por Sergio Pugliese
“A nossa pelada, como é que ela é
Não tem precatada, só joga Pelé,
E a rapaziada cadencia a jogada:
É chapéu, elástico e bola virada
Ronaldos e Rivellinos com a bola no pé
Jogam sério, enfeitam, sem dar olé
A defesa, sisuda e mal encarada
Só bate na bola, arrepia, sem pancada
É a reunião do espírito da grande jogada
Ao fim da pelada, tem a encarnação
E os derrotados de cabeça abaixada
Também bebem a cevada, merecem perdão”
A equipe do Museu da Pelada resgata hoje um texto SENSACIONAL da antiga coluna “A Pelada Como Ela É”, de Sergio Pugliese!!!! Para entender a razão de tanta euforia, será necessário ouvir o delicioso samba acima, de Vitor Português e Leandro Samurai, composto em homenagem à coluna! É honra demais para esses humildes peladeiros!
Estivemos no Bar X-10, em Botafogo, para conhecer os autores e a roda de bambas, formada por atletas aposentados do Com Jeito Vai, timaço que marcou época no campo de grama rala do Palmeirinha, no Alto da Boa Vista. Foi difícil voltar para casa! Música de alta qualidade, Ângela, Gal, Beth e Valéria formando um corinho afinadíssimo de pastoras e cerveja estupidamente gelada. Dez, nota 10!!!!!
O Com Jeito Vai sempre foi um time 50% futebol e 50% música. Junto com ataduras e caneleiras, os jogadores sempre levavam banjos e violões. Foram 15 anos de pelada da melhor qualidade. Mas de repente o número ficou contadinho e alguns atletas, como Nero do Pandeiro, só apareciam para a resenha. Para dar quórum alguns iam se arrastando, brigavam com a família e se estressavam com as namoradas. Manter viva uma pelada é tarefa para poucos. O organizador e botafoguense Victor Sereno tentou de tudo, mas quando ele mesmo precisou substituir o meião por meias Vivarina para tratar suas varizes sentiu o fim próximo.
– É doloroso admitir o fim de uma pelada. O grupo sempre foi unido, mas não houve renovação e tiramos o time de campo. Na verdade, trocamos o campo do time – explicou Sereno.
Compromissos e contusões torpedearam o Com Jeito Vai. O jornalista Aluizio Maranhão foi promovido e passou a “morar” na redação, Maurice, o Ferrolho Suíço, montou uma pousada em Ilhéus, na Bahia, Oscar Sznajder, o El Porteño, voltou para a Argentina e o querido Wilson Timóteo, o Tom, partiu dessa para melhor. Além disso, o cardiologista da turma, Dr. Wall, foi engolido pelos plantões, Alemão aprisionado pela namorada e Carlos Falcão, o Rato, levou uma caneta tão desconcertante de um velhinho, num jogo contra, que, humilhado, nunca mais deu as caras. A outra metade do time sofria com o famoso problema de junta. Junta tudo e joga fora! Mas nenhum deles admitia a hipótese de não se encontrar mais. Foi quando a resenha musical ganhou corpo, Victor Sereno revelou seu lado Chico Buarque, encarnou o caboclo Vitor Português e a pelada virou samba. E dos bons!!!!
– Na mesa do bar continuamos fazendo nossas tabelinhas e voltamos para a casa cansados do mesmo jeito – brincou Maranhão, enquanto dedilhava seu violão.
Aluizio tem razão. O Com Jeito Vai nunca se separou, nunca saiu de campo. Nossa equipe comprovou essa sintonia, no X-10. Ali, a turma saboreou as tirinhas de alcatra servidas pela garçonete Cremilda e iniciou a tarde musical com Trem das Onze, de Adoniran Barbosa, e emendou com Tá Legal, de Paulinho da Viola. Lima de Amorim caprichou no banjo e Arnaldo, no tan tan. Veio Malandro, de Jorge Aragão, e Zé do Pandeiro bateu mais forte, mas a cuíca de PJ gemeu alto foi com Nação, de João Bosco e Aldir Blanc. Mas naquele dia, todas essas obras primas ficaram em segundo plano quando Leandro Samurai caprichou no vocal e puxou “A nossa pelada, como é que ela é….”. Os pandeiros de Altair e Fernando fizeram o boteco tremer! Caramba, quanta emoção!
Me despedi dos novos amigos e caminhando pelas ruas de Botafogo ainda ouvi a voz das pastorinhas entoando “Deixa a vida me levar, vida leva eu”. Obedeci e fui em frente contagiado pelo clima de alegria e união da rapaziada do Com Jeito Vai.