual, em um time que contava com Geovani, seu ex-companheiro do Mundial de juniores de 83, e Mazinho.

Após a passagem por São Januário, Dunga embarcou de vez para a Europa. Na Itália, defendeu o Pisa e, em seguida, a própria Fiorentina, por onde ficou durante cinco anos, período em que foi vice-campeão da Copa da Uefa na temporada 1989/90 e cultivou um interesse especial sobre arte e cultural italianas, principalmente após a passagem por Florença. Dunga é capaz de destrinchar toda a vida dos Médici com a mesma facilidade com que desarmava um atacante desavisado.

O meia jogou também pelo Pescara e foi assediado pela Juventus, mas a negociação nunca foi concretizada. Em 1993, conheceu o futebol alemão, atuando pelo Stuttgart. Dois anos depois, aventurou-se no rico futebol japonês, porém em fase de estruturação. Dunga defendeu o Jubilo Iwata e conquistou o título nipônico de 1997. Mais até. A temporada no Japão proporcionou o contato com flores e plantas, um hobby com o qual Dunga convive até hoje para manter-se calmo.

Tanto tempo fora de casa, Dunga sentiu necessidade de voltar. Mas voltar para o seu Rio Grande do Sul. Ao seu Colorado. Em 1999, ele desembarcou em Porto Alegre, mas nem deu tempo de matar as saudades porque no final do ano deixou o clube, apesar de a diretoria confirmar que Dunga teria assinado um contrato de dois anos. Sem traumas, Dunga deixou o Beira-Rio de bem com a torcida. Foi dele o gol “redentor” contra o Palmeiras, que livrou o Inter da segunda divisão do campeonato brasileiro.

Se a história do craque com o Inter é mágica, com a seleção brasileira, então, nem se fale. Já havia mostrado nos escretes de juniores e de novos que era líder e tinha pé-quente. Estreou na seleção principal em 1986 sob a intervenção de Jair Pereira. Em 1989, a consagração. As gerações de Bebeto, Dunga e Jorginho, alinhada com a de Romário, foi campeão da Copa América de 1989. Há 40 anos que o Brasil não erguia o tradicional troféu.

Tudo indicava que estávamos diante de um punhado de craques que acabaria também com o jejum em Copas do Mundo. Veio 1990 e com ele a Copa na Itália. No comando da seleção, Sebastião Lazaroni, treinador que papou vários campeonatos cariocas, por Vasco e Flamengo, na década anterior. Lazaroni usava um discurso empolado, prolixo pra caramba. Ninguém deve ter entendido patavina na concentração e o Brasil acabou eliminado pela Argentina nas oitavas-de-final, após um “apagão” na defesa brasileira que propiciou a arrancada de Maradona, sem que Dunga conseguisse alcançá-lo, e o gol de Caniggia.


Aquela geração — sobretudo o fiasco na Itália — ficaria marcada como a “Era Dunga”, expressão que por quatro anos serviria para se referir a um grupo de jogadores injustamente qualificado como sem talento. Um momento do futebol nacional que virou sinônimo de futebol feio.

Deixe estar. O mundo não acabaria ali, diante da milonga dos hermanos e da água suspeita oferecida pelos argentinos em campo e ingenuamente bebida pelos jogadores brasileiros. Depois da decepção de 90, Dunga só reapareceu nas convocações em 1993, ano das Eliminatórias, sob o comando de Carlos Alberto Parreira. O Brasil se classificou com certa dificuldade e o time era considerado pouco inspirado e retranqueiro. Porém, no Mundial, Dunga tornou-se capitão da equipe, com Raí, o mais badalado do time ao lado de Romário, barrado por Parreira.

A Copa de 94 acabou e foi ela a tradução mais fiel do que representava a “Era Dunga”. Mas reconheçamos naquela seleção algo quase sobrenatural. Algo, digamos, envolto em um salutar carma coletivo. Foram campeões mundiais juntos desde as divisões de base. Dunga é um predestinado.


Acabou a Copa como o jogador que mais desarmou jogadas e ainda mostrou bom futebol na distribuição de passes. Fez, por exemplo, um lindo lançamento para Romário marcar contra Camarões. Após a vitória contra a Itália, na disputa por pênaltis, Dunga ergueu a taça e gritou “Isso é pra vocês, seus traíras”, em desabafo justo, convenhamos. Afinal, carregar nos ombros um fardo por conta de um desatino coletivo quatro anos antes não era para qualquer um. Era, sem trocadilhos, somente para um jogador como Dunga, que teve outro momento feliz, vencendo a Copa América de 1997, na Bolívia, a primeira conquista brasileira de um sul-americano fora do país.

Já com 34 anos, Dunga foi titular da Copa de 1998, na França. Apesar de desorganizado, o time tinha um elenco forte e avançava rumo à final. Contra Marrocos, o Brasil venceu por 3 a 0, mas Dunga perdeu as estribeiras, discutiu com Bebeto e deu-lhe uma cabeçada.

A seleção chegou à final contra os donos da casa. Como se o destino não quisesse que aquela equipe fosse campeã do mundo, um episódio até hoje mal explicado marcou a tarde do jogo. Ronaldinho sofreu convulsões antes da escalação oficial e Edmundo foi anunciado como titular. Mesmo assim, Ronaldinho entrou em campo, mas o Brasil parecia completamente aturdido. O jogo terminou 3 a 0 para a França de Zidane. Dunga jogou ao todo 18 partidas em Copas do Mundo. É, indiscutivelmente, um dos nomes mais singulares de toda a história do futebol brasileiro.

Após a Copa dos franceses, Dunga não voltou mais à seleção. Mas nem por isso abateu-se. Não precisava provar mais nada a ninguém. Continuou jogando a sua bolinha e mostrando o caráter ímpar que sempre o envolveu.

Ao receber 372 mil reais pela rescisão com o Internacional, doou o dinheiro a instituições de caridade que amparam crianças. Alegou que sempre ganhou dinheiro trabalhando. “As coisas que adquiri em minha vida foram sempre conquistadas com trabalho, com meu esforço. Então, se não trabalharia, por causa da rescisão, o correto seria deixá-lo de lado. Como profissional, é legal e moral. Mas, como homem, não poderia aceitá-lo […] achei melhor doá-lo para uma instituição em que geraria muito mais alegria”. Dunga, que já havia sido o precursor de uma campanha entre os jogadores para ajudarem o Instituto de combate ao Câncer, decidiu terminar o segundo grau e continuar estudando. Como muitos outros craques de sua geração, mantém um projeto social denominado Esporte Clube Cidadão, na Restinga, bairro da periferia de Porto Alegre, que atende cerca de 400 crianças.

Estava tranqüilo, na sua residência em Ipanema, bairro de Porto Alegre, cuidando de seu jardim e conversando com os amigos vizinhos em meio a rodadas de chimarrão, quando mais uma vez o destino lhe reservou uma missão. O predestinado Dunga teria de recuperar o prestígio da seleção brasileira abalado após a desastrosa campanha na Copa do Mundo de 2006, na Alemanha.

Em 24 de julho de 2006, Dunga assumiu o cargo de treinador do escrete canarinho. Mesmo inexperiente na função, chegou por causa da fama de brioso. Choveu crítica de todos os lados. As estrelas Ronaldinho Gaúcho e Kaká pediram dispensa do time na Copa América de 2007, que aconteceu na Venezuela. E o velho Dunga, verdadeira madeira de jequitibá, duro, impávido, resistiu às críticas mais pusilânimes, que implicavam até com a sua roupa, cujos modelos foram criados pela sua filha Gabriela Verri. Dunga aguentou tudo. Era como se o fantasma da injusta “Era” que lhe atribuíram estivesse o rondando. O ex-craque respirou fundo, olhou para frente e liderou, mesmo que do banco, Robinho e cia. durante a campanha da Copa América. Parecia o grande capitão de 94 em cena. E era mesmo. Brasil campeão e novamente com o general Dunga, que também lideraria a seleção, primeira colocada nas eliminatórias, à Copa de 2010, na África do Sul.

O Mundial foi, contudo, uma experiência incômoda para o ex-craque. Envolveu-se em várias polêmicas na África do Sul. Muito pressionado pela imprensa e opinião pública quanto à confiabilidade do time, Dunga chegou a desrespeitar Alex Escobar, jornalista da TV Globo, durante uma coletiva com a imprensa. A missão de Dunga como treinador da seleção parou na Holanda, que eliminou o Brasil da Copa após virar o jogo para 2 a 1.

Dunga foi crucificado, como fora Telê Santana, em 1982 e 1986. Mas guerreiros dão a volta por cima. E a história de Dunga prova isso.

***

A biografia completa do Dunga consta do IV volume (a Letra “D”) de “Ídolos – Dicionário dos craques do futebol brasileiro, de 1900 aos nossos dias”, com lançamento em dezembro. A enciclopédia, que consiste em 18 volumes, está sob a edição do querido Cesar Oliveira.

PARABÉNS, FALCÃO!

por Serginho5Bocas


por Claudio Duarte

Me desculpem os fãs de Beckembauer, do Redondo e do Zidane, mas hoje vou homenagear o Pelé dos volantes, o jogador mais elegante que vi jogar bola em minha vida e um dos maiores craques que o mundo produziu em todos os tempos.

Paulo Roberto Falcão nasceu em 16 de outubro de 1953, e fez história em Porto Alegre, no Brasil e depois na Itália. Muito novo comandou o grande Internacional dos anos 70, dividindo a liderança com ninguém menos do que Elias Figueroa e sagrando-se tricampeão brasileiro, sendo que no último título, em 1979, de forma invicta, fato único até hoje no Brasil. Mesmo sendo volante, venceu duas vezes o prêmio de melhor jogador do Campeonato Brasileiro, numa época em que ser o melhor por aqui era coisa para os “fortes”, um monstro!

Em campo um líder nato, que exibia um comando quase invisível para a torcida, não era de muitos gestos e gritos, uma eminência parda. Contudo, Falcão ditava o ritmo e “facilitava” o jogo de todo o time, aparecendo em todas as partes do campo, saindo da defesa com extrema facilidade, articulando no meio as jogadas de ataque, fazendo belas tabelas e lindos gols. Suas características incluíam um grande senso de colocação, habilidade e técnica acima da média, economia nos dribles (sempre e somente na hora certa), chutes e passes precisos. Tinha excelência em todos os fundamentos do futebol.


Por incrível que pareça, Falcão jogou pouco na seleção brasileira, apenas 49 partidas (só no Brasil mesmo) e logo no início da carreira foi surpreendido por Claudio Coutinho, que preteriu-o levando Chicão para a Copa do Mundo de 1978 na Argentina. Na Copa de 1986, no México, esteve presente no grupo, mas sem reunir boas condições físicas, em razão de uma operação no joelho, se limitou a poucos minutos de jogo. Assim, seu show ficou reservado para 1982 na Espanha, quando ele entrou para a história ao ser um dos líderes de uma equipe de astros, que contava ainda com Zico, Sócrates, Cerezo, Júnior, Leandro e que entrou para a história do futebol mundial.

Naquela Copa ele atuou nas cinco partidas do Brasil e marcou 3 gols, apresentando um futebol tão refinado que foi agraciado com o prêmio de segundo melhor da torneio (bola de prata), mesmo tendo sido eliminado ainda nas quartas-de-final. Só não levou a bola de ouro, porque Paolo Rossi,  o “bambino d´ouro” italiano decidiu a Copa para a Itália.

Acredito que o jogo contra a Argentina (3×1), foi sua maior atuação pela seleção brasileira, mesmo tendo jogado uma barbaridade também contra a Itália. Só que no jogo contra os “Hermanos”, ele quase nos brinda com o que seria um dos mais belos gols de todas as Copas, quando fez uma tabela com Sócrates no alto, e sem deixar a bola cair emendou de primeira e de perna esquerda no travessão de Fillol, uma pintura, jogada de enciclopédia para ser ensinada nas escolas de futebol arte do mundo todo. Sem contar o gol de empate na derrota para os italianos, que fez até defunto levantar da tumba e comemorar. Até hoje, quando vejo aquele gol de novo, com ele correndo e comemorando em direção ao banco de reservas, me arrepio e vibro de novo, uma sensação poucas vezes repetidas em minha vida de torcedor.


Falcão foi o oitavo rei de Roma, ungido pelo Papa, comandando a equipe da Roma nas conquistas da Copa Itália e do Campeonato Italiano, “gastou” tanto a bola por lá que até hoje é reverenciado por aquelas bandas. Deixou em nossa memória belas jogadas e belos gols como o do emocionante empate contra a Itália na Copa de 1982, ou o de raça e talento contra o Palmeiras na semifinal do Brasileiro de 1979 em que escapa da sola de Mococa, ou ainda o da espetacular tabelinha de cabeça com escurinho, marcando já nos minutos finais da semifinal do Brasileiro de 1976 contra o Atlético de Minas Gerais.

Foi comentarista da Rede Globo e treinador de futebol, inclusive da seleção brasileira, também comandou um programa de esportes na Fox, sempre exibindo toda a sua visão de jogo acima do normal. Sua educação, simplicidade e a inteligência sempre o distinguiu dos demais e o tornou diferenciado.

Em minha opinião, Falcão foi um dos cinco jogadores mais completos do mundo, que tive o prazer de ver em ação, sobrava na turma, digo, em qualquer turma. Dominava os cinco fundamentos importantíssimos do futebol, que são: marcar, matar, passar, driblar e chutar. Dizem que Di Stefano e Cruyff foram os únicos jogadores que jogavam no campo todo, mas eu ouso a incluir neste seleto grupo de virtuoses Falcão.

Acho difícil ver alguém repetir o que o “anjo louro” fazia em campo naquele setor, pois diziam na época que ele deveria jogar de terno e gravata, tamanha era sua elegância e o tratamento que dispensava a amiga, a bola.

Quanta saudade! Ô tempo bão…

 

 

 

 

SEM ROSTO    

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


(Foto: Nana Moraes)

A convocação de Diego, do Flamengo, é a maior comprovação do marasmo vivido por nosso futebol. Mas o que podemos esperar se no Brasileirão a artilharia vem sendo disputada pelos rodados Ceifador (é Ceifador, Gladiador, Pitbull, Hulk, He Man… estamos perdidos), Jô e Roger?

Reparem nos ídolos dos principais clubes. Ricardo Oliveira continua comandando o Santos, Fred e Robinho o Atlético, Nenê e Luis Fabiano são os ídolos do Vasco, Zé Roberto ainda disputa vaga no Palmeiras, Rafael Sóbis continua fazendo seus golzinhos no Cruzeiro, e Léo Moura e Cortês são titulares no Grêmio. Vão jogar até os 100 anos porque as bases desses clubes não são aproveitadas como deveriam.

Pouquíssimas novidades surgem. Santos e Fluminense ainda nos dão algumas surpresas e mesmo assim rapidinho se mandam para algum time de fora. Me digam, recentemente, qual o garoto fez sucesso ao sair do Brasil: Gabigol? Gerson, do Fluminense, daquela venda que virou empréstimo, uma confusão danada? Douglas, do Vasco? Agora vai o Wendel, do Flu, Vinícius Júnior, do Fla, e uma penca de tantos outros, que vão botar uma graninha para dentro e cair no esquecimento.


Gente, o Diego não está jogando mais do que o Everton Ribeiro, por exemplo. Sem qualquer tipo de provocação, mas ele não teria vaga, nesse momento, nem na seleção carioca. A convocação é para ficar bem com a torcida do Mengão? Porque com a do Corinthians nosso técnico está em dia, afinal até o Fagner tem tido chance.

Resumindo, o Diego vai juntar-se a Renato Augusto, Fernandinho e os Casemiros da vida e vamos em frente torcendo para uma seleção sem rosto.

PS: E o Rogério Micale, hein! Me engana que eu gosto….

TITE NÃO É INTOCÁVEL E SEU TIME NÃO É IMBATÍVEL

por Mateus Ribeiro


Após a saída de Dunga, todo mundo queria Tite na seleção. Após ótima passagem pelo Corinthians, o gaúcho era o sonho de consumo da torcida brasileira. Atendendo ao clamor popular, os mandatários do futebol nacional decidiram fazer um convite para o treinador, que aceitou.

Pronto, a partir daquele momento, todos os problemas da seleção brasileira estavam resolvidos. Com Tite no comando, a equipe que não conseguia ganhar nem Copa América se tornou a maior seleção do futebol mundial. Em conversas de torcedores, a impressão que se tem é de que o time da CBF não tem um treinador, mas sim um mago.

Além disso, vitórias seguidas contra os adversários da América do Sul ajudaram a elevar o patamar de Tite. Está certo que recordes foram batidos, e tudo o mais. Porém, que me perdoem os mais exaltados, o Brasil tem a OBRIGAÇÃO de atropelar TODOS os times de seu continente, exceto Uruguai e Argentina, que ao lado do Brasil são os únicos países com tradição e história no futebol. O resto é história para boi dormir.

E não adianta falar que o Chile evoluiu, que existe a altitude, e que a seleção goleou o envelhecido e fraco Uruguai fora de casa. Afinal de contas, se temos os melhores jogadores do planeta (como muitos dizem), nada mais justo e óbvio do que triturar todos os adversários.

Para fechar o pacote, falou-se muito que Tite teria autonomia nas convocações. Faz me rir. Desde que acompanho futebol, o time da CBF sempre foi o maior balcão de maracutaias existente. E para quem realmente acreditou nessa conversa furada, o pessoal da China (os “homens de confiança” que recebem zilhões para atuarem em um campeonato semiamador), Diego (que mal está conseguindo ser titular no seu clube), Fred e Firmino (que tristeza) mandaram um abraço.

Pois bem, pouco mais de um ano depois de assumir a seleção, Tite se tornou quase uma unanimidade nacional. E isso parece que atingiu o treinador. Suas entrevistas, que já eram uma tortura, se tornaram insuportáveis. Só não são mais insuportáveis do que esse time, que mais se parece com uma boyband, onde cada um encarna um papel: temos o galã, o rebelde, o valentão (que chora na hora de bater pênalti), o alegre e o descolado. Todos encarando cada jogo (antes, durante e depois) como um clipe, se preocupando mais em caras, bocas, pose e estilo do que com o próprio futebol.


Já conhecemos o filme. Empolgação, uma dose cavalar de arrogância, pseudo superioridade, e confiança em excesso. Aí chega na Copa do Mundo, que realmente é o único torneio que vale alguma coisa DE VERDADE, encontra uma seleção bem armada, toma uma pedrada, e volta para casa. Depois das derrotas, tome reportagens falando sobre “os motivos que tiraram o Hexa das mãos do Brasil”. Está tudo aí. Bem debaixo do nosso nariz. Só não vê quem não quer. E o brasileiro é um dos povos do mundo que mais gosta de ser o sujeito do ditado “o pior cego é aquele que não quer ver”.

É claro que a torcida brasileira (aquela que vai para o estádio achando que jogo é balada) não está ligando para nada disso. Afinal, na cabeça deles, Tite é intocável, e a seleção é imbatível.

Sinto em informar, mas apesar da imprensa enfiar isso na cabeça de alguns, nenhuma afirmação procede. Os filmes das Copas de 2006, 2010 e 2014 mostram que todo esse oba oba não é garantia de nada.


Resta esperar, e ver se dessa vez, o time da CBF, da Nike e de alguns empresários vai escrever uma história diferente.

Eu duvido. Muito. E assumo que vou dar bastante risada se o tal do hexa não vier.

Um abraço, e até a próxima.

‘VAI SE CHAMAR HÉRCULES’. E ASSIM NASCEU O BRITO DE 70

por André Felipe de Lima


O Flexeiras AC foi um time de peladas da Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, que não existe mais. Mas o que pouco se comenta – inclusive no meio futebolístico – é que desse clube de peladeiros surgiram dois campeões mundiais. O primeiro foi Nilton Santos, a Enciclopédia; o segundo o zagueirão Hércules Brito Ruas, o cara que desbancou, num teste físico, o inglês Bobby Moore, o alemão Franz Beckenbauer e o italiano Gigi Riva e, com o reconhecimento oficial da Fifa, foi considerado o jogador com o melhor preparo físico da Copa do Mundo do México, em 1970.

O segredo para a estupenda forma física só revelaria muitos anos depois: uma garrafa de cerveja preta, um gema de ovo, uma colher de mel e outra de canela, tudo batido no liquidificador.

Brito despontou em 1955 e mostrava-se versátil. Quando a zaga era pouco para ele, arriscava-se no meio-campo. E foi Válter, funcionário da Aeronáutica e vascaíno fanático, quem levou Brito para São Januário. Fez um teste e foi aprovado como zagueiro.

De 1955 a 1958, o garoto cumpriu sua primeira passagem pelo Vasco da Gama. Mesmo tendo que disputar espaço com Bellini e Orlando Peçanha, donos indiscutíveis da zaga da Colina, fez parte dos elencos campeões cariocas em 1956 e em 1958.


O craque nasceu no dia 9 de agosto de 1939, na cidade do Rio de Janeiro. O carpinteiro Lenídio Ruas, pai de Brito, logo que viu o bebê pela primeira vez com incríveis cinco quilos, não pestanejou: “Vai se chamar Hércules”.

Brito foi um dos jogadores mais fortes, porém leal, do futebol brasileiro. Ao deixar o Vasco da Gama em 1958, com apenas 20 anos, seguiu para o Internacional, de Porto Alegre. Sequer encontrou tempo para vários chimarrões. Retornou ao Vasco da Gama em 1959 e por lá ficou até 1969.

E não é que Bellini esteve novamente em seu caminho? O maior zagueiro da história do Vasco da Gama e capitão da Seleção em 1958, na Suécia, estava de malas prontas para o São Paulo no início da década de 1960. Era o momento da afirmação de Brito no Vasco da Gama.

E foi o que realmente aconteceu, embora a década tenha sido um fardo para o time de São Januário, que não levantou troféu algum. Brito era, porém, o capitão do time, posto que também herdou de Bellini, e a torcida – por motivos óbvios – o chamava de “Cavalo”, apelido que marcou a sua carreira e manteve a fama de mau.

Em 1969, sem títulos na Colina, o zagueiro trocou São Januário pela Gávea, mas disputou poucos jogos pelo Flamengo. No ano seguinte, o Vasco da Gama conquistaria o Campeonato Estadual.


Teria Brito se dado mal? No único ano em que ficou no rubro-negro carioca, enfrentou a indignação dos vascaínos e, até, de torcedores do Flamengo. Deixou a Gávea em 1971, após uma áspera discussão com o então técnico Yustrich (ex-goleiro do Flamengo na década de 1930), cuja fama de destemperado era antiga.

O bate-boca começou porque Yustrich teria chamado os campeões de 1970 de “porcarias”. Mas há outras versões da insatisfação com Yustrich. Em julho, logo após o tri, Brito leu em um jornal, quando embarcara em um táxi rumo à Gávea para treinar, que perdera a posição de titular para o desconhecido Washington. “Tive de vencer muitos obstáculos para ser titular da Seleção. A imprensa, principalmente a de São Paulo, foi um. No mínimo, tive que ganhar do Djalma Dias, do Joel, do Fontana, do Scala, do Baldocchi e até mesmo do Piazza, para entrar no time. Aliás, de luta não fujo. Por isso, não culpo ninguém. O problema de escolher o titular é do Seu Yustrich. O meu, é apenas lutar por êsse lugar. E é o que estou fazendo”.

No final das contas, a revista Placar publicou como capa de uma edição de agosto uma foto de Brito com a manchete “Vende-se, Hércules Brito Ruas, 30 anos, zagueiro de área, campeão do mundo”.

A mais pura e genuína verdade. Mas os motivos que levaram a diretoria a vender o passe de Brito é que não são louváveis. Por inapetência intelectual dos cartolas, Brito, um campeão mundial, deveria ser moeda de troca para pagar ao Atlético de Madrid e ao Barcelona, respectivamente, os passes do zagueiro paraguaio Reyes e do centroavante Silva e manter Yustrich na Gávea. E foi isso o que aconteceu. O Cruzeiro depositou 365 mil cruzeiros na Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e levou Brito para Minas Gerais.

Afastado do elenco do Flamengo, treinando sozinho, Brito arrumou mala e cuia e foi para Belo Horizonte, onde assinaria contrato com o Cruzeiro para jogar ao lado de Piazza, ex-companheiro de zaga no tri, de Dirceu Lopes e de Tostão, também ex-parceiro na jornada do México.

A rixa com Yustrich parecia interminável. Nem com Brito fora do Flamengo havia paz. Faltou pouco para ambos saírem no tapa. Após o fim de um jogo do Cruzeiro contra o Flamengo, no Mineirão, que terminou 3 a 1 para o time mineiro, Brito, ao sair do gramado, xingou o Yustrich e atirou a camisa azul na direção do treinador. “Se eles não me segurassem, eu teria feito qualquer absurdo. Isto se conseguisse chegar junto do Brito, porque ele está correndo como nunca. Sem eu conseguir sair do túnel, ele correu. Imagino se eu me desvencilhasse dos policiais. Ele é tão covarde que jogou a camisa longe, cerca de 10 metros, e ela caiu na pista. Nem no túnel ela chegou. Mas eu achei uma indignidade com o Flamengo, com a sua torcida – bem grande e que tomava parte das arquibancadas. Por isto, fiquei revoltado. Se eu entro em campo, não sei o que seria dele agora”. Brito sentira-se, contudo, vingado: “Era isso que eu precisava: humilhá-lo publicamente, como ele fez comigo. Pena que o jogo não tenha sido no Maracanã. Lá teria mais gente, a torcida do Flamengo é enorme.”

A estada em Minas, porém, também durou pouco. O Flamengo ainda era dono de seu passe, mas o presidente André Richer não o queria de volta pelo fato de Yustrich ainda ser o técnico do time. Brito, então, retornou ao Rio de Janeiro, mas agora para defender o Botafogo, mas já não era mais o zagueirão de outrora. E, a paciência também parecia ter ficado no passado.


Após agredir com um soco no estômago o árbitro José Aldo Pereira, que marcara um pênalti a favor do Vasco da Gama, em jogo realizado no dia 31 de outubro de 1971, Brito foi punido pela antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), com um ano de suspensão, pena abrandada semanas depois para seis meses. O Vasco da Gama venceu de 1 a 0 e a imagem de Brito perante a opinião pública ficou manchada. Dizia que somente o então presidente Emílio Garrastazu Médici é quem poderia livrá-lo do problema com a Justiça. Pegou mal…

Cumpriu a pena e percebeu que não havia mais ambiente para ele no futebol carioca. Aliás, a derrota do Botafogo na final com o Fluminense ficara entalada em sua garganta.

Décadas depois, comentou o episódio que envolveu José Aldo Pereira motivo de sua condenação: “O pênalti foi uma vergonha. Olhei para ele, que me deu uma risada de deboche. Não aguentei e dei um gancho que pegou na barriga dele. Aí, gritei. ‘Isso é para você tomar vergonha na cara”.


Em agosto de 1974, já com 35 anos e poucos cabelos, recebeu do Corinthians uma proposta salarial de 11 mil cruzeiros mensais. Para a época, algo irrecusável. E lá foi Brito jogar ao lado de Rivellino para tentar tirar o Timão do amargo jejum de 20 anos sem títulos estaduais.

Tudo parecia seguir um rumo certo. O time do Parque São Jorge conquistou o primeiro turno e garantiu vaga na decisão. Mas a carruagem viraria abóbora na tarde do dia 22 de dezembro de 1974 diante do Palmeiras, de Ademir da Guia, Dudu, Luis Pereira e Leivinha, e dos 120 mil torcedores que lotaram o estádio do Morumbi. Enquanto os craques palmeirenses vibravam no gramado, Brito, o velho herói de seu Lenídio, mostrou por que recebeu o nome de Hércules. Tinha vergonha na cara e foi chorar no chuveiro do Morumbi, uma das derrotas mais dolorosas para a história do futebol do Corinthians.

Após a perda do título, a diretoria do Corinthians decidiu que deveria priorizar os mais jovens do elenco. Nem precisa pensar muito para saber que Brito, já com 35 anos, estava fora dos planos do Timão; ademais, tinha passe-livre e sua contratação foi apenas para a disputa do Campeonato Paulista.

O período em que Brito esteve no Parque São Jorge foi gratificante. Fez amizade com funcionários, especialmente os mais humildes. Morou alguns dias com o amigo (lateral-direito) Zé Maria e até caçou passarinhos com Rivellino e o goleiro Ado. Cinco meses muito bem vividos no clube.

E a torcida reconheceu isso. Brito marcou gol contra, chorou e jogou com uma garra digna das palmas de cada corintiano que o assistia nos estádios. Brito é do tipo daquele jogador que toda torcida gosta de ver, sobretudo a do Corinthians. 

“A torcida, por exemplo, me aplaudiu e deu provas de um carinho que nunca tinha encontrado na minha vida. Nesse tempo de Corinthians, aprendi a amar a torcida e o clube, e até me adaptei a São Paulo, o que todo carioca acha impossível”. Para os jogadores, Brito era uma espécie de pai e conselheiro. Rivellino, por exemplo, com quem Brito foi parceiro de Seleção, na Copa do Mundo de 1970, dizia que o zagueiro era o único que podia gritar com todos em campo sem ser mal interpretado.

Os sambas que cantarolava no clube e na concentração fizeram falta. Era Brito quem, antes de cada jogo, acendia velas para São Cosme e São Damião. Sua fé nos santos também valia para proteger os companheiros. Rivellino, por exemplo, estava prestes a ser julgado pela justiça desportiva. Brito não se fez de rogado e fez promessa aos santos para que o amigo “Curió” fosse absolvido. “Sempre fui pobre, todos sabem disso. Nunca escondi que não preciso de dinheiro para viver como gosto. Nunca faço aquilo que não gosto de fazer. Eu sou assim mesmo”.

Brito jamais soube ao certo os motivos que levaram a diretoria a não renovar seu contrato. Especulava-se que o pessoal do departamento de futebol ficou indignado com o fato de Brito ter bebido uísque com Rivellino e Zé Maria até quatro da manhã, na casa de Riva, na noite em que ele foi absolvido pelo Tribunal de Justiça Desportiva da agressão ao bandeirinha Mário Molino. Mas havia gente que afirmava ser o treinador Pirillo o óbice para que Brito permanecesse no Corinthians. A trajetória do zagueiro campeão do mundo no Alvinegro foi marcada por apenas 29 jogos, 12 vitórias e sete empates, com um gol contra.

Brito já não era nenhum garoto. Com 40 anos, ainda tentou uma passagem pelo Atlético Paranaense, em 1975. No mesmo ano, esteve no Les Castors (de Montreal, Canadá) e no Deportivo Galicia (Venezuela). De 1976 a 1978, esteve no Democrata, de Governador Valaladares (MG), encerrando a carreira em 1979, no River AC, do Piauí.

Para a Seleção Brasileira, Brito foi convocado pela primeira vez como titular em 1964, na Taça das Nações. Até 1972, esteve sempre na lista de convocados. Durante as eliminatórias para a Copa do México de 1970, era uma das “feras” nas listas de João Saldanha. Zagallo assumiu o comando da seleção e manteve Brito, que havia deixado o Vasco da Gama poucos meses antes da Copa, na zaga tricampeã.

Além do “caneco”, Brito conquistou um título particular. Foi considerado o jogador com o melhor porte físico da Copa por uma junta médica. A faceta rendeu-lhe um mimo do então presidente da República, o general Emílio Garrastazu Médici, o título de comendador… Comendador Hércules Brito Ruas, ou, simplesmente, o “Zagueiro Saúde”, para a torcida.

E teve mais conquista em 1970. Brito ganhou a Bola de Prata da revista Placar. O craque disputou 60 jogos com a Amarelinha. Venceu 45 e empatou 10 e só assumiu a vaga de titular em 1970, porque João Saldanha foi dispensado pela CBD, caso contrário Djalma Dias seria o titular.

O zagueiro fez fama também pelo seu bom humor. Na concentração, era insuperável. Entre mitos e histórias reais, Brito telefonava da concentração no México para o seu cachorro que, do outro lado da linha, respondia em latidos intermitentes. Impossível não cair na gargalhada.

Além da gracinha canina, Brito também era um contador de piadas. Para ele, uma boa cachacinha e samba (preferencialmente da querida União da Ilha do Governador, Mangueira ou Imperatriz Leopoldinense) o deixavam feliz. 

O zagueirão também quase deixa uma bola importante passar por ele. Perdeu a hora do casamento. Se foi capaz de esquecer o matrimônio, não esqueceria um grande amigo: Garrincha.

Por Mané, Brito intercedeu para que o ponta, que já estava em estado avançado do alcoolismo, treinasse no Vasco da Gama. Gentil Cardoso que, curiosamente, foi o primeiro treinador da carreira de Garrincha, dirigia o Vasco da Gama naquela ocasião. E foi franco com o craque ao dizer-lhe que não havia como aproveitá-lo no time principal. Mas, talvez por gratidão e reconhecimento, ofereceu-lhe uma vaga em um time misto do Vasco da Gama que jogaria em Cardoso, interior de São Paulo. Nada mais.


Até com pouco mais de 50 anos, sempre manteve a forma com diárias corridas de oito quilômetros, todas as manhãs. Quando era jogador, usava coletes de chumbo e roupão. Perguntavam se estava louco, mas o fato é que Brito corria mais que qualquer outro em campo.

Brito deixou o futebol e fez cursos para treinamento de times de futebol na Federação Canadense. Dirigiu, entre outros clubes, o Bonsucesso, o Ceilândia e o Sampaio Corrêa. Também esteve na Arábia Saudita, onde dirigiu o Riad Club até o início da guerra do Golfo Pérsico, em agosto de 1990.

Mas o ápice foi mesmo em 1982, quando comandou o Cruzeiro. Trabalhou algum tempo no projeto do já falecido empresário Arthur Sendas, o Sendas Esporte Clube, para crianças carentes, que existiu até 2011.

Brito jamais abandonou a Ilha do Governador, onde vive até hoje, fazendo o que mais gosta depois do futebol: pescar. Melhor ainda se for bem cedo, às cinco da manhã, e na companhia dos netos. Pescar, aliás, sempre foi o melhor “calmante” do craque. “Quando os caras estão nervosos, lembro o ditado: ‘Tá (sic) nervoso, vai pescar’. Eu mesmo quando pesco penso na vida, reflito. Tenho muito medo de morrer. Deus me livre, a vida é muito boa, né!”.

Palavras do eterno e imortal “Comendador da Zaga” e tricampeão mundial.

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O texto acima integra a “Letra B” (segundo volume) da enciclopédia Ídolos – Dicionário dos Craques do futebol brasileiro, de 1900 aos nossos dias, cujo lançamento será ainda neste semestre pela Livros de Futebol.com.