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Rubens Lemos

MESSI E A ARROGÂNCIA

por Rubens Lemos


Pela primeira vez em 15 anos de adoração irrevogável, Messi entristece incorporando intolerância e violência ao seu repertório superado apenas por Maradona e nas últimas décadas por ninguém. Pelé – sempre bom lembrar – é extraterrestre.

O jogo contra o Brasil( 0x0), pelas Eliminatórias, na semana passada, transformou o Pleonasmo, o Melhor do Mundo, o amante da bola, em pequeno robô de olhar furioso que fez sugerir a presença de um malvado clone, nunca o eterno menino indomável de dribles e batidas de curva, teatro em quatro cantos de grama de palco.

Desde 2006, súdito, procurava e não encontrava em Messi um defeito, uma falha em centímetros, um gesto indigno do moleque superior a todos os homens e mulheres calçando chuteiras no planeta, de Buenos Aires a Paris, de Barcelona à inteira e meia Catalunha. Pós-Maradona, Messi tornou-se o semideus universal dos amantes da ginga e do imprevisível, bola domada por uma canhota assanhada.

Seja nos clubes onde atuou sempre melhor do que na albiceleste, ou na própria seleção, Messi codinome encantamento segura a bandeira de herói do futebol único, na alegria e na surpresa a cada explosão plástica, lançamento, cobrança de falta, pênalti ou sequência de malabarismo diante de marcadores assustados e inertes.

Messi nasceu para ser pacífica revolução de artimanhas e malandragens, produção beira do mar, ladeira íngreme de morro, rachão de asfalto em sinal aberto, carros formando as laterais e a via separada por canteiros e automóveis, o corredor para o bailarino baixinho desfilar, fazendo sentar, bunda em terreno quente, pobres marcadores sem direito à eternidade, superlotando a caixa imaginária onde guarda seus desafiadores, notas medíocres de samba ou tango.

Messi vai, com a idade, se irritando e escolhendo a impaciência e a soberba típicas do seu país quando enfrenta o Brasil, até quando o Brasil é um time regular e sortudo. O Brasil não deslumbra, cumpre metas, igual à vendedora de lingerie.

Nada é esplêndido ou jogo de arrebatamento, sim uma tática de cofre automático de banco, fechado e protegido por homens armados evitando a simples aproximação do inimigo.

Mesmo o Brasil desse jeito, Messi pareceu reviver a época do tabu sobre os Hermanos de Mário Kempes e Diego Maradona, líderes dos campeonatos mundiais conquistados em 1978 e 1986, Dieguito portentoso, em fintas de Calle Florida, fazendo o mundo se ajoelhar ao seu pé esquerdo, aprimorado nas aulas pela televisão que assistia do mestre Roberto Rivelino, tricampeão pelo Brasil em 1970.

Na terça-feira, no Superclássico, triunfalismo que é a cara da Rede Globo, o Brasil tirou a Argentina do sério no alçapão de San Juan, com um drible de carretilha, uma lambreta de Vinicius Júnior que insuflou a ira hermana. Vinicius que já havia tomado um toque rasteiro por entre as pernas de Di Maria, a versão Noel Rosa castelhano e da técnica superior.

O jogo lembrava as pelejas dos anos 1970, para não ser presunçoso e imaginar Pelé, que fez a Argentina levar a pior durante 14 anos, desde quando pisou o gramado do Ex-Maracanã (o das gerais), em 1957 à despedida da seleção em 1971, cumprido o compromisso de entregar o tricampeonato ao país.

Na Geração Zico, os argentinos passaram sete anos apanhando na bola e batendo com virulência. Maradona, não esqueçam, tirou Batista da Copa do Mundo de 1982 com uma patada covarde, na granja abaixo do umbigo do volante brasileiro, que caiu sem fôlego, ovos avariados. Terça, foi Otamendi, em braçada de brutamontes, quem puxou sangue do assustado Raphinha.

Estranho e decepcionante Messi. Sem a abençoada fúria das arrancadas enfileirando beques antes do arremate ao gol. Dominado pela ilusão da recente Copa América vencida pelos argentinos, pobres de títulos, que a consideram equivalente à Copa de 2022.

Messi peitando o árbitro, Messi provocando os jovens brasileiros, Messi cavando falta, Messi apelando ao feio pela inspiração distante. Messi em patética homenagem ao amigo ausente Neymar: caretas e arrogâncias detonando a classe de gênio exclusivo.

VASCO, TEMPO DAS CAMISAS

por Rubens Lemos


Tenho um saco imenso cheio de camisas oficiais do Vasco, duas delas, de uso em jogo, pelo maestro Geovani no bicampeonato carioca de 1987/88. Geovani é meu amigo, veio para o lançamento do meu livro Memórias Póstumas do Estádio Assassinado, em 2017 e dispensou hotel: ficou em minha casa, humildade transversa à pose dos pernas de pau que estão levando o cruz-maltino ao caminho da Série D.

Olhei cada camisa e nelas, senti o frescor da classe, da habilidade e da raça, três componentes fundamentais de um time que já se foi há pelo menos 21 anos, depois daquela decisão que Romário ganhou contra o São Caetano valendo o Campeonato Brasileiro de 2000.

De lá pra cá, apenas uma Copa do Brasil em 2011 com craques envelhecidos e competentes do naipe de Felipe, Juninho Pernambucano (hoje insuportável militante) e Diego Souza, que chutou nas mãos do corintiano Cássio, o título da Libertadores que, se fosse nosso, mudaria o curso do destino.

O pior da decadência é quando se torna banalizada. O Vasco se acostumou a ser um timeco. Faz tempo, afinal 21 anos é a maioridade absoluta de um ser humano no Brasil. Nunca mais surgiu um cracão, o máximo que saiu das bases foi Philippe Coutinho, bonzinho, habilidosinho, razoável. Dispensado pelo Barcelona.

Ao observar camisa a camisa, me revi no improvável título de 1982 sobre o Flamengo de Zico, no mencionado bicampeonato no qual jogou o melhor time que acompanhei: Acácio; Paulo Roberto, Donato, Fernando e Mazinho; Dunga (Henrique), Geovani e Tita (Bismarck); Mauricinho, Roberto Dinamite e Romário.

Em 1994, o Vasco venceu o único tricampeonato carioca de sua história, cinco anos depois de Bebeto levar o clube ao terceiro título nacional, tirado em lusitana malandragem do impoluto Flamengo.

Veio o Brasileiro de 1997, com Edmundo estraçalhando, a Libertadores do ano seguinte, de Donizete e Luizão, o Rio-São Paulo de 1999 e, finalmente, o Brasileiro de Romário em 2000. Camisas guardadas, foi-se o Vasco.

ESTÁTUA

por Rubens Lemos


Estão fazendo campanha para construir uma estátua de Roberto Dinamite no Estádio São Januário. É uma homenagem justa. Embora Roberto Dinamite seja para o Vasco o monumento humano e magnânimo. Roberto Dinamite é a razão de ser do Vasco, o ídolo de sorriso triste, aquele cara legal que você falta ao trabalho, desfaz a agenda de passeio com a família, apenas para vê-lo e ouvi-lo.

Roberto Dinamite, o principal emblema do Vasco, maior artilheiro da história dos campeonatos brasileiros (1971/2021), autor de gols decisivos, quase perfeito na cobrança de faltas e de pênaltis, quixotesco nos primeiros anos da Era Zico, quando lutava, sozinho, nos clássicos contra o Flamengo que levavam 100, 150 mil ao Maracanã para assistir ao rubro-negro sinfônico fazer sofrer e penar nas jogadas imprevisíveis do cabeludo de semblante algo melancólico.

O amor de Roberto Dinamite pelo Vasco foi eternizado em janeiro de 1980. O Barcelona havia comprado seu passe no ano anterior. Roberto havia brigado com o treinador, que não gostava do seu estilo de arrancadas fulminantes e chutes de sniper, e então o desespero tomou conta de todos nós vascaínos: o Flamengo anunciou a compra de Roberto e a Rádio Globo fez uma montagem de um gol em tabelinha dele com Zico, tremenda covardia.

Zico e Roberto Dinamite teriam formado num clube a eficiente dupla que jamais perdeu atuando pela seleção brasileira em 26 jogos, de 1976 a 1982. Juntos, marcaram 34 gols, sendo 18 de Zico e 16 de Roberto. Chegariam aos 100, se Telê Santana, o endeusado, o infalível, o técnico sensacional e siderúrgico teimoso, não nutrisse uma gratuita antipatia a Roberto, que pode ser posta na conta do que nos custou o Mundial de 1982 na Espanha. Zico e Roberto Dinamite, municiados por Sócrates, Falcão, Éder, Leandro e Júnior, teriam detonado a Azzurra, conforme aconteceu quatro anos antes, só com Roberto, sem Zico, na disputa pelo terceiro lugar na Copa/1978.

Então, o Flamengo sacudiu o Brasil anunciando uma linha atacante com Tita, Zico, Roberto Dinamite e Júlio César, o bailarino ponta-esquerda de dribles entortadores. A reação vascaína foi imediata e em pânico. Os torcedores não aceitavam ver seu mito de vermelho e preto.

Ótimo negociante, o presidente Antônio Soares Calçada lembrou que o Barcelona devia ao Vasco 700 mil dólares. Mandou o ainda desconhecido Eurico Miranda dizer que a dívida estava perdoada desde que Roberto voltasse à sua casa. Os espanhóis nem pensaram: aceitaram antes da segunda frase de Eurico.

Roberto voltou contra o Corinthians e marcou os cinco gols da vitória por 5×2 do Vasco no Maracanã tomado por 107.474 corações ensandecidos a cada bola balançando as redes do goleiro Jairo. Roberto estava no Vasco, o que significava o reencontro e a derrota sobre o Flamengo, que foi buscar o esforçado Nunes e acabou campeão brasileiro.

Nos 5×2, vibrei de ficar rouco. Meu saudoso tio-avô Derval Marinho, que detestava futebol, morreu me chateando: “Como vai Roberto Traque de Chumbo?”. Eu repetia: “É Dinamite, é Dinamite, é Dinamite’.

Seleção brasileira em Natal, meu pai comentava para a Rádio Cabugi AM(hoje Jovem Pan News) e um estúdio foi montado no luxuoso Hotel Ducal, hoje estorvo inútil no centro de Natal. Meu pai tomou-me pelo braço e me levou à cobertura onde Roberto Dinamite e o capitão Oscar conversaram.

Sinto a geleira no corpo e no espírito. Eu, um moleque, diante daquele que me justificava o amor ao futebol. Roberto Dinamite me deu um autógrafo. No caderno da escola levado por mim àquele universo mágico. Educadíssimo, conversou meia dúzia de abobrinhas enquanto eu travava no “é, é,é”.

Estupidez de Eurico Miranda, Roberto Dinamite chegou a ser expulso da Tribuna de Honra com o filho em 2002. Reagiu boquiaberto como os apunhalados pela covardia. Foi feio, deselegante, imperdoável.

Seguiu em frente. Antes, ganhou Campeonatos Cariocas (1977/1982/87/88) em cima da máquina de Zico e jogou até os 39 anos. Ele e Zico (vestido de Vasco, no troco do destino ao episódio de 1980). Roberto Dinamite está imortalizado, seja no concreto carrancudo de uma estátua, seja no amor que o fez símbolo icônico do Vasco que não existe mais.

DIVIDIR POR DOIS

por Rubens Lemos


É sumária a sentença segundo a qual o atacante Raphinha é montanhas acima da cordilheira técnica do futebol brasileiro. Pelo jogo contra o Uruguai na semana passada (4×1), Raphinha selou seu carimbo de virtuoso e de homem que pode ser o protagonismo em caso de ausência de Neymar e parceiro dele, de igual para quase igual, com pequena vantagem para o camisa 10.

Em 2006, na Copa do Mundo das futilidades e rebolados, o Brasil dispunha de monstros: Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Adriano, Roberto Carlos, Kaká e Robinho de ótimo opcional.

Faltou Rivaldo, mais maduro, aos 34 anos e craque, para dar o mínimo de equilíbrio emocional a um time que virou circo, transformando treinos em piruetas coletivas e bagunça como a de fãs beijando jogadores.

O Brasil tinha um timaço do meio – onde também estava Juninho Pernambucano, que fracassou por apatia geral ao time, mas a cada dia, a cada exibicionismo coletivo, achava que venceria o Mundial quando quisesse. Aí chegou Zidane e botou todos no bolso, com direito à chapelaria coletiva num amplo lençol, maior que a lona do fiasco final.

Zidane, abrindo aqui uma prosa, parecia aquele cara que, no colégio, nos perseguia, batendo na gente só por sadismo, no que o tempo depois convencionou chamar de bullying.

Pois é, o Brasil sofria bullying de Zidane. O cara que nos sacolejava menino e, dez anos depois, em reencontro no bar, dava um cascudo, de leve, apenas para não perder a supremacia da força, no caso dele, com técnica de pianista.

Quando o Brasil entrou em campo em 2010 com Felipe Melo no meio, as probabilidades de um título foram anuladas. Amedrontava feito lutador de MMA, um brigador de rua, um porra-louca dando carrinhos criminosos e sem afetividade no trato com a bola. Além dele, Gilberto Silva, meramente protocolar, sem nenhum algo a mais, critério de um selecionável.

Kaká e Robinho eram os últimos. Kaká, brihante com a bola, era engomadinho demais. Nunca sujou cueca e meião em partida que fosse, essa é a minha suspeita, que fique bem evidente.

Kaká não dispunha da raiva de arrancada dos grandes meias. Postava-se na intermediária abusando de toquinhos e dando chutes despretensiosos, desperdiçando o talento do baú do seu par de chuteiras.

Revelado em 2002 no show dos meninos do Santos, Robinho logo se achou Pelé. Todo garoto revelado na Vila Belmiro deveria assistir 180 vezes um filme de gols, dribles, malandragem e pancadas do Rei, que sabia bater e quebrar sem ser notado. Robinho é o semi-quase, o pseudo, enrolado em casos criminais que sepultaram em definitivo a sua carreira.

Raphinha é um canhoto, primeiro ponto positivo. O canhoto é um subversivo em campo. Sua ginga é feiticeira, Sua finta, mais deslumbrante que a do destro, pode ser alongada ou curta igual a um prego.

O pé esquerdo abençoado é fascinante. Rivelino me ensinou ainda nos anos 1970, domando a gorducha com leveza e fúria em combinação irretocável.

Para Neymar, se Neymar resolver ser menos egoísta, a chegada de Raphinha lhe será decisiva para a última Copa do Mundo dele, no próximo ano. Neymar e Raphinha e a dupla que jamais houve desde a estreia de Neymar contra os Estados Unidos em 2011. Os holofotes sempre foram para ele, por truque de merchandising e por escassez de brilho próximo.

Ora, Neymar é supercraque, nunca foi negado aqui, mas nas duas Copas do Mundo, a de 2014, a da Vergonha contra a Alemanha (ele não jogou nem teria evitado o massacre de 7×1) e na de 2018 na Rússia, acompanhou-se de Fred, Hulk, Jô, Philipe Coutinho e suas oscilações e pernas de pau de grife: Paulinho, Willian e o obtuso-mor Renato Augusto.

Agora, Neymar pode preparar seu encerramento de carreira com boas chances de ser campeão mundial por contar com parceiro de extrema qualidade e destemor.

Os dois podem tabelar, criar um para o outro, inverter posições confundindo defesas, formar dueto afinado, tipo Tom Jobim e João Gilberto na Bossa Nova. Não eram exatamente amigos, mas a plateia (a quem interessava a criatividade), delirava nas maravilhas divinas dos gênios.

GALO E PIBE, O DUPLO SOL

por Rubens Lemos


Dos quatro jogos no mosaico de fotografias, não devo ter visto o último, Udinese de Zico contra o Napoli de Maradona! Não devo ter visto de preguiça, dormindo alguma manhã de domingo em que a Rede Bandeirantes transmitia o Show do Esporte, atração maior, o Campeonato Italiano.

Na Udinese, Zico deixou de ser dono do Brasil para jogar e muito bem numa espécie de Ponte Preta italiana. No Napoli, Maradona caminhava para explodir em 1986 como um dos maiores da história. O Napoli podia ser comparado a um Coritiba ou Atlético Paranaense. Eram dois times intermediários tornados grandes pelos seus camisas 10.

Zico e Maradona, quem é do meu tempo sabe, jamais trocaram farpas pela mídia. Maradona, claro, ainda não era um chapadão ambulante. Admirava o Galinho do Flamengo, que o idolatrava.

Juntos em qualquer time na primeira metade dos anos 1980, não perderiam para ninguém. Eram os melhores do planeta, superiores ao francês Platini, ao alemão Rummenigge e ao polonês Boniek.

O jogo de 1979, tenho gravado em DVD e foi um dos maiores clássicos da história, jogado no Ex-Maracanã (o Maracanã do povão desdentado na geral), com nada menos do que 118.458 pagantes, algo que jamais será repetido no país.

Peleja válida pela Copa América e Maradona, aos 19 anos, nem aí para a desvantagem no público. Acabara de ser campeão mundial de juniores e era titularíssimo dos profissionais. Em 1978, Maradona merecia uma vaga no time campeão de Menotti.

Neste jogo do Maracanã, o capitão Cláudio Coutinho, técnico “campeão moral” por haver encerrado invicto a Copa do Mundo da Argentina, pretendia uma surra exemplar. Logo aos dois minutos, o hábil ponta-esquerda Zé Sérgio, do São Paulo, dribla três Hermanos e cruza para Zico empurrar para as redes.

Pintava uma goleada que não veio. Maradona passou a dominar Batista e Zenon no meio-campo e a entrar com frequência de amante em quitinete de cabrocha. Deu um belo chute curvado pouco após a intermediária ao observar o goleiro Leão adiantado. Leão fez uma defesa de epopeia. Saltou e trouxe a bola puxando-a com as duas mãos.

Foi Edinho quem tremeu ao vislumbrar Dieguito, que lhe tomou a bola e, calmamente, serviu a Coscia, para empatar aos 29 minutos de partida. Confronto elétrico, imprevisível. O Pibe tomou dois tocos no tornozelo, aplicados pelo cerebral Paulo César Carpeggiani, mas nada sentiu. Ali estava um superdotado, algo diferente do comum e imune a medos pueris.

O Brasil fez 2×1 num dos mais belos gols da história do Ex-Maracanã desde que a acompanhei a partir de 1977. Tita e Zico tabelaram, o Galo deixou Tita na quina da área e ele soltou um balãozinho caprichoso, jogando a bola no ângulo do goleiro Vidallé, reserva do espetacular Ubaldo Fillol.

No retrato do confronto Flamengo x Boca Juniors, em 1981, o rubro-negro mandava no mundo com seu time de poesia parnasiana. Zico fez os dois gols do 2×0 e Maradona, recém-contratado ao Argentino Juniors, brindou a massa com embaixadinhas e toques de curva, dificultando para o grandalhão goleiro Raul.

Saíram abraçados Zico, Maradona e Carpeggiani, que se despedia da carreira de volante clássico para assumir o cargo de trenador do Flamengo, pelo qual venceria a Libertadores, o Mundial Interclubes e o Campeonato Carioca daquele benfazejo ano (para os de vermelho e preto).

No lance em que Zico mete o pé por entre as pernas de Maradona tentando tomar-lhe a bola, eram nervos de aço no gramado do Estádio Sarriá, matadouro do Brasil pelos pés da Itália no duelo seguinte.

Zico e Maradona, no Brasil 3×1 Argentina, trocaram algumas jogadas ríspidas, evitaram dribles um no outro e o semideus portenho teve um ataque histérico e invejoso. Após uma pernada no volante Batista, foi expulso e saiu mandando a secada marota: “Perdemos para os campeões do mundo”. A Itália apagou nossas luzes. Acesos serão sempre Zico e Maradona, duplo sol do meu tempo.