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São Paulo

SÃO PAULO 1991/1993

por Marcelo Mendez


A história desse time bem poderia começar a partir de uma conversa entre o dirigente Carlos Caboclo e seu amigo, o técnico Telê Santana. Ambos estavam bem mal.

O técnico tinha acabado de fracassar no primeiro semestre, na luta para dar um titulo ao Palmeiras em 1990 falhando num 0x0 contra a desclassificada Ferroviária. Sem clima por lá, decidiu aceitar o convite do amigo para treinar o São Paulo, de onde chegou novamente perdendo, dessa vez para o Corinthians em casa. O dirigente estava de orgulho ferido pelo mesmo motivo, as perdas de dois títulos Brasileiros seguidos em casa. Para acabar de lascar, como herança da péssima e vexatória campanha do Paulistão no primeiro semestre de 1990, em 91 o São Paulo disputaria um módulo inferior no Estadual.

Há quem diga que de grandes tormentos surgem vitórias épicas, as quais a palavra e o verso serão poucos para contar. Tem os que apontam que a catarse da perda de uma paixão, pode dar força para que se surja um grande amor. Não sei…

Fato é que a partir de toda essa miséria ludopédica e dessa conversa entre Caboclo e Telê Santana, um compromisso foi firmado, Telê ficou e nasceu um dos maiores times da história do futebol mundial.

Esquadrões do Futebol Brasileiro tem a honra de falar hoje do São Paulo F.C de 1991/1993.

DE CASA ARRUMADA, RESSURREIÇÃO EM 1991

A melancolia de perder mais uma decisão em casa não abalou o São Paulo.

Ao contrário disso, daquela vez foi diferente. O time entrou 1991 com uma verdadeira avalanche de mudanças, a começar pela estruturação de seus departamentos médicos, da reforma e conclusão de seu CT, com a chegada de profissionais do quilate de Turíbio Santos, Moraci Santanna e finalmente, com uma pré temporada para trabalhar.


Dali, o time saiu voando para a primeira competição, o Campeonato Brasileiro. O tricolor subiu na hora certa da competição, passou por Atlético Mineiro, Santos e na final, venceu o primeiro jogo contra o Bragantino no Morumbi por 1×0 para depois empatar em Bragança sem gols. O 0x0 que deu ao São Paulo seu terceiro titulo brasileiro.

No segundo semestre, foi de braçada;

O São Paulo amassou todo mundo no módulo amarelo. O que pesou na hora de decisão contra o Palmeiras. Com a melhor campanha justamente nessa primeira fase, o São Paulo eliminou o Palmeiras e foi a decisão contra o Corinthians. Um show de Raí!

Primeiro jogo 3×0 e três gols do 10. Segundo jogo, um protocolar 0x0 define a coisa. O São Paulo fecha 1991 com dois canecos e com uma perspectiva ótima:

A história seria feita nos anos seguintes…

LIBERTADORES DE AMÉRICA; UM CONTINENTE TRICOLOR.


Dá para dizer que 1992 foi a última Libertadores mambembe do planeta.

Jogos transmitidos para o Brasil POR uma tal Rede OM que em São Paulo funcionava no canal 11 da Tv Gazeta, times porradeiros, campos com gramados lamentáveis, vôos precários, em 1992 o continente nosso, definitivamente, não estava preparado para maiores devaneios de grandeza. No meio disso tudo teve um campeonato.

E nele, o São Paulo suou sangue para conseguir se virar.

Na primeira fase, tomou uma sapatada do Criciúma por 3×0 e teve que buscar sua classificação na altitude da Bolívia contra o San José de Oruru. Na volta, trouxe a vaga para despachar Nacional, Criciúma, Barcelona de Guayaquil e News Old Boys numa épica decisão por pênaltis no Morumbi. No outro ano, foi diferente:

O São Paulo nadou de braçada e na decisão contra o Universidade Católica do Chile, o tricolor meteu um 5×0 em uma das maiores partidas de sua história. Bi…

Bi campeão da América. Mas ainda faltava o mundo…

CADÊ A CINTURA DO FERRER??

O mundo em 1992 chacoalhava as ancas com Happy Mondays, Primal Scream e outros sacodes que vinham das pistas de Manchester. Madchester  era o nome do movimento que revelou uma porrada de bandas que tomavam conta das paradas musicais do momento.

No Brasil, todavia, nosso samba estava meio atravessado.

Até a conquista da Libertadores pelo São Paulo, nosso orgulho ludopédico estava bem avariado. Para se ter uma ideia, a Seleção perdeu as ultimas duas edições da Copa América, tomando goleada do Chile na Argentina (4×0) e levando baile de bola da Argentina em Santiago (3×2). Na última Copa em 1990, saímos na primeira fase, eliminados por Maradona.

Não é exagero, portanto, dizer que o São Paulo foi ao Japão enfrentar o Barcelona, jogando por todo nosso orgulho futeboleiro. E não fez feio.

Após o susto inicial com o gol de Stoichkov para os catalães, uma bola sobrou do lado esquerdo do campo para Muller.

Imbuído da consciência de que jogava por tudo isso que falei acima, o camisa 7 pegou a bola, levou para o lado do campo, trouxe para fora e depois, com a benção de um milhão de malandros de gafeiras imortais, deu um corte pra dentro, entortando o lateral direito Ferrer.

Mais do que um drible, Muller esculhambou com Ferrer e recuperou nosso direito de ser gente, de ser os picas dessa coisa chamada futebol. Cruzou para a área e Raí meteu a barriga na bola para empatar a peleja. O mesmo Raí que meteu a bola no trinco de Zubizarreta para fazer o 2×1 que deu ao São Paulo a Alcunha de melhor do mundo pela primeira vez.

Viria mais no ano seguinte…

Em 1993, o Tricolor era comandado por Cerezo, Leonardo, Palhinha, Cafu e o mesmo Muller, que fez de costas, sem ver, o gol do 3×2 que deu ao São Paulo o Bi do mundo, em cima do poderoso Milan de Arrigo Sachi,


Bi da América, Bi do Mundo, Campeão Brasileiro, da Conmenbol, da Recopa, de tudo. O time que teve em sua base Zetti, Cafu, Adilson, Ronaldão, Ronaldo Luiz… Dinho, Cerezo, Palhinha, Raí, Muller, além de ter outros tantos como André Luiz, Juninho, Macedo, Pintado, Catê e Mauricio (in memorian) e mais outros tantos craques forma um dos maiores times da história do futebol mundial.

Esquadrões do Futebol Brasileiro rende hoje suas homenagens ao tricolor do Morumbi de 1991/1994. Um dos maiores times da história do futebol mundial.

CRAQUES INESQUECÍVEIS

#01- Romário

por Mateus Ribeiro

Romário de Souza Faria, mas pode chamar apenas de Romário. Um dos maiores atacantes de todos os tempos.

O Baixinho fez (muitos) gols por onde passou. E olha que ele passou em muitos lugares mundo afora. E nem foram só os gols que chamaram a atenção durante sua vitoriosa carreira. Romário era autêntico, não fazia média para agradar ninguém, tampouco vivia um personagem, algo tão comum para jogador de futebol atualmente.

Romário não tinha medo de nada, não tinha medo de ninguém.

Romário era um carrasco da grande área. Talvez, o jogador mais letal que eu já tenha visto na vida. Imagino que também tenha sido o motivo da insônia de muitos zagueiros que o marcaram (foram muitos, e dos bons).


Não contente em ser marcante nos clubes por onde passou, Romário marcou seu lugar na Seleção Brasileira. A camisa amarela com o número 11 foi, é, e será eternamente sinônimo de Romário. A azul também. Afinal, alguém se esquece daquele domingo que o baixinho, depois de muita birra de Parreira, voltou em cima da hora e simplesmente DESTRUIU o Uruguai? Talvez essa tenha sido a primeira grande exibição individual que eu tenha visto na vida.

Depois daquele dia, Romário poderia se aposentar da Seleção, que todos lembrariam da sua exibição de gala no Maracanã. Mas faltava completar a obra. E ele, na companhia de muita gente boa (e muita gente contestada também), terminou o quadro nos Estados Unidos. Alguns consideram essa obra, denominada Copa de 1994, um tanto pragmática. Outros, se pudessem, a deixariam para ser contemplada nos maiores museus do planeta.


Não importa, obras são obras, e Romário pintou cada detalhe ali da melhor forma possível: com o bico da chuteira, crescendo no meio dos gigantes suecos, saltando contra a Holanda, recebendo declaração de amor de Bebeto (e do resto do Brasil), batendo pênalti chorado, ajudando seu fiel parceiro de ataque a embalar Mattheus .E tudo isso sob um sol escaldante.

Romário jogava pela sombra. Não era muito chegado aos treinamentos. Talvez fosse pra mostrar que era humano, afinal, sem treinar como os demais, era um monstro, imagina se treinasse?

Romário foi vencedor. Ganhou taças por onde passou. Desde Teresa Herrera até Copa do Mundo, passando por Campeonato Carioca e Copa da Holanda. Sempre fazendo gols.

Romário é rei. Seja no Rio, na Catalunha, em Eindhoven.

Romário é inesquecível. Inesquecível para amantes do futebol. Inesquecível para torcedores de vários clubes do Brasil e do mundo. Ah, é inesquecível para o Amaral também. E para muitos outros que já tiveram o (des)prazer de ter que marcar um dos maiores atacantes da historia do futebol mundial.

Por ser tudo isso, e muito mais, Romário abre a mais nova série do Museu da Pelada: Craques Inesquecíveis!

Divirtam se com os lances dessa lenda!

TÉCNICA, SANGUE FRIO E TÍTULOS: A CARREIRA DE DANILO

por Mateus Ribeiro

Danilo é um jogador em extinção. E eu nem falo daquele papo repetitivo do jogador pensativo, do cérebro do time, e todo aquele banquete de argumentos prontos usados para defender jogador em baixa.


De fato, Danilo é diferenciado, e nem de longe representa a correria desenfreada que se tornou o futebol nos últimos anos. Realmente, Danilo é muito técnico, pensativo e muito inteligente. E foi essa inteligência que fez o pacato e ilustre filho de São Gotardo (MG) passar incólume por todas as mudanças que o futebol passou ultimamente.

A carreira de Danilo passou por muitos períodos e por diferentes gerações. Começou no Goiás, no final dos anos 90, e conquistou além de um Campeonato da Série B, quatro estaduais. O clube esmeraldino costumava revelar e preparar jogadores que posteriormente brilhariam em outros centros do futebol. Danilo foi um desses, e seu futebol despertou o interesse do São Paulo, que não pensou muito e levou o meia para o Morumbi.

No São Paulo, foi peça fundamental de um dos períodos mais vencedores da história do clube. Participou de forma ativa do Campeonato Paulista de 2005, e da conquista do Tri da Libertadores e do Mundial pelo Tricolor. Qual torcedor são paulino se esquece dos  gols contra o River Plate na semifinal da Libertadores? Ou de sua mania de sempre aparecer em clássicos, principalmente contra o Corinthians?


Em sua passagem pelo Tricolor Paulista, conquistou um Campeonato Paulista, um Brasileiro, uma Libertadores e um Mundial. Se terminasse sua carreira no final de 2006, sairia de cena como um dos jogadores mais vencedores de sua geração. Mas ainda faltava muita coisa.

Danilo então foi para o Japão, jogar pelo Kashima Antlers. Ali, foram três títulos do Campeonato Japonês, um da Copa do Imperador, e um da SuperCopa do Japão.  Em todo lugar que passou, Danilo conquistou títulos relevantes, fez gols, e saiu de cabeça erguida.


Já era 2009, e Danilo não era mais um jovem. E de repente, chega a notícia de que ele chegaria para defender meu time do coração. No início, senti que não havia mais muita lenha para ser queimada. Além disso, toda a conversa de Centenário do clube, somada a um grandioso número de contratações contestáveis fazia o cheiro de zica ficar cada vez mais forte. E assim foi em 2010, um ano que não foi exatamente bonito para o Corinthians, tampouco para Danilo.

Porém, de 2011 em diante, as coisas foram bem diferentes. Danilo deixou para trás a desconfiança de muitos torcedores, que torciam o nariz para sua presença ali, muito pela passagem vitoriosa que teve pelo São Paulo.

Aqui, aliás, vale abrir um parênteses e ressaltar que o meia participou grandiosamente do tabu que o Tricolor impôs ao Corinthians, sempre deixando sua marca ou tendo uma participação importante nos clássicos entre os clubes. E isso nunca foi suficiente para eu ter ódio de Danilo. Os motivos? Danilo nunca foi de falar muito, e quando fala, não é pra depreciar rival. Exceto uma foto de quando venceu o Mundial de 2005 (foto em que ele segura uma placa com os dizeres “isso é título de verdade”, claramente zombando com o título conquistado pelo Corinthians em 2000), não se tem notícia de Danilo esculachando qualquer torcedor ou jogador rival. Até mesmo essa foto possivelmente foi tirada em um momento de euforia, e a mensagem passada não é nada de muito ofensivo também. E vamos lá, depois de conquistar um título mundial, acho que fica difícil conter as emoções.


Voltando ao que interessa, Danilo conquistou não só a confiança da torcida, mas três Brasileiros, três paulistas, uma Libertadores, um Mundial e uma Recopa. Sempre com muita frieza, foi fundamental na grande maioria de todos esses títulos.

Não faltaram gols em cima de rivais, belas jogadas, espírito de liderança e dedicação. Danilo se tornou referência e um dos meus principais ídolos pessoais. Seja pelos dribles lentos, porém letais, pelos gols importantes, pela sua calma em momentos decisivos, Danilo conseguiu conquistar um lugar especial no hall dos imortais que passaram pelo Corinthians. E deve constar entre os grandes nomes dos outros três clubes onde passou.

Hoje, com 39 anos, deve estar nos momentos finais de sua carreira, recheada de títulos,  construída em cima de muita competência e frieza.

Danilo é canhoto. Mas sempre foi democrático: faz gol de esquerda, de direita, de cabeça, de perto, de longe. Faz gol em fase de grupos, em fase final, no começo do jogo, em momentos decisivos, em disputa de pênalti. Pouco importa a situação, o importante é aparecer, mas sem fazer a mínima questão de aparecer. Entende?

Danilo quase teve sua carreira abreviada. Danilo não fez drama. Danilo se recuperou, superou todas as adversidades, e mesmo após mais de um ano parado, voltou a jogar como se nada tivesse acontecido, com a mesma tranquilidade de sempre.

Danilo nunca atuou pela Seleção. No final das contas, pouco importa.

Talvez seu estilo não sirva para uma equipe onde a imagem é mais importante do que a bola.


Talvez seu estilo sertanejo do interior não combine com o perfil de rockstar chiliquento que a CBF tanto goste.

Talvez sua aparência simples não se enquadre no cast selecionado a dedo para aparecer em coletivas de imprensa e propagandas de patrocinadores.

Danilo nunca precisou da Seleção. Talvez, a Seleção precisasse de um Danilo. Agora, é tarde.

Mas, para cultuar o grande e silencioso Danilo, sempre é tempo.

Obrigado, Danilo, pela sua contribuição com o futebol, e por fazer tanto pelo meu clube de coração.

O BONDE DE 200 CONTOS

por Israel Cayo Campos


200 contos de réis…Convertendo para valores atuais aproximados teríamos em torno de 200 mil reais. Um salário considerado baixo para contratações de clubes de grande porte atualmente. Mas em 1942 era uma verdadeira fortuna! A maior contratação da América do Sul até aquele ano. Assim chegava na estação do Brás em São Paulo, recepcionado nos ombros por mais de dez mil paulistanos, o maior jogador da história do futebol brasileiro até então. Leônidas da Silva.

Voltando um pouco no tempo, chegamos a um período em que ser jogador de futebol ainda era algo malvisto pela sociedade. Nessa cronologia, um jovem garoto negro, morador do bairro de São Cristóvão, enquanto ajudava seu padrasto nos afazeres de um bar, sonhava em reinar nos gramados do Rio de Janeiro.

Como todo garoto pobre, jogava suas peladas nas já inexistentes praias de uma cidade que se transformou por completo. Com o tempo, o garoto virou funcionário de uma fábrica de vidraças intitulada “Light”. Mas o verdadeiro sonho daquele rapaz de gênio forte estava longe do proletariado fabril. Leônidas logo deixaria o futebol com os companheiros de fábrica para atuar no São Cristóvão em 1929, e logo em seguida defender o Clube Sírio Libanês.

Desse período quase não existem informações da passagem daquele que viria a ser conhecido como “Diamante Negro”, a não ser que após o encerramento das atividades futebolísticas do Sírio, o então técnico do clube Gentil Cardoso foi contratado pelo Bonsucesso Futebol Clube e com ele levou Leônidas para atuar no time da região Leopoldina carioca. O futebol ainda era amador, mas ali, começava a aparecer no cenário mundial a figura de um gênio da bola.


No Bonsucesso, ao lado de seu maior parceiro de ataque, Gradin, Leônidas marcou 55 gols em 51 em jogos. Uma média de gols superior a um por partida! Mas o mesmo talento que tinha para balançar as redes, possuía para arranjar encrencas. Sendo até antes de Heleno de Freitas, considerado um craque problema! Sofrendo com acusações de roubos de joias e até de galinhas, além de suas supostas exigências “artísticas” para entrar em campo.

O ônus valia a pena! E jogando pelo modesto clube ainda em 1932, Leônidas já era convocado para defender a Seleção Brasileira contra a atual campeã do mundo, a seleção uruguaia! Em pleno Estádio Centenário em Montevidéu pela Copa Rio Branco. O resultado seria de pura euforia para os brasileiros! Uma vitória na casa do adversário por 2 a 1. Com os dois tentos brasileiros marcados por Leônidas da Silva, um ao estilo que lhe ficou marcado: De bicicleta!

A atuação brilhante diante da melhor seleção do mundo, associada a problemas financeiros vividos pelo futebol brasileiro decorrentes da grande crise mundial de 1929 e a briga entre cartolas cariocas para profissionalizar ou não o futebol, fizeram com que Leônidas fosse defender o Peñarol de Montevidéu em 1934. Onde teve uma rápida passagem marcada por lesões no joelho, que no mesmo ano o fizeram regressar ao Brasil para defender o Vasco da Gama.

A passagem pelo clube da colina também fora breve, se resumindo apenas a um campeonato carioca conquistado pelo time cruz-maltino novamente com Leônidas como protagonista. Logo ele rescindiu o contrato com o clube para defender a Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Itália de 1934.

Tal atitude não poupou sua reputação ao ser chamado de mercenário pelos vascaínos, pois aceitou da extinta CBD um salário bem maior do que recebia no clube para defender a Seleção. Vale salientar que nesse período, a briga entre dirigentes impedia que jogadores profissionais defendessem a Seleção Brasileira.

No mundial, disputado de maneira eliminatória, a Seleção teve sua pior apresentação na história das Copas. Uma derrota por 3 a 1 para os espanhóis do goleiro Zamora, e a eliminação precoce do torneio! Porém para Leônidas não fora tão mal. Marcou o gol de honra brasileiro, criou boas jogadas, e nos demais amistosos feitos pela Seleção Brasileira na Europa para não “perder a viagem”, marcou 13 gols em 11 jogos!

Terminada a participação pelo Brasil, o contrato com a CBD previa que Leônidas deveria se integrar ao Botafogo. Porém, segundo o jornalista Roberto Assaf, a passagem do craque por General Severiano fora bastante conturbada. Mesmo campeão carioca de 1935, a não aceitação de jogadores negros vestindo camisa do clube fez com que ele logo buscasse sair do time da “Estrela Solitária”.


Após ter esperado seis meses para que seu passe se encerrasse com o Botafogo, Leônidas fora defender o Flamengo. Nos dois primeiros anos apesar de muitos gols pelo rubro-negro, duas percas de títulos para o Fluminense. Mas a falta de glórias não parecia atingir Leônidas. Em um concurso promovido por uma empresa de cigarros, Leônidas fora eleito o jogador mais popular do Brasil com o dobro de votos dos dois jogadores que vieram após ele na disputa.

Novamente segundo Assaf, Leônidas ao final dos anos 1930 era um dos três homens mais conhecidos do país, ao lado do cantor Orlando Silva e de Getúlio Vargas! Tal popularidade reverteu-se em torcedores para o time que defendia, o Flamengo, sendo Leônidas o primeiro jogador a contribuir para a formação da maior torcida do Brasil. Se o Clube de Regatas Flamengo se orgulha de ser a maior torcida do país, com toda certeza Leônidas é um dos jogadores que mais contribuiu para isso!

Chegava o ano de 1938, as brigas entre os dirigentes e as diferentes ligas cariocas foram deixadas para trás, e enfim, a Seleção Brasileira poderia disputar uma Copa do Mundo com sua força máxima. Obviamente, Leônidas estava convocado para o mundial da França.

No primeiro jogo contra a Polônia, uma vitória memorável por 6 a 5, com direito a três gols de Leônidas! Um deles, segundo narração própria, com o pé descalço! Escondido (ou disfarçado) pela lama do gramado de Strasbourg. Nas quartas de final, marcou o gol de empate contra a Tchecoslováquia, que obrigou o Brasil a uma nova partida contra a seleção do leste europeu, já que naquela época não havia disputa de pênaltis em jogos eliminatórios.

Dois dias depois, no jogo desempate, marcou mais uma vez na vitória por 2 a 1 sobre os tchecos. O Brasil pela primeira vez em sua história chegava a uma semifinal de Copa do Mundo. Contra a temível atual campeã mundial Itália.

  Para esse jogo uma história até hoje pouco explicada. Leônidas fora sacado da partida contra os italianos. Alguns alegam que o próprio inventou uma contusão para evitar enfrentar o time de Vitório Pozzo, outros dizem que devido aos dois jogos contra a Tchecoslováquia em dois dias ele fora poupado para uma provável final já assoberbada pelo técnico brasileiro Ademar Pimenta. Seja qual foi o caso, Leônidas não jogou e o Brasil perdeu por 2 a 1. Restava a disputa de terceiro lugar contra a Suécia!


 Nesse jogo, Leônidas já “recuperado’ marcava mais dois gols na goleada por 4 a 2 contra os escandinavos. O Brasil chegava a terceira posição do mundial (melhor colocação do Brasil até então) e Leônidas com 7 tentos em quatro jogos se tornava o artilheiro do torneio! Do mundial da França também veio um dos apelidos que o seguiu durante a carreira. Leônidas era o “Homem de Borracha”! Devido a sua elasticidade, velocidade e jogadas plásticas. Dentre elas a Bicicleta!

Leônidas nesse mundial saia com o título de melhor jogador do torneio. Consequentemente melhor jogador do mundo daquele ano se pudéssemos trazer para os prêmios atuais. Sem pessoas como ele a desbravar os continentes, muito provavelmente não existiriam tantos outros brasileiros a conquistarem o mundo nas décadas seguintes!

A partir de tamanha popularidade, o jogador que já era apelidado de Diamante Negro, virou símbolo midiático nacional. Se hoje todos os grandes jogadores do futebol brasileiro usam de seu prestígio no marketing de produtos e em comerciais, devem a abertura dessas portas a Leônidas.

Usando de seu nome ou de seus apelidos, várias marcas de diferentes produtos foram lançadas no mercado. De cigarros a chocolates, ter seu produto associado a figura do artilheiro e craque maior da Copa do Mundo de 1938 era sucesso em vendas garantido. No final dos anos 1930, Leônidas virava o primeiro jogador “popstar” do Brasil!

Devido a sua alta popularidade, a mídia da época voltava-se para noticiar tudo que fosse relacionado a Leônidas. Também se tornara lucrativa a indústria de notícias “pejorativas” sobre o craque. E a cada fracasso do Flamengo, Leônidas era colocado pela mídia como principal responsável pela fase do clube. Tal perseguição só veio a diminuir quando voltando de uma apendicite conseguiu o tão sonhado título carioca pelo time em 1939 (Seu único título importante pelo Flamengo), tirando o clube de um jejum de campeonatos cariocas que vinha desde 1927.


Entretanto, após a tão esperada conquista, o joelho voltou a prejudica-lo, o obrigando a fazer cirurgias que lhe retiraram a forma física ideal, atraindo novamente as “fofocas” da mídia. Curiosamente ou não, uma fraude comprovada sobre seu alistamento militar, o ajudou a sair do foco por algum tempo. Ao falsificar seu certificado de reservista, recebeu uma pena de oito meses de detenção no Batalhão de Infantaria Regimento Sampaio no Rio de Janeiro, podendo assim se recuperar fisicamente para voltar ao futebol.

Após voltar ao clube rubro-negro, a relação com os dirigentes não era mais a mesma. Melancolicamente, Leônidas deixava o Flamengo com destino ao São Paulo Futebol Clube. Mesmo em baixa, foi vendido por uma quantia alta para os padrões da época: 200 Contos de Réis, a maior transação da América do Sul até aquele período! O “Diamante Negro” seguia rumo ao futebol paulista em 1942, aos 29 anos de vida. 

Em São Paulo, o “Homem de Borracha” recuperava seu prestígio já desgastado no Rio de Janeiro. Recebido por mais de dez mil paulistanos em sua chegada a cidade, também quebrou o recorde de público do estádio do Pacaembu até os dias atuais, com mais de setenta mil espectadores na sua estreia contra o Corinthians, em um jogo que terminou empatado em 3 a 3, onde Leônidas teve atuação discreta.

A má atuação de sua estreia atraiu as críticas dessa vez da imprensa paulista. Os sábios jornalistas diziam que o tricolor havia gasto uma fortuna de 200 Contos em um Bonde. Jogador velho na gíria da época. Mas logo os críticos de plantão iriam perceber que o Bonde de 200 Contos valia cada centavo investido.

No mês seguinte a sua estreia, o “Diamante Negro” enfrentou o Palestra Itália. Mesmo com a derrota São Paulina por 2 a 1, Leônidas foi o destaque da partida marcando um gol espetacular de bicicleta. Das cabines de rádio o famoso narrador José Geraldo de Almeida gritava: “O bonde, o bonde de 200 contos fez um gol de bicicleta!!!”. A torcida ia a loucura! Mas era só o começo!

Sobre o lance de bicicleta que o caracterizou em toda sua carreira, com toda humildade o mesmo dizia não ser o inventor. No máximo o popularizador do lance. Se de fato essa jogada também chamada de “Chilena” nos países do cone sul não foi de sua criação, quem o fez com mais capacidade, frequência e beleza plástica foi Leônidas da Silva.

Poderíamos hoje mudar o nome do lance para “Diamante Negro” ou “Leônidas”, ou dar o prêmio “Leônidas da Silva” para o mais belo gol de bicicleta do ano… São apenas conjecturas, mas creio que em um período em que o rádio ainda era o principal veículo de comunicação do planeta, ter a projeção que Leônidas conseguiu não é algo pueril no tempo.

Voltando ao São Paulo, o clube da capital só tinha 13 anos de vida e apenas um título paulista em 1931 (Estou me referindo o São Paulo Futebol Clube, e não aos seus predecessores!). Em comparação a seus rivais mais velhos, clubes fundados ainda nas primeiras décadas do Século XX, como o Corinthians e o Palestra Itália, o tricolor ainda era considerado um time pequeno. Até 1943, O Palestra (atual Palmeiras) já possuía nove títulos estaduais, enquanto o Corinthians já havia conquistado onze canecos! Em uma época em que o Campeonato Paulista era o principal torneio para esses clubes, o São Paulo ainda era um time sem estofo rivalizar com os dois grandes. Era, pois Leônidas da Silva, que já havia erguido o Flamengo, que viera para mudar as estatísticas!

Já com um ano de clube, “a moeda caiu em pé”, para todos que esperavam Palestra ou Corinthians como campeão de 1943, Leônidas garantiu o seu primeiro título paulista com a camisa tricolor. Em 1945 mais um título para o São Paulo com Leônidas marcando 16 gols. Em 1946, o bi invicto, terceiro titulo de Leônidas com a camisa do São Paulo. Em 1948 e 1949 mais um bicampeonato paulista! No total, cinco títulos paulistas em oito anos de clube. Sendo eleito o melhor jogador do campeonato nos cinco campeonatos vitoriosos! No total, foram 140 gols em 212 jogos pelo São Paulo!


Da mesma forma que o Flamengo deve parte de sua popularidade iniciada nos anos 1930 a Leônidas, o São Paulo deve grande parte de sua história ao “Homem de Borracha”. Hoje, duas das três maiores torcidas do país têm algo em comum, foram formadas pela popularidade de um homem que superou o tempo! Nem Pelé no Santos e Garrincha no Botafogo (os dois maiores jogadores de todos os tempos para mim!) conseguiram tal façanha!

Há quem possa alegar que a torcida do Flamengo é fruto da era Zico, e a do São Paulo da era Telê, mas para que essas gerações pudessem surgir, foi necessário que antes viesse Leônidas da Silva.

No caso do São Paulo, uma associação de futebol que sequer chegou ao centenário no dia que escrevo esse texto, a existência de Leônidas foi essencial para que o clube se equiparasse aos mais importantes e antigos do país. Isso sendo possível, graças aos títulos dados por Leônidas ao clube logo nos seus primórdios! O “Bonde de 200 Contos” pagou cada centavo investido e ainda deixou o clube em dívida com o mesmo por toda eternidade!

Em 1950, Leônidas tinha 36 anos. Já não era mais o rápido e elástico atacante que fez sucesso no Rio e em São Paulo, mas ainda era o principal nome do futebol brasileiro no mundo! Infelizmente, desavenças com o temperamental técnico da Seleção Flávio Costa, ainda nos tempos em que o “Diamante Negro” atuava no Rio de Janeiro tiraram suas chances de disputar o Mundial do Brasil. No lugar do Diamante Negro, Flávio Costa preferiu Otávio do Botafogo, e deu no que deu!

No mesmo ano, Leônidas se aposentou dos gramados e a partir daí seguiu para novas profissões. Tentou ser técnico, ator, mas a profissão que de fato ele mais se destacou fora exatamente aquela que antes tanto pegava no seu pé por atitudes fora do campo. A imprensa!

Como comentarista, Leônidas se mostrou um autodidata. Aos poucos foi corrigindo seus próprios erros de língua portuguesa e se adaptando a nova função com uma velocidade assustadora. Virou sucesso nas rádios paulistanas. Ganhou vários prêmios, entre eles sete troféus Roquette Pinto, principal prêmio dado aos profissionais de imprensa do estado de São Paulo.


Seu perfil como comentarista era muito duro e incisivo. Uma de suas maiores polêmicas era a implicância com Pelé, que muitos atribuem a ciúmes desse ter tomado seu trono de maior jogador brasileiro de todos os tempos. Infelizmente, veio a se aposentar em 1974, quando fora diagnosticado com Mal de Alzheimer, doença a qual poucas pessoas conheciam naquele período.

Ao lado da fiel esposa Albertina Pereira dos Santos, que não o abandonou sequer um dia durante os cinquenta anos que estiveram juntos, Leônidas aos poucos ia perdendo sua memória. Definhando numa triste doença ainda sem cura que atinge silenciosamente cerca de 1,2 milhões de idosos atualmente! Em uma das últimas reportagens com ele em vida no Esporte Espetacular da Rede Globo, dona Albertina relata que num raro rompante de recuperação de memória, o craque gritou para ela: “EU SOU LEÔNIDAS DA SILVA”!

A essa senhora que mais parece um anjo, todos os amantes do futebol e principalmente São Paulinos e flamenguistas devem toda gratidão. Pois ela cuidou até o fim de uma das maiores preciosidades que um clube de futebol possui. Maior até que seus títulos! Um ídolo atemporal! A dona Albertina, hoje com 89 anos, dedico essa singela homenagem como forma de agradecimento por tudo que ela fez a história desse país tão sem memória.


Leônidas nos deixou no dia 24 de janeiro de 2004 aos 90 anos devido a complicações decorrentes do Mal de Alzheimer (Após conviver com a doença por cerca de 30 anos!). O agradecimento ao documentário “Leônidas da Silva, o homem que venceu o tempo”, exibido pela TV Cultura em 2004 no programa semanal “Grandes Momentos do Esporte”, de onde vieram a maioria das fontes para a construção desse texto. E deixo um questionamento o qual não sei ou não posso responder… No futebol de hoje, quantos “Contos” valeria o “Bonde Leônidas”?

DUELOS ANTOLÓGICOS EM SÃO PAULO

por Émerson Gáspari


O futebol acrescenta jogos na história praticamente todos os dias.

Ao final de cada campeonato, são centenas de confrontos que viram arquivo, sendo então, rapidamente esquecidos.

A própria falta de televisionamento no passado contribuiu para que muitos deles, num passado mais distante, caíssem no mais completo esquecimento. Outros, dada a época, sequer foram filmados. Várias partidas, no entanto, foram especiais.

Este texto tem por intenção, impedir que algumas se percam para sempre, já que o tempo insiste implacavelmente em tentar varrer a história para debaixo do tapete, cabendo a nós, o dever de perpetuá-la através das gerações.

Como paulista, destaco aqui confrontos realizados em São Paulo – inclusive no interior, em sua fase áurea – sobretudo para conhecimento dos torcedores de outros estados.

São quinze partidas inesquecíveis, por uma ou outra razão.

Algumas, conhecidas apenas nas cidades em que foram realizadas ou exclusivamente pelas torcidas dos clubes nelas envolvidas. Mas que merecem ser conhecidas do grande público, também.

Torço para que após esta minha iniciativa aqui no Museu da Pelada, surjam outros textos, revelando confrontos sensacionais nos demais estados do nosso país, também.

Ou pelo menos, resenhas que abordem jogos maravilhosos ou curiosos que já tivemos.

Obviamente esta pequena lista não tem pretensão alguma de ser um ranking, muito menos, ter qualquer efeito oficial. Pelo contrário: os dois primeiros jogos envolvem o meu clube de coração, o Paulista de Jundiaí.

Trata-se apenas uma lista pessoal, descompromissada, a qual não merece reparos em suas escolhas, mas sim, ser acrescida de outros jogos que possam, eventualmente, serem relembrados pelos queridos amigos leitores.

Portanto, mãos à obra! E boa leitura.

PAULISTANO 5 X 4 PAULISTA (10/10/1920)

“A TAÇA FICOU EM SÃO PAULO, MAS A COMPETÊNCIA FOI PARA JUNDIAÍ!”


Onze vezes campeão paulista e chamado pelos franceses de “Reis do futebol” devido a uma vitoriosa excursão por lá, o Paulistano era franco favorito para conquistar a “Taça Competência”, até então, sempre vencida com extrema facilidade pelas equipes da capital, em disputas diante dos times do interior. A epidemia de gripe espanhola andou atrapalhando demais o calendário futebolístico, com a decisão dessa versão 1919 só ocorrendo no final do ano seguinte, ficando marcada (e manchada) em relação a todas as demais, pelo ocorrido ao final da partida. O estádio do Floresta ficou apinhado de senhores de terno e chapéu torcendo pelo Paulistano, então o primeiro (e até hoje único) tetracampeão paulista (1916/7/8/9): o alvi-rubro de Arnaldo, Orlando e Carlito; Sérgio, Rubens e Benedicto; Formiga, Mário Andrada, Friedenreich, Zecchi e Netinho. O tricolor (campeão do interior) com Bruno, Paulino e Lilo; Bertolini, Rosa e Tatu; Bueno, Miguelzinho, Camargo, Minguta e Lamaneres. A torcida paulistana, fã de Friedenreich, ficou satisfeitíssima com os três gols assinalados pelo artilheiro durante a partida. Só não contava que o Paulista iria endurecer, com o centroavante Camargo “Gigante de Ébano” (maior artilheiro de sua história) e suas arrancadas fabulosas, que terminavam dentro do gol adversário. A apreensão dos torcedores cresceu muito com o placar se mantendo em 4×4 até os minutos finais do prélio. Até que Fried – com a triste conivência da arbitragem – empurrou para as redes com a mão, estabelecendo o placar final de 5×4, que deu o título da Taça Competência para o Paulistano. No dia seguinte, o “Estadão” da capital publicou a seguinte manchete: “A taça é do Paulistano, mas a competência foi para Jundiaí”.

PORTUGUESA SANTISTA 1 X 2 PAULISTA (14/10/1984)

“O DIA EM QUE AILTON LIRA PERDEU O ÚNICO PÊNALTI DE SUA CARREIRA”

É considerada a mais emocionante partida do Galo em sua centenária história: o time não podia sequer empatar, se quisesse prosseguir na luta pelo acesso à Primeirona.

Mas a Santista era páreo duro e obtivera um empate de 2×2 em Jundiaí, dias antes, graças a um penal cobrado pelo experiente e infalível Ailton Lira. Dramático, o jogo aconteceria no acanhado estádio Ulrico Mursa, diante de seis mil torcedores, naquela tarde de domingo. A Portuguesinha de Marquinhos, Balu, Arouca, Orlando e Claudinho; Zé Carlos, Tadeu e Ailton Lira; Fernandinho, André e Josemar. O Paulista com Luiz Fernando, Benazzi, Marco, Alexandre e Caíca; Gerson Andreotti, Carlos e Célio; Tata, Ricardo e Zé Roberto. O Paulista começou a todo vapor, até que aos 18 minutos, após cruzamento de Caíca, Arouca cortou de cabeça e Benazzi, que entrava em diagonal pela direita, na corrida, acertou de fora da área, um tremendo “pombo-sem-asas”: 1×0. Quatro minutos depois, numa jogada ensaiada, Ailton Lira cobrou escanteio da direita, no primeiro pau, de onde Fernandinho desviou para Orlando completar, no segundo, empatando: 1×1.  Apesar disso, o Paulista continuou melhor até a metade da segunda etapa, quando então a Lusinha começou a pressionar, ficando o Galo, com os contra-ataques.  Finalmente, num deles, quase aos 46 minutos, Célio lançou Ricardo, que serviu Carlos. Ele invadiu a área e tocou com categoria, para vencer Marquinhos: 2×1. No desespero e com chuveirinhos, o time da casa aperta, até que aos 49 minutos, a bola bate nas mãos de Tata e Marco e o juiz dá o pênalti, para desespero do saudoso locutor Hélio Luiz, que se recusa a olhar a cobrança dizendo que “o Paulista será desclassificado”. Ailton Lira bate com a costumeira classe e violência aos 50 minutos, mas a bola estoura na trave direita de Luiz Fernando e Hélio, agora chorando, berra, nos microfones da rádio Difusora: “Ailton Lira perdeu o único pênalti de sua vida! Eu não aguento… Adilson!”. Enquanto isso, Adilson Freddo – repórter de campo e no banco de reservas do time – é alvejado por sacos de urina, arremessados pela furiosa torcida da casa. Mas a euforia jundiaiense é tamanha, que os torcedores jundiaienses chegam até, a comprar um bolo confeitado com o escudo da Portuguesa numa padaria defronte ao estádio e o levam para Jundiaí, onde permaneceria em exposição – feito um troféu – por uma semana na vitrine da lendária panificadora “A Paulicéia”, então o ponto mais tradicional de Jundiaí.

BOTAFOGO 1 X 1 COMERCIAL (19/12/1954)

“QUANDO O CLÁSSICO DA CIDADE FOI BATIZADO DE COME-FOGO”


Um belo domingo de sol emoldurou o estádio “Luiz Pereira” para o jogo que marcava a volta do clássico da cidade após 18 anos de ausência comercialina dos gramados, fase na qual obtivera amplo predomínio sobre o rival. Mas agora eram tempos mais difíceis, com o clube jogando em campo alugado, sem os barões do café para sustenta-lo. Teria pela frente um adversário melhor estruturado e o confronto seria na “toca” inimiga. O saudoso jornalista Lúcio Mendes captou a atmosfera do duelo e cunhou para a partida, a célebre denominação de “Come-Fogo”, quando escrevia sobre o clássico prestes a acontecer, no jornal “Diário da Manhã”. O “Pantera da Mogiana” veio para o jogo, com Ênio, Mexicano e Kelé; Diógenes, Oscar e Nascimento; Dorival, Neco, Ponce, Américo e Fernando. O “Leão do Norte” alinhou Mário, Toninho e Sula; Assunção, Bié e Laércio; Sígulo, Ademarzinho, Maneca, Mairiporã e Clive. O Bafo começa melhor, perdendo boa chance aos sete minutos. As oportunidades se alternam para os dois quadros, mas o Comercial continua superior e aos 35, sai na frente: o lateral Assunção cobra falta pela direita, Kelé fica indeciso, Ênio sai atrasado e o esperto Mairiporã cabeceia firme por cobertura, bem no meio do gol, fazendo 1×0. Em vantagem, o Bafo se assenta ainda mais no gramado, tocando melhor a bola. Mas a velha garra botafoguense ressurge no segundo tempo e, mesmo criando as melhores oportunidades, o Comercial vai sofrendo uma pressão crescente, até que aos 18 minutos acontece o tento de empate, numa tabela bem executada entre Fernando e Américo; este último apanha um chute firme, à meia-altura, para as redes. Belo gol! Depois disso, o Botafogo acredita na virada, a torcida empurra, o juiz não assinala um pênalti para o tricolor e o primeiro Come-Fogo da era profissional terminou mesmo num justo – e diplomático – 1×1, entrando para a história.

PONTE PRETA 3 X 2 GUARANI (05/8/1981)

“O CHAMADO DERBY CAMPINEIRO DO SÉCULO”

O Derby Campineiro é considerado o grande clássico do interior do país. Houve uma fase em que Guarani e Ponte atingiram o ápice futebolístico e protagonizaram jogos memoráveis, mas um em especial é tido como o maior de todos: o da decisão do 1º turno do Paulistão, em 1981. O ponte-pretano Luciano do Valle narraria o confronto ao vivo, pela TV. Após um equilibrado 1×1 no “Brinco de Ouro”, a decisão havia ficado para o “Moisés Lucarelli”, naquela noite em que o melhor ataque (do Guarani) e a melhor defesa (da Ponte) se enfrentavam. O Bugre pisou no gramado com Birigui, Chiquinho, Mauro, Edson e Almeida; Jorge Luís, Éderson e Jorge Mendonça; Lúcio, Careca e Ângelo. Téc. Jair Piceni. A Macaca, com Carlos, Toninho Oliveira, Juninho, Nenê e Odirlei; Zé Mário, Humberto e Dicá; Osvaldo, Chicão e Serginho. Téc. Zé Duarte. Foi uma batalha emocionante do começo ao fim, cheia de alternativas. Apesar disso, o primeiro gol demorou a sair: aos 37 minutos, Osvaldo fez um belo gol por cobertura, depois de um cruzamento de Odirlei pela esquerda: 1×0 Ponte. Oito minutos mais tarde, Ângelo empatou, após um bate-rebate na entrada da área. Na volta do intervalo, novamente a Ponte passou à frente: aos 4 minutos, numa falha clamorosa de Birigui, que quis evitar um escanteio e soltou a bola nos pés de Osvaldo, presenteando-o com o segundo tento: 2×1. Só que o Guarani não desistia e aos 8 minutos do segundo tempo tornou a igualar, após escanteio pela esquerda e três cabeçadas consecutivas, sendo a última delas, de Jorge Mendonça: 2×2.  A partir daí, o jogo ficou aberto e sucessivas chances foram surgindo, podendo definir o duelo. E a Ponte Preta seria mais feliz: aos 36, Odirlei arrancou e numa bela jogada pela meia, invadiu a grande área, batendo cruzado, no cantinho e selando a vitória de 3×2.  A Ponte, campeã do 1º turno, estava classificada para a final do Paulistão. Campinas era o centro futebolístico estadual, naquele momento.

XV DE PIRACICABA 2 X 2 SANTOS (11/9/1949)

“BATEU O ESCANTEIO, CORREU E CABECEOU!”


Parecia apenas mais um jogo do Campeonato Paulista, mas o que aconteceu no final beirou o inacreditável. Aconteceu no antigo estádio Roberto Gomes Pedrosa, em Piracicaba, diante de 4.300 testemunhas. O Santos com Chiquinho, Hélvio e Dinho; Nenê, Paschoal e Alfredo; Nicácio, Antoninho, Juvenal, Simões e Odair.  O XV, com Ari, Elias e Idiarte; Cardoso, Armando e Strauss; Russo, De Maria, Sato, Gatão e Rabeca.

Odair marcou os dois gols da equipe praiana, enquanto De Maria descontara para o

“Nhô Quim”. O Santos controlava a pressão da equipe piracicabana, até que aos 41

minutos do segundo tempo, cedeu um escanteio. Ventava muito, naquele instante.

O lépido ponta Russo apressa-se para bater. Cobra em direção à marca penal, bem alto – propositalmente – para ganhar tempo de correr para a área, na intenção de talvez, apanhar algum possível rebote e (quem sabe) ajudar a equipe. Por mais incrível que possa parecer, a bola sobe muito, porém, empurrada pela força da ventania, começa a cair, voltando na direção do ponta, que à esta altura, já vai entrando na área. Russo sente a oportunidade e salta no meio de um bolo de atletas, conseguindo cabecear, mesmo desequilibrado, na meta inimiga, vencendo o atônito goleiro Chiquinho. Ou seja: bateu o escanteio, cabeceou e fez o gol! O árbitro inglês PercySnap – que jamais havia visto um lance assim na vida – validou o tento, equivocadamente. Os santistas ficaram indignados – é lógico – ainda mais, porque o jogo terminaria empatado. Curioso que Mr. Snap viera para São Paulo, porque a FPF, “importara” árbitros ingleses, a fim de diminuir os erros e reclamações frequentes com relação às arbitragens brasileiras. Deu no que deu… Para os mais céticos – é bom ressaltar – o gol foi devidamente documentado pelo mais respeitado historiador do interior paulista: Delphin da Rocha Netto, que foi, inclusive, testemunha ocular do fato. Outro que presenciou a jogada, trabalhando como locutor de uma rádio que transmitia o jogo, foi o apresentador esportivo Léo Batista. O lance inclusive está descrito no livro do centenário do XV de Piracicaba e foi explicado pelo professor Francisco Guimarães da USP de São Carlos. Segundo ele, apesar do ângulo da trajetória da bola ter sido de 60 graus na trajetória do chute, o fato só foi possível, devido à ação dos ventos. E para quem ainda não se convenceu, na Internet mesmo, há um gol semelhante, assinalado numa pelada no exterior – em campo menor, é verdade – mas que revela a influência determinante do vento, nesse tipo de jogada. 

FERROVIÁRIA 6 X 2 PALMEIRAS (20/5/1962)


“O CONFRONTO DAS DUAS ACADEMIAS”

Tarde de domingo na “Morada do Sol” e jogão no estádio da Fonte Luminosa, válido pelas quartas-de-final da Taça Cidade de SP, sob a arbitragem de Anacleto Pietrobon.

De um lado, a grande “Academia”, com Rosan, Jorge, Sebastião e Mané; Flávio e Jurandir; Gildo, Americo, Geraldo, Chinesinho e Fernando. Do outro, a “Academia do Interior”, com Toninho, Ismael, Antoninho e Zé Maria; Dudu e Rodrigues; Laerte, Aurélio, Parada, Bazzani e Benny. A “Locomotiva”, entusiasmada, saiu na frente, aos sete minutos, com seu astro, o meia Bazzani.  O jogo prosseguiu favorável à “Ferrinha”, que aos 30 ampliou, com Ismael. O Verdão conseguiu então diminuir com Américo, aos 35 minutos, dando a falsa impressão de que o duelo poderia ser equilibrado. Entretanto, dois minutos depois, o craque Bazzani ampliou para 3×1 e antes mesmo que o primeiro tempo se encerrasse, o meia Aurélio estabeleceu arrasadores 4×1. Expectativa e muita apreensão da imprensa paulistana no intervalo e o alviverde volta para o segundo tempo reforçado de Valdemar Carabina, além do jovem Ademir da Guia, o “Divino”. Mas divino mesmo acabou sendo o futebol da equipe grená, no confronto. Por alguns minutos, o jogo até se tornou equilibrado. Tanto, que Geraldo II ainda diminuiu para o Palmeiras, aos 24. Mas Bazzani – um mito em Araraquara – estava terrível nesse dia, aumentando para 5×2 e liquidando qualquer pretensão esmeraldina.  E, para não deixar dúvida sobre qual “Academia” era a maioral em campo naquele dia, Laerte deu o “tiro de misericórdia” aos 41 minutos, estabelecendo números finais no marcador: 6×2. Esta seria uma das doze goleadas aplicadas pela Ferroviária ao longo de doze temporadas seguidas – e isso apenas em cima de clubes grandes – entre 1960 e 1971.

BANDEIRANTES DE SÃO CARLOS 3 X 0 SANTOS (04/11/1957)


“A MAIOR VITÓRIA DE UMA CIDADE NO DIA DE SEU CENTENÁRIO”

O futebol na cidade de São Carlos sempre viveu de ciclos, com clubes se sucedendo, ao longo da história. Por ocasião dos festejos no dia do centenário da “Cidade Sorriso” além da visita do então governador de São Paulo Jânio Quadros às instalações da USP – que ocorria simultaneamente, a duzentos metros dali – foi programado um amistoso contra o Santos, então bicampeão paulista, tendo Pelé como atração. Na véspera – um domingo – ele havia feito três gols no empate por 3×3 diante do Corinthians, o que acabaria dando ao Timão, a “Taça dos Invictos”. Naquele feriado de segunda-feira e com o charmoso estádio do Paulista de São Carlos completamente lotado, o confronto se iniciaria às 15 horas. Entre os presentes nas arquibancadas, o grande artilheiro Zuza, já veteraníssimo – mas ainda em atividade – que simpaticamente teria recusado convite de atuar na peleja, por alguns minutos que fosse. Uma pena! O Santos veio a campo, escalado com Manga, Mauro e Mourão; Geovanni, Brauner e Urubatão; Baiano, Jair Rosa Pinto, Ciro, Pelé e Pepe. Téc. Lula. O Bandeirantes de Lito Mariutti, Jarbas e Kelé; Piana, Fabião e Bibi; Cabelo, Wilson Pimentel, Ademar Ferrari, Zé Luiz e Ruy Dinucci. Téc. Hugo “Che” Ferrari. A estratégia de impor um ritmo forte e veloz aos visitantes, logo surtiria efeito: aos três minutos, o ponta-esquerda Ruy abriu a contagem, aproveitando bem um centro na área e tocando sutilmente, entre os zagueiros santistas, para as redes do Peixe. Com Fabião marcando Pelé em cima e permanecendo no ataque, o time são-carlense conquistou um escanteio a seu favor aos 10 minutos, pelo lado esquerdo. Encarregado da cobrança, Ruy – que era ambidestro – cobra com a perna direita, forte, fechado e cheio de efeito, encobrindo o goleiro Manga, que acabou surpreendido pelo belíssimo gol olímpico: 2×0. Naquele dia, o “Pelé” em campo parecia atender pelo nome de Ruy Dinucci. Aturdido com a disposição dos donos da casa, o Peixe ainda leva o terceiro, aos 33 minutos, depois de um bate-rebate na zaga, que terminou com um lindo chute de primeira, de fora da área, agora do meia Zé Luiz. Satisfeitos pela “fatura liquidada” em apenas meia hora, os anfitriões diminuem o ritmo, enquanto Fabião não desgruda de Pelé. Tanto, que no segundo tempo Lula resolve tirá-lo de campo, promovendo a entrada de Darci e também a de Dorval, no lugar de Baiano. Porém, nem a contusão do goleiro Lito (substituído por Flávio) alterou alguma coisa a favor dos visitantes. E Ruy e Fabião ainda seriam sondados pela diretoria santista, para irem jogar no Santos, após a histórica partida.

AMÉRICA/SP 6 x 0 RIO PRETO (07/6/1953)

“A GRANDE GOLEADA DO DERBY RIO-PRETENSE”


O Derby rio-pretense sempre dividiu a cidade. O Rio Preto viveu quase toda a sua história na segunda divisão (embora mais antigo), enquanto que o América, mais novo, permaneceu maior tempo na divisão de elite. Isso acaba impactando diretamente no retrospecto do clássico, onde o número de confrontos é reduzido, revelando nítida vantagem do “Diabo”: 34 vitórias do América contra apenas 14 do Rio Preto.  E pensar que no início, o América chegou a ser esnobado pelo Rio Preto, que se recusava a emprestar seu campo, alegando que o rival lhe subtraía torcedores, obrigando-o a ter que atuar até, na cidade de Mirassol… Dentre todos os clássicos, vale destacar este, o qual, mesmo em se tratando apenas de um amistoso, entrou para a história por ser o de placar mais elástico. O confronto foi disputado no estádio Mário Alves de Mendonça, o “Caldeirão do Diabo” e o Rio Preto veio a campo com Barrela, Cotia e Dimas; Bem, Odilon e Prates; Zachi, Pé de Chumbo, Miranda, Orestes e Zito, sob o comando do técnico Chiquinho. O América, com Garito, Xatata e Martin; Tuca, Aldo e Dicão; Nelinho, Vicente, Dozinho, Osmar e Orias. Téc. Pepino. Mas quem teve um “pepino” nas mãos naquele dia, foi mesmo o técnico Chiquinho, pois seu time acabaria impiedosamente goleado. Bastaram apenas 35 segundos para que o ponta Nelinho arrancasse e fizesse o primeiro do América. O Rio Preto ainda conseguiu se equilibrar e sair para o jogo. Mas Dozinho aumentou para 2×0 aos 20 minutos e as coisas começaram a se complicar, porque a partir daí, a zaga rio-pretense começou a bater cabeça e o ponta-esquerda Orias, que havia acabado de chegar ao clube americano, aproveitou a facilidade oferecida e marcou dois gols em sequência, aos 30 e 31 minutos, estabelecendo 4×0 no marcador. A torcida mal podia acreditar naquilo: quatro gols em meia hora! No intervalo, o preocupado técnico Chiquinho resolve trocar de goleiro, colocando Hugo em campo. Mas a produção da equipe não melhorava. Como consequência disso, aos 12 minutos, o centroavante Dozinho não teve “dózinha” (me perdoem o trocadilho), ampliando para 5×0. E aos 32, Osmar, numa bela jogada, “fecharia a tampa do caixão”, em sonoros 6×0. Parte da torcida adversária até, havia ido embora. Mais uma proeza do América de Rio Preto em sua história, clube do inesquecível presidente Benedito Teixeira, o eterno “Birigui”.

SANTOS 4 X 6 JABAQUARA (31/7/1957)

“O TERREMOTO DA VILA”


Tratava-se de uma partida válida pela fase de classificação do campeonato paulista.

O Jabuca, clube pioneiro de São Paulo, não vinha bem das pernas. O Santos – ao contrário – firmara-se como clube grande, onde pontificava o famoso “ataque dos três pês” e era o atual bicampeão paulista. Por isso, naquela chuvosa noite de quarta-feira, menos de seis mil pagantes se atreveram a irem até a Vila Belmiro, para assistirem outra óbvia vitória do Peixe. O Santos com Laércio, Hélvio e Ivan; Fioti, Urubatão e Zito; Tite, Álvaro, Pagão, Pelé e Pepe. Téc. Lula. O Jabaquara com Fininho, Pavão e Getúlio; Dom Pedro, China e Oswaldo; Ari, Hélio, Washington, Melão e Bugre. Téc. FilpoNuñes. Ao anunciarem a escalação do “Leão do Macuco”, os torcedores estranham o lateral-esquerdo, dizendo se tratar do tesoureiro do clube, o popular “Oswaldo Malcriado”, por pura farra. Na verdade, tratava-se de um juvenil, que trabalhava na secretaria do clube e que entrou em campo para completar o quadro, pois o treinador não tinha jogador para aquela posição.  Como se esperava, o Santos começou com tudo e foi logo “atropelando” o adversário, com Pagão abrindo a contagem, aos 8 minutos. Três minutos depois, Wilson Osório (o popular “Melão”, que havia sido devolvido pelo Santos ao Jabaquara) empatou, em que pese seu time não estar jogando bem. Tanto, que aos 15, Pepe fez 2×1 Santos. E aos 22, Tite ampliou, encaminhando mais uma vitória santista no retrospecto amplamente favorável ao Peixe, diante do Jabuca.  Mas esqueceram de combinar isso com o adversário. Foi daí, que o inacreditável começou a acontecer: aos 32, o ponta Bugre diminui e aos 44, o centroavante Washington empata, para surpresa geral. Algo de estranho estava ocorrendo. Mais estranho ainda, foi que a reação prosseguiu, na segunda etapa: o meia Melão desandou a fazer gols (ele que já havia aberto a contagem) anotando mais três em sequência: aos 5 minutos, aos 25 e aos 28, estabelecendo estarrecedores 6×3! Começam então, a surgir alguns torcedores santistas – vizinhos da Vila Famosa – até de pijamas, para conferir se era mesmo verdade o que ouviam pelo rádio. No finalzinho, aos 42, China tenta interceptar um chute de fora da área e acaba marcando contra, diminuindo o vexame santista para 4×6. Mas houve troco após aquele confronto. Isso porque o rubro amarelo, não tendo estádio, guardava todo seu material esportivo nas dependências da Vila Belmiro, além de mandar suas partidas, lá. Revoltado com a derrota, o presidente Modesto Roma mandaria botar tudo na rua, no dia seguinte.  Após essa vitória (além de uma outra diante da Portuguesa Santista) o Jabaquara passou a ser chamado por um tempo, de “O Dono da Cidade” em Santos e o episódio é até hoje lembrado no litoral pelos torcedores mais antigos, como “O Terremoto da Vila”.

PORTUGUESA 2 X 0 PALMEIRAS (05/6/1955)

“SAUDADES DA GRANDE PORTUGUESA DE DESPORTOS”


No início dos anos 50, Oswaldo Brandão começou a montar aquele timaço da Lusa, na fase áurea do clube, até então, apenas bicampeão paulista de 1935/6. Na primeira metade daquela década, a Portuguesa ganhou os títulos do Rio-SP (52 e 55), a Taça San Izidro (51), os torneios de Salvador e de BH (ambos em 51), além de se sagrar tricampeã Fita Azul no exterior (em 51, 52 e 54). E teve atletas como Cabeção, Noronha, Djalma Santos, Brandãozinho, Ipojucan, Servílio, Pinga, Simão, Julinho Botelho, entre outros, além de impor goleadas como os 7×3 em cima do Corinthians ou os 8×0 sobre o Santos. Portanto, os quarenta mil torcedores que lotaram o Pacaembu, sabiam que aquela decisão de Rio-SP seria um “jogaço”, ainda mais após o empate de 2×2 na primeira partida. O Palmeiras veio de Laércio, Manoelito e Mário; Belmiro, Valdemar Carabina e Gérsio; Rento, Humberto, Nei, Ivan e Rodrigues. Téc. Cláudio Cardoso. A Portuguesa, com Cabeção, Nena e Floriano; Djalma Santos, Brandãozinho e Zinho; Julinho Botelho, Ipojucan, Airton, Edmur e Ortega, agora sob o comando de Délio Neves. Foi uma partida bem disputada, cheio de oportunidades perdidas e jogadas bem concatenadas, mas que aos poucos, demonstrou predomínio técnico da Lusa. Aos 36 minutos, o habilidoso Julinho Botelho fez bela jogada pela direita e abriu a contagem, iniciando a festa lusitana. Na volta para o segundo tempo, imaginava-se que o Palmeiras fosse pressionar, mas o que se viu, foi uma Portuguesa mais assentada em campo, que foi aos poucos tomando novamente conta do jogo, em especial após a marcação do segundo gol, aos 18 minutos, quando o meia Ipojucan anotou também o seu, fechando o placar em 2×0 e coroando a belíssima campanha daquela equipe que deixou saudades no coração dos torcedores paulistanos.

PALMEIRAS 1 X 1 SÃO PAULO (28/01/1951)

“O INESQUECÍVEL JOGO DA LAMA”


Este foi o jogo que deu ao Palmeiras, o título paulista de 1950 e quebrou um tabu: pela primeira vez, uma equipe conseguia vencer a Taça Cidade de SP e também o Paulistão, no mesmo ano, entrando para a história como o “Jogo da Lama”. A disputa do campeonato havia sido postergada – devido à Copa do Mundo de 1950 – iniciando apenas no segundo semestre, daí a decisão ocorrer só em 1951. Foi um campeonato emocionante, pois apresentou alternância dos dois times na ponta da tabela, durante o seu desenrolar. A três rodadas do fim, o tricolor tinha três pontos de vantagem, mas conseguiu perdê-la, tropeçando em Ypiranga e Santos. Na última rodada, passaria a

ter obrigação de vencer os palmeirenses, que jogavam pelo empate. Jair Rosa Pinto, grande craque alviverde que fora afastado da equipe três rodadas antes numa derrota para o Corinthians, voltou a ser relacionado, após “acabar” com um treino, antes da decisão. Um Pacaembu absolutamente lotado e encharcado por uma torrencial chuva que atingira a capital, horas antes, recebeu o São Paulo de Mário, Savério e Mauro; Bauer, Rui e Noronha; Dido e Remo; Friaça, Leopoldo e Teixeirinha. E também o Palmeiras, de Oberdan, Turcão, Palante e Waldemar Fiúme; Luiz Villa, Sarno e Lima; Canhotinho, Aquiles, Jair Rosa Pinto e Rodrigues. Teixeirinha inaugurou o marcador logo aos quatro minutos e os são-paulinos martelaram a meta esmeraldina o primeiro tempo todo, com Oberdan intervindo várias vezes, salvando a equipe de um placar mais elástico. O São Paulo dominava todas as ações em campo e o 1×0 saiu barato para aquela estranha apatia verde. Nos vestiários, Jair pediu a palavra ao treinador e aos gritos, conclamou os companheiros a resgatarem a velha garra palestrina, lembrando a todos, da grandeza do uniforme que envergavam. Aliás, todos muito enlameados, pois a chuva tornara o espetáculo quase impraticável. A bronca deu certo, mexendo com os brios da rapaziada: o Verdão voltou com tudo, pressionou e empatou numa jogada magnífica e dramática de Jair, fruto de uma arrancada do meia, na qual driblou praticamente toda a defesa tricolor (além das poças d’água) e serviu com um passe açucarado, para Aquiles apenas empurrar para as redes inimigas. Um gol genial, que decidiu o título a favor de quem demonstrou no fim, mais vontade de conquista-lo e que acabaria sendo a “pedra fundamental” para o título mundial do time, meses depois, pois aquele triunfo credenciaria o Verdão para as disputas da Copa Rio-1951.

SÃO PAULO 4 X 1 SANTOS (15/8/1963)

“O DIA EM QUE O SANTOS FUGIU DE CAMPO”

Houve um período em que o São Paulo ficaria 13 anos sem títulos. Tempos difíceis, de construção do Morumbi e economia na formação de plantéis competitivos. Foi nessa fase complicada do tricolor, que o alvinegro praiano vivia seu auge futebolístico, com o bicampeonato mundial e aquele que é tido como o maior time da história do futebol.

Naquela quinta-feira à noite, 60 mil torcedores no Pacaembu viram o São Paulo vir a campo com Suly, Deleu, Bellini e Ilzo; Dias e Jurandir; Faustino, Martinez, Pagão, Benê e Sabino. O Santos veio de Gylmar, Aparecido, Mauro e Geraldino; Zito e Dalmo; Dorval, Lima, Coutinho, Pelé e Pepe. Mal o clássico começa e aos 5 minutos, Martinez entrega para Faustino, que invade em diagonal, finta dois adversários e fuzila Gylmar: 1×0. Mas aos 21, num cruzamento de Dorval pela direita, Pelé sobe mais que os zagueiros e empata o jogo, de cabeça. Só que aos 37, Pagão e Benê tabelam, envolvendo a defesa santista, até o centroavante bater à queima-roupa, diante de Gylmar. Até aí, tudo bem, jogo normal. Mas aos 40 minutos começa a confusão, tendo o polêmico árbitro Armando Marques, como um dos personagens. Tudo porque o ponta-esquerda Sabino, recebendo um lançamento de Martinez, amplia para 3×1 e o bandeirinha sinaliza impedimento. Mas Armando prefere ignorar o auxiliar e confirmar o tento. Os santistas protestam e o árbitro expulsa Coutinho, no meio da discussão. Pelé se enerva e instantes depois, desacata o juiz, seguindo também mais cedo para os vestiários. Com 3×1 na cabeça e sua grande dupla de atacantes expulsa, Lula teria uma missão complicadíssima para o segundo tempo. Assim, Aparecido estranhamente não retornou, permanecendo “contundido” nos vestiários, deixando o time santista agora, com apenas oito atletas em campo. Claro que se tratava de uma situação irreversível.

No comecinho da segunda etapa, num choque entre Bellini e Pepe, o ponta-esquerda (adivinhem?) também saiu machucado, deixando o Santos agora, com sete. No sétimo minuto, Roberto Dias faz uma ligação direta com Pagão, que entrou como quis na área, estabelecendo 4×1. Uma goleada ainda mais elástica se desenhava. Foi daí, que na saída de bola, Dorval levou um chute numa dividida, deixando o gramado, também.

Com apenas seis atletas pelo lado do Peixe, Armando Marques não tem outra solução a não ser encerrar a partida naquele momento, a qual ficaria conhecida como “o dia em que o Santos fugiu de campo”.

CORINTHIANS 4 X 3 PALMEIRAS (25/4/1971)

“O FAMOSO CLÁSSICO DO VIRA-VIRA”

Era mais um clássico pelo campeonato paulista e que encerraria o primeiro turno. Mesmo com um tabu de 15 anos sem títulos pelo Paulistão, o Timão havia acabado de faturar o “Torneio do Povo” enquanto o Verdão era respeitosamente chamado de “Segunda Academia”. Perante 61 torcedores, o Corinthians entrou em campo com Ado, Zé Maria, Luís Carlos, Sadi e Pedrinho; Tião e Rivellino; Lindóia, Samarone, Mirandinha e Peri. O Palmeiras foi de Leão, Eurico, Baldocchi, Luís Pereira e Dé; Dudu e Ademir da Guia; Fedato, Héctor Silva, César e Pio. Uma partida empolgante, do começo ao fim!  Tanto, que com apenas 35 segundos jogados, Ademir vem para a área e César conclui com êxito: Palmeiras, 1×0. Nove minutos mais tarde, em outra descida pela meia-direita, o mesmo “César Maluco” amplia o marcador em favor dos esmeraldinos, para 2×0. O placar não é mais alterado, até o intervalo.  O segundo tempo trouxe mudanças para as equipes. No Corinthians, Adãozinho e Natal.  No Palmeiras, Leivinha. Logo aos 5 minutos, Rivellino bateu uma falta com muita violência e no rebote de Leão, Mirandinha descontou. Aos 24, Adãozinho pegou um “pombo sem asas” no ângulo, de fora da área e de canhota, empatou o clássico. Já na saída de bola, o Verdão desceu e Leivinha, de fora da área e também de canhota, mandou no ângulo, longe do alcance de Ado, recolocando seu time em vantagem: 3×2. O mais incrível é que, assim que foi dada novamente a saída, o alvinegro deu o troco, numa jogada construída por Natal e concluída na arrancada de Tião: 3×3, aos 26 minutos. Não perca a conta! Cansadas, as equipes procuraram se resguardar um pouco mais e quando todos apostavam num belo empate, veio a histórica virada corintiana: aos 42 minutos, Natal e Mirandinha tabelaram em alta velocidade; o passe na medida veio para Mirandinha, que chutou em cima da zaga. Ele mesmo apanhou o rebote e inapelavelmente arrematou para as redes alviverdes: 4×3. Um jogo digno da grandeza do Derby.

SANTOS 2 X 3 PEÑAROL – 02/8/1962

“O ÁRBITRO QUE ENGANOU TODA UMA CIDADE”

Após uma vitória de virada por 2×1 sobre o Penãrol no Uruguai, o Santos necessitava agora de um simples empate em casa, para se sagrar campeão da Libertadores-62. O Peñarol era o campeão mundial e vinha em busca do tricampeonato sul-americano.

O time de Lula, desfalcado de Pelé, contundido, veio a campo com Gylmar, Lima, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pagão e Pepe. Já a equipe de Bela Guttmann, com Maidana, González, Lezcano, Cano e Caetano; Carranza (Golçálvez), Matosas e Pedro Rocha; Sacia, Spencer e Joya. A Vila parecia um barril de pólvora prestes a explodir naquela noite, especialmente pela presença do já conhecido

árbitro Carlos Robles, o qual, logo no início, tratou de ir ignorando uma penalidade em Coutinho. Até que aos 15 minutos, Spencer abriu o placar. Ainda bem que Dorval empatou, aos 19, serenando um pouco os ânimos, com um belo chute cruzado. E aos 36, com um petardo bem no ângulo, Mengálvio pôs o Santos na frente. Festa santista! Mas o Peñarol não era campeão mundial à toa e logo aos três do segundo tempo, empatou num escanteio que terminaria com uma cabeçada firme de Spencer, o “maior goleador das Américas”. Só que no lance, Sacia teria jogado areia nos olhos de Gylmar. Ignorando a reclamação santista, o juiz chileno validou o lance e o tento. Com o empate, os uruguaios começaram a pressionar e conseguiram – numa jogada faltosa de Sacia sobre Calvet – marcar o terceiro, aos 11 minutos. Era demais: a torcida, revoltada, atira uma garrafa na cabeça do árbitro, ferindo-o. O jogo é interrompido. Após uma longa paralisação, os ânimos se acalmaram e o Santos passou a pressionar, em busca do empate. E ele viria num chute de rara felicidade de Pagão, de fora da área. O resultado dava o título ao Peixe. Eram decorridos 22 minutos. No meio da festa, eis que a torcida alveja agora o bandeirinha, com um baita parafuso arrancado da estrutura das arquibancadas. A “batalha” é novamente interrompida. O trio de arbitragem se recolhe para os vestiários e volta só depois de dez minutos, afinal reiniciando aquela tumultuada peleja. Agora Pepe é quem é derrubado na área e o juizão manda seguir. Até que aos 38, Mauro faz falta em Pedro Rocha fora da área, mas Robles assinala penalidade máxima. Porém, com a chuva de garrafas no gramado, primeiro reconsidera sua decisão e marca falta, até que, por fim, vendo o pandemônio que se instalara nas arquibancadas, decide por “encerrar o espetáculo” aos 40 minutos do segundo tempo. Festa da torcida e volta olímpica dos brasileiros, mas… De repente, o lateral González avisa Pepe (a quem marcara, durante o jogo) que eles estavam todos, fazendo “papel de bobos”: o Peñarol havia vencido por 3×2. “Mas como?”; quis saber o atacante santista. Daí o jogador do Peñarol lhe explicou que, assim que a partida foi interrompida pela primeira vez – aos 11 minutos da segunda etapa – naquela garrafada que o juiz levara; ele (secretamente) decidiu por encerrar o jogo, passando a realizar todo um “teatro” a seguir e prosseguindo com a disputa apenas em “caráter amistoso”, com medo de não sair “vivo” do estádio. Estranho que os uruguaios tivessem ficado sabendo daquela tramoia, enquanto que os brasileiros, não. Enfim: não havia valido o gol de empate de Pagão. E muitos santistas foram dormir felizes, só descobrindo que ainda não eram campeões, no dia seguinte, quando o árbitro já estava bem longe dali. Ainda bem que depois, na partida-desempate – em campo neutro – o Santos (já com Pelé e sem esse juiz) goleou o Peñarol por 3×0, ficando com o título da Libertadores, merecidamente.

PALMEIRAS 6 X 7 SANTOS (06/3/1958)

“O MAIOR CLÁSSICO DE TODOS OS TEMPOS”

Para mim, a mais disputada de todas as partidas que conheço e por isso mesmo; deixei-a propositalmente para o final. Este é um daqueles jogos que não decidem campeonato – tratava-se apenas de mais uma partida pelo Torneio Rio-SP – mas que entrou para a história, pelo fino futebol apresentado em campo e seu desenrolar. Cinco torcedores teriam morrido, devido a infartos provocados pelo confronto (um deles, inclusive, no próprio estádio). Também, pudera: foram 13 gols e três viradas, ao longo dos 90 minutos! O Pacaembu recebeu 43 mil torcedores que viram o Santos entrar em campo com Manga, Hélvio e Dalmo; Fioti, Ramiro e Zito; Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe. Já o Palmeiras, com Edgar, Edson e Dema; Valdemar Carabina, Waldemar Fiúme e Formiga; Paulinho, Nardo, Mazzola, Ivan e Urias. O jogo iniciou “pegado” e a “tempestade de gols” demorou um pouco a sair. Mas quando

começou… Somente aos 18 minutos, a contagem foi aberta, através do ponta-esquerda Urias. Mas Pelé (sempre ele!) empatou dois minutos depois. E Pagão, aos 24, virou o marcador a favor do Peixe. Nardo empatou para o Verdão, um minuto depois.

Mas aí, começou aquele Santos “arrasador”: Dorval aumentou a vantagem para 3×1. Pepe – o melhor jogador em campo naquele dia – aumentou para 4×2, aos 38 e Pagão, antes que os times descessem para os vestiários, aos 46, anotou o quinto, “matando” o Palmeiras. Acontece que Oswaldo Brandão “ressuscitou” a equipe no intervalo, dando uma sacudida psicológica em todos, mudando o esquema para o segundo tempo, fazendo entrar o gringo Caraballo na linha e sacando o goleiro Edgar, que havia falhado e chorava nos vestiários, promovendo a entrada do arqueiro Vitor. As equipes reiniciaram o jogo a exemplo do segundo tempo: num confronto muito “pegado”, sem darem muito espaço. Aos poucos, o Palmeiras começaria a predominar e Paulinho descontou aos 16 minutos. O grande Mazzola empatou o confronto, com dois gols. Um deles, apanhando rebote da zaga aos 20 minutos e o outro, aos 28, de cabeça: inacreditáveis 5×5; fruto daquela incrível reação.  Mas não parou por aí: Urias – aquele que marcou o primeiro gol – virou o jogo, aos 34 minutos. “Milagre no Pacaembu!” – berrava Edson Leite, ao microfone da rádio. Só que o tal “milagre” durou pouco, pois Pepe (o melhor da partida, lembram-se?) empatou, num raro gol de cabeça, aos 38 minutos. E so-bre-na-tu-ral! Aos 43 minutos, marcou mais um – o da virada definitiva – selando a vitória praiana por 7×6. É bom lembrar que nenhum dos dois foi campeão daquele Torneio Rio-SP: o Vasco seria o campeão e o Flamengo, o vice. Mas o Santos se tornaria em pouco tempo, o maior time do planeta. Quanto aos palmeirenses; os dirigentes, sensíveis ao fato do que eles também haviam jogado, resolveram pagar o bicho, como se fosse uma vitória. Afinal de contas, naquele dia, todo mundo mereceu!

Eram realmente outros tempos no futebol…