por Serginho 5Bocas
Se existisse uma máquina do tempo que nos transportasse de volta ao passado, só para ver in loco aqueles jogadores que tanto ouvimos falar pelos nosso pais e amigos mais velhos, e que não podemos nos deliciar com suas jogadas de almanaque através das imagens captadas pela nossa retina, ali bem de pertinho. Eu queria experimentar essa viagem.
Quem nunca ouviu histórias deliciosas de craques do passado que nos fez imaginar do nosso modo, como numa folha de papel sendo desenhada aos poucos, cada passo da jogada espetacular em curso?
Fico aqui pensando, como seria uma bicicleta de Leônidas ou imaginando quanto inédito era o posicionamento de Tim, que por ter a fama de comandar o time em todo o campo, ficou conhecido como o “peão”? Quem sabe assistir de pertinho aos três minutos assombrosos de Garrincha contra a poderosa U.R.S.S. na Copa de 1958 ou o massacre que a Holanda propôs aos uruguaios na Copa de 1974?
A falta quase completa de imagens não nos permite avaliar com mais clareza a grandeza dos craques daquela primeira metade do século e boa parte dos que jogaram na segunda, mas ainda assim, é comum ver discussões acaloradas sobre quem foi o melhor de todos os tempos, como se fosse possível definir algum critério objetivo e justo para uma comparação deste porte. No final, a força da resenha é que prevalece, afinal de contas, bom senso cada um tem o seu e olhe lá.
Talvez, por não haver a TV com mais imagens daquela época, ouço muita gente boa dizer que no futebol de hoje não haveria vez para os dribles de Garrincha, só que esqueceram de combinar com Messi e Neymar que dão dribles a torta e a direita, jogando por terra essa argumentação tão pobre e sem imaginação. Lamentável o pessimismo de certas pessoas.
Outros dizem que Pelé só fez mais de mil gols porque jogava numa época em que se amarrava cachorro com linguiça, outro argumento pra lá de preguiçoso, pois senão, alguém me responda por que só ele fez essa enxurrada de gols naqueles anos de glória? Não havia mais ninguém para aproveitar aquele “mamão com açúcar”?
Romário veio comprovar que muitos estavam errados sobre Pelé alguns anos depois, fazendo mil ou quase isso, tanto faz, mesmo tendo enfrentado esquemas muito mais defensivos do que na época do Rei e com muito mais gente disposta a não deixar jogar. Então me digam, como defender a tese? Se novamente o Baixinho foi o único em sua geração a conseguir?
Não é saudável comparar jogadores de épocas diferentes, mesmo tentando utilizar os critérios mais objetivos possíveis, sempre haverá uma ponta de injustiça ou subjetividade. Um exemplo disso é a eterna pergunta sobre quem foi melhor: Maradona x Pelé? Que muitos teimam em comparar. Jogaram em épocas distintas, enfrentaram adversários diferentes, jogavam em posições diferentes e com certeza em clubes que ajudaram ou atrapalharam uma comparação mais legitima. E ai, como é que fica uma comparação entre os 2 monstros, juro que tenho a minha, mas não conto. A TV não ajudou mais uma vez.
De bate pronto, responda se for capaz:
Quem corria mais? Zé Sergio ponta esquerda do São Paulo, Euller o filho do vento do Vasco ou Bale do Real Madrid?
Quem chutava mais forte? Pepe o canhão da vila, Rivelino a patada atômica, Nelinho do cruzeiro, Eder do Atlético ou Branco do Fluminense?
Quem foi mais habilidoso? Ipojucan, PC Caju, Leandro, Mario Sergio, Djalminha, Felipe ou Ronaldinho Gaúcho?
Que tal ficar com todos?
A TV nos trouxe o irreversível conforto de ver o jogo em casa, ajudou decisivamente na globalização do futebol, ou seja, foi definitivo na melhora do jogo dos mais fracos, dos sem “know-how” e, com isso, reduziu as diferenças de qualidade entre as equipes. Mas tem grandes imperfeições, como a questão do vídeo-tape de 35 câmeras no estádio. Árbitros ficaram mais burros ou desonestos por conta desta parafernália tecnologia que povoa os campos e hoje tem muita gente ganhando uma grana preta, comentando o que você já sabe porque viu ou, pior, o que você e nem ninguém viu, mas ele diz que viu com a maior cara-de-pau.
Já o DVD, que é largamente utilizado por empresários para vender os seus “produtos”, apesar de toda a tecnologia envolvida que teoricamente poderia melhorar a transparência, teve efeito contrário, pois abriu brechas para as edições mal intencionadas, para o ilusionismo dos donos do jogo e tirou boa parcela da graça do jogo, que quando visto fora de época, pode ter um efeito colateral, como descreve muito bem o craque das letras, que também foi dos campos, Tostão, em seu livro “A perfeição não existe”.
Segundo ele, o Brasil de 70 não foi perfeito, mas espetacular e irresistível para aquela época. A perfeição só existe na imaginação:
“A seleção de 70 teve um grande defeito: seus jogos são constantemente reprisados pela TV. A imagem destrói a fantasia, que é sempre melhor que a realidade. Proponho que todos as fitas sejam queimadas para que no futuro permaneça a lenda: “Existia no futebol um time perfeito. O do Brasil campeão mundial de 70”
Mesmo com todos os prós e contras é indiscutível a importância dessa telinha em nossas vidas, goste ou não, ela veio pra ficar e é uma pena que não exista há mais tempo.
Ah se eu tivesse uma máquina do tempo… nem sei que jogo veria primeiro.