Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Seleção Brasileira

LUXÚRIA, FANTASIA, SONHO E INFELICIDADE

por Mateus Ribeiro

Jorge Ben Jor é um dos grandes compositores da música brasileira. Algumas de suas músicas (não são poucas) versam sobre o futebol. E foi ouvindo uma de suas músicas que me inspirei pra escrever esse texto.

Enquanto refletia sobre os últimos anos da Seleção Brasileira, a música “Engenho de Dentro” começou a tocar na minha playlist. E sabe se lá o motivo, muitos trechos da música me fizeram lembrar de algumas coisas relacionadas ao time do Tite.

Pra início de conversa, eu acho que faltou alguém chegar no aclamado treinador falando que prudência, caldo de galinha e humildade não fazem mal a ninguém. A música versa que ao lado da prudência e da canja de galinha, dinheiro no bolso é bom. Eu não sou nenhum doutor em fofocas sobre a vida financeira de jogadores e treinadores, mas acredito que dinheiro no bolso não falta para ninguém que integra o quadro dos profissionais que representam o time da CBF. Quem sabe se a prudência viesse antes do dinheiro no bolso, os resultados fossem melhores…

Sabe, eu acho que se alguém da imprensa falasse pro nosso treinador que ele iria cair da bicicleta se não abandonasse toda a soberba, e abrisse mão de algumas convicções duvidosas, talvez o time fosse mais longe. Mas ao invés de fazerem isso, com medo do encantador de serpentes esquecer o guarda chuva, inúmeros comentaristas, narradores e entendidos trataram de levar o aparato para proteger Tite da chuva de críticas que ele poderia receber.

A sorte de quem ficou de fora do baile do Engenho de Dentro em Moscou pode dançar no Realengo em Catar, daqui quatro anos. E nem vai ser preciso jogar muita bola. Basta descolar uns bons contatos. E nem precisa se preocupar em dar bandeira, se alguém desconfiar, basta alguém vir com o papinho furado de que “jogador X estava sendo monitorado”. Até porque não existe nada mais produtivo do que assistir o Campeonato Ucraniano, né?


É, os caras não tomaram cuidado pra cair da bicicleta. E caíram. Falando em cair, o que dizer do camisa 10, que tem a cabeça de vento? Luxúria, fantasia, sonho e felicidade você encontra na cidade do Instagram que ele viveu durante a Copa. Mas dentro do campo, apenas enrolou e rodou a noite inteira. Aliás, rodou bastante, e virou piada mundial.

Ainda falando sobre o queridinho do futebol nacional, vale lembrar da declaração do nosso mestre Edu Gaspar, que afirmou ser difícil ser Neymar. Edu, que é um dos empregados da CBF, me fez lembrar o que disse o tiranossaurus REX: para acabar com a malandragem, tem que prender os otários. A turma de cima tem que ser presa mesmo. E o Edu só precisa parar de achar que somos otários.

E sabe o que a CBF quer? Ela quer um repeteco. Afinal, pra eles, a prudência e a canja de galinha pouco importam. O negócio é só o dinheiro no bolso mesmo. E daqui até o Catar, dá-lhe convocação esquisita, contratos milionários (e obscuros). Prepare a pipoca, pois vai ter muita conversa (fiada) falando que as coisas vão melhorar. E eles vão te enganar, utilizando boas campanhas em eliminatórias (o que deveria ser obrigação) como escudo. Depois de toda essa ladainha, vão te passar o rodo e te chamar pra dançar na Copa do Mundo. E a torcida, inocente que é, vai cair nesse papinho. Consequentemente, vai cair da bicicleta.

Mas e daí? O importante é o sucesso da CBF. O importante é enganar o torcedor com um jogo de palavras insuportável.

Os responsáveis por toda essa sujeira e derrotas dolorosas só se esquecem que a justiça uma hora vai chegar. Seja no campo, seja nos tribunais.

Ah, a justiça…

“…Ela continua oferecida

E sorridente

Chega sempre atrasada

Mas me deixa contente…”


De resto, não esqueça de levar seu guarda de chuva, tampouco de ser prudente na hora de deixar se enganar com o papinho de que o futebol brasileiro está mudando a mentalidade. Enquanto tivermos esses dirigentes corruptos, enquanto convocação foi feita no balcão de negócios, enquanto a imprensa blindar alguns (alô Marcelo, Coutinho, Tite e Neymar) e crucificar outros (salve, salve Fernandinho e Paulinho), não vai ser vitoria em cima do Equador ou da Sérvia que limpará a barra do nosso futebol.

Para finalizar, peço desculpas para Jorge Ben, por lembrar da matança do nosso futebol enquanto ouvia esse grande clássico.

Um abraço, e até a próxima.

 

 

 

 

LONGE DO POVO

por Leandro Ginane

A seleção brasileira está há dezesseis anos sem vencer uma Copa do Mundo. Serão vinte anos sem levantar o caneco até a próxima Copa que será realizada no Qatar, em 2022. Desde 1950, o maior tempo que a seleção brasileira ficou sem ganhar um título mundial foi entre 1970 e 1994, quando venceu o tetra nos Estados Unidos.


Os jogadores que ganharam o tetracampeonato sofriam a pressão de vencer um mundial após duas décadas e tinham como sombra seleções que encantaram o mundo, mas não venceram, como o time de 1982 que para muitos foi um dos melhores de todos os tempos. Jogavam o futebol arte, com estilo de jogo que só o brasileiro sabia fazer com maestria, com habilidade e improviso. Curiosamente, para vencer em 1994 a seleção brasileira modificou completamente seu estilo. Rotulada como uma seleção que jogava para não perder, tinha em sua dupla de ataque a única grande esperança de gols. Com grande destaque para o número onze Romário, que foi convocado apenas no último jogo das eliminatórias graças ao clamor popular dos torcedores brasileiros. Na época, dirigentes, opinião pública e a comissão técnica cederam ao desejo do povo.

O tricampeonato mundial e a hegemonia histórica no futebol, impunha àqueles jogadores e a sua comissão técnica o velho bordão: tem que vencer e convencer. Era como se para ser um legítimo campeão, fosse necessário jogar o futebol mais bonito para encantar o mundo, herança das grandes seleções que tinham Pelé, Garrincha e Tostão como jogadores, uma seleção formada em sua maioria por camisas dez.


O desejo pela hegemonia no futebol somada a pressão por um título após vinte e quatro anos, resultou na humildade em entender que para voltar a vencer, seria necessário modificar o estilo de jogo brasileiro, tão aclamado até então. Com um esquema tático que privilegiava a marcação, aliado aos talentos individuais de Bebeto e Romário, a seleção voltaria a se sagrar campeã após duas décadas.

O fato de se tornar campeã mundial pela primeira vez sem o Pelé, tirou um peso enorme das costas dos jogadores brasileiros; e a leveza de ser a atual campeã, fez o futebol brasileiro retornar as suas raízes, conquistando o mundo com títulos e atuações inesquecíveis a partir de então. Após o tetracampeonato, o Brasil participou de mais duas finais de Copa em sequência, em 1998 perdendo para a França e em 2002, quando venceu a Alemanha se tornando o única seleção pentacampeã mundial. Enfim, a hegemonia estava de volta e com ela a seleção passou a viver então uma espécie de síndrome de vira-latas as avessas onde seus jogadores ganharam status de astros globais, sendo premiados como os melhores do mundo em 1997, 1998, 2002, 2004, 2005 e 2007.


Inebriados pelo sucesso e com uma postura arrogante que caminhava junto com a certeza de que o hexacampeonato viria no próximo torneio, jogadores e comissão técnica se afastaram do povo e usaram os treinamentos durante a Copa de 2006 como um verdadeiro show de entretenimento.

O resultado foi a eliminação precoce nas quartas de final para a França, algoz do vice campeonato brasileiro em 1998. Uma grande decepção tomou o país e quatro anos depois, ainda com a arrogância de quem carregava a hegemonia do futebol mundial, a solução adotada foi o isolamento dos jogadores e fechamento dos treinamentos, que resultou em forte crítica da opinião pública. Outro fator determinante que reforça a arrogância, foi o fato de novamente desconsiderar o clamor popular em 2010, que naquela ocasião pedia Neymar e Ganso na seleção, jovens promessas do futebol brasileiro. O resultado foi uma nova eliminação nas quartas de final, agora para Holanda. A tristeza de uma eliminação precoce nas quartas de final deu lugar rapidamente a euforia pela próxima Copa, que seria novamente realizada no Brasil, sessenta e quatro anos depois. Era a chance de reescrever a triste história da Copa de 1950.

A expectativa pelas transformações realizadas em estádios tradicionais, como o Maracanã, que descaracterizou o Maior Estádio do Mundo para que se tornasse uma arena europeizada para disputa da Copa, a empolgação da população brasileira e a trajetória descendente da CBF, diminuiu a importância do trabalho que vinha sendo feito pelas seleções européias, que evoluíram taticamente e importaram ano após ano os talentos sulamericanos


A postura paternalista da comissão técnica brasileira, que apostava em palestras motivacionais para vencer um torneio tão competitivo, resultou na eliminação mais vergonhosa da história da seleção, o fatídico 7 a 1 imposto pela Alemanha em pleno Mineirão, na semifinal do torneio. Enfim, a realidade cobrou o seu preço e expôs ao mundo a fragilidade do futebol brasileiro. O clima no país era de terra arrasada, brasileiros choravam pelas ruas, nunca na vitoriosa história da seleção brasileira, houve uma derrota tão vergonhosa como aquela. Deveria ser o início de uma renovação, mas não foi.

Sem direção e com seus principais dirigentes investigados pela justiça, a CBF optou pelo mesmo técnico derrotado em 2010, uma espécie de técnico fantoche e sisudo que teria como missão colocar ordem e resgatar a reputação da seleção, que aquela altura não possuía mais a hegemonia do futebol mundial e se tornara motivo de piadas em todo o mundo. Obviamente, não conseguiu. Com uma sequência de resultados ruins, foi substituído pelo nome que era consenso entre a opinião pública. Um profissional com capacidade técnica comprovada pelos seus últimos resultados em clubes e imune às críticas, devido a ótima eloquência e o ar professoral em suas entrevistas coletivas, que mais pareciam uma palestra. Os primeiros resultados na eliminatória da Copa foram surpreendentes e novamente a empolgação tomava conta do país as vésperas da Copa da Rússia 2018. Com o novo professor, o Brasil ascendeu no ranking da FIFA e passou a ocupar a segunda posição, atrás apenas da Alemanha, a atual campeã mundial.


O cenário de euforia e certeza deu o tom, as entrevistas da comissão técnica explicavam matematicamente cada decisão tática. Enfim o hexa viria e a hegemonia do futebol era questão de pouco tempo. Mas novamente a seleção foi surpreendida, dessa vez por uma seleção sem tradição que se tornara uma das grandes sensações da Copa da Russia, a Bélgica. Na única derrota em jogos oficiais sob seu comando, o professor unânime entre os especialistas, errou. Com uma escalação equivocada e organização tática que desconsiderou o talento adversário, em apenas 45 minutos o jogo já estava liquidado e mais uma vez a seleção brasileira foi eliminada precocemente da Copa do Mundo. Com a eliminação, não veio a busca por um vilão, como é o costume da mídia e do torcedor brasileiro em Copas passadas. O sentimento também não foi de decepção, o que sugere que o discurso pós derrota do professor apoiado amplamente pela opinião pública foi suficiente para diminuir a dor da perda.

Em 2022, serão vinte anos sem disputar uma final de Copa. É o momento de voltar a escutar o clamor popular e dar oportunidade a jovens promessas. Mas principalmente: criar um diálogo direto com o povo para não se tornar o reflexo das instituições governamentais brasileiras. Chegou a hora de ser crítico em relação a função do futebol na sociedade brasileira e questionar os discursos elitistas e de auto ajuda que tentam esconder a realidade de que o Brasil se tornou um coadjuvante não só no cenário político e econômico mundial, mas também no futebol.

“ETERNO 7X1”

por Émerson Gáspari


Gostaria de começar pelo fim. De um período sublime, de alegrias, vitórias, craques maravilhosos, futebol bonito. O qual durou 44 anos e cinco títulos mundiais, nos tornando conhecidos, temidos e admirados mundialmente.

Mas isso foi entre 1958 e 2002 e esse tempo agora parece existir apenas para os saudosistas. Alguns deles, feito eu, que não se conformam com a mediocridade futebolística exibida há tempos, pela Seleção Brasileira.

Analisar o que ocorre, exige um olhar mais profundo e abrangente.

Comecemos pela velha teimosia de “europeização” do futebol brasileiro.

Em Copas passadas, já tivemos de tudo: técnico apregoando futebol-força, copiando esquemas defensivos, usando três zagueiros, extinguindo pontas. Uma série de invencionices tidas como evolução e que por estarem em voga no Velho Continente, logo se tornavam “coqueluche” (para usar um termo da minha época) por aqui.

Mas depois do penta, a coisa ficou mais séria e nosso futebol só fez regredir.

Seleções formadas exclusivamente por brasileiros no exterior, atletas saindo de baciada, técnicos partindo para se aprimorar lá fora, mídia destacando futebol europeu, campeonato brasileiro por pontos corridos e muitos casos de corrupção.


Pior: a formação do atleta em escala industrial, tirando do jovem criatividade e irreverência, prendendo-o a modelos de fora, onde drible é recurso raro e obediência tática se sobrepõe a talento. Estatura e físico valendo mais que ginga e picardia. O progresso ceifando campinhos de várzea, substituindo-os por escolinhas de futebol que ensinam o “evoluído” modelo europeu. O maldito modelo europeu.

Estão matando a essência do futebol brasileiro. Seria como tirar um índio de seu habitat natural e impingir-lhe a usar sapatos, terno, celular, óculos, como se isso fosse o correto. Ao perpetrar na cabeça do brasileiro que deva se comportar em campo como o europeu; tolhemos seu talento nato, engessando nossos times e selecionados.

Não foi diferente nessa Copa. Estava na cara que seria assim!

Em 2010, após o fracasso da Seleção de Dunga, me perguntaram em qual lugar eu achava que o Brasil iria terminar no Mundial seguinte. Cravei: “Terceiro”.

Após a “Família Scolari” apanhar em casa de 7×1 dos alemães e de 3×0 dos holandeses, nem isso. Acabamos em quarto lugar, mesmo.

A desculpa esfarrapada na época para isso foi a contusão de Neymar.

Pois me repetiram a pergunta, questionando-me sobre 2018. Cravei: “não passa do quinto jogo!”. E não é que acertei em cheio, dessa vez?

Agora, já me questionaram novamente, em relação a 2022 e sabem o que respondi?

“Prefiro nem dizer!”. Porque sinto que não vem coisa boa por aí.

E olhem que fazer previsão quatro anos antes envolve uma série de coisas a serem analisadas e ninguém – muito menos eu – tem bola de cristal, por mais que entenda de futebol. Só que a experiência nos dá conhecimento e certa segurança ao afirmar isso.

Não se trata de pessimismo: gostaria de estar aqui, afirmando que jogamos bem, ganhamos o hexa merecidamente e que nosso futuro é muito promissor. Mas não é.

E quando vejo torcedores “nutelinhas” (para usar uma gíria deles, agora) pedindo continuidade nesse trabalho, respaldados por uma mídia que defende Tite como se fosse nosso salvador, aí sinto que estamos realmente perdidos.

Essa mídia que a partir de 1980, quando os craques começaram a deixar o país, passou a transmitir futebol italiano, espanhol, inglês, francês, alemão, javanês e virou as costas para os times do interior, para os estaduais que foram minguando, desde então. 

E o torcedor? Preferiu assistir jogos na poltrona, abandonou a arquibancada e deixou os filhos serem induzidos a torcerem por clubes estrangeiros. O torcedor está cego!

Tanto, que não percebe que seus programas de futebol foram invadidos por uma leva de outros esportes e até por games! E quando a mídia fala de futebol, então…

Muitas matérias rasas, sem profundidade, até mesmo na imprensa escrita.

Ao invés de cobrirem uma partida, agora elegem um “personagem” alheio e gastam tempo com ele. Ou soltam pérolas do tipo: …“em Oeste, Oeste 0 x 2 São Caetano”.

Durante as Copas, só piora: é repórter que não domina o assunto futebol e erra três vezes um mesmo termo ou é flagrado ao celular, quando chamado no “link”. É repórter que fica nervosinho, quando questionado pelo nível fraco das perguntas em coletivas. Ou comentarista “médico” afirmando, enquanto Neymar saía de maca sem mexer as pernas após uma joelhada nas costas, que não era grave, que ele treinaria normalmente e iria enfrentar a Alemanha sem problemas. Locutor que desconhece impedimento e até aquele que precisa transmitir jogo quase afônico. 

Matérias dantescas como das cocadas ou das coxinhas com nomes de jogadores, a do cabelereiro do ídolo, a da precária higiene nos banheiros dos trailers dos turistas na Copa ou ainda, sobre quantos assovios o treinador deu no Mundial.

Nunca vi tanta gente deslocada, despreparada e diria até, excessiva numa cobertura. 

A cobertura virou circo. Dos horrores. E o torcedor não enxerga isso.

Prefere ver batida de tambor nos intervalos ou comentários de “experts” em futebol, como cantoras, atores, dançarinas, modelos…


Saudades das crônicas de Nelson Rodrigues e João Saldanha. Das narrações de Geraldo José de Almeida ou Luciano do Valle. De uma mesa-redonda com Armando Nogueira e Orlando Duarte. Quem viveu essa época sabe bem do que estou falando.

Mas voltemos ao cerne da questão: essa geração “7×1” e a filosofia que insistem em querer manter, levando nosso futebol à ruína.

E não é só o nosso: o futebol sul americano de uma maneira geral, está assim.

A Argentina não ganha uma Copa desde 1986 e nenhum torneio importante desde 1993. O Uruguai não vence o Mundial desde 1950, aqui no Brasil.

Já se foi o tempo em que a Copa mostrava alternância de campeões, entre Europa e América do Sul. Nesse século, o trio exportador de “pé-de-obra barata” só obteve um título com o Brasil (2002), um vice com a Argentina (2014) e um quarto lugar com o Uruguai (2010). Em 2018, ninguém beliscou nada. Estamos em processo de “corrosão”.

Os três precisam de medidas para proteger seu futebol, diante do poder financeiro que impulsiona o europeu. Talvez reivindicarem à FIFA, a proibição de transferência de atletas antes dos 21, 23 anos. Fere princípios do cidadão? Estudemos alternativas que possam legalmente chegar perto disso. O que não podemos é ter casos como o de Messi, desde os 14 anos na Europa e que jamais atuou pelo campeonato argentino.  

Precisamos criar fórmulas que nos possibilitem ter um campeonato como o mexicano, rico, com média de 40 mil pessoas por jogo, com seus principais jogadores atuando lá. Não dá mais pra permanecer como está!


É feito a Seleção Brasileira, meus queridos: não dá mais para usarmos o modelo que está aí. Não deu certo. Não comecemos em cima do que fracassou, até para que isso não se torne um “eterno 7×1” para nós. Se profeta eu fosse, diria ao torcedor: “não vos iludis com falsas promessas, lembra-te dos que entregaram regiamente seu suor e sua alma para nossa glória e desse modo, nosso campo não se fará terra devastada”.

Primeiro tivemos a invasão dos “professores de educação física”, como sempre cita o PC Caju. Depois, veio a “escola gaúcha”, que está aí. Nada contra, ela até nos deu o penta e somos gratos por isso. Mas não dá mais. Precisamos recuperar a essência do futebol brasileiro, resgatar nossas origens, jogar como sabíamos.

Não adianta o “coach” afirmar que não irá tirar o drible e a criatividade de um jogador, se todos os outros jogam engessados, no padrão europeu. Onde já se viu prender o centroavante feito pivô, apenas para abrir espaços para quem vem de trás, gente?

“Ah! Mas o Tostão fez isso em 70”, dizem imprensa e a torcida, ensaiadas. Tá! Serginho fez o mesmo em 82 e lembram no que deu? Querem comparar os dois com Tostão?

“Mas o Tite tem crédito, a Seleção evoluiu, só perdeu dois jogos!”. Tá! Dunga também e vocês acham que com ele o time evoluiu? Além do mais, evoluir em relação aos 7×1 é quase que uma obrigação. Pior ou igual a aquilo, não seria possível.

“Mas ganhamos as Eliminatórias com um pé nas costas!”, cheguei a ouvir por aí.

E ela lá serve de parâmetro para Copa do Mundo? Por acaso a das Confederações, na qual goleamos a Espanha na final em 2013, serviu de parâmetro para a Copa, no ano seguinte? Ou mesmo a conquista da medalha de ouro em 2016, nas Olimpíadas?

Um monte de torcedores faz coro com a imprensa esportiva, pedindo que o Tite fique porque sabe montar um grupo, e é um bom “gestor de pessoas”, usando para isso, sua costumeira verborragia. Oras, precisamos é de um treinador, não de um gestor!

Sabem o que ocorre? É que depois dos tais 7×1, ninguém queria segurar a “batata quente”. E o Dunga e depois o Tite seguraram. Tiveram méritos, mas já tiveram suas oportunidades. Passou! Repetir Tite dará frutos parecidos com a repetição de Dunga.


No caso do Tite, ele chegou respaldado pelos bons resultados à frente do Corinthians, não há dúvidas. Porém, nem assim impediu o vexame dessa Copa, já que o selecionado foi mal convocado e acabou ficando mal escalado.

Mas como não apanhamos de goleada, muita gente diz “tudo bem”. Tudo bem?

Pois é aí que está: o que mata é também essa visão tacanha de que a Copa é antes de tudo um evento e que não dá pra ficar ganhando sempre; há concorrentes diretos que às vezes merecem mais, além do que o futebol mudou, não podemos comparar com o de antigamente e blá, blá, blá…

Você ouve esse tipo de comentário o tempo todo. O torcedor-comum mudou.

Hoje, nos jogos de Copa, é o tal de ficar na arquibancada olhando não para o campo, mas para o telão, esperando os 90 minutos, para ser focalizado por três segundos e aparecer para o mundo todo. Dane-se a Seleção!

Na saída dos estádios, não tem um que esboce para a reportagem, um mínimo de conhecimento e noção do que foi a partida. É só fantasia, gritaria, histeria.

Então virou evento bonitinho, colorido, com abertura e encerramento impecáveis, elitizado, preços de ingressos nas nuvens e cuja maior atração do Mundial não é um craque ou seleção: é o VAR (árbitro de vídeo), cuja participação foi crucial na decisão.

Perdeu? “Tomemos uma cerveja, porque daqui a quatro anos tem mais… são 32 seleções e uma taça só!” É muito conformismo ou pura cegueira mesmo, minha gente!

Em 2006 deu Itália; em 2010, Espanha; em 2014, Alemanha e em 2018, França.        

Ou seja: todas, seleções europeias. Se fosse mesmo só um simples evento, porque seleções asiáticas ou africanas, por exemplo, não conseguem vencê-lo, também?

Entenderam o discurso pronto e sem noção, que está na cabeça de muito torcedor?

Estamos aceitando entrar no “segundo escalão” do futebol mundial, naturalmente.

Se antes sucumbíamos perante seleções que chegavam à final ou eram campeãs, agora aceitamos derrotas para seleções sem tanta tradição e ainda pedimos a continuidade desse trabalho. À que ponto nós chegamos!

Hoje, perdermos por 2×1 para a Bélgica é evoluir em relação aos 7×1 da Alemanha, bem como ver a Argentina ir embora do Mundial antes de nós já parece ser suficiente. 

Será que não sabem que se por um lado o fato de nos tornarmos pentacampeões foi devido ao nosso talento nato para o futebol, por outro lado, isso também se deveu a nossa intensa cobrança, essa vigilância feroz que o torcedor costumava exercer?

Escolher um técnico para a Seleção era quase tão importante quanto eleger um presidente. Hoje, isso mudou. Tanto, que explodiu o número de chatos jogando a culpa da alienação política brasileira em cima do futebol. Se soubessem que o próprio futebol está repleto de torcedores alienados…


Aliás, aumenta cada vez mais o número de pessoas que não gostam de futebol, no país. Por uma série de razões. E essa indiferença, essa falta de “vigilância”, também levou a Seleção a ficar mais distante do torcedor. Parece mais um produto.

Como não se cobra, não se chega a treinadores melhores, a jogadores melhores, a resultados melhores, a dias melhores. Não se respira mais futebol por aqui, como antigamente, compreendem? Estamos deixando de ser o “país do futebol”.

Qual o mal de querer ganhar sempre? O basquete americano é assim e alguém reclama dos títulos que eles ganham, por acaso? Pelo contrário!

“Ah, mas estávamos mal acostumados” disseram, dia desses, numa dessas análises bestas, querendo nos conformar diante da derrota. Pois eu respondo: estamos é nos acostumando mal, agora.

Acostumamo-nos com a corrupção no futebol, com o êxodo dos jogadores, com a falta de estrutura e administração melhores, com uma seleção que não representa de fato, o legítimo futebol brasileiro e que não levanta mais uma Copa, sequer.

Se não vencermos a próxima, igualaremos o recorde de tempo sem conquistarmos um Mundial, sabiam? Não, a maioria não sabe. Nem quer saber. Estão todos conformados.

E o “eterno 7×1” continuará se repetindo pelos anos que virão a continuarmos assim, podem ter certeza.  Essa Seleção nada mais é, que uma releitura da de 2014, com um discurso mais bem ensaiado, apenas.  Senão, vejamos:

Daniel Alves, Thiago Silva, Marcelo, Paulinho, Fernandinho, William, Neymar…

O Dani Alves foi cortado por contusão, ok. Mas qual desses aí, veteranos da Copa anterior, realmente desequilibrou a favor do Brasil, na hora “H”?

Não lhes parece que a Seleção de Felipão chorava demais e que a de Tite também não passava segurança emocional? Muitos defenderam o choro de Neymar, nosso principal ídolo, bem no meio-de-campo, ao apito final de uma partida ganha e de primeira fase. “Ah, mas foi porque ele voltou de contusão”.


Lembro que Pelé também chorou assim, mas não no meio-de-campo e sim no peito de Gylmar, junto dos companheiros. E tinha apenas dezessete anos. Mesmo assim, só depois de derrotar os donos-da-casa, em plena final da Copa da Suécia, algo inédito até então, para nós. Também vinha de uma contusão (quase foi cortado), entrando só no terceiro jogo, precisando classificar o Brasil.

E quanto a aquelas quedas todas em campo? Ou mesmo a reação, quando foi pisado por um mexicano, ao lado do gramado? As próprias redes sociais que achincalharam tanto Neymar, também relembraram Pelé em 70, quando revidou uma pisada dessas, com uma cotovelada na cara de um uruguaio, sem que o juiz percebesse.

Hoje tem “árbitro de vídeo”, eu sei, mas aquela reação dele não iria ajudar em nada. Como não ajudou. A imagem do jogador que cai e simula só se amplificou e pior: acaba ficando visada pela arbitragem. Neymar saiu menor dessa Copa, do que entrou.

Entendo que o atleta queira se proteger da violência em campo. Mas para isso já existe arbitragem. E também, não custa tocar mais a bola, ao invés de prendê-la. Lembro que Rivaldo, por exemplo, padecia desse mesmo mal, mas se corrigiu, com o tempo.

Só que a Seleção cometia erros absurdos, também. Corria, mas ao chegar ao ataque, parava, aguardando o adversário se recompor, pelo menos com duas linhas de quatro, atrás da bola. Daí começava aquela lenta inversão de jogadas, que não redundava em nada, pois os espaços já estavam blocados.

Onde estavam as jogadas ensaiadas para surpreender o adversário? E os exímios cobradores de falta que sempre tivemos? Aquelas jogadas rápidas pelas pontas?

“Ah, mas hoje o futebol mudou”. O futebol não mudou: piorou!

Diminuíram o campo, tiraram peso da bola, melhoraram o gramado e a condição física do atleta, para que o jogo ganhasse mais intensidade. Ok! E daí, qualquer cabeça-de-bagre joga, basta ter físico para isso. É basicamente fechar espaço, destruir e correr.

Queria só ver se com gramados enormes como o antigo Maracanã e talvez até, dez de cada lado (como já cansou de sugerir Beckenbauer), não voltariam as boas jogadas, os lançamentos, o drible.

Hoje, aqui no Brasil, o goleiro dá um chutão e a bola vai cair no círculo central, onde o zagueiro adversário a “chifra”. Ela viaja uns dez metros e é novamente golpeada de cabeça pelo volante da outra equipe. Daí então, perdendo altura, é disputada por dois ou três ao mesmo tempo e o juiz vai logo parando o jogo, arrumando uma falta, porque senão, ninguém põe a bola no chão, minha gente!


Gentil Cardoso era um treinador que brincava sempre com os jogadores perguntando-lhes do que era feita a bola. Respondiam-lhe que era de couro. Daí ele questionava de onde vinha o couro. “Da vaca”, diziam os atletas. “E do que é que a vaca gosta?”

“De grama”, era a resposta. E por fim, vinha o ensinamento: “Então minha gente, vamos colocá-la onde ela gosta de ficar: na grama, rasteirinha, rasteirinha…”.

Outra coisa que me deixa indignado: hoje, jogar pelos lados do gramado e cruzar, significa o lateral descer para o ataque e dez passos depois da linha do meio-campo, mandar aquela bola abaulada e lenta, na direção da meia lua, onde dois, três zagueiros já a esperam de frente, para rebatê-la de cabeça. Ora, isso é jogo de europeu!

No meu tempo, o ponta chegava ao fundo, olhava para a área e centrava geralmente para trás, pegando o atacante melhor posicionado chegando de frente para o arremate e os beques tendo que girar o corpo e ficando em situação de inferioridade. Depois inventaram que o ponta deveria trabalhar com o lateral ou o meia, pra facilitar a tarefa, num “overlapping” ou triangulação.  Até que hoje, virou isso!

Na partida contra a Bélgica, teve comentarista falando no intervalo – quando a vaca, aliás, já havia ido para o brejo – que “tinham que entrar pelo meio, de qualquer jeito”.

Meu Deus! Perdoai-os ó Pai, porque eles não sabem o que dizem!

Como vamos tentar abrir um time blocado lá atrás, com oito, nove atletas, entrando pelo meio? Pior é que foi o que se viu! Aquela confusão danada, bola estourando na zaga por todo lado. “Ah, mas era um paredão vermelho!”. Tá! E você vai ficar batendo contra a tal parede – como ficaram mesmo – até o fim do jogo? Façam-me o favor!


Daí, a cada chance de gol desperdiçada, era aquele velho gesto de mãos na cabeça, cara de desespero, palavrão sendo pronunciado, jogador se atirando em campo após errar um chute cara-a-cara. Isso é equilíbrio emocional?

A Bélgica jogou a partida seguinte contra a França, foi derrotada e não se viu isso, ao menos não com a mesma intensidade.  Seria porque os europeus são mais frios?

Não, é porque esse tipo de atitude não impacta positivamente o grupo no decorrer de uma partida difícil. Só aumenta o desespero coletivo, todos já sabem disso. Fica até parecendo que cada jogador brasileiro tenta se livrar da culpa, agindo assim, como que se dissesse ao público: “Olha, eu tentei tudo, fiz meu máximo, mas não deu, não tenho culpa!”. Querem saber a verdade? Todos tem parcela de culpa no time, a começar pelo nosso treinador.

Desde o final do ano passado, já convivíamos com algumas convocações erradas, que destoavam das primeiras que o Tite fez, quando assumiu o cargo.

Com uma equipe montada tão boa para checar jogadores em qualquer parte do planeta, deveria ter se lembrado de olhar os daqui do Brasil, também.

Alisson foi bom goleiro, mas não conseguiu produzir um único milagre em campo, no Mundial. O belga Courtois produziu o seu, no final do jogo, naquela bola do Neymar.

Aqui no Brasil, cansei de ver Marcelo Grohe e Vanderlei operando milagres. Custava testá-los? Que tal se levássemos os três e fizéssemos um revezamento nos primeiros confrontos da primeira fase, com a promessa do treinador de efetivar o titular apenas a partir das oitavas-de-final?

Aposto que o rendimento seria melhor e todos achariam justo, poder participar. Do modo como foi o Cássio não pôde fazer nada e o Éderson só pôde empurrar o Tite, derrubando-o, naquela comemoração de gol estapafúrdia, que virou piada mundial.

Já passou da hora dos goleiros reservas terem a oportunidade de jogar ao menos uma partida de primeira fase. Ou se confia neles, ou não se convoca. Ninguém na equipe deve se sentir tranquilo e absoluto na condição de titular. Mesmo o craque do time. 

A marcação por zona da defesa sempre foi outra coisa errada. Dos seis gols tomados pela Seleção, com Tite, cinco haviam sido de bolas aéreas. Foi um defeito que não se corrigiu no Mundial.


Sabendo que iria enfrentar uma Bélgica com grandalhões no ataque, porque não escalou Marquinhos, que era titular, ficando – que seja – momentaneamente com três zagueiros na área? Se ele confiava em Geromel, porque não o testou como titular, aproveitando assim, seu zagueiro mais alto para o jogo aéreo do adversário?

São perguntas que ficarão sem resposta, até porque não vi ninguém questionando Tite quanto a isso.

“Ah, mas o Thiago Silva não comprometeu”. Claro! E nem deveria, já que foi sua terceira Copa do Mundo, sabiam disso? Não, né?

Também ninguém lembrou que Fernandinho (ao lado de David Luiz) foi considerado culpado pela derrota de 7×1 diante da Alemanha, em2014. Não se deve crucifica-lo, mas entregar-lhe a responsabilidade de substituir Casemiro me pareceu demais. 

Na virada, o rapaz ficou marcado. Falhou nos dois gols, marcando o primeiro contra e não parando a jogada, no segundo. Fez lembrar Felipe Melo em 2010: ele e Júlio César se atrapalhando no primeiro gol dos holandeses, numa falha dupla: um errou a bola, enquanto o outro a cabeceava, marcando contra.

Pois foi numa falha dupla que se deu no primeiro gol belga: a bola veio na área, num ponto onde Gabriel Jesus e Fernandinho subiram sozinhos, numa tola disputa de bola.

“Ah, mas foi uma fatalidade”. Foi? Então me respondam como é o fundamento de um cabeceio: o correto não é subir de frente para a bola, com os olhos bem abertos e golpeá-la com a testa, direcionando-a para onde se deseja? Foi o que se viu no lance? Não, né? Mas, apesar disso, não se justificam os ataques – sobretudo os racistas – que Fernandinho recebeu. Porque, apesar das falhas, não foi o principal culpado.

Todos deveriam saber quem foi o maior responsável por isso. E não querer perpetuá-lo no cargo, como estão querendo fazer, agora.

A própria Seleção me pareceu uma simbiose das anteriores, unindo a insegurança na bola aérea de 2010, com a falta de combatividade pelo meio, de 2014.

E muitas vezes, as coisas não mudaram dada a teimosia de seu treinador.

Senão, como explicar sua resistência em escalar Douglas Costa, precisando abrir a zaga adversária? Não deveria ter começado jogando? Notaram como a equipe agrediu mais, com ele em campo? Faltou tempo para que ele pudesse ajudar a decidir. Ou o dedo do técnico, dizendo pra Neymar cair pelo setor, para dois habilidosos juntos fazerem o “um-dois” em cima do marcador. Sim, porque ao contrário do que sugeriu o tal comentarista, entrar pelas pontas é mais fácil do que pelo meio, todo congestionado.

Mas a teimosia tinha que chegar aos limites. E Gabriel Jesus foi a maior delas, sem dúvida. O atacante era uma opção válida para os jogos das Eliminatórias, quando saía em velocidade no contra-ataque, tabelando com Neymar. Não parado ali na frente.

No final das contas, não marcou gol algum, nem prendeu a dupla de zaga belga atrás. Quando Firmino entrou em campo, ao menos o time adversário se preocupou mais.


Tínhamos que ter entrado com Firmino e Douglas Costa desde o início. Ou assim que levamos o segundo gol, aos trinta minutos, pelo menos. A Bélgica podia ter ampliado, no primeiro tempo. Esteve mais próxima disso, do que nós, de diminuirmos o placar. Mas cadê treinador que tenha peito para fazer duas alterações antes do intervalo, reconhecendo que errou; gente? Tá pra nascer no futebol brasileiro! Sempre foi assim.

Se nem o Felipão fez isso, quando levamos “um saco” dos alemães, com cinco tentos em menos de vinte minutos, porque o Tite iria fazer, não é mesmo?

Oras, façam-me o favor! Se Paulinho não estava bem, porque insistir com ele, obrigando William a jogar aberto pela ponta? O tal “foguetinho” não teria sido mais útil pelo meio, em sua posição original?  Lutou muito, mas produziu pouco, por ali.

Perdido na ponta me fez lembrar o Bernard “alegria nas pernas” de Felipão, em 2014.

Se o esquema privilegiava Neymar, porque deixa-lo centralizado, fazendo com que trombasse com Philippe Coutinho? O Neymar que queríamos era aquele aberto pela ponta, veloz e insinuante, abrindo as defesas adversárias com apetite, do passado.

Não esse parado, diante de uma zaga já postada, sem ter cacoete de camisa 10 para resolver. No frigir dos ovos, um acabava atrapalhando o outro.

Notem que Coutinho jogou melhor nas duas primeiras partidas e depois sumiu nas duas seguintes, enquanto Neymar justamente melhorou nas duas últimas, após estar sumido nas duas primeiras. A imprensa creditou isso exclusivamente a ele estar voltando de contusão. Mas para mim, além disso, contou muito o fato de ambos estarem mal posicionados, quase que sobrepostos em campo, num mesmo espaço.

Será que ninguém enxergava isso, que os dois estavam se espremendo por ali e que a marcação adversária ficava facilitada, além do jogo não fluir, porque se concentrava muito ali, ainda mais quando Marcelo descia?

Agora, convocar Fred, Taison e mais uma meia dúzia, era dar ao time, a certeza de que faltariam opções no banco, quando fosse necessário. O próprio Renato Augusto só se salvou, por acertar uma cabeçada de rara felicidade. Por mim, não teria ido, também.

E pensar que tanta gente boa ficou por aqui, no Brasil!

Vanderlei, Marcelo Grohe, Marcos Rocha, Rodriguinho, Luan…


Dava para ter testado os meninos Arthur, Pedrinho e Paquetá. Ou até ver como seria com um jogador mais experiente no meio, pra melhorar a qualidade do passe, como o Hernanes, que salvou o São Paulo do rebaixamento, recentemente.

Notem que não há nenhum craque, entre os que eu citei. Até porque, eles estão desaparecendo do futebol brasileiro. E do mundial. Senão, Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar já teriam decidido ao menos alguma das Copas que disputaram. Agora surgiu o menino Mbappé e tome compará-lo a Pelé. Hoje é muito marketing, gente!

Enfim: precisamos urgentemente, retomar nossa vocação de jogarmos no ataque, pelas pontas, com um camisa dez raiz, com bola no chão.  Temos que retornar às nossas antigas características: do drible, da ginga, da malícia, do futebol atrevido, moleque, ofensivo. Dos gols.

Voltar a fazer os gringos se preocuparem em como é que irão conseguir parar os nossos dribles e não ficarmos nos preocupando tanto com a bola aérea deles.

Deixar esquemas rígidos e invencionices europeias de lado e recuperarmos nossa identidade futebolística, tão descaracterizada nessa década medonha.

O Brasil possui uma nova leva de jovens treinadores, cheios de vontade e talento.

Por que não se pensa em uma comissão de três, quatro treinadores, como na NBA, por exemplo? Ilusão? Ilusão é o Tite dizer que olhava para o banco e só via “feras”.

Estivesse vivo e o sábio João Saldanha estaria rindo, porque quando ele chamou seus jogadores assim, estava se referindo a Pelé, Gérson, Riva, Jairzinho, Tostão…

Mas conduzir a Seleção Brasileira é algo que envolve muita responsabilidade, eu sei.

O fardo é pesado para apenas um. Por isso, apenas responsabilizo Tite, mas não o condeno, apesar das minhas críticas. Condeno sim, é esse discurso de continuidade, esse “status quo” que se instalou na Seleção Brasileira.


Enquanto isso, a França se sagra bi em 2018, com gol de bola parada, gol contra e até ajuda do VAR. O goleirinho francês quis driblar o croata dentro da área e deu vexame. Quanta emoção! Alguém me acorde na hora de começar o desenho, por favor.

O predomínio europeu aumenta cada vez mais no torneio e as coisas ficarão mais difíceis, com 48 seleções. A Copa se torna, a cada edição, mais desinteressante para o torcedor brasileiro, que hoje anda preferindo até o Mundial de Clubes.

Falta perceber que o futebol não deveria ser “show business”, muito menos jogador se tornar “astro pop”. Que o futebol nacional vive um momento quase lúgubre, isso sim!

Enquanto a massa torcedora admira a beleza que foi o evento na Rússia e discute por aí a importância do “VAR”, os gringos nos passam cada vez mais para trás, garantidos também, pelo discurso de continuidade desse futebol brasileiro, que está aí.

Quanto a mim, só me resta continuar como um solitário torcedor gritando no meio do deserto contra esse tipo de coisa, enquanto o coração saudosista não se esquece das gerações de craques que um dia, nos deram as glórias do pentacampeonato mundial: Gylmar, Djalma Santos, Bellini, Nilton Santos, Didi, Garrincha, Pelé, Gérson, Carlos Alberto, Jairzinho, Tostão, Rivellino, Romário, Bebeto, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e outros; num tempo em que o Brasil dominava o mundo com a magia de seu futebol, a qual o Museu da Pelada não se cansa de relembrar.

A VOLTA DO “COMPLEXO DE VIRA-LATA”

por Israel Cayo Campos


Em meados dos anos 1950, depois de duas grandes decepções em Copas do Mundo. A fatídica derrota para os Uruguaios na última rodada do primeiro Mundial do Brasil por 2 a 1 e a humilhante goleada para os húngaros por 4 a 2 nas quartas de final da Copa da Suíça de 1954 levaram muitos brasileiros a descrença no futuro do esporte bretão no país. Dentre esses decepcionados, estava Nelson Rodrigues, o reacionário e folclórico ‘multimídia” carioca que a época era uma das principais vozes do jornalismo brasileiro. 

O mesmo, chegara a dizer que o “Maracanazzo” de 1950 tinha sido a ‘Hiroshima brasileira”, em uma melodramática alusão ao ataque nuclear que causou a rendição japonesa para os estadunidenses ocasionando o final da Segunda Grande Guerra Mundial. De fato, a dor de 1950 é sentida até hoje, mas a transformação da tragédia esportiva em uma tragédia humana, mesmo que tenha sido uma alusão surrealista, já denotava os contornos da importância que o futebol tinha para o povo brasileiro. 

Ainda ressentido por 1950 e com a ajuda da derrota de 1954, Nelson cunhou a expressão “Complexo de vira-lata”, que ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, não só se atribuía ao futebol brasileiro, mas abrangia a “inferioridade em que o povo brasileiro se coloca de maneira voluntária, em face ao resto do mundo”. Assim como em nossa sociedade, ao futebol brasileiro segundo Nelson, faltava a autoestima suficiente para que pudéssemos enfrentar de igual para igual os demais povos. Principalmente os europeus.


As raízes de tal expressão são bem mais antigas e racistas do que Nelson Rodrigues, e de fato, ele nunca tal usou essa frase como forma de menosprezo ao povo brasileiro, mas por uma notória observação do senso de inferioridade que seus compatriotas sentiam… No futebol, mesmo que a derrota mais dolorida tenha sido contra um rival sul-americano, o pensamento era de que para jogar contra europeus, os jogadores brasileiros deveriam jogar como europeus, e principalmente, não tremer… 

Aproveitando-se de tal pensamento, muitos atrelaram ideais racistas ao futebol brasileiro. Como disse o escritor Fábio Mendes em seu livro “Campeões da Raça”, era natural se ouvir dos radialistas, escritores e do público em geral que os jogadores negros “amarelavam” exatamente nos jogos decisivos. Era o Complexo de Vira-lata tomando um aspecto não motivacional, mas preconceituoso. 

Tamanha era a certeza que os jogadores negros não tinham capacidade de enfrentar os europeus, que uma seleção brasileira pós Copa de 1954 foi chamada apenas com jogadores brancos. Alguns como o jornalista Vital Bataglia alegam que por desejo do então técnico Flávio Costa, Já outros, como o jornalista e ex-técnico João Saldanha, alegam que essa decisão partiu da cúpula da extinta CBD, a época gerenciada por João Havelange. Sendo indefinido saber de quem era o desejo de uma seleção brasileira “ariana”, o fato é que ela fracassou em seus amistosos na Europa. Mantendo firmemente a ideia de que futebolisticamente, sentíamos o peso da inferioridade de nosso povo tendo como pano de fundo os campos de futebol.


Foi preciso chegar o ano de 1958, na Copa do Mundo da Suécia, uma Copa no continente europeu, para que o complexo de vira-lata futebolístico tivesse o seu fim. E curiosamente ou não, com uma seleção miscigenada.Que só passou a jogar um grande futebol a partir da terceira partida contra o time científico da União Soviética. Quando o técnico Feola resolveu apostar no índio Garrincha, no caboclo Vavá e no negro Pelé. Aliados ao já titular Waldir Pereira, o Didi (também negro), a seleção brasileira seguiu rumo ao primeiro título mundial, dentro da Europa, e a certeza de que o tal complexo “inventado” por Nelson Rodrigues chegara ao fim. 

Em 1962, o bicampeonato, e a partir daí, pelo menos no futebol, o complexo de inferioridade se inverteu, não eram os brasileiros que tremiam diante dos europeus, mas sim o contrário. Ao ver a camisa amarela, tremiam o italianos na final de 1970, corriam de medo os alemães ocidentais, que perderam o jogo para seus vizinhos orientais em 1974 apenas para não enfrentar o Brasil, já era certo o tetracampeonato em 1978 se não fosse a “entregada” que o Peru deu para os Argentinos os colocando na final contra a Holanda. Mesmo quatro anos antes, o Brasil tendo sido derrotado pela mesma Holanda, era certo que se não fosse o roubo argentino, venceríamos os mesmos na final daquele mundial… O complexo de vira-lata não só se invertia, como simplesmente tomava proporções extremas, pois ninguém era melhor que os brasileiros! 


Claro, algumas decepções vieram… A derrota para os italianos em 1982, uma tragédia inesperada do melhor futebol do mundo… A derrota para os franceses nos pênaltis em 1986, pura falta de sorte… A derrota para os argentinos nas oitavas de final em 1990, culpa do esquema tático de Sebastião Lazaroni! E assim seguimos, mesmo com um jejum de vinte a quatro anos de títulos mundiais, continuamos a nos auto afirmarmos o melhor futebol do mundo, e todos os outros que tremam diante do poder do futebol brasileiro! O titulo de 1994 novamente sobre os italianos, e o pentacampeonato em cima dos alemães reforçaram ainda mais o peso da camisa amarela sobre os europeus.A derrota pra França em 1998, há, essa foi culpa da convulsão de Ronaldo e da não convocação de Romário… Nunca somos superados, a não ser por nós mesmos! 

Após o mundial do oriente as coisas começaram a mudar. O futebol europeu passou de vez a levar todos os nossos ótimos, bons, médios e até ruins jogadores. Começaram a se organizar, o futebol se tornou ainda mais um produto global, e a Seleção brasileira, formada praticamente por jogadores que atuam fora do país, a grande maioria no futebol europeu, passou a perder sua essência de superioridade sobre as demais seleções. Superioridade essa conquistada não só pelos cinco campeonatos mundiais, mas também pelo próprio subconsciente do brasileiro, e da ideia de que somos o país do futebol. 


Desde então se tornou comum vermos muitos brasileiros acompanhando mais times europeus do que os nossos. Campeonatos de clubes e seleções europeias que antes a TV aberta não queria nem de graça passando em horário nobre. E dando mais audiência do que os jogos locais! Perdemos nosso estilo de futebol, nossa superioridade, e passamos a querer imitar os europeus em tudo: Tipo físico, esquemas táticos, movimentação, treinamentos… Enquanto isso a técnica e habilidade do jogador brasileiro aos poucos vem sendo suprimida por um estilo único de jogar um esporte tão multifacetado… O espirito do vira-lata voltou… 

Em Copas do Mundo desde então, o futebol europeu, mesmo aquele que considerávamos de segunda linha, se agigantou sobre o nosso. Nas últimas quatro Copas foram quatro derrotas em fases eliminatórias (França, Holanda, Alemanha tomando de sete e agora Bélgica), dois empates em fase de grupos (Portugal e Suíça) e três vitórias também na fase de grupos apenas contra seleções da extinta Iugoslávia (duas vezes sobre a Croácia e uma sobre a Sérvia). Até Seleções não europeias tem dado profundo trabalho ao Brasil. Chile, Colômbia, Costa Rica e México andam vendendo caro suas derrotas ao esquete canarinho. E nas nossas cabeças apenas o fim da ideia de que somos os melhores do mundo. E que diante dos europeus, mesmo que seja a pequena Bélgica, com uma área inferior ao Estado do Rio Grande do Norte, hoje somos inferiores. 


Mesmo com os torcedores inflamados ainda a insuflarem que somos os maiores vencedores de Copas do Mundo, o Brasil dentro dos gramados vem demonstrando o renascimento do complexo de Vira-latas, tremendo diante dos franceses em 2006, mesmo com um esquadrão que muitos dizem ser o único a poder rivalizar com a Seleção de 1970. Perdendo em 2010 para a Holanda, quando estava com o jogo sobre controle. Perdendo o controle em 2014 ao enfrentar os alemães, simplesmente sofrendo sete gols dentro de casa. E se desorganizando diante da Bélgica, que até então era considerada apenas a nova ‘Dinamáquina’ de 1986… 

Nos próximos dezesseis anos, o Brasil continuará a sofrer com o retorno do “complexo do vira-lata”. Principalmente por esquecer como é que o futebol brasileiro joga, e cada vez mais imitar o estilo de jogo europeu, assim como foi em meados dos anos 1950, quando Nelson Rodrigues resgatou do contexto histórico para os campos de futebol a referida patologia… Torcemos para que no Catar em 2022, surjam novos “Didis”, “Garrinchas” e “Pelés” para que os europeus não nos aterrorizem mais, e que o Complexo de Vira-lata possa voltar para o local que lhe é devido, as histórias do folclore futebolístico nacional. 
 

A CAMINHADA DE DIDI

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


(Foto: Nana Moraes)

Eu, definitivamente, devo viver em outro planeta. Quase 100% dos comentaristas de tevê e jornal apoiam a permanência de Tite. Os motivos são incontáveis: “deixou um caminho pavimentado”, “mudou a cara de nossa seleção”, “tem o grupo na mão” e blá blá blá!!! Que cansaço!!!

Teve um, na tevê, que chegou a duvidar que existisse alguém no mundo que não gostasse do trabalho do professor: “liguem para a redação e se apresentem”, sugeriu. Se o nível do futebol está ruim, o dos comentaristas, com algumas exceções, nem se fala.

Querem discutir futebol, de verdade? Então me respondam qual a diferença das seleções do 10 x 1 do Felipão (sete da Alemanha mais três da Holanda) , do Dunga e essa do Tite? Me apontem alguma evolução tática ou técnica de uma para outra.

Era óbvio que nas Eliminatórias o grupo estava insatisfeito com o Dunga. Jogador derruba o técnico que quiser, isso é muito comum no futebol. O que mudou na seleção, me digam? Saiu um professor sisudo e entrou um pastor, um palestrante de auto-ajuda. Mudou apenas o discurso. E se Dunga tinha zero de apoio da mídia porque nunca fez questão de ser simpático, Tite teve uma aprovação retumbante. Aí fica mais fácil trabalhar.


Mas pensem comigo. Sua técnica de auto-ajuda não melhorou em nada, por exemplo, o lado psicológico de Neymar, que até o último minuto tentou ludibriar o árbitro com suas quedas. O Tite psicólogo falhou. Como uma seleção chega no ponto alto da Copa com tantos jogadores em frangalhos, contundidos? O Tite departamento médico falhou. Como uma seleção consegue dar 50 passes errados em um jogo tão importante? O Tite fundamentos falhou. Como uma seleção não tem uma jogada ensaiada, um contra-ataque mortífero, um toque de bola envolvente e coloca o centroavante para marcar como um cabeça de área? O Tite técnico falhou. Como olhar para o banco e ver Fernandinho, Renato Augusto e Firmino como as principais alternativas? O Tite convocação falhou.

A verdade é que o “genial” Tite falhou além da conta, mas a imprensa continua passando a mão em sua cabeça e a CBF já garantiu a sua permanência, a do filho e a do papagaio até o ano 3000.

É preciso mudar não só o Tite, mas toda a cúpula da CBF que transformou a seleção em um balcão de negócios. E olha que essa seria a chance de ouro de Tite & Cia brilharem porque o nível dessa Copa está abaixo da crítica. Pelo menos as seleções em que apostei, tirando a Espanha, continuam no páreo: Croácia, França, Bélgica e Inglaterra.


O Brasil perderia para as quatro até porque não somos mais a melhor seleção do mundo faz tempo. Mas o pior é que agimos como se fôssemos. E não seremos tão cedo se essa escola retranqueira, covarde, do futebol de resultado, pragmático, que preza o futebol força e ama os velocistas, permanecer no poder.

Nós temos nossa própria forma de jogar, que foi enterrada sem dó nem piedade por Parreira, Mano, Felipão, Dunga e Tite. Já deu. E não me venham com essa de romantismo, isso é o que precisa ser feito porque a tecnologia está a favor de todos, correr todos sabemos, mas nenhum outro país do mundo tem o dom para o futebol como o brasileiro, em nenhum outro país surgem tantos garotos bons de bola. O problema é que estão sendo engessados nas escolinhas. Ali, na mão dos professores de Educação Física travestidos de técnicos de futebol, eles sofrem a primeira lavagem cerebral e passam a trocar o drible pelo carrinho, os gols pela ajuda na marcação.

Precisamos nos libertar, clamamos por novos ares, por mais leveza, temos que partir em busca de nossas raízes. Mas a mídia precisa comprar essa briga e não se deixar levar por discursinhos chatos e ensaiados. Não queremos mais pastores, gestores de pessoas e fabricantes de brucutus. Queremos boleiros!!! E não me venham, novamente, com o papo furado de que o mundo mudou. Nós mudamos, nos influenciamos pela escola europeia e ela só estava tentando nos copiar. Evoluíram eles, regredimos nós.

Precisamos reverter essa situação trágica, mas para isso temos que a agir com a tranquilidade e a serenidade de mestre Didi, após o gol da Suécia, na final de 58. Dá para virar esse jogo! Didi acreditou, eu acredito.