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Romário

O PENTATEUCO DO BAIXOLA

por Luis Filipe Chateaubriand


Eis os cinco gols centrais da carreira de Romário:

5) Romário joga no Flamengo. Em uma decisão de Supercopa da Libertadores, no Maracanã, o Flamengo vence por 1 x 0, mas não conquista o título, pois precisava de dois gols de diferença. Uma bola é lançada na área dos argentinos, mas é rechaçada para a entrada da área. O Baixo ali está e emenda em um sem pulo de direita sensacional, à meia altura, a bola entra à esquerda do goleiro portenho.

4) O gênio da grande área joga no Barcelona. Em um clássico contra o Real Madrid, vencido por 5 x 0 pelos grenás, aplica um drible sensacional de 270 graus no defensor madrileno e toca de pé direito no canto esquerdo do goleiro merengue, para alegria de um estádio enlouquecido.

3) O cara joga no Flamengo. Em cotejo contra o Corínthians, no Pacaembu, cem pela área, na esquerda. Amaral aparece em sua frente e, toma um elástico sensacional, inacreditável, fora de série, seguindo-se uma conclusão em gol digna de futevôlei – a vola entra no alto e à esquerda do goleiro.

2) O mancebo joga no Vasco da Gama, no início da carreira. Em um Flamengo e Vasco da Gama vencido pelo então Gigante da Colina por 2 x 1, Leandro atrasa uma bola para o goleiro Zé Carlos, no entanto o faz com lentidão, Romário da um pique inacreditável, chega na bola antes de Zé Carlos, lhe dá um lençol maravilhoso, e toca a bola de cabeça para o gol vazio.

1) O cidadão é o craque da Copa do Mundo de 1994. Em jogo com a Holanda, vencido pelo Brasil por 3 x 2, Bebeto entra livre pela esquerda e rola para Romário, que fica livre e com o gol vazio, escancarado, de frente para si. Poderia der feito o gol de várias maneiras possíveis, até entrar com bola e tudo. Não! Preferiu fazer o gol da forma mais bonita! De chapa, ou seja, com a chapa do pé, o movimento do pé articulado de baixo para cima, transformando um gol fácil em um gol cheio de classe.

Romário cometeu erros ao longo da carreira: Não bateu faltas e pênaltis na maior parte dela; abriu mão de jogar no exterior na melhor fase de sua carreira. Não fizesse isso, teria muito mais gols e seria muito mais reconhecido internacionalmente.

Mas algo é irrefutável: o Baixo é um dos maiores de todos os tempos!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

O ERRO DO GÊNIO – PARTE 2

por Luis Filipe Chateaubriand


Que Romário foi um jogador espetacular, um artilheiro como pouquíssimos, o gênio da grande área, como Cruiff o batizou, não há dúvidas.

Mas nosso craque cometeu outro erro crucial na carreira.

Aos 28 anos, no esplendor de sua forma física e técnica, resolveu voltar a jogar no Brasil, “abrindo mão” de atuar na Europa.

Do ponto de vista sentimental, é compreensível: o mancebo queria estar com sua gente, com as praias cariocas, com o futevôlei, com as belas mulheres, com a noite efervescente e com a cultura carioca ímpar.

Mas, em termos de carreira, fez um péssimo negócio.

Imagine Romário ficando mais uma quatro ou cinco temporadas no futebol europeu.

Quantas Bolas de Ouro ganharia?

Quantas Chuteiras de Ouro ganharia?

Quantas vezes seria visto pelos quatro cantos do mundo, liderando um time espetacular como o Barcelona de então?

É possível afirmar que Romário é um dos 20 maiores jogadores de todos os tempos.

Se tivesse ficado na Europa, seria um dos dez melhores jogadores de todos os tempos.

Indubitavelmente.

Sem contar que não teria as seguidas contusões na panturrilha que teve ao voltar a jogar no Brasil, pois estaria jogando em um local onde há um calendário decente…

Romário ficaria mais uns anos na Europa e, depois, poderia desfrutar a vida no Rio de Janeiro.

Não o fez, acabou se prejudicando.

Ah, Baixinho, “deu mole”, peixe!

O ERRO DO GÊNIO – PARTE 1

por Luis Filipe Chateaubriand


Não é segredo para ninguém que acompanhe futebol que Romário é um gênio, quando se fala em fazer gols – talvez, e possivelmente, o maior de todos, no quesito gol.

Contudo, Romário cometeu erros na condução de sua carreira, que prejudicaram a ele próprio.

Um desses erros é que o craque não cobrava faltas e só começou a cobrar pênaltis quando tinha uns dez anos de carreira profissional.

Não seria difícil para Romário cobrar faltas de forma perfeita, que resultassem em gol.

Em primeiro lugar, porque quem bate na bola como Romário batia, com extrema categoria, teria facilidade em cobrar faltas.

Em segundo lugar, porque poderia treinar com quem sabe, no início de sua carreira no Vasco da Gama: Roberto Dinamite e Geovani.

Aprenderia o “macete” da coisa facilmente.

Quanto aos pênaltis, se tivesse começado a batê-los mais cedo, e com um pouco de treino, também não teria problemas com a tarefa.

“Resumo da ópera”: se batesse faltas e tivesse começado a bater pênaltis mais cedo, Romário teria feito mais uns 300 gols na carreira, em relação ao que fez, superando Pelé em gols.

Baixinho, “deu mole”, peixe!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada

ROMÁRIO E A COPA DO MUNDO DE 2002

por Luis Filipe Chateaubriand


Passados quase 20 anos, a dúvida ainda persiste: afinal, por que Romário não foi convocado para a Copa do Mundo de 2002? 

A resposta me parece muito mais prosaica do que muitos imaginam: meu xará Luiz Felipe Scolari não contava com Romário para ser titular e, se o colocasse na reserva, temia que o Baixinho tumultuasse o ambiente. 

Parece claro que meu xará queria o trio ofensivo composto por Rivaldo e pelos dois Ronaldos. 

Confiava na recuperação clínica do Fenômeno para tal. 

Não passava pela cabeça do Felipão ter um quarteto ofensivo, formado por Rivaldo, Romário e os dois Ronaldos, no time titular – na visão do treinador, tal quarteto desequilibraria a escalação. 

Então, se convocasse Romário, seu destino seria o banco de reservas. 

E aí, o problema: Scolari temeu que Romário, jogador de forte personalidade, não aceitasse a reserva, criasse conflitos, desunisse o grupo. 

Preferiu não correr esse risco. 

Este signatário acha que seu xará agiu erradamente.

Mas o quê importa? 

Ganhamos o título, e o trio Rivaldo e Ronaldos deu “banho de bola’. 

Valeu, Felipão!

Hoje, você é superado. 

Naquela época, foi muito bem.

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

O ACORDO DOS GÊNIOS

por Luis Filipe Chateaubriand


Em 1994, o craque Romário jogava no Barcelona, onde tinha como técnico o ex jogador genial Johan Cruijff. Era um time fantástico, composto de grandes jogadores do futebol internacional, mas em que o Baixinho despontava como a estrela da companhia.

Certa vez, próximo do Carnaval chegar, o abusado Romário fez o pedido inusitado ao técnico Cruijff: ao invés de três dias de folga no Carnaval, queria a semana inteira no Brasil.

A boa e velha marra do Baixinho…

Se fosse um líder autoritário e sem sensibilidade, Cruijff simplesmente negaria o pedido e o assunto estaria encerrado.

Mas Cruijff não era um líder medíocre, e sim um inteligentíssimo motivador de grupo. Voltou-se para Romário e disse assim:

– Ah, você quer uma semana de folga no Brasil? Tudo bem! Mas faz um favor para mim: faz dois gols nesse jogo que vamos ter contra o Atlético de Madrid e, depois, pode ir sossegado!

Imaginam o que aconteceu? Vou lhes contar…

Ao final do primeiro tempo, o Barcelona vencia o Atlético de Madrid por 3 x 0, três gols do Baixola!!!

Missão cumprida, Romário rumou para o aeroporto… com destino ao Rio de Janeiro, onde ficou por uma semana.

Quando voltou a Barcelona, na semana seguinte, ainda fez dois gols no próximo jogo, para o qual tinha chegado poucas horas antes.

Pois é: a habilidade de Cruijff para ser um excelente gestor de grupo, tirando do craque do time o melhor que ele pode dar, é proporcional à habilidade do Gênio da Grande Área (como o próprio Cruijff o apelidou) para fazer gols.


Nunca esquecerei que, naquele sábado, caminhava à tarde pelas ruas do bucólico bairro da Urca, no Rio de Janeiro, ouvindo futebol pelo walkman (nossa, que coisa velha…), quando foi anunciado o terceiro gol de Romário no jogo. O comentarista Sérgio Noronha, o Seu Nonô, resumiu tudo:

– O Baixinho é enjoado!!!

Por incrível que pareça, depois do intervalo, o Atlético de Madrid virou o jogo, e ganhou do Barcelona por 4 x 3; mas, motivado pela atitude do líder Cruijff, o Baixinho jogou o fino até o fim da temporada, levando o Barcelona à conquista do título Espanhol.

Craques, e líderes, decidem títulos.

Esclarecimento:

Segundo a versão de um canal de streaming, esta seria uma estoria mentirosa, pois Romário diz que saiu no intervalo do jogo em direção ao aeroporto, para embarcar para o Rio de Janeiro, logo após fazer os três gols.

O que posso afirmar é que não é mentira que ele fez os três gols, não é mentira que o Atlético de Madrid virou o jogo, não é mentira que ele veio para o Carnaval e ficou uma semana. Lembro perfeitamente, e ainda não estou gagá… Por outro lado, não creio que alguém com a credibilidade de Johan Cruijff fosse inventar algo desse tipo. A moral da estoria é verdadeira: craques, como Romário, e líderes, como Kruijff, fazem a diferença no futebol.

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.