por Marcelo Mendez
A história desse time bem poderia começar a partir de uma conversa entre o dirigente Carlos Caboclo e seu amigo, o técnico Telê Santana. Ambos estavam bem mal.
O técnico tinha acabado de fracassar no primeiro semestre, na luta para dar um titulo ao Palmeiras em 1990 falhando num 0x0 contra a desclassificada Ferroviária. Sem clima por lá, decidiu aceitar o convite do amigo para treinar o São Paulo, de onde chegou novamente perdendo, dessa vez para o Corinthians em casa. O dirigente estava de orgulho ferido pelo mesmo motivo, as perdas de dois títulos Brasileiros seguidos em casa. Para acabar de lascar, como herança da péssima e vexatória campanha do Paulistão no primeiro semestre de 1990, em 91 o São Paulo disputaria um módulo inferior no Estadual.
Há quem diga que de grandes tormentos surgem vitórias épicas, as quais a palavra e o verso serão poucos para contar. Tem os que apontam que a catarse da perda de uma paixão, pode dar força para que se surja um grande amor. Não sei…
Fato é que a partir de toda essa miséria ludopédica e dessa conversa entre Caboclo e Telê Santana, um compromisso foi firmado, Telê ficou e nasceu um dos maiores times da história do futebol mundial.
Esquadrões do Futebol Brasileiro tem a honra de falar hoje do São Paulo F.C de 1991/1993.
DE CASA ARRUMADA, RESSURREIÇÃO EM 1991
A melancolia de perder mais uma decisão em casa não abalou o São Paulo.
Ao contrário disso, daquela vez foi diferente. O time entrou 1991 com uma verdadeira avalanche de mudanças, a começar pela estruturação de seus departamentos médicos, da reforma e conclusão de seu CT, com a chegada de profissionais do quilate de Turíbio Santos, Moraci Santanna e finalmente, com uma pré temporada para trabalhar.
Dali, o time saiu voando para a primeira competição, o Campeonato Brasileiro. O tricolor subiu na hora certa da competição, passou por Atlético Mineiro, Santos e na final, venceu o primeiro jogo contra o Bragantino no Morumbi por 1×0 para depois empatar em Bragança sem gols. O 0x0 que deu ao São Paulo seu terceiro titulo brasileiro.
No segundo semestre, foi de braçada;
O São Paulo amassou todo mundo no módulo amarelo. O que pesou na hora de decisão contra o Palmeiras. Com a melhor campanha justamente nessa primeira fase, o São Paulo eliminou o Palmeiras e foi a decisão contra o Corinthians. Um show de Raí!
Primeiro jogo 3×0 e três gols do 10. Segundo jogo, um protocolar 0x0 define a coisa. O São Paulo fecha 1991 com dois canecos e com uma perspectiva ótima:
A história seria feita nos anos seguintes…
LIBERTADORES DE AMÉRICA; UM CONTINENTE TRICOLOR.
Dá para dizer que 1992 foi a última Libertadores mambembe do planeta.
Jogos transmitidos para o Brasil POR uma tal Rede OM que em São Paulo funcionava no canal 11 da Tv Gazeta, times porradeiros, campos com gramados lamentáveis, vôos precários, em 1992 o continente nosso, definitivamente, não estava preparado para maiores devaneios de grandeza. No meio disso tudo teve um campeonato.
E nele, o São Paulo suou sangue para conseguir se virar.
Na primeira fase, tomou uma sapatada do Criciúma por 3×0 e teve que buscar sua classificação na altitude da Bolívia contra o San José de Oruru. Na volta, trouxe a vaga para despachar Nacional, Criciúma, Barcelona de Guayaquil e News Old Boys numa épica decisão por pênaltis no Morumbi. No outro ano, foi diferente:
O São Paulo nadou de braçada e na decisão contra o Universidade Católica do Chile, o tricolor meteu um 5×0 em uma das maiores partidas de sua história. Bi…
Bi campeão da América. Mas ainda faltava o mundo…
CADÊ A CINTURA DO FERRER??
O mundo em 1992 chacoalhava as ancas com Happy Mondays, Primal Scream e outros sacodes que vinham das pistas de Manchester. Madchester era o nome do movimento que revelou uma porrada de bandas que tomavam conta das paradas musicais do momento.
No Brasil, todavia, nosso samba estava meio atravessado.
Até a conquista da Libertadores pelo São Paulo, nosso orgulho ludopédico estava bem avariado. Para se ter uma ideia, a Seleção perdeu as ultimas duas edições da Copa América, tomando goleada do Chile na Argentina (4×0) e levando baile de bola da Argentina em Santiago (3×2). Na última Copa em 1990, saímos na primeira fase, eliminados por Maradona.
Não é exagero, portanto, dizer que o São Paulo foi ao Japão enfrentar o Barcelona, jogando por todo nosso orgulho futeboleiro. E não fez feio.
Após o susto inicial com o gol de Stoichkov para os catalães, uma bola sobrou do lado esquerdo do campo para Muller.
Imbuído da consciência de que jogava por tudo isso que falei acima, o camisa 7 pegou a bola, levou para o lado do campo, trouxe para fora e depois, com a benção de um milhão de malandros de gafeiras imortais, deu um corte pra dentro, entortando o lateral direito Ferrer.
Mais do que um drible, Muller esculhambou com Ferrer e recuperou nosso direito de ser gente, de ser os picas dessa coisa chamada futebol. Cruzou para a área e Raí meteu a barriga na bola para empatar a peleja. O mesmo Raí que meteu a bola no trinco de Zubizarreta para fazer o 2×1 que deu ao São Paulo a Alcunha de melhor do mundo pela primeira vez.
Viria mais no ano seguinte…
Em 1993, o Tricolor era comandado por Cerezo, Leonardo, Palhinha, Cafu e o mesmo Muller, que fez de costas, sem ver, o gol do 3×2 que deu ao São Paulo o Bi do mundo, em cima do poderoso Milan de Arrigo Sachi,
Bi da América, Bi do Mundo, Campeão Brasileiro, da Conmenbol, da Recopa, de tudo. O time que teve em sua base Zetti, Cafu, Adilson, Ronaldão, Ronaldo Luiz… Dinho, Cerezo, Palhinha, Raí, Muller, além de ter outros tantos como André Luiz, Juninho, Macedo, Pintado, Catê e Mauricio (in memorian) e mais outros tantos craques forma um dos maiores times da história do futebol mundial.
Esquadrões do Futebol Brasileiro rende hoje suas homenagens ao tricolor do Morumbi de 1991/1994. Um dos maiores times da história do futebol mundial.