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São Paulo

JOGOS INESQUECÍVEIS

por Mateus Ribeiro


São Paulo x Corinthians (Semifinal do Campeonato Brasileiro 1999).

Clássicos são emocionantes na maioria das vezes. Se o clássico em questão valer algo grande, a tendência é que a emoção alcance níveis estratosféricos. E foi isso que aconteceu no dia 28 de novembro de 1999.

São Paulo e Corinthians se enfrentaram pela primeira partida da semifinal do Campeonato Brasileiro de 1999. De um lado, um São Paulo que vinha de uma década fantástica, com títulos nacionais, continentais e mundiais. Do outro, o Corinthians, que naqueles dias, vivia a melhor fase de sua história. Como se isso não bastasse, grandes nomes do futebol como França, Marcelinho, Rogério Ceni, Rincón, Ricardinho, Raí, Edílson, Jorginho, Dida e muitos outros estavam em campo. Não se poderia esperar algo diferente de um grande jogo.

A partida foi um lá e cá sem fim, do primeiro ao último minuto. Os treinadores deram uma bica na tal da cautela, e ambos os times atacavam sem medo de ser feliz.

O Corinthians saiu na frente, com gol do zagueiro Nenê. Alguns minutos depois, Raí, acostumado a ser carrasco do Corinthians, acertou um chute que nem dois Didas seriam capazes de defender. Eu, que já havia ficado muito chateado pelo tanto que Raí judiou do meu time do coração (acho que já deu pra perceber que torço para o Corinthians) em 1991 e 1998, senti um filme passando pela minha cabeça. Estava prevendo o pior.


Para a minha sorte, dois minutos depois, Ricardinho aproveitou um lançamento e colocou o Corinthians na frente de novo. Meu coração estava um pouco mais aliviado, e eu conseguia respirar. Até que Edmílson tratou de empatar a partida, e jogar um banho de água fria na torcida do Corinthians. O frenético e insano primeiro tempo terminou empatado em dois gols, e com muitas alternativas para ambos os lados. Eu tinha certeza que o segundo tempo seria uma loucura. E realmente foi.

Logo no início, Edílson deixou Wilson na saudade, e caiu dentro da área. Pênalti para o Corinthians. Na batida, o jogador que eu mais amei odiar na minha vida inteira: Marcelinho. Bola de um lado, goleiro do outro, e o Corinthians estava novamente em vantagem.

Alguns minutos depois, pênalti para o São Paulo. De um lado, um dos maiores jogadores da história do São Paulo. Do outro, um goleiro gigantesco, que estava pegando até pensamento em 1999. O Resultado? Nas palavras de Cléber Machado, “…Dida, o rei dos pênaltis, pega mais um…”.

Naquelas alturas, eu já estava quase tendo uma parada cardíaca. Teve bola na trave, bola tirada em cima da linha, e tudo mais que os deuses do futebol poderiam preparar para fazer meu coração parar.


Até que quando o jogo estava se aproximando do fim, mais uma surpresa. Desagradável, é lógico. Mais um pênalti para o São Paulo. Eu já achava que aquilo fosse perseguição. Meu coração, desde sempre, nunca foi de aguentar fortes emoções. Tanto que no segundo pênalti, fiquei de costa para a tevê, sabe se lá o motivo, com meu chinelo na mão. E o chinelo foi um personagem importante, já que o monstruoso Dida defendeu o pênalti do gigante Raí mais uma vez, e eu arremessei meu calçado na árvore de Natal, e destruí o adorno que enfeitava a sala da minha casa.

Antes do apito final, Maurício (que substituiu Dida) ainda fez uma grande defesa, garantindo a vantagem para o jogo de volta.

Um jogo emocionante, que consagrou Dida, e de certa forma, foi uma espécie de vingança minha contra Raí, que em muitas oportunidades me fez chorar. Vale ressaltar que o craque são paulino é o rival que eu mais admirei durante minha vida.

A vitória me deixou feliz, é claro. Porém, além dos três pontos e da vantagem para o jogo da volta, quase uma década depois, o que me deixa feliz (e triste) é ver que naqueles dias as torcidas dividiam o estádio, os times se enfrentavam em pé de igualdade, e os craques ainda passeavam pelos gramados.

Um dos dias mais emocionantes e insanos da minha vida. Agradeço aos grandes jogadores que me fazem lembrar daquele domingo como se fosse ontem. Agradeço também, você que leu até aqui, e dividiu essas lembranças comigo.

Um abraço, e até a próxima!

 

 

 

24 ANOS DO BI MUNDIAL

por Mateus Ribeiro

Houve um tempo em que time brasileiro metia medo em time europeu. E o São Paulo provou isso, não apenas uma, mas duas vezes.

Vinte e quatro anos atrás, o Tricolor conquistava o Bicampeonato Mundial de Clubes, ao bater ninguém menos que o Milan, que era uma máquina.

Um ano antes, já havia vencido o Barcelona, que era outro cachorro grande. Um time repleto de grandes jogadores e guerreiros, comandados por aquele que se não foi o maior, é um dos mais respeitados treinadores da historia do futebol nacional, o inesquecível Telê Santana.

O Museu da Pelada deixa os parabéns aos torcedores do São Paulo, e a todos os envolvidos nessa conquista, por terem deixado uma importante lição: jamais abaixar a cabeça e sempre enfrentar os adversários de cabeça erguida.

COM ATORES DIFERENTES, UM FILME REPETIDO

por Mateus Ribeiro


O São Paulo passa por um momento difícil no Campeonato Brasileiro. Após a derrota para o Palmeiras, o Tricolor se afundou ainda mais na zona de rebaixamento. Pior que isso, viu o Avaí e o Vitória o ultrapassarem na tabela e passou a ser o vice lanterna do Campeonato Brasileiro. Mais do que nunca, o fantasma do rebaixamento parece ter chegado no Morumbi.

O clube, que nunca foi rebaixado, passa pelo momento mais tenebroso de sua história. Além de não conseguir resultados, a equipe também não consegue desempenhar um bom futebol. Não tão bom a ponto de deixar o torcedor pelo menos um pouco mais esperançoso ou tranquilo.

É claro que a camisa e a história do time contam muito, mas não dá para contar apenas com isso. É importante também ressaltar que a torcida faz sua parte, comparecendo aos jogos. Porém, acredite se quiser, para se ganhar jogos é necessário fazer algo mágico: jogar bola. Digo mágico, porque fazer um time com jogadores do porte de Bruno, Rodrigo Caio (mais uma bela invenção da mídia que conseguiu chegar até na seleção), Buffarini, Wesley, Wellington Nem, Edimar e mais alguns outros é tarefa dura. E não adianta misturar esse comboio de pereba com Hernanes (que nos últimos anos não desempenhou nada de produtivo na Europa, e chegou com pompas e supervalorizado). Pouco ajuda também os contestáveis, porém blindados, Cueva e Pratto. Dorival não faz milagres. O ex goleiro do time, que achou que meia dúzia de palestras e passeios na Europa fosse o suficiente pra se tornar treinador, menos ainda.

Assim caminha o São Paulo, que vive o mesmo filme que Corinthians, Palmeiras, Botafogo, Internacional, Grêmio, Atlético Mineiro, Vasco, Fluminense, e tantos outros times estrelaram: o caminho para o abismo.

O roteiro é sempre o mesmo: do lado do otimismo, comentaristas dizendo que ainda existe tempo, torcedores estufando o peito pra falar que time grande não cai (quem diz isso não conhece a história do futebol, e se esquece que Manchester United, Liverpool, Arsenal, Borussia Dortmund, Bayern e Milan já caíram, por exemplo), jornalista torcedor tentando amenizar o cenário e desviar o foco para outros clubes. Já do outro lado, rivais começam a vencer jogos, a bola começa a bater na trave e ir para fora, erros bizarros começam a brotar, erros de arbitragem aparecem a todo instante para prejudicar. Junte tudo isso no liquidificador. Pronto, está feita a receita da desgraça.

Sim, ainda existe tempo para o São Paulo se recuperar. Porém, analisando a tabela, nota-se que o São Paulo acumula quase o dobro de derrotas, se compararmos com o número de vitórias. Além disso, perdeu pontos cruciais contra adversários diretos, alguns desses pontos dentro de casa.

Mudanças drásticas são necessárias, e a diretoria sabe disso muito melhor do que eu ou você. O que não pode acontecer é jogador continuar se arrastando em campo, ganhando salário alto, enquanto torcedor cruza a cidade pra apoiar o time. Talvez seja tarde quando jogadores, comissão técnica, jornalistas e torcedores abrirem os olhos.

O tempo existe. Porém, precisa ser aproveitado, como em qualquer situação da vida. Coisa que o São Paulo não está fazendo. Enquanto isso, os rivais se divertem com esse filme repetido, que todo ano muda de ator. Este ano pela primeira vez, o ator vermelho preto e branco está lutando pelo papel principal. Se continuar como está, vai conseguir.

Aguardemos para ver se, no final do campeonato, esse filme de drama e suspense terminará como terror ou comédia.

SIRI, MOLECAGEM, PELADA E UM CAMISA 10 GENIAL!

por André Felipe de Lima


O Santos apenas se preparava para iniciar a disputa do Campeonato Paulista. Era agosto de 1978. O time era talentoso, porém uma incógnita. Na escalação, figuravam nomes relativamente desconhecidos. Todos muito jovens. Dentre os meninos, um se destacava e vestia justamente a camisa mais sagrada da história do futebol mundial: a de número 10, do Rei Pelé. Os torcedores alvinegros debruçavam-se com cara de sonho e olhar para o futuro. Sabiam que ali, na Vila Belmiro, não despontavam mais os ídolos de outrora. Não havia mais Zito, nem Mengálvio. Tampouco Dorval. Nem Coutinho ou Pelé. Pepe ou Gilmar? Iguais a todos eles, certamente nunca mais. Havia, contudo, esperança naqueles homens indefectivelmente vestidos de Santos empoleirados na grade que cercava o campo. Miravam aquele menino magrelo, convictos de que o futuro seria generoso com eles. O garoto tinha uma classe que mais lembrava outro camisa 10 famoso, mas o do rival Palmeiras. Sim, o meia-esquerda Edivaldo de Oliveira Chaves, que todos chamavam de Pita, sempre esteve mais para Ademir da Guia que para o Pelé.

Humilde, o mirrado Pita, que morava na concentração do clube, sabia, no entanto, que sobre seu ombro pesava uma missão, e que jamais deveria decepcionar o séquito que o acompanhava em todos os treinos, em todos os jogos daquele Santos que nascia para fazer do clube novamente um gigante. “Penso sim em me tornar ídolo, pois todo jogador pensa assim”. Personalidade não lhe foi negada pelo destino. Havia um ídolo santista que o apoiava, que apostava no garoto Pita. Clodoaldo não cansava de aconselhá-lo. “Não caia em farras, menino!” ou “Nada de cigarros. Vê lá, garoto!”, dizia sempre ao Pita. “Quando venho treinar de manhã, com os olhos fundos, ele fica falando: ‘Chega tarde em casa e agora não quer correr, né?’”. Clodoaldo sabia (e muito!) o que estava fazendo.

Pita não era bobo. Além dos conselhos do Clodoaldo, ouvia os do velho João Albuquerque Chaves, ou “João da Fazenda”, que jogara como volante no Náutico em 1946. O carinhoso pai alertava-o para que não tivesse medo de cara feia ou da fama dos adversários. Afinal, o coroa era o melhor pai do mundo que o Pita poderia ter. João tinha imenso orgulho do filho.


Foi assim que a camisa 10 do Pelé passou para Pita, quando tinha apenas 19 anos. E, quem diria, foi um cracaço argentino o primeiro perceber o talento inato no jovem menino, que nascera em Nilópolis, na Baixada Fluminense, no dia 4 de agosto de 1958. Ora, argentino, porém ídolo santista, igualmente ao severo protetor Clodoaldo. Estava tudo em casa. Com toda a manha milongueira, Ramos Delgado tinha olhos de ver para além do normal. Enxergava onde poucos viam. Foi assim com Pita. Ele o viu jogando e logo percebeu que ali, diante dele, encontrava-se um dos diamantes mais preciosos da Vila Belmiro após a Era Pelé.

O Santos embarcara para a terra do Ramos Delgado, que naquele instante era o técnico do time. Na agenda, alguns amistosos. Para o refinado menino Pita chegara a hora da verdade. Delgado acreditou nele e o mandou a campo contra um time de Salta e o Talleres de Córdoba. Deu tudo certo. Jogou demais. Voltou ao Brasil, pegou o Flamengo pela frente, no Pacaembu, e ganhou em definitivo a sagrada 10. O também canhoto Ailton Lira perdera, portanto, a vez no time do Santos.


Pita jamais teve vida fácil. Nasceu na Baixada Fluminense, mas foi morar ainda pequeno, com a família, no litoral paulista. No acostamento da Via Anchieta, trabalhava, ainda menino, como vendedor ambulante. Ele em pé, com um arame no qual havia pendurados siris. Vendia-os, escondido da mãe, para os desavisados turistas que pela estrada passavam rumo à praia ou que faziam a mão inversa, regressando para a Paulicéia. Pita era um menino levado. Vendia por farra. Queria apenas uns trocados para o guaraná e o cinema. Mostrava-se prestimoso. Oferecia-se aos clientes para colocar o siri no porta-malas. E quem disse que cumpria o combinado? Os trouxas motoristas voltavam para São Paulo sem siri e sem dinheiro. Ao contrário do Pita, que descia a estrada feliz da vida com a grana no bolso e os siris a tiracolo. Nenhum motorista jamais voltou para dar uma coça no garoto magrelo e malandro. Com 13 anos, acabara a fase aventureira com os crustáceos e a bola roubava Pita para si. Paixão à primeira vista, que se transformaria em amor eterno, com um correspondendo indistintamente ao carinho do outro. A bola e o Pita. Pita e a bola.

Nas areias de Santos, a pelada rolava solta e Pita era a estrela do Casqueiro, time do humilde bairro Jardim Casqueiro, em que morava, em Cubatão. Dali, a Portuguesa Santista o levou. Após dois anos, o juvenil do Santos passou a ser sua morada. O que poucos sabem é que trocou de clube não pelo fato de jogar futebol no time que foi um dia de Pelé, mas sim porque na Vila davam ao pobre menino Pita passes de ônibus de ida e de volta para casa. A necessidade era mãe da vontade. Se a primeira fosse correspondida, a segunda nasceria.

A vida de Pita não foi fácil. A família era muito humilde. O sustento vinha de um modesto botequim do pai. Mas Deus e o talento que ostentava reservaram ao moleque um destino exitoso. “A bola ficou com o Pita e eu fiquei com os cálculos”, dizia o velho João da Fazenda. Em 1977, já estava entre os profissionais. Brilhou para o treinador Formiga, em 1978/79, quando o introvertido Pita comandou os famosos “Meninos da Vila” e resgatou ao autoestima santista ao conquistar o Campeonato Paulista de 78, cuja decisão só aconteceu em junho do ano seguinte. “Hoje quem não é santista em Casqueiro, é ‘sampita’. O corintiano, o palmeirense, o são-paulino. Todos torcem pelo Pita”, asseverava o pai do craque.

Seus lançamentos eram impressionantes. Lembrava Gerson, o “Canhotinha de ouro”, nos momentos mais sublimes em campo, quando colocava até mesmo um bode cego na cara do gol. “Olha, eu sou sincero: não treino lançamentos. É uma coisa que eu trago comigo desde os tempos dos juvenis. Sempre gostei de lançar.”

O maestro Pita comandaria o Santos até meados da década de 80. Antes de trocar a Vila Belmiro pelo Morumbi, Pita levou o time da Baixada Santista ao vice-campeonato do Paulistão de 1980 e ao vice-campeonato brasileiro de 1983, quando time se descontrolou em campo e facilitou a vida do Flamengo. “Chegou a hora de sair do Santos. A proposta do São Paulo é excelente, significa a minha independência financeira”. Gostava do Santos. Estava há 11 anos no clube. A torcida, embora Pita pedisse compreensão, não tolerou perdê-lo. Nos muros da Vila Belmiro, pichavam que “Pita não faz igrejinha”.


Em 1984, Pita chegava ao Morumbi, numa negociação em que o São Paulo cedeu ao Santos o ponta-esquerda Zé Sérgio e o volante Humberto. Igualmente na Vila Belmiro, Pita tornou-se ídolo no Morumbi. O tricolor montou um timaço, que tinha como cérebro o grande Pita. O maestro. O melhor camisa 10 que o Santos teve… depois do Pelé, claro.

JOGO INESQUECÍVEL

por Luciano Pires

Campeonato Brasileiro de 1999. Meu Coringão vai jogar contra o São Paulo no Morumbi, jogaço que eu estava louco pra assistir. Um amigo – sãopaulino – disse que conseguiria dois ingressos de camarote para eu assistir ao jogo. É lógico que eu topei. Mas havia um problema: era no camarote oficial do São Paulo, no meio dos cartolas. Eu, corinthiano, estaria rodeado dos mais fanáticos sãopaulinos e não poderia dar um pio, sob pena de ser linchado. Achei melhor não ir, mas depois, pensando bem e diante da perspectiva de um jogão de bola, topei.

Convidei um amigo, outro corinthiano roxo, e lá fomos os dois. Mordomia total, estacionei o carro debaixo da arquibancada e subimos para o camarote para dar de cara com centenas de sãopaulinos fanáticos se preparando para o jogo. E eu e meu amigo, na moita. Fomos entrando sem dar bandeira, preocupados que alguém achasse que tínhamos cara de corinthianos e nos acomodamos, quietinhos. Do outro lado dos vidros, milhares de corinthianos xingando quem estava dentro do camarote, eu e meu amigo inclusive. Não tinha como dizer pra eles que nós éramos os mocinhos… E começa o jogo, nós dois nos policiando para não dar bandeira. Nenhum movimento brusco, nenhuma encarada, só olhando pro campo e torcendo em silêncio, até que aos 23 minutos, Nenê marca o primeiro gol do Corinthians! Olhamos um para o outro discretamente, com um sorriso mental… e a corinthianada furiosa do lado de fora esmurrando o vidro do camarote. Seis minutos depois Raí marca para o São Paulo e o camarote explode. Eu e meu amigo fingimos que comemoramos…

Três minutos depois, Ricardinho marca o segundo do Timão. E eu comecei a suar frio, reprimindo o berro. Meu amigo idem. No final do primeiro tempo Jorginho, de cabeça, empata para o São Paulo. Com 2×2, no intervalo fomos ao banheiro aliviar a tensão. Que loucura…

Começa o segundo tempo, tenso, e aos sete minutos Marcelinho cobra uma falta e coloca o Timão à frente: 3×2. A torcida vai à loucura e os corinthianos começam a escalar o vidro do camarote, falando palavrões que eu não conhecia. Os sãopaulinos emputecidos e eu e meu amigo explodindo por dentro! 

E então acontece… Aos 17 minutos do segundo tempo, pênalti para o São Paulo. O camarote enlouquece. Raí coloca a bola na marca e prepara-se para chutar. Eu tento fechar os olhos, mas não dá. Ele chuta! E o goleiro do Corinthians, Dida, defende… Uma gritaria imensa, com os olhos esbugalhados olho pro meu amigo, que também esbugalhado me olha. Os dois suavam, os músculos do pescoço tensos, um grito amarrado na garganta!! Continua o jogo, na pressão, e pronto! Outra vez! Aos 45 minutos do segundo tempo, outro pênalti para o São Paulo. O camarote vai à loucura! Novamente, Raí coloca a bola na marca e faz aquela pose característica com as mãos à cintura. Silêncio mortal. Raí corre para a bola, chuta e o Dida defende de novo!

Meu amigo não suporta, levanta e grita:

– Mas que filho da puta!

Até hoje os sãopaulinos tem certeza que ele estava xingando o Dida…