Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Seleção Brasileira

A PRIMEIRA COPA

por Leandro Ginane


Sentados lado a lado esperavam ansiosos o início do jogo decisivo entre Brasil e Bélgica pelas quartas de final da Copa do Mundo da Rússia de 2018. Para ele era sua primeira Copa, que começou três meses antes de a bola rolar, quando o menino de apenas seis anos despertou para o futebol. Aprendeu o nome dos jogadores, pediu para ir ao Maracanã para conhecer o estádio, colecionou o álbum de figurinhas da Copa e cortou o cabelo igual ao maior craque da seleção brasileira. 

Em pé ao início de cada jogo, com a pequena mão direita espalmada sobre o lado esquerdo do peito, o coração infantil do menino pulsava ao toque do hino nacional e ao seu lado, o pai quarentão repetia os mesmo gestos e voltava a se emocionar com a seleção brasileira, o que não acontecia desde o tetracampeonato em 1994, vinte e quatro anos antes. Esse ritual se repetiu em todos os jogos da seleção, criando o mais estreito laço de amizade entre pai e filho. Enrolado em sua bandeira como de costume, o menino viu a bola rolar para aquele que seria o último jogo do Brasil na Copa. Torceu como nunca. Vibrou com cada drible dos craques brasileiros e não se abateu com os dois primeiros gols do time belga. 


Na sua imaginação, seria 3 a 2 para o Brasil com o terceiro gol sendo marcado na prorrogação. Um roteiro cuidadosamente criado pela magia que o futebol desperta nos corações infantis. O gol brasileiro feito aos trinta do segundo tempo serviu como prenuncio para alimentar a certeza do menino e também fez seu pai acreditar, que àquela altura também havia se transformado em uma criança. 

Mas o gol perdido pelo time brasileiro minutos depois fez a certeza se transformar em desconfiança e com ela veio a pergunta: “Se perder hoje ainda temos uma segunda chance?” 

Como uma metáfora da vida, a única resposta encontrada pelo pai para uma derrota tão dolorida que se anunciava, foi:  “Sim, meu filho, daqui a quatro anos o Brasil estará de volta e até lá terão que treinar ainda mais e aprender com os erros.” 


Após a resposta, o silêncio entre pai e filho permaneceu nos minutos finais com incerteza entre o sim e o não. Rompendo o silêncio, o apito final mais pareceu um grito. 

Enrolados e abraçados na bandeira brasileira, choraram a despedida do Brasil na Copa e os momentos intensos que viveram nos últimos dias, que agora se repetirá a cada jogo do clube de futebol que une o coração destes grandes amigos.

A ESCOLHA DO CAPITÃO

por Idel Halfen


Como todo evento de grande repercussão, a Copa do Mundo dá espaço ao surgimento dos mais variados tipos de especialistas, os quais opinam categoricamente sobre assuntos que vão desde os aspectos relacionados à modalidade propriamente dita, nesse caso o futebol, até temas que acabam se derivando do motivo principal.

Trata-se de uma excelente oportunidade para se adquirir conhecimentos sobre assuntos interessantes que, normalmente, não nos motivariam a conhecê-los com mais profundidade, visto a carência de tempo que o ritmo de vida nos impõe. Exemplifico aqui com as histórias das cidades russas, os hábitos locais e demais características do país e da população. 

Além da própria mídia, há também a possibilidade de se “instruir” com as conversas onde os conhecimentos são divididos.

Nessa toada também surgem temas onde, em virtude da suposta “facilidade” para se opinar, aparecem  “especialistas” da mesma estirpe dos que se erguem para discorrer sobre marketing, direito e até mesmo futebol. São “aqueles” que presumem que o “achismo” substitui os estudos e a experiência.


Uma das matérias que ficou bastante em voga foi a escolha do capitão para a seleção brasileira, surgindo até “catedráticos”, pasmem, em choro. Segundo alguns destes, o zagueiro Thiago Silva não poderia ser o capitão do time por ter chorado num momento de tensão na Copa passada. Argumentos que deixam evidente a convicção de não acreditar na possibilidade de recuperação e evolução das pessoas. 

Tais críticos deveriam ser questionados se o mesmo raciocínio poderia ser aplicado a eles. Será que dessa forma continuariam achando que alguma falha cometida por eles no passado os deixam incapacitados para funções similares no futuro?

Pior do que essa condenação perpétua é a confusão que fazem entre líder e capitão, aparentando ignorarem que a liderança é geralmente nata e que em certos grupos pode não até existir ninguém com essa capacidade, o que não significa que esse mesmo grupo deva ser regido de forma anárquica.

No mercado corporativo, ou mesmo em organizações esportivas, não é incomum encontrar  presidentes, diretores e gerentes que tenham galgado a tais posições sem possuírem as características tradicionais que se apregoam a  um líder. Nem por isso tais profissionais deixam de exercer bem suas atribuições. 


A mesma analogia pode ser aplicada à figura do capitão do time, lembrando que para as críticas fazerem sentido é imprescindível conhecer o escopo que se pretende para a função, o qual pode não ter como prioridade a liderança em relação aos pares, mas sim na representação junto à arbitragem ou mesmo aos demais comandos. Isso sem falar que de fora é quase impossível detectar o comportamento das pessoas em dado grupo, ou seja, um choro visto por milhões de pessoas pode ter um significado completamente diferente perante aos demais colegas com quem se convive.

Em outras palavras, o julgamento sobre a liderança advindo de uma reação em algum momento do passado e sem conhecer os bastidores não me parece razoável, até porque existem diversas formas de liderança.

Há ótimos líderes que falam, há ótimos líderes que calam. Há líderes que se emocionam, há líderes que são frios. A avaliação do que é melhor ou pior só pode acontecer dentro de algum contexto, ressalvando o dinamismo das situações.

O MELHOR EM CAMPO NÃO ENTROU

por Zé Roberto Padilha


Muito mais pelos méritos dos nossos jogadores, do que demérito dos nossos treinadores, cultuamos no futebol brasileiro o hábito de elegermos, após as partidas, o melhor em campo. E sempre votamos nos jogadores, jamais vi um treinador levar um Motorádio para casa. Com a internet cada vez mais rápida, mal terminou a vitória sobre a Sérvia que as indicações para o destaque do time se iniciaram. A primeira que abri estava: Thiago Silva ou Casemiro? Daí, tasquei meu voto: Tite.

Desde a partida contra a Costa Rica, que tirou da cartola o Douglas Costa e o escalou no lugar do William, mudando a cara do nosso time, que Tite começava a se destacar na competição como emérito estrategista. Daqueles que tem suas peças na palma da mão e as escalam, e as substituem, com precisão. Com a contusão do seu “trunfo”, retornou com o William para não mexer no sistema. E manteve o Paulinho, apesar das críticas. E foi justo o Paulinho, entrando em diagonal nas costas do quarto zagueiro, como faz desde seus tempos no Corinthians, que o Brasil abriu a contagem. E, hoje, quando o Marcelo saiu, escalou seu burocrático substituto que marca melhor que ataca. E que acabou por fazer uma correta partida.


Todo o nosso time pode melhorar com o decorrer da competição. Vai saindo a pressão com as vitórias, a confiança vem surgindo junto a classificação. Estão jogando para o gasto, mas enquanto o Neymar vai ganhando tempo para ser Neymar, Firmino se prepara para substituir o “Ai, Jesus!”, tem um treinador do lado de fora capaz de suprir, com sua esplêndida forma técnica, cada falha ocorrida nos tabuleiros recém jogados na Rússia. Enfim, após a temível Era Dunga II, a demissão, o Brasil tem um treinador à altura da qualidade dos seus jogadores. E que pode levar, hoje, o Motorádio de melhor em campo para casa sem ter pisado dentro das quatro linhas.

NEYMAR E SEU CABELO

por Leandro Ginane


Tenho o costume de perceber nos trejeitos, na feitura da barba e no corte de cabelo das pessoas. Na maioria das vezes, desconfio de que pessoas que possuem manias de ajeitar seus cabelos com frequência, possuem uma barba milimetricamente bem feita e um super cuidado com as madeixas, escondem alguma questão relacionada a auto-estima e ansiedade. Acredito que este é o caso do Neymar nesta Copa do Mundo. 

A segunda mudança consecutiva em seu visual em tão pouco tempo durante a Copa do Mundo da Rússia, me chamou a atenção. Não pelo estilo arrojado do penteado, mas pelo cuidado exagerado com algo tão secundário neste momento. Me parece um comportamento compulsivo e isto pode demonstrar a ansiedade e o medo que ele está sentindo por ter a cobrança de ser o protagonista da seleção canarinho após o terrível 7 a 1. Em uma reportagem na Folha de São Paulo, no dia quinze de Maio, Neymar confessou:  “Ninguém está com mais medo do que eu.”


Diferente de outros craques brasileiros do passado, Neymar chamou a atenção de todos no primeiro jogo da Copa por adotar um penteado que parecia ter saído dos posters dos salões de beleza direto para o campo. A sensação era de que seu cabeleireiro pessoal estava no vestiário. Virou piada. Para o segundo jogo, Neymar já mudou o penteado novamente e deixou o treino sentindo dores.

Com a ascensão precoce que teve, ele mantém um comportamento que o faz parecer ter apenas dezoito anos, quando na verdade faltam apenas quatro para que faça trinta. Quando o vejo assim, me faço algumas perguntas: 


Será que ele esta preparado emocionalmente para ser o destaque da seleção? 

Será que ele entende que futebol é coletivo e que ele é uma peça importante do jogo? 

Torço para que sim, mas enquanto ele mantiver o comportamento quase compulsivo de mudar seu corte de cabelo a cada jogo, estarei desconfiado. 

O cabelo ele consegue controlar, já o resultado no campo, não. Talvez seja isso que tenha que entender para se tornar o craque que todos esperamos e trocar seu cabeleireiro por um psicólogo.

A CAMISA DA SUÍÇA

por Zé Roberto Padilha


Paulo César Caju foi mais que um craque. Foi um bailarino que desfilou sua arte carregando uma bola de futebol na ponta dos pés, como um pincel, e em nossos gramados, como em um atelier, expôs uma das belas coleções de jogadas que consagraram o artista brasileiro. Primeiro destro a jogar na ponta esquerda, fazia nos anos 60 o que o Messi anda fazendo com seu pé esquerdo. Jogando invertido, quebrou paradigmas, inovou dribles em diagonal, levou seus marcadores à loucura por subverter conceitos de como marcar um extremo que vem pra cima com o pé trocado. Ontem, em O Globo, em meio ao ufanismo de muitos, celebridades que opinavam sem ter dado um só pontapé na bola, PC declarou que vestiria à tarde uma camisa da Suíça. Afinal, por que um ídolo brasileiro torceria contra seu país?

Após a seleção carioca de Máster enfrentar, em Mariana-MG, a seleção local, nos dirigimos, ao lado de Brito e Marco Antonio, ao salão do hotel, para assistir a primeira partida da seleção brasileira nas eliminatórias de 94, que era contra o Equador. Para surpresa geral, Marco Antonio chegou de verde e amarelo, igual a todo mundo, só que ele torcia, e muito, pelo Equador. Não foram poucos os “marianos” que reprovaram seu gesto. Como ontem, muitos reprovaram a camisa escolhida pelo Caju na estreia da seleção. Na viagem de volta, tratei de sentar ao lado deles para saber o motivo. Já estudava jornalismo.

A personalidade de um artista, como o jogador de futebol, vai se moldando em meio ao tamanho da idolatria lhes concedida. Como tricampeões mundiais, podiam aquilatar sua extensão. Não pediram para ser tão importante na vida das pessoas, mas sofrem em igual proporção quando apenas os jornais amarelados e os álbuns em preto e branco são testemunhas isoladas em meio ao ostracismo em que são jogados. Se bobearem, me confessaram, são impiedosamente pisoteados na subida da rampa do Maracanã em que os pais de muitos, e tios de tantos, lhes cobriram de glórias. E deferências.


(Foto: Marcelo Tabach)

Disseram mais, naquela ocasião: enquanto o Brasil não ganhasse uma outra Copa do Mundo, o feito deles no México não seria esquecido. Bastava começar uma outra edição, e foram cinco, durante vinte anos até o tetra, que eram exaltados, davam entrevistas, recebiam convites para comentaristas. Dito e feito, o tempo, o tal senhor da razão, provou que estavam certos. Ou alguém viu uma entrevista com o Brito no Globo Esporte? E o Marco Antonio, será que foi lembrando por algum comentarista? E Paulo César Caju, que escreve como joga e fala com jogava, foi visto ao lado do Galvão Bueno?

Nossos tricampeões mundiais, orgulho desta nação, não torcem contra o seu país. Apenas torcem por camisas parecidas, vestem outras diferentes com medo de serem definitivamente esquecidos.